Tenho descurado a minha wishlist.
Contudo, apesar de não a atualizar aqui há uns longos meses, vou apontando no
caderninho títulos e autores que despertam o meu interesse, que me são
sugeridos por amigos ou familiares ou que advêm da “cusquice” que admito fazer
com intensidade em blogues de que gosto muito e que vou seguindo fielmente.
Sendo assim, está mais do que na hora
de partilhar convosco alguns desses títulos que figurarão na minha wishlist e
que espero poder saborear brevemente. Quatro deles são de autores portugueses
(que demonstram o quão se continua a escrever bem por cá J) e o quinto é de um autor não
inteiramente desconhecido (já havia tropeçado em capas de obras suas nas minhas
deambulações pelas livrarias), cuja obra – Uma história de amor e de trevas –
foi recentemente adaptada ao cinema pela realizadora estreante – Natalie
Portman. Comecemos por este então:
1 - Uma
história de amor e de trevas, de Amos Oz, reúne ingredientes
poderosamente suculentos – “Um relato
impregnado de ruído e fúria, nostalgia, perda e solidão. Em busca das raízes
remotas da sua tragédia familiar, Amos Oz desvenda segredos e
"esqueletos" de quatro gerações de sonhadores, intelectuais, homens
de negócios fracassados, reformistas, sedutores antiquados e rebeldes ovelhas
negras. Uma ampla galeria de grotescos, patéticos, ingénuos, trágicos e
extravagantes personagens, homens e mulheres, todos eles participantes do
cocktail genético e das circunstâncias quase surrealistas do nascimento do
homem que um inevitável momento de revelação transforma em romancista.”
Confesso que me arrepiou ver o
“trailer” da adaptação cinematográfica e que a reação foi – uiiiiii, que esta
obra deve ser daquelas! Há que saber mais sobre o autor e o seu espólio, há que
“fuçar” no Goodreads e comprovar
através de opiniões de outros leitores se essa primeira impressão, esse “uiiii”, são unânimes. Pelos vistos são. Classificam-na com quatro e cinco estrelas. Por
isso, rendo-me ao inevitável e à esperança de que, brevemente, possa
enfornar-me nas suas páginas.
2 - Ernestina,
de J. Rentes de Carvalho, foi-me sugerida pelo meu cunhado. Segundo ele, é a
melhor obra deste escritor português sediado na Holanda e a entrada ideal no
mundo literário de um autor que, inexplicavelmente, até hoje me havia passado
despercebido. Deixo-vos a correspondente sinopse de mais um romance que, tal
como o anterior, tem características autobiográficas – “Ernestina é mais do que um romance autobiográfico ou um volume de
memórias de família ficcionadas. É um retrato de Trás-os-Montes, dos anos 1930
aos anos 1950, um romance que transcende o relato regionalista e que transpôs
fronteiras, transformando-se num fenómeno editorial na Holanda. Ernestina é
também o nome da mãe do autor e da intrépida protagonista deste livro.”
3 – Esta sugestão e as duas seguintes
são o resultado do quanto eu sigo fielmente blogues de compinchas livrólicas
como eu J A
vida inútil de José Homem, de Marlene Ferraz (uma autora completamente
desconhecida até então) narra “As idas à
grande cidade para se libertar da herança dum pai coronel verticalmente duro e
duma mãe extravagante e desligada fazem com que José Homem se sinta no bom
caminho para uma morte sem memórias nem saudade.
Descrente no governo de deus e, sim,
das circunstâncias, é por mão do padre que se vê obrigado a relacionar-se com
um dos rapazes estrangeiros recebidos no orfanato, Antonino, mutilado na guerra
civil de Angola, o que vem despertar em si um sopro inesperado de amor e
vontade.” Para além
desta sinopse entusiasmante não há como não contagiar-se com as poucas mas
muito apetitosas opiniões de leitores que partilharam o seu encantamento, o seu
maravilhamento perante “um daqueles livros que nos entram pela alma dentro”.
Refiro ainda que, com este romance, a
autora ganhou o Prémio Agustina Bessa-Luís de 2012.
4 – Rio
do Esquecimento, de Isabel Rio Novo, é um romance histórico, finalista
do Prémio Leya de 2015 e que, ao que parece, é um dos claros exemplos de uma
leitura que “se estranha mas que depois se entranha”. Não será de leitura
fácil, com recorrentes saltos no tempo que nos deixam em suspense mas que a mim
me agradam particularmente, pois puxam por mim, obrigam-me a exercitar. Também
vos deixo a sinopse: Inverno de 1864.
Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel Augusto regressa do Brasil, onde
enriqueceu, e instala-se no velho burgo nortenho, no palacete conhecido como
Casa das Camélias, com a intenção de perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua
herdeira. No mesmo ano, Nicolau Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não
só para recuperar o património familiar que o tempo foi esfarelando, mas
sobretudo para fugir à paixão que sente por Maria Adelaide Clarange, senhora
casada e mãe de três filhos. Maria Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta
da Casa das Camélias, hábil e amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma
teia de crimes, segredos e vinganças.
Subvertendo as
estratégias da narrativa histórica, com saltos cronológicos que deixam o leitor
em suspenso mesmo até ao final, Rio do Esquecimento descreve com saboroso
detalhe a sociedade portuense de Oitocentos e assinala o regresso à ficção
portuguesa de uma escrita elegante que consegue tornar transparente a sua
insuspeitada espessura.
5 – Por fim, do autor H. G. Cancela,
descobri recentemente Impunidade,
uma obra descrita por alguém no Goodreads
como “A história é horrível e cruel. O
livro está muito bem escrito. É um paradoxo gostar muito/odiar... não consigo
classificar.” Ou seja, mais um exemplo de um romance que seguramente mexe
connosco, que provoca sentimentos antagónicos, como faz Elena Ferrante ou outros
escritores brilhantes. A sinopse é muito mais do que elucidativa – "Um homem caminha primeiro a pé, tacteando no
escuro, depois de automóvel, conduz toda a noite, dorme na pressa de um hotel,
retoma a viagem primeiro ainda em terras portuguesas, depois em Espanha.
Em Sevilha sobe ao
último andar de um prédio. Tem a chave da porta, a casa está desarrumada e nela
se encontram duas crianças adormecidas quase entre sinais de abandono.
«Aproximei-me da cama maior. O rapaz tinha apenas as cuecas vestidas. Magro, as
pernas esguias, o cabelo comprido. Ouvia-se a respiração. Rápida, regular,
entrecortada por pausas de onde emergia com uma aspiração sufocada. Da outra
cama, não se ouvia nada. A menina estava despida, com o cabelo espalhado pelo
rosto e as pernas cobertas com a ponta do lençol. Apoiei-me nas grandes,
debrucei-me e afastei-lhe o cabelo. Não se mexeu. Respirava devagar, com os
lábios entreabertos e um quase insensível movimento do peito. Parecia fria,
apesar do calor, o corpo contraído, a cabeça colada aos joelhos. Tinha os
lençóis húmidos em redor das coxas. Na penumbra, a sua pele esbatia-se contra o
tecido branco.»
Este é o início de uma
história inesperada, dura, com o «esplendor das coisas ameaçadas»."
Agora, resta-me atualizar a wishlist e
rezar para que rapidamente eles venham parar à minha mão, de preferência à
minha estante de forma permanente, mas se vierem emprestados ou requisitados na
biblioteca também não ficarei triste.
Boas leituras!