Opinião
Não
resisti. Bom, para ser sincera, não opus qualquer resistência à vontade de
reler a obra que me abriu as portas ao mundo literário da “minha” Margaret
Mazzantini J
Li Não te movas há mais de cinco
anos (publicado ainda com este título pela Dom Quixote – foi reeditado mais
tarde pela Bertrand e inexplicadamente com o título Não te mexas), depois de o ter comprado porque a minha
intuição me dizia que ia ser uma daquelas leituras. Sim, uma daquelas leituras
que tomam conta de mim, que me seduzem por completo, que me envolvem de tal
forma que sei de antemão que ficarão comigo para sempre… E esta ficou. Sem
qualquer dúvida.
Foi
com este romance que me apaixonei perdidamente pela escrita de Mazzantini,
pelas suas histórias, pela maneira como põe em palavras os nossos sentimentos,
sonhos, anseios, desilusões… É uma escritora fabulosa, não só por esse lirismo
tão próximo da nossa realidade como também pela qualidade da sua escrita,
dramática, tensa, onde predominam as frases curtas que, nessas poucas palavras,
nos transmitem tudo de um modo perfeito e absoluto.
Não te movas é
uma obra triste, tal como as outras que já li da autora. É dolorosa, comovente,
machuca-nos, mas não podemos deixar de lê-la, é impossível. Chega-nos através
de um monólogo doloroso de um pai que vê a sua vida virar do avesso quando toma
conhecimento de que a sua filha de quinze anos está entre a vida e a morte,
deitada numa cama dos Cuidados Intensivos do hospital onde ele trabalha. Este
acontecimento terrível vai abalar a vida aparentemente estável deste prestigiado
cirurgião e desencadear um sem número de perguntas, dúvidas e reflexões sobre a
sua vida presente, passada e futura.
Para
mitigar a dor de poder “ficar órfão” de filha, Timoteo inicia o referido
monólogo (dirigido à filha e também a si próprio) no qual abre o seu coração,
não de forma cirúrgica, como faria com qualquer um dos seus pacientes, mas
recorrendo a “um bisturi que penetra a carne viva das recordações”. Somos assim
levados a viajar até vários momentos do seu passado, que nos põem a nu a
fragilidade e contradições deste cirurgião intocável. E tornámo-nos cúmplices
do seu mais guardado e até aí não partilhado segredo – uma estranha, inusitada,
algo sórdida, mas pungente história de amor, que me levou às lágrimas (tantas e
tantas vezes) de tão bela e sofrida que é.
Não te movas é,
por tudo o que foi dito e pelo tanto que ficou por dizer, uma obra lindíssima e
que merece ser lida por todos aqueles que se pelam, que anseiam por uma história
que os abane, que os toque no que têm de mais íntimo e os faça não querer
largar o livro mesmo quando leem a sua última frase. É esse o poder que as
obras desta magnífica escritora têm e que me faz lê-las, relê-las e esperar
ansiosamente por novas obras!
Deixo-vos
algumas passagens:
“És a minha garra no mundo, Angelina, neste
mundo que avança sem mudanças de estação.” (pág. 63)
“Quando lhe caí em cima, fiquei dentro dela
demoradamente sem me mexer, olhando-a nos olhos claros e desfeitos. Ficámos assim,
parados naquele campo de fogo. Uma lágrima desceu-lhe pela têmpora, recolhi-a
com os lábios. Já não tinha medo dela, pesava-lhe em cima como um homem, como
um filho.
«Agora és minha, só minha»”
(pág. 88)
“Os amores novos são cheios de medo, Angela,
não têm um lugar no mundo e não têm fim de linha” (pág. 89)
“O que quer dizer amar, minha filha? Tu
sabes? Amar para mim foi ter a respiração de Italia nos braços e aperceber-me
de que qualquer outro ruído se tinha apagado. Sou médico, sei reconhecer as
pulsações do meu coração sempre, mesmo quando não quero. Juro-te, Angela, era
de Italia o coração que batia dentro de mim.” (pág. 104)
Sinopse
Não te movas é a história de muitas histórias de amor,
um romance pungente, cheio de ritmo e suspense em que as palavras penetram
fundo na alma dos protagonistas, arrastando o leitor da primeira à última
página. Uma obra inesquecível que apresenta Margaret Mazzantini ao leitor
português.