Balanço mensal dos livros lidos por todos os leitores cá de casa - Junho de 2019


Olá! Sei que tenho andado muito afastada deste cantinho, mas está a ser muito difícil conciliá-lo com o cantinho nas bandas do Booktube. Contudo, para tentar redimir-me, deixo-vos o vídeo que publiquei no canal, onde dou a conhecer todas as leituras que nós os 3, os leitores cá de casa, fizemos ao longo do mês de Junho! Espreitem e, se puderem, comentem!
Espero que o mês anterior vos tenha dado leituras muito saborosas!


O Diário de Hendrik Groen aos 83 e 1/4 + Um homem chamado Ove, de Frederik Backman


Olá!

Durante o mês de maio, li duas obras que abordam um tema que me derrete, que me enternece e que me atrai sempre - falo-vos de narrativas protagonizadas por velhotes. Decidi retirar estas duas obras da estante, porque a Dora, do Canal Books and Movies, organizou um mês dedicado "aos idosos malucos" e eu, obviamente, saltei logo de entusiasmo e, mal pude, mergulhei em duas narrativas que me tocaram muito e por razões evidentes, mas diferentes!
No vídeo que vos deixo aqui, explico o quanto Hendrik Groen e o Ove ganharam, por direito próprio, um cantinho muito especial no meu coração literário e que, como devem calcular, tem proporções elásticas e está sempre pronto a abrir os braços a mais personagens inesquecíveis! Espero que espreitem e me digam, aqui ou no canal, se já leram estas obras, se participaram neste projeto e se me aconselham outras obras de velhotes malucos, mas enternecedores!




En abril leemos en español


Olá ou Hola!

Sei que ando algo desaparecida e que tenho dado pouca atenção a este cantinho... As razões são as que já partilhei convosco em outros textos - canal no Booktube, principalmente, e onde a interacção é muita e muito produtiva. Para tentar manter-vos a par do que vou fazendo por lá, deixo-vos aqui os vídeos que dizem respeito ao projecto que pus aqui em marcha o ano passado e que, pelas razões que neles explico, organizei este ano de novo e dei a conhecer no meu canal. Se estiverem interessados em saber em que consistiu o projecto "En abril leemos en español", de que forma foi posto em prática e a fantástica adesão que teve, vejam os vídeos e, já agora, subscrevam o canal, porque é por lá que me mantenho mais assiduamente e é lá que publico opiniões, balanços mensais, livros novos que compro e muito mais coisas típicas de uma livrólica assumida.

Muito obrigada e desculpem estar desaparecida!









Berta Isla, de Javier Marías


Ficha técnica
TítuloBerta Isla
Autor – Javier Marías
Editora – Alfaguara
Páginas – 496
Data de releitura – de 28 de abril a 08 de maio de 2019

Opinião
         Quanto daquilo que nos dizem pode ser ou não ser, pode ser o mais decisivo e o mais indiferente, o mais inócuo e o mais crucial, aquilo que afecta a nossa existência e aquilo que nem sequer a toca de raspão.” (pág. 191)

        
         Nunca é fácil escrever sobre uma obra de Javier Marías e esta não será exceção.
         Se consultarem a banda lateral do blogue, dar-se-ão conta de que esta foi a quinta obra que li deste primoroso autor (ouvi este adjetivo ontem, num vídeo de um booktuber que sigo e acho que espelha na perfeição a escrita de Marías). Ter lido todas essas obras dá-me algum traquejo para estruturar esta opinião e destacar aquilo que, sem dúvida, as caracteriza a todas – o estilo do autor é intricado, denso, a ação perde o protagonismo em prol de um discurso repleto de pensamentos, divagações e de citações que ilustram o vastíssimo conhecimento que Marías tem da literatura mais clássica.
         Outro aspeto que está presente em todas as obras que já li deste autor espanhol é o facto de todas as premissas arrancarem com um acontecimento emocionante e arrebatador que prende a atenção de qualquer leitor. Contudo, sei, tenho consciência de que não é qualquer leitor que seguirá com a leitura mal se aperceba de que, por muitos laivos de thriller ou suspense que tenha esse acontecimento que abre a narrativa, o que se lhe seguirá é tudo menos isso. Ora, quando abri as “hostes” de Berta Isla, estava à espera desse início memorável e transtornador, mas, para alguma surpresa minha, tal não aconteceu ou pelo menos não aconteceu de uma maneira tão evidente e tão “abananadora”. O “twist” está lá, é verdade, mas é mais suave, não há um acumular repentino de surpresa que só terá respostas no final da obra, há sim um abrir de pano algo intrigante, à boa maneira de Marías, que se desenrolará ao longo de quase 500 páginas e nos trará nos derradeiros capítulos factos dos quais não estávamos à espera (pelo menos eu não estava). E no meio desse início e desse final está tudo aquilo que me agrada em Javier Marías, mas que pode assustar os leitores menos precavidos e que caem no engodo provocado pelas primeiras páginas…
         Aproveitando a palavra engodo, a palavra ardil, a palavra cilada, a palavra engano e a citação que, propositadamente, pus no início deste texto, abro-vos um pouco mais o pano da narrativa que se centra num jovem casal espanhol. Tomás ou Tom Nevinson é filho de pai inglês e mãe espanhola. Berta Isla é madrilena de gema e desde muito cedo que soube que um dos projetos da sua vida seria casar com Tomás. Assim o fez. Contudo, nunca lhe passou pela cabeça que a maior parte dos anos de casada os iria passar sozinha, numa cama que pouco ou nenhum vestígio conservaria do seu marido e que, mesmo assim, nunca o iria abandonar ou trocar por outro. Paralelo a esta trama que parece algo corriqueira e já habitual nas obras de Marías, temos páginas e páginas daquilo que seguramente deve dar mais prazer ao autor e que é o que o define – as divagações, as reflexões, as colheradas de citações muito assertivas e relacionadas com a trama e um cuidado com as palavras como muito poucos autores demonstram ter.
         Como vocês podem ver na ficha técnica, eu demorei mais de 10 dias a ler esta obra e não foi somente por causa das suas 496 páginas. Foi porque as mesmas são densas, a mancha gráfica ocupa quase toda a página, há muito poucos diálogos e, quando existem, as falas são longas e, como já disse, a ação nas obras de Marías perde muito protagonismo para as outras características que abundam no estilo do autor. Tudo isto fez com que a leitura fosse algo lenta e que eu demorasse mais tempo a saboreá-la. Confesso que gostei muito de ter a obra comigo durante os dias finais de abril e os primeiros de maio, mas não posso dizer que tenha sido uma leitura que me tivesse preenchido tanto como a de Coração tão Branco, que continua a ser a minha favorita de todas as que li de Javier Marías. Achei a narrativa de Berta Isla mais parada, um pouquinho aborrecida em alguns momentos e gostaria que a protagonista que dá nome à obra tivesse mais espaço e “reconhecimento” como personagem principal porque já não me lembro da última vez que li uma obra na qual a protagonista tem quase sempre comportamentos de não-protagonismo. Contudo, para dar-lhe a pontuação que lhe vou dar, tenho que referir que é uma delícia privar com uma escrita tão rica e entrar numa história que aborda o passado recente (anos 70 e 80) de Espanha e de Inglaterra e “esbarrar” com factos e personalidades históricos tão impactantes como foram o fim da ditadura em Espanha, a curtíssima Guerra das Malvinas, as lutas armadas da ETA e do IRA ou a Dama de Ferro que governou o Reino Unido entre 1979 e 1990.
         Termino este texto que já vai longo dizendo, por um lado, que embirrei muito (sobretudo no início – depois tive que habituar-me…) com a tradução da obra, que peca em algumas expressões idiomáticas e na estrutura das frases e, por outro, que foi com esta leitura que encerrei um mês (o de abril) quase todo ele dedicado ao meu projeto – En abril leemos en español.
         Se já leram Javier Marías – esta ou outras obras – digam-me tudo!
         Obrigada, Luisinha, por me teres oferecido esta obra! Thanks, dear!

         NOTA – 08/10

         Sinopse
         Berta casou com Tomás pensando que o conhecia desde sempre mas, na realidade, não sabia nada verdadeiramente importante sobre ele. Tomás escondia-lhe algo que não podia partilhar com ninguém, nem mesmo com ela. Berta Isla é a história de um homem que quer intervir na História, acabando desterrado do mundo. É a história de uma mulher que espera por uma vida completa e, nessa espera, se transforma. É sobretudo uma história da fragilidade e tenacidade de uma relação condenada ao segredo, ao fingimento, ao desencontro; uma história de amor em que lealdade e ressentimento se entrelaçam.

História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda



Ficha técnica
TítuloHistória de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
Autor – Luis Sepúlveda
Editora – Edições ASA
Páginas – 122
Data de releitura – 19 de abril de 2019

Opinião
         Esta releitura foi feita a duas/quatro mãos.
      Uma das tarefas que o meu filho trouxe da escola, mais propriamente da disciplina de Português, para as férias da Páscoa, foi reler esta obra e, mal ele me falou disso, eu decidi que o iria fazer também. O D. ainda tinha a história muito fresquinha na memória, já que a havia lido pela primeira vez em agosto/setembro do ano passado. Já eu, de acordo com a anotação na página inicial, tinha-a lido no longínquo ano de 2007!
         Iniciámos a releitura ao mesmo tempo, mas em edições diferentes – eu li a minha (esta que aparece na imagem que vos deixo ao lado do texto), ele leu a edição mais recente e mais bonita, repleta de lindas ilustrações a cores e que foi publicada pela Porto Editora. Eu demorei uma ou duas horas (se tanto) a terminar a leitura, o D. prolongou-a até ao dia 21. Contudo, apesar destas pequenas diferenças, há algo que tem que ser destacado – o facto de o meu filhote, após ter concluído a leitura, ter comentado comigo que, lendo pela segunda vez a história do Zorbas e da Kengah, ter gostado mais dela do que havia gostado aquando da leitura inicial. Podem imaginar o quanto fiquei contente e orgulhosa perante a evidência de que, muitas vezes, uma releitura traz mais sabor a um livro do que traz a correspondente primeira leitura!
         É óbvio que a minha muito maior experiência como leitora fez com que eu estivesse atenta a pormenores que depois quis discutir com o meu parceiro desta leitura em conjunto! Comecei por fazer-lhe perguntas sobre as personagens, sobre a temática da obra e, sobretudo, sobre a “categoria” em que ele encaixaria esta narrativa. Tudo para que ele recordasse matéria já dada e se desse conta de que as leituras são conhecimento e despoletam conhecimentos. Assim sendo, O D. apercebeu-se de que Luis Sepúlveda criou uma fábula, que os protagonistas são um claro exemplo disso e que História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar nos deixa uma moral, um ensinamento que não deixará nunca de ser atual – aprender “a apreciar, a respeitar e a gostar de um ser diferente” (pág. 92).
         Houve ainda outras coisas que me tocaram de forma especial – o final, que me arrancou algumas lágrimas, e a consciência ambientalista do autor e que me é tão cara. Por fim, partilho convosco um pormenor histórico que este livro me permitiu saber sobre a Libéria, “um país africano muito interessante porque foi fundado por pessoas que tinham sido escravos.” (pág. 17)
         Concluindo, foi uma releitura muito saborosa e que, mais uma vez, fez com que o meu orgulho de mamã babada atingisse os píncaros J Foi igualmente saborosa porque me fez regressar ao mundo sepulvediano de que tanto gosto e porque possibilitou que o D. saísse da sua zona de conforto e percebesse que há leituras maravilhosas fora dos mundos dos “Bananas” e dos “Tom Gates”.
         Não sei quando voltaremos a fazer uma leitura em conjunto. Talvez só o façamos com as leituras obrigatórias para o 8º ano. Contudo, mesmo que cada vez sejam menos, há sempre delicioso ter a companhia do meu homem mais novo no mundo dos livros!

         NOTA – 08/10 (eu) + 10/10 (D.)

         Sinopse
         Esta é a história do gato Zorbas. Um dia, uma formosa gaivota apanhada por uma maré negra de petróleo deixa ao cuidado dele, momentos antes de morrer, o ovo que acabara de pôr. Zorbas, que é um gato de palavra, cumprirá as duas promessas que faz nesse momento dramático: não só criará a pequena gaivota, como também a ensinará a voar. Tudo isto com a ajuda dos seus amigos Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello, dado que, como se verá, a tarefa não é fácil, sobretudo para um bando de gatos mais habituados a fazer frente à vida dura de um porto como o de Hamburgo do que a fazer de pais de uma cria de gaivota...
        O grande escritor chileno oferece-nos neste seu novo livro uma mensagem de esperança de altíssimo valor literário e poético.

Jogos de Raiva, de Rodrigo Guedes de Carvalho



Ficha técnica
TítuloJogos de Raiva
Autor – Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 439
Datas de leitura – de 20 a 27 de março de 2019

Opinião
         Tenho todos os livros que Rodrigo Guedes de Carvalho publicou. Já os li todos. Alguns já foram, inclusive, relidos. Acho que, com estas três frases, dá para entender que este autor português é um dos meus favoritos e que, modéstia à parte, não sou nenhuma novata nas suas letras.
         Para os que não sabem, o Rodrigo esteve bastantes anos sem publicar qualquer obra literária. Lançou Canário em 2007 e só passados dez anos é que voltei a ter nas mãos mais uma obra sua (podem encontrar a correspondente opinião aqui). Foi um interregno que a nós, os dois leitores adultos cá de casa, nos deixou algo órfãos e que nos fez querer remediar essa orfandade comprando e devorando com sofreguidão as duas obras que o autor publicou quase de rajada entre 2017 e 2018.
         Recordo-me de comentar com o meu maridinho algo semelhante a isto – “Que bom que, após dez anos de silêncio, tenhamos agora duas obras com que nos podemos deliciar!” “Espero que este tempo, por um lado, o tenha levado a criar narrativas tão boas ou melhores do que as anteriores e que, por outro, não deixem de ter os ingredientes que nos fazem continuar a querer ler o “nosso” Rodriguinho!”
         Comprei Jogos de Raiva na FLL de 2018. A obra está autografada pelo próprio Rodrigo que, nesse dia, estava no stand da Leya a divulgá-la. Esteve na estante todos estes meses por causa da minha mania das leituras cronológicas e continuaria aí se eu não estivesse a tentar reverter essa mania e se não a tivesse escolhido para participar no projeto da Patrícia Rodrigues – Lusiteratura – para a categoria de Março 2019 – obra escrita por uma figura pública. Saltou da prateleira dos não-lidos no dia 20 e iniciei a sua leitura muito bem acompanhada por ti, Paulinha, que esperaste por mim para lê-la em conjunto.
         Tudo, como podem compreender, parecia muito promissor. Iria mergulhar na leitura do último livro de um dos meus autores favoritos, que muitos leitores que eu sigo e em que confio tinham classificado de muito boa ou excelente. E, para cúmulo, iria fazê-lo na companhia da minha bookbestie.
         As páginas iniciais são soberbas, magistrais, com tudo aquilo que me agrada de sobremaneira em RGC. Contudo, no dia em que recebi um mail (é através do mail que a Paulinha e eu fazemos as nossas leituras em conjunto) com o título “Houston, we have a problema”, tudo começou a descambar. Primeiro, para a Paula, depois para mim. Primeiro, para ela, que tem, sem dúvida, conhecimentos mais profundos de cultura geral do que eu, os quais a levaram a torcer o nariz a falhas incompreensíveis em alguém que, para além de escritor, é jornalista. Posteriormente, para mim, que me fui apercebendo de que, em Jogos de Raiva, as personagens têm pouco sumo, são muito planas, estereotipadas e pouco ou nada reveladoras da complexidade e densidade que habitam aquelas que dão um protagonismo ímpar às obras anteriores do autor. A tudo isto, que já era razão suficiente para que me apetecesse devolver a obra às prateleiras, juntou-se algo ainda pior – a sensação de que o autor apenas escreveu esta narrativa para poder abordar e espezinhar todo e qualquer tema que seja polémico e que esteja na berlinda nos dias de hoje – temos racismo, temos homossexualidade, temos as guerras sem sentido, temos as redes sociais e o seu lado de retrete da humanidade, temos a violência doméstica, temos as doenças mentais e até temos mortes de gente inocente às mãos de bárbaros que de humano não têm nada.
         Entendo que vivemos numa sociedade onde imperam todos estes temas e entendo (e assino por baixo) a vontade de espezinhá-los e aniquilá-los. Mas, como diria a Catarina (uma das personagens da obra), caramba, era preciso amontoá-los todos numa narrativa só??? Eu acho que não havia necessidade e que, ao fazê-lo, o autor demonstrou aquilo que nunca havia demonstrado antes – desleixo, pouco cuidado na criação de uma narrativa, onde as personagens, o lado ficcional se perde quase por completo e o que resta é, na minha humilde opinião, uma mistelada, uma salgalhada, uma mistangada (como diz a minha mãe) que me fez saltar algumas páginas e querer fechar a obra o mais rápido possível…
         Como leitora admiradora de Rodrigo Guedes Carvalho, dói-me muito partilhar esta opinião e não vos recomendar a leitura de Jogos de Raiva. Mas não me sentiria bem se não o fizesse, pois prezo a minha honestidade acima de tudo e nunca poderia enganar-vos. Agora, vocês são livres de seguir ou não a minha não-recomendação, pois só precisam de ir ao Goodreads para constatarem que eu e a Paula somos as “más da fita”, já que todos os restantes leitores deram, no mínimo, 4 estrelas a esta obra.
         Se houver alguém desse lado que já tenha lido a obra e queira deixar aqui a sua opinião, por favor, faça-o! E se essa opinião for contrária à minha, ainda melhor, não se acanhe!

         NOTA – 04/10

         Sinopse
         Um homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país, homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e pensa: como chegámos aqui? A era da comunicação global trouxe inimagináveis maravilhas. Partilhas imediatas de ensinamentos, denúncias e solidariedades. Mas permitiu também que saísse das cavernas uma realidade abjecta. Insultos, ameaças, ironias maldosas. Nunca, como hoje, a semente do ódio foi tão espalhada. É sobre este pano de fundo que se conta a história de uma família. Três gerações a olhar para um futuro embriagado num estado de guerra. Uma família que esconde, enquanto puder, um segredo. Jogos de Raiva traça duros retratos sem filtro sobre medos e remorsos, sobre o racismo, a depressão, a sexualidade, o jornalismo, a adopção, a arte e a amizade. E o poder das histórias. É sobre a urgência da confiança, da identidade e do amor. É um livro sobre todos nós, à deriva num novo mundo.

O meu nome é Lucy Barton, de Elizabeth Strout



Ficha técnica
TítuloO meu nome é Lucy Barton
Autora – Elizabeth Strout
Editora – Alfaguara
Páginas – 176
Datas de leitura – de 08 a 10 de março de 2019

Opinião
        
         – “Olha para a tua vida, hoje em dia. Tu seguiste em frente e… conseguiste.” (pág. 155)
        
         Há opiniões que funcionam melhor por escrito e esta, sem dúvida, é uma delas.
         O meu nome é Lucy Barton é uma obra pequenina, não chega às 200 páginas e parece estar composta de ninharias, de banalidades relacionadas com a infância, juventude e sobretudo vida adulta de Lucy Barton, uma jovem que deixou para trás uma família algo disfuncional para ser a única filha a prosseguir estudos e mudar de uma terreola perdida do Illinois para a Big Apple. Ela apresenta-se, recordando uma temporada que passou no hospital e que possibilitou estar frente a frente com a mãe, depois de muito tempo sem que se visitassem. Esse período de mais de um mês que passou hospitalizada, vendo todos os dias o edifício Chrysler iluminar-se quando a noite chegava, é o ponto de partida para uma narrativa que, como já referi, vai saltitando do presente para o passado e nos vai dando a conhecer a Lucy e a sua vida banal, sem nada que a destaque duma pessoa anónima. Mas é igualmente o ponto de partida para uma narrativa repleta de ninharias e paradoxalmente complexa, com muitas pontas soltas e, acima de tudo, com muito que não é dito, com muito que se vai percebendo nas entrelinhas.
         Na minha opinião, um livro destes só chega e mexe com o leitor quando é escrito por alguém que domina a escrita com mestria. Elizabeth Strout, vencedora do Prémio Pulitzer, escreve deliciosamente bem, transpira talento que nos prende a uma história que se alimenta de uma mulher simples, “plain”, que se apaixona platonicamente por todo o homem que trata bem e que lhe devota um bocadinho de carinho, que não despega os olhos nem a atenção da mãe nos dias “hospitalares” que as duas partilham à “sombra” do edifício Chrysler, que espera desesperadamente dela umas migalhas de ternura e que nos vai deixando, ela própria, migalhas daquilo que foi a sua infância de menina pobre, da sua mudança para a grande cidade, do seu casamento, da sua maternidade, das amizades e encontros que vai entabulando com um punhado de pessoas e de um sonho que vai conseguir concretizar.
         Desengane-se quem pegar neste livro e estiver à espera de algo à primeira vista grandioso. Irá, pelo contrário, conhecer uma realidade que nada parece ter de americano, faustoso, de exagerado. A história de Lucy, as conversas corriqueiras que partilham com a mãe, o foco nos outros, as pinceladas incompletas da sua vida, tudo parece compor uma história nada extraordinária. Contudo, a genialidade da narrativa e da escrita da autora está nisso mesmo – em ser capaz de pegar no ordinário, no banal, no normal e elevá-los ao patamar do extraordinário. Fá-lo de uma forma simples, contida, “incompleta” até, mas proporciona-nos momentos de leitura inesquecíveis, com passagens de uma beleza suprema, como a que encerra a obra e que nem em verso teria essa beleza.
         E acho que me vou ficar por aqui, porque creio que o essencial está dito. Gostei mesmo muito de ter lido este livro e é óbvio que o recomendo e muito a quem quiser ler algo maravilhosamente bem escrito. Acrescento, para finalizar, que trouxe este livro da biblioteca da terrinha e que só tenho pena de não encontrar por lá mais nenhum livro da autora.
         Alguém desse lado já leu este livrinho? Já leram mais algum da autora? Se sim ou se ficaram interessados, comentem, por favor! Obrigada!

         NOTA – 09/10

         Sinopse
         Mais do que uma história de mãe e filha, este é um romance sobre as distâncias por vezes insuperáveis entre pessoas que deveriam estar próximas, sobre o peso dos não-ditos no seio das relações mais íntimas e sobre a solidão que todos sentimos alguma vez na vida. A entrelaçar esta narrativa está a voz da própria Lucy: tão observadora, sábia e profundamente humana como a da escritora que lhe dá forma.

Deixarás a Terra, de Renato Cisneros



Ficha técnica
TítuloDeixarás a Terra
Autor – Renato Cisneros
Editora – Planeta
Páginas – 280
Datas de leitura – de 10 a 16 de fevereiro de 2019

  Opinião
         Entre o final de 2018 e o princípio de 2019, deambulando pelo Youtube, descobri uma booktuber mexicana (El librero de Valentina) e fiquei rendida ao seu entusiasmo, à sua vivacidade e ao amor que transpira pelos livros. O primeiro vídeo que vi seu foi, por casualidade, aquele onde ela partilhava com os seus subscritores as melhores leituras do ano que estava ou havia terminado há pouquinho tempo. Vários livros me chamaram a atenção, mas houve um escritor peruano que se destacou e que vim a saber estar traduzido no nosso país. Falo-vos, como é óbvio, de Renato Cisneros que é autor de La distancia que nos separa e deste livro que terminei de ler há dias.
         Quando me dei conta de que a editora Planeta tinha publicado, em dezembro de 2017, Deixarás a Terra, decidi arriscar e enviei-lhes um e-mail a pedir um exemplar da obra. Fiquei muito feliz quando eles acederam ao meu pedido e planeei ler muito em breve a história que envolve um segredo que selou durante duzentos anos o mistério de uma família.
         Recebi o livro em meados de janeiro e um mês depois li-o. Da correspondente leitura tenho que dizer, em primeiro lugar, que pouco ou nada sabia da trama, a não ser que a mesmo se iria espraiar até ao passado e que abordaria a história de uma família e um segredo que poderia (ou não) ditar essa mesma história. Gosto muito de entrar às cegas nas narrativas e com esta não foi exceção.
         A trama está dividida em três partes e vai saltitando do presente para vários momentos do passado que vão chegando até nós cronologicamente. Recuamos até 1828 e de imediato entendemos qual o segredo que “mancha” o destino da família Cisneros. Nos saltos que vamos dando ao presente percebemos que o recuo nos leva até aos tetravós do narrador e que este pretende finalizar aquilo que o seu tio Gustavo começou – pôr a nu esse mesmo segredo e o quanto ele moldou, influenciou, aprisionou e embotou as ações e carácter de todas as gerações seguintes.
         Confesso-vos que a primeira parte da obra estava a ser agradável, mas não mais do que isso. Foi necessário chegar mais perto do presente, sair da anos iniciais do século XIX, entrar na parte dois da narrativa para sentir o meu entusiasmo a crescer e para perguntar-me algo que, até ao momento, não me tinha passado pela cabeça – será que esta família Cisneros tem alguma coisa a ver com o autor, Renato Cisneros? E será que estas pessoas, estas personagens masculinas existiram na realidade ou o autor está a inventar uma família que, por coincidência, tem o mesmo apelido que ele? Fiz estas mesmas perguntas ao “tio” Google e, para meu espanto, as respostas foram afirmativas.
         Ora, perante isto, entendem que a minha perspetiva de leitura mudou, teve que mudar, pois estava a ler a obra como se ela fosse inteiramente de ficção e, ao dar-me conta de que ela é, apesar de romanceada (creio eu), não-ficção, a abordagem teria que ser diferente. Para além disso, à medida que nos aproximávamos do presente, as histórias, as vidas dos antepassados de Renato Cisneros foram tornando-se mais empolgantes e as alternâncias com o presente muito mais complexas, com o narrador a abrir-se mais e a explicar-nos no fundo o porquê de ter decidido partilhar com o mundo os segredos e o lado menos bonito de uma família que sempre esteve associada à História do Peru como país independente, às suas relações diplomáticas e sobretudo às suas letras e literatura.
         Renato Cisneros quis saber quem ele é de verdade, de que forma o peso do passado, dos segredos familiares, de um apelido ilustre moldam alguém e essa demanda foi aquilo que mais me prendeu e agradou nesta leitura. “Acabou-se o mistério”; “Invadiu-me então um sentimento estéril. De triunfo e derrota simultâneos.”; “(…) senti ou soube que aquela seria a última fronteira que teria que transpor em muito tempo.” (págs. 275, 276)
         Não sou a leitora mais adequada ou mais habilitada para livros de não-ficção simplesmente porque não são os meus preferidos e porque não os leio com muita frequência. Porém, gostei muito de ler este livro, gostei muito de percorrer alguns espaços do Peru, de saber mais sobre a sua História, de conhecer algumas das suas personalidades influentes e sobretudo de passagens onde o autor/narrador expõe aquilo que o levou a escrever este livro e a querer conhecer-se através dos seus. Assim sendo tenho que recomendar este livro aos amantes do género e àqueles que, como eu, sentem aquele lado do mundo – América Latina – como um espaço que nos toca de forma especial. Não se vão arrepender se derem uma oportunidade a esta obra e poderão apreciá-la ainda mais do que eu.
         Termino agradecendo – e muito – à editora Planeta que gentilmente me enviou a obra em troca de uma opinião sincera.

         NOTA – 09/10

         Sinopse
         Um silêncio antigo selou durante 200 anos, o mistério de uma família muito semelhante às tragédias e ambições do Peru. Este romance recorda-nos que as famílias estão feitas de tudo o que escondem e que só uma prosa capaz de atravessar o visível e o soterrado pode rastear o caudal a que chamamos identidade. «As nossas famílias, como em qualquer sociedade conservadora e tradicional, querem calar certos assuntos que não convém trazer à luz e fi-lo [este livro] através de um romance como forma de não pôr em evidência a família, mas de pôr em evidência todas as famílias.»

Carta ao Pai, de Franz Kafka



Ficha técnica
TítuloCarta ao Pai
Autor – Franz Kafka
Editora – Hiena Editora
Páginas – 94
Datas de leitura – de 03 a 04 de fevereiro de 2019

Opinião
         Mais uma obra lida para o projeto da Silvéria - #24horas1livro. Com ela estreei-me nas letras do consagradíssimo Franz Kafka, mas digo já que foi uma das piores estreias de que me lembro nos últimos anos… Que me perdoem os admiradores de Kafka, mas, se o livro não fosse tão fino e se não o estivesse a ler em conjunto com a minha querida Cristina do canal e blogue Linked Books (visitem-na aqui), tê-lo-ia posto de lado sem qualquer tipo de remorso.
         A premissa é muito interessante – estamos, tal como o título indica, perante uma carta que o autor, já adulto, escreve ao seu pai com quem sempre teve uma relação conflituosa. Até ao momento em que trouxe este livro da biblioteca municipal pouco ou nada sabia sobre a vida de Kafka. Estive em Praga em 2003, visitei a famosa casa nº 22 da Travessa Dourada, onde o autor e a sua irmã estiveram hospedados, mas tirando isso, nada tentei saber sobre ele, porque, dos autores que leio, dificilmente procuro saber isto ou aquilo das suas vidas privadas. Assim sendo, entrei para a leitura às escuras, interessada em privar com o autor, em tentar encontrar vestígios da sua escrita neste registo epistolar e, por que não, tentar compreender se a relação animosa que tinha com o pai teria ou não influenciado os seus escritos.
         Desde as primeiras páginas fui assinalando passagens com post-its, fui transcrevendo algumas, mas a partir do meio da carta pus de lado post-its, lápis e caderno e comecei a revirar os olhos, a bufar de impaciência e, pior ainda, a criar na minha cabeça uma imagem nada abonatória do Sr. Kafka… Toda a carta, todinha, é um despejar de culpas ao pai por tudo, tudo de mau que aconteceu na vida do pobre filho – a autoridade, a rigidez, as exigências, as ideias e preconceitos foram sempre barreiras que o menino nunca foi capaz de ultrapassar e, se estivéssemos apenas a falar de Kafka enquanto criança e jovem, todas as suas queixas e ressentimentos seriam mais do que aceitáveis. Agora, por favor, tenham dó, que um Kafka já adulto ainda continue a queixar-se continuamente de que tem medo do pai, de que não casou por causa do pai, de que se tornou aquilo que é apenas por causa dele e por aí adiante, porque as queixas são intermináveis, ai, give me a break, é demais para qualquer pessoa que o está a ler e a aturar!
         Encerrei a leitura com uma vontade bem considerável de abanar o autor, mesmo ele já estando morto. A imagem que ainda se mantém comigo, mais de dez dias passados, é um de um Kakfa “júnior” mesquinho, cobarde, vingativo, que não teve estofo nem coragem de sair da barra paternal, que nutre, desde pequeno, medo, ressentimento e, por que não, ódio do pai, mas que nunca soube fazer-se alguém, que tem noção dos muitos defeitos do seu progenitor (e sim, são muitos – o senhor era bastante prepotente), mas que não encontra em sim “armas” e valentia para distanciar-se dele, para fazer-se homem e para deixar de detestar o pai e a si mesmo. Sim, porque, a determinado momento da carta, Kafka admite que nem ele gostaria de ter um filho como ele, com o seu carácter fraco e quezilento…
         Como podem calcular, não gostei de quase nada desta leitura e, no final, quando fechei o livro, estava algo aflita porque não sabia como partilhar com a Cristina que eu, estreante no mundo kafkiano, não tinha nada de positivo para contar-lhe da experiência. Contudo, para meu alívio, a opinião dela era muito semelhante à minha ou ainda menos positiva! Não sendo a primeira vez que lia Kafka e baseando-se nas pontuações do Goodreads e nas recomendações de outros bloggers/booktubers que não costumam falhar, a Cristina sofreu uma deceção bem maior do que a minha…
         Mas nem tudo foi negativo nesta leitura e será por isso que não darei à leitura uma pontuação inferior. A conversa que tivemos depois da leitura, na qual a Cristina partilhou os seus pontos de vista muito assertivos e me informou que esta carta, entre outros escritos, não deveria, segundo o próprio autor, ter sido publicada, mas “sim queimada” (foi um amigo que a disponibilizou aos leitores, após a morte de Kafka), foi muito elucidativa e provou o quanto as leituras feitas em conjunto têm um sabor diferente, bem mais suculento e que deverão acontecer com mais regularidade. Da minha parte, poderão estar certos, estarei sempre disponível para “infiltrar-me” numa 😊
         Resumindo, esta não é uma leitura que recomendo. Em absoluto. Mas não fecho a porta às letras do autor checo, apesar de não estar com vontade de pegar numa obra sua nos próximos tempos… E desse lado? Há alguém que já tenha lido esta carta e que tenha uma opinião diferente da minha? Adorava que mo dissessem!

         NOTA – 04/10

         Sinopse
         "Carta ao Pai" (1919), um texto que, tal como o título refere, Kafka dirige ao seu pai, homem severo e de temperamento dominador, com quem o autor foi incapaz de desenvolver uma convivência pacífica. Ao longo da carta, Kafka escreve-lhe sobre o efeito negativo e perverso da educação que recebeu e sobre o sentimento de culpa por não conseguir corresponder com as expectativas. Um livro comovente e de uma sinceridade sufocante, que, tal como os seus romances, conduz-nos para temas como o isolamento, o medo e a vulnerabilidade do homem.

Balanço mensal | livros lidos em Janeiro 2019 pelos leitores cá de casa


Em Janeiro, os 3 leitores cá de casa leram 14 livros no total. Participámos em 2 projectos (#HOL74 e #lusiteratura). Eu fiz 3 deliciosas leituras em conjunto! E mais não digo - espreitem o vídeo! Deixo-vos, como é habitual, os links para as opiniões dos livros lidos:
          - Antes de nos encontrarmos, de Maggie O' Farrell

- Os da minha rua, de Ondjaki

- Então, boa noite, de Mário Zambujal
- As mulheres no castelo, de Jessica Shattuck
- A História do Amor, de Nicole Krauss
- Escritos secretos, de Sebastian Barry

          E vocês, o que é que leram? Participaram em algum projecto? Contem-me tudo!



O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor



Ficha técnica
TítuloO Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor
Autor – Jorge Amado
Editora – Publicações Europa – América
Páginas – 74
Datas de leitura – de 31 de janeiro a 01 de fevereiro de 2019

Opinião
         Pode parecer-vos inacreditável, mas eu nunca tinha lido este livrinho. É claro que não me era desconhecido, já tinha visto em bibliotecas e livrarias a sua capa ilustrada com uma andorinha a esvoaçar e um gato às riscas e de bigodes fartos, mas, por esta ou por aquela razão, nunca me tinha sentido tentada a ler. Ora tudo isso mudou quando a Silvéria, do canal The Fond Reader, a aconselhou para o projeto que está a dinamizar durante este mês de fevereiro – #24horas1livro.
         Animada com a opinião/recomendação dela, trouxe-o na última visita que fiz à biblioteca e bendita a hora em que o fiz, porque rendi-me sem pôr qualquer entrave (muito pelo contrário) a esta história infantil (que fiquei a saber que é dado no 8º ano nas aulas de Português), belissimamente ilustrada e composta pela arte e engenho de um dos maiores e melhores contadores de histórias mundiais – o magistral Jorge Amado. É impossível não nos maravilharmos com o jeitinho com que ele cria e conta uma história lindíssima, que tenta derrubar barreiras, ou se quiserem, ideias pré-concebidas, e nos presenteia com uma relação de amor entre um gato e uma andorinha, dois bichos que sempre foram vistos como inimigos um do outro. Apaixonei-me de forma assolapada por este casalinho de bichanos, sobretudo pelo gato, pela sua história, pela sua solidão e pela entrega sem reservas ao amor que lhe nasce quase à primeira vista pela jovem e confiante andorinha. E mais não quero dizer, pois pode ser que haja por aí alguém que, como eu, ainda não leu esta preciosidade e, se assim for, que não seja por culpa minha que não entra na história quase às escuras.
         Esta leitura teve um sabor muito, muito especial por duas ou três grandes razões – primeiro, porque me permitiu participar no projeto interessantíssimo da Silvéria (se quiserem saber mais e participar, cliquem aqui), segundo, fez com que eu regressasse às letras do genial Jorge Amado e terceiro, abriu-me as portas a uma leitura carregadinha de sabor, deliciosa, que me fez sorrir com os “apartes” do narrador, com o sotaque açucarado do português do Brasil e me obrigou a verter umas lágrimas com o desenlace. Foi tudo tão, tão perfeito que até perdoei ao autor a inclusão na história de uma personagem encarnada por aquele bicho rastejante que me provoca calafrios (no mínimo).
         Termino fazendo aquilo que a Silvéria fez comigo – recomendando a todos, sem reservas, que leiam esta obra, que desfrutem de 24 horas (ou mais ou menos) na sua companhia e que se sintam aconchegadinhos com uma das mais belas histórias de amor que conheço. RECOMENDADÍSSIMA!
         Se já a leram ou se ficaram interessados, por favor, deixem os vossos comentários – a “gerência” agradece!
        
         NOTA – 10/10

         Sinopse
         «O mundo só vai prestar
         Para nele se viver
         No dia em que a gente ver
         Um gato maltês casar
         Com uma alegre andorinha
         Saindo os dois a voar
         O noivo e sua noivinha
         Dom Gato e Dona Andorinha»

         Este foi o mote do grande escritor brasileiro para esta fábula dos tempos modernos, que conta a história de amor insólita entre um gato, considerado como a criatura mais egoísta e solitária das redondezas e uma bela e gentil andorinha.
         Com a duração de três doces estações, o improvável romance entre as duas criaturas das «profundas do passado quando os bichos falavam» sobrevive às críticas sociais, à diferença de idades dos dois amantes e às diferenças de carácter entre ambos, para enfim esbarrar na cruel e "natural" evidência, escondida pela paixão inicial, de que «uma andorinha não pode, jamais, casar com um gato».