As regras de futebol, de autores vários


Ficha técnica
Título – As regras de futebol
Autores – vários
Editora – Porto Editora
Páginas – 10
Datas de leitura – de 21 a 25 de março de 2016


Opinião
O futebol é rei em muitas casas e na nossa não é exceção. Todos (eu incluída) temos um fraquinho por este desporto, mas para o D. é uma verdadeira paixão. Coleciona cromos e cadernetas, conhece de cor plantéis de equipas nacionais e estrangeiras (de divisões maiores e menores), sabe quem são os melhores marcadores de equipas como o Barcelona, F.C. Porto, Sporting, ou Tondela e não passa um dia sem ver resumos de jogos, sem “dar freneticamente ao dedo” no comando do FIFA 16 ou sem aliciar o pai para uma partida.
Sendo assim, quando o ano passado visitámos a Feira do Livro “vi-me obrigada” a deixá-lo trazer para casa este livro que, numa linguagem bastante acessível e com imagens e partes interativas, explica sucintamente as 17 leis que se aplicam ao desporto que é praticado em todos os cantos do mundo.
Apesar de não ser uma “analfabeta” no que diz respeito ao futebol, confesso que havia alguns pormenores que desconhecia. Na leitura que fui partilhando com o meu filhote, fomos lendo os pequenos textos que esclarecem, por exemplo, as diferenças entre um livre direto e um indireto, como se deve proceder corretamente a um lançamento lateral e quais são as regras que estão por detrás do “polémico” fora-de-jogo. Fomos ainda explorando a parte interativa do livro (para mim, a sua mais-valia) que nos mostra o tamanho mínimo ou máximo do campo de jogo, os gestos do árbitro e dos seus assistentes ou quando é que um golo é válido.
Resumindo, foi mais uma leitura muito produtiva, que nos dá mais uma oportunidade de sentar no sofá com a mantinha a cobrir as pernas e desfrutar de momentos maravilhosos entre mãe e filho.
A nota é a habitual (obedecendo aos parâmetros do pequenote J) – 10/10


Sinopse
Quer seja aprendiz ou praticante, este é o livro ideal para os entusiastas e apaixonados do futebol.

Desde as regras mais básicas até à polémica questão dos fora de jogo, este guia original e interativo explica todos os aspetos do desporto mais praticado no mundo, proporcionando uma leitura divertida aos adeptos e simpatizantes do desporto-rei.

Flores, de Afonso Cruz


Ficha técnica
Título – Flores
Autora – Afonso Cruz
Editora – Companhia das Letras
Páginas – 277
Datas de leitura – de 17 a 22 de março de 2016


Opinião
Este é apenas o segundo livro que leio de Afonso Cruz. E digo apenas porque já me havia rendido e deslumbrado com o talento deste fantástico escritor aquando da leitura da obra Os livros que devoraram meu pai (ver opinião completa aqui) e quero que a estes dois que “já papei” se sigam muitos mais!
 Nada e tudo é banal nesta narrativa. As personagens carregam em si vidas banais, contagiam o leitor com a sua banalidade, mas encontramos a genialidade do autor na forma como transforma, como constrói um enredo banal, como atira para o mesmo personagens triviais, corriqueiras, sem nada que as destaque de qualquer um de nós e nos obriga, “de livre e espontânea vontade” a virar página atrás de página, a sublinhar “carradas” de fragmentos, a sorrir para o livro e para nós mesmos, a rir com fragmentos cómicos ou acertadamente irónicos (como aqueles em que “ataca” o nosso anterior primeiro-ministro” e, ao descerrar o livro, a ansiar pela próximo mergulho numa criação “cruziana”.
Através das duas personagens masculinas mais em destaque, do seu quotidiano, dos seus projetos, dos seus pensamentos, das suas atitudes, das suas recordações e anseios, vamos “entrando mais dentro na espessura”. Ou seja, vamos tendo ao nosso alcance, nas páginas e palavras que seguramos nas nossas mãos, mais uma oportunidade para penetrar no insondável, no impenetrável, naquilo que forma a nossa essência como seres pensantes e emotivos. Vamos analisando e inclusivamente aceitando as disparidades comportamentais do Sr. Ulme ou do narrador. Vamo-nos afeiçoando a quem é tão imperfeito e defeituoso como qualquer ser humano. Tudo isto graças a Afonso Cruz que verdadeiramente nasceu para ser escritor e que nos abençoa com uma escrita falsamente simplista, emocional, por vezes infantil, repleta de pormenores deliciosos (gastei muito lápis a sublinhá-los J) que nos transformam, que nos fazem redescobrir-nos e aprendermos mais sobre nós próprios.
Pergunto-me se haverá algo mais para dizer sobre esta obra sublime? Seguramente que há, como a relação doce entre Beatriz e o Sr. Ulme, o cuidado e o amor que o autor colocou na construção de personagens “mais secundárias” como Margarida Flores ou o seu cunhado grego, o desfecho da obra que me deixou em êxtase e muito, muito mais. Mas deixem-me ser egoísta e guardar para mim o resto, aquilo que me faz perseguir leitura atrás leitura e não cansar-me nunca de o fazer.
Para terminar acrescento que me enche de orgulho “ser dona de provas” que confirmam o quanto se escreve bem em terras lusas e que os fragmentos que vos deixo são o perfeito exemplo disso:
Creio que, numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a história de uma vida, todos os pores-do-sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda a certeza do amor.” (pág. 25)
As mães são as fiéis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As tuas memórias mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando a tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso, trata-a bem”. (pág. 81)
Houve um tempo em que cosi as minhas artérias ao teu corpo e todo o sangue que bombeava era na tua direção.” (pág. 87)
“– Deram-me a porra da esperança, que é infinita. Se uma pessoa consegue acreditar na política, na sociedade, numa vitória do Sporting, então o que é que custa acreditar na eternidade?” (pág. 174)

Leiam Afonso Cruz! Celebrem o talento deste fantástico escritor luso!

NOTA – 09/10

Sinopse
Um homem sofre desmesuradamente com as notícias que lê nos jornais, com todas as tragédias humanas a que assiste. Um dia depara-se com o facto de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho, passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéu pousado no lugar errado. Contudo, talvez por se lembrar bem da magia do primeiro beijo – e constatar o quanto a sua vida se afastou dela – decide ajudar o vizinho a recuperar todas as memórias perdidas. Uma história inquietante sobre a memória e o que resta de nós quando a perdemos.

Um romance comovente sobre o amor e o que este precisa de ser para merecer esse nome.

«Viver não tem nada a ver com isso que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que não fazemos todos os dias.»

Alguns livros para a “wishlist”…


         Tenho descurado a minha wishlist. Contudo, apesar de não a atualizar aqui há uns longos meses, vou apontando no caderninho títulos e autores que despertam o meu interesse, que me são sugeridos por amigos ou familiares ou que advêm da “cusquice” que admito fazer com intensidade em blogues de que gosto muito e que vou seguindo fielmente.
         Sendo assim, está mais do que na hora de partilhar convosco alguns desses títulos que figurarão na minha wishlist e que espero poder saborear brevemente. Quatro deles são de autores portugueses (que demonstram o quão se continua a escrever bem por cá J) e o quinto é de um autor não inteiramente desconhecido (já havia tropeçado em capas de obras suas nas minhas deambulações pelas livrarias), cuja obra – Uma história de amor e de trevas – foi recentemente adaptada ao cinema pela realizadora estreante – Natalie Portman. Comecemos por este então:
        

1 - Uma história de amor e de trevas, de Amos Oz, reúne ingredientes poderosamente suculentos – “Um relato impregnado de ruído e fúria, nostalgia, perda e solidão. Em busca das raízes remotas da sua tragédia familiar, Amos Oz desvenda segredos e "esqueletos" de quatro gerações de sonhadores, intelectuais, homens de negócios fracassados, reformistas, sedutores antiquados e rebeldes ovelhas negras. Uma ampla galeria de grotescos, patéticos, ingénuos, trágicos e extravagantes personagens, homens e mulheres, todos eles participantes do cocktail genético e das circunstâncias quase surrealistas do nascimento do homem que um inevitável momento de revelação transforma em romancista.”

         Confesso que me arrepiou ver o “trailer” da adaptação cinematográfica e que a reação foi – uiiiiii, que esta obra deve ser daquelas! Há que saber mais sobre o autor e o seu espólio, há que “fuçar” no Goodreads e comprovar através de opiniões de outros leitores se essa primeira impressão, esse “uiiii”, são unânimes. Pelos vistos são. Classificam-na com quatro e cinco estrelas. Por isso, rendo-me ao inevitável e à esperança de que, brevemente, possa enfornar-me nas suas páginas.
        

2 - Ernestina, de J. Rentes de Carvalho, foi-me sugerida pelo meu cunhado. Segundo ele, é a melhor obra deste escritor português sediado na Holanda e a entrada ideal no mundo literário de um autor que, inexplicavelmente, até hoje me havia passado despercebido. Deixo-vos a correspondente sinopse de mais um romance que, tal como o anterior, tem características autobiográficas – “Ernestina é mais do que um romance autobiográfico ou um volume de memórias de família ficcionadas. É um retrato de Trás-os-Montes, dos anos 1930 aos anos 1950, um romance que transcende o relato regionalista e que transpôs fronteiras, transformando-se num fenómeno editorial na Holanda. Ernestina é também o nome da mãe do autor e da intrépida protagonista deste livro.”

         3 – Esta sugestão e as duas seguintes são o resultado do quanto eu sigo fielmente blogues de compinchas livrólicas como eu J A vida inútil de José Homem, de Marlene Ferraz (uma autora completamente desconhecida até então) narra “As idas à grande cidade para se libertar da herança dum pai coronel verticalmente duro e duma mãe extravagante e desligada fazem com que José Homem se sinta no bom caminho para uma morte sem memórias nem saudade.
        

Descrente no governo de deus e, sim, das circunstâncias, é por mão do padre que se vê obrigado a relacionar-se com um dos rapazes estrangeiros recebidos no orfanato, Antonino, mutilado na guerra civil de Angola, o que vem despertar em si um sopro inesperado de amor e vontade.” Para além desta sinopse entusiasmante não há como não contagiar-se com as poucas mas muito apetitosas opiniões de leitores que partilharam o seu encantamento, o seu maravilhamento perante “um daqueles livros que nos entram pela alma dentro”.

         Refiro ainda que, com este romance, a autora ganhou o Prémio Agustina Bessa-Luís de 2012.
         4 – Rio do Esquecimento, de Isabel Rio Novo, é um romance histórico, finalista do Prémio Leya de 2015 e que, ao que parece, é um dos claros exemplos de uma leitura que “se estranha mas que depois se entranha”. Não será de leitura fácil, com recorrentes saltos no tempo que nos deixam em suspense mas que a mim me agradam particularmente, pois puxam por mim, obrigam-me a exercitar. Também vos deixo a sinopse: Inverno de 1864. Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel Augusto regressa do Brasil, onde enriqueceu, e instala-se no velho burgo nortenho, no palacete conhecido como Casa das Camélias, com a intenção de perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua herdeira. No mesmo ano, Nicolau Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não só para recuperar o património familiar que o tempo foi esfarelando, mas sobretudo para fugir à paixão que sente por Maria Adelaide Clarange, senhora casada e mãe de três filhos. Maria Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta da Casa das Camélias, hábil e amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma teia de crimes, segredos e vinganças.
         

Subvertendo as estratégias da narrativa histórica, com saltos cronológicos que deixam o leitor em suspenso mesmo até ao final, Rio do Esquecimento descreve com saboroso detalhe a sociedade portuense de Oitocentos e assinala o regresso à ficção portuguesa de uma escrita elegante que consegue tornar transparente a sua insuspeitada espessura.


         5 – Por fim, do autor H. G. Cancela, descobri recentemente Impunidade, uma obra descrita por alguém no Goodreads como “A história é horrível e cruel. O livro está muito bem escrito. É um paradoxo gostar muito/odiar... não consigo classificar.” Ou seja, mais um exemplo de um romance que seguramente mexe connosco, que provoca sentimentos antagónicos, como faz Elena Ferrante ou outros escritores brilhantes. A sinopse é muito mais do que elucidativa – "Um homem caminha primeiro a pé, tacteando no escuro, depois de automóvel, conduz toda a noite, dorme na pressa de um hotel, retoma a viagem primeiro ainda em terras portuguesas, depois em Espanha.
         

Em Sevilha sobe ao último andar de um prédio. Tem a chave da porta, a casa está desarrumada e nela se encontram duas crianças adormecidas quase entre sinais de abandono. «Aproximei-me da cama maior. O rapaz tinha apenas as cuecas vestidas. Magro, as pernas esguias, o cabelo comprido. Ouvia-se a respiração. Rápida, regular, entrecortada por pausas de onde emergia com uma aspiração sufocada. Da outra cama, não se ouvia nada. A menina estava despida, com o cabelo espalhado pelo rosto e as pernas cobertas com a ponta do lençol. Apoiei-me nas grandes, debrucei-me e afastei-lhe o cabelo. Não se mexeu. Respirava devagar, com os lábios entreabertos e um quase insensível movimento do peito. Parecia fria, apesar do calor, o corpo contraído, a cabeça colada aos joelhos. Tinha os lençóis húmidos em redor das coxas. Na penumbra, a sua pele esbatia-se contra o tecido branco.» 

Este é o início de uma história inesperada, dura, com o «esplendor das coisas ameaçadas»."
         Agora, resta-me atualizar a wishlist e rezar para que rapidamente eles venham parar à minha mão, de preferência à minha estante de forma permanente, mas se vierem emprestados ou requisitados na biblioteca também não ficarei triste.

         Boas leituras!

Espera por mim, de Gayle Forman


Ficha técnica
Título – Espera por mim
Autora – Gayle Forman
Editora – Editorial Presença
Coleção – Noites claras
Páginas – 213
Datas de leitura – de 15 a 16 de março de 2016


Opinião
Gostei mais da sequela do que de Se eu ficar. Talvez porque, apesar de ter a lamechice q.b. que derrete qualquer coração de adolescente e que não deixou indiferente a este coração um pouquinho mais velhote, não mexe com realidades “paranormais” como acontece na narrativa da primeira obra.
Mais uma vez, a ação desenrola-se em vinte e quatro horas, embora haja analepses recorrentes que nos ajudam a compreender por que razão, passados três anos, Mia e Adam estão separados, vivendo em costas opostas dos Estados Unidos. Mudou, no entanto, o narrador – enquanto em Se eu ficar, “estamos dentro da cabeça” de Mia e é com a perspetiva dela que acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos, em Espera por mim, é Adam que chama a si esse papel.
Os capítulos abrem sempre com um excerto de várias canções compostas por Adam após a dolorosa partida de Mia para Nova Iorque e um consequente rompimento sem explicações da parte dela. São uma espécie de guia para melhor entendermos a dor, a raiva, o choque e a sensação de quase amputação física que determinam os dias de Adam desde então, pois, apesar de ter almejado a tão ambicionada fama e de não poder sair à rua sem ser perseguido por fãs e paparazzis, o ex-namorado de Mia sente-se perdido, sem chão e nenhuma vontade de desfrutar da magnífica vida que tem.
Ora, perante estes ingredientes é óbvio que esta obra estava predestinada ao sucesso e a derreter os corações de milhões de meninas que suspiram por histórias de amor que resistem a todos e quaisquer obstáculos e que as fazem ansiar a todo o custo que alcancem o mais que merecido “happy ending”.
De um ponto de vista mais imparcial, ou seja, de alguém um pouquinho mais maduro e mais experiente, confesso que não desgostei de partilhar dois ou três dias da minha vida na companhia desta obra. Está escrita de forma despretensiosa, simples, com a referida lamechice q.b. e, para quem gosta do género, não é desperdício de tempo, pelo contrário. Cumpriu o seu principal propósito, tal como o havia feito a “obra-irmã” – possibilitou-me não parar de ler, mesmo em tempos aflitivos e de muito sufoco. Por tudo isto, não me arrependo de ter entrado no mundo da autora Gayle Forman. É certo que não devo ler tão cedo mais nenhuma obra sua, mas não digo que em futuras alturas atribuladas não volte a socorrer-me de mais leituras juvenis e levezinhas.
Agora, que o sufoco abrandou, toca a resgatar da estante uma obra de “adultos” J Venham elas, com alegrias, angústias, situações e emoções extremas, com o pacote inteiro – já tenho saudades!

NOTA – 08/10


Sinopse

Passaram três anos desde que o amor de Adam ajudou Mia a recuperar após o trágico acidente que vitimou a sua família – e três anos desde que Mia decidiu afastá-lo da sua vida sem lhe dar explicações. Quando uma noite os seus caminhos se cruzam na cidade de Nova Iorque, ambos têm a oportunidade de se confrontar com os fantasmas do passado e de abrir o coração ao futuro. Mas conseguirão perdoar-se um ao outro antes de cada um ter de regressar à vida tal como a deixaram?

Atlas puzzle de Portugal - Fauna e flora, de Carmen Rodríguez


Ficha técnica
Título – Atlas Puzzle de Portugal
Autora – Carmen Rodríguez
Editora – Girassol
Páginas – 14
Datas de leitura – de 11 a 18 de março de 2016


Opinião
Esta leitura foi um pouco atribulada, pois houve pouca disponibilidade da minha parte para sentar-me no sofá e percorrer com o D. as páginas deste atlas. Mesmo assim lá as fomos lendo, por vezes apenas uma, sem nunca termos desfeito os puzzles que compõem as páginas pares L, mas saboreando cada informação e cada ilustração que nos resumem o que de mais importante há para saber da fauna e da flora dos dezoito distritos e das duas regiões autónomas de Portugal.
Íamos alternando a leitura de distrito para distrito, fazendo miminhos às imagens dos nossos animais favoritos e descobrindo, por exemplo, que o nosso distrito pode ser visitado por golfinhos, que é habitado pela rã-verde e que a sua costa é abundante em cavalas e sardinhas.
Antes de concluir, tenho que partilhar aqui a atenção e a delicadeza do meu filhote que, antes de iniciar a leitura, pediu ajuda ao pai para tapar com papel e fita-cola todas as imagens (pequenas ou grandes) do réptil ao qual a mãe devota uma considerável fobia! O meu D. é mesmo um filhote muito atencioso e sensível J
Não foi uma leitura tão divertida como a anterior, mas, mesmo assim, o D. é de opinião que lhe devemos dar nota máxima, sobretudo porque aprendemos muita coisa fixe sobre o nosso país. Corroboro com a nota que ele lhe atribuiu pela aprendizagem que me proporcionou e porque foi uma leitura que, mais uma vez, me permitiu desfrutar de momentos preciosíssimos na companhia do meu Roquinhas J
Agora vamos fazer um intervalo nas leituras geográficas e de ciências e vamos saltar para o campo da bola J

NOTA – 10/10


Sinopse
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para apoio a projetos relacionados com Temas Científicos nos 3º, 4º, 5º e 6º anos de escolaridade.

Um livro com 6 puzzles para divertir e ao mesmo tempo aprender através dos mapas a fauna característica de cada zona, os animais que vivem nas diferentes regiões e o habitat em que se movem.

Se eu ficar, de Gayle Forman


Ficha técnica
Título – Se eu ficar
Autora – Gayle Forman
Editora – Editorial Presença
Coleção – Noites claras
Páginas – 215
Datas de leitura – de 11 a 14 de março de 2016


Opinião
A leitura do último livro de Elena Ferrante que me passou pelas mãos deixou-me exaurida – a genialidade desta autora tem esse efeito nos seus leitores. Como tal, nada melhor do que regressar a um género literário mais levezinho, que me oferecesse a papinha toda feita e me possibilitasse seguir na companhia dos meus livrinhos em época de final de período e refazer-me do choque e do desgaste motivados pelas três histórias que compõem Crónicas do mal de amor.
Aproveitei uma ida à biblioteca da terrinha para sair de lá acompanhada de duas obras de literatura mais juvenil, da autora Gayle Forman. Se eu ficar é o romance que nos abre as portas à história de Mia Hall, uma adolescente que, num dia como outro qualquer, numa viagem a caminho de casa dos avós, vê a sua vida estilhaçar-se num acidente que a deixa órfã de mãe, pai e irmão mais novo.
Enquanto luta pela sua vida ou contra o desejo de pedir ao seu corpo que desista dessa luta e a deixe voltar para os braços da família que ainda há poucas horas viajava a seu lado na carrinha do pai, Mia (ou o seu espírito) é catapultada para fora do seu corpo e, ao mesmo tempo que assiste aos esforços de médicos e enfermeiros que tentam remendar e voltar a pôr a funcionar todas as partes do seu corpo maltratado, vai refletindo sobre os seus dias até então, vai-nos deixando entrar devagarinho naquilo que preenchia a sua rotina, vai-nos apresentando os seus entes queridos e vai-nos fazendo compreender o quanto a música e o seu violoncelo enchem de melodia as suas horas e as fazem ter um sabor só seu.
Apresenta-nos ainda Adam, o seu namorado, por quem se apaixonou quando nada nem ela mesmo vislumbraria dizer-lhe “olá”, quanto mais iniciar uma relação com um dos rapazes mais populares do liceu, amante da música rock e da sua guitarra.
Nas vinte e quatro horas que se seguem ao trágico acidente de que foi vítima, o espírito, a alma ou a essência de Mia percorre os corredores do hospital em que está internada, senta-se ao lado dos seus familiares que não saem do seu lado, segue as suas deambulações e assiste aos mirabolantes esquemas que o seu namorado põe em prática para poder vê-la. Enquanto o faz, vai conseguindo protelar a decisão que sabe que tem de tomar – fica ou deixa-se ir.
Todos que me conhecem sabem que não faz muito o meu género nem uma historiazinha lamechas nem uma com pinceladas de etéreo, de fantasmagórico ou experiências pouco credíveis para alguém que, como eu, “tem que ver para crer”. Contudo, embarquei nesta leitura ciente desses ingredientes e tenho que admitir que a lamechice pontua a obra de forma despretensiosa, que não somos bombardeados com passagens que puxam pela lágrima fácil e que, para quem já está habituado a ver episódios de séries de hospitais onde sempre há um doente que passa pelo que passou Mia, torna-se quase banal acompanhar o espírito de um paciente às portas da morte.
Por tudo isto e porque a escrita é realmente acessível e, como referi, despretensiosa, a obra “papa-se” num ápice. Tenho consciência de que não ficará por muito tempo na memória, mas cumpriu aquilo que lhe pedi – permitiu-me não parar de ler numa época onde me afundo em testes, grelhas de excel e avaliações e desligar de leituras muito mais exigentes e desgastantes.
Como o sufoco ainda não terminou, como ainda estou afogada em correções a caneta vermelha e em números que povoam grelhas de excel, o plano é seguir, é continuar a acompanhar a Mia na obra Espera por mim.

Deixo-vos o trailer da adaptação da obra ao cinema:


NOTA – 07/10

Sinopse

Naquela manhã de Fevereiro, quando Mia, uma adolescente de dezassete anos, acorda, as suas preocupações giram à volta de decisões normais para uma rapariga da sua idade. É então que ela e a família resolvem ir dar um passeio de carro depois do pequeno-almoço e, numa questão de segundos, um grave acidente rouba-lhe todas as escolhas. Nas vinte e quatro horas que se seguem, Mia, em estado de coma, relembra a sua vida, pesa o que é verdadeiramente importante e, confrontada com o que faz com que valha mesmo a pena viver, tem de tomar a decisão mais difícil de todas.

Crónicas do mal de amor, de Elena Ferrante


Ficha técnica
Título – Crónicas do mal de amor
Autora – Elena Ferrante
Editora – Relógio D’Água
Páginas – 385
Datas de leitura – de 01 a 10 de março de 2016


         Opinião
         Não foi fácil ler estas crónicas, isto é, as três histórias que Ferrante publicou antes da tetralogia de Nápoles que a catapultou para o merecido reconhecimento internacional. Não foi fácil porque as li numa época de trabalho dobrado e de muita burocracia consumidora de energia. Não foi fácil porque, apesar de já estar familiarizada com a escrita desta autora italiana, tive que fechar o livro em certas passagens, respirar fundo, fechar os olhos e preparar-me mentalmente para conseguir engolir a saliva de novo, normalizar a respiração e aguentar a revolta no estômago que me pedia a rendição, a desistência.
         Ser mãe é do melhor que a vida nos proporciona. Só quem é mãe tem a perfeita noção do quanto a ligação umbilical que nos une a um filho é física, emocional e inexplicável. É de um amor avassalador e que nunca diminui, pelo contrário. Por tudo isto, sempre que refletimos sobre o amor que existe entre uma mãe e um filho, pensamos em carinho, ternura, atenção, sacrifício, dádiva, renúncia e reagimos muito mal perante notícias de mães que abandonam os filhos, que não os cuidam, que descuram dos seus deveres de progenitora. Socialmente, é muito mais condenável se essa negligência ou abandono é materno que paterno, porque a ligação entre uma mãe e um filho vem de muito antes, vem de muitos meses antes do nascimento.
         As três histórias de Crónicas do mal de amor centram-se na relação entre mãe e filhos, no quanto essa ligação é determinante para o crescimento da criança, do quanto um descendente é completamente dependente de como a sua progenitora se comporta com ele e com os demais, do quanto esse comportamento molda o desenvolvimento e a personalidade de um filho. Contudo, a forma como Ferrante aborda o papel de filha, de mulher e de mãe transporta-nos para uma realidade que nada tem que ver com os estereótipos ou com o que convencionalmente associamos a esses laços filiais ou matrimoniais. A autora põe a nu integral, sem barreiras ou cortinas, o lado mais negro, mais duro, mais feio, mais abjeto daquilo que nos impele a magoar uma mãe ou um filho de propósito, a ser vingativo com quem nos deu a vida, a odiar aqueles seres que saíram da nossa barriga e que nos coartam, que impedem que sejamos donos de nós próprios.
         Perante o que disse até aqui, não me parece que seja difícil entender por que quase desisti destas crónicas de Ferrante. Por muito que me sinta à-vontade com a escrita desta autora, foi muito penoso e quase intragável obrigar-me a prosseguir com a leitura.
A primeira crónica/história – Um estranho amor – é um pouco surreal, as bizarras deambulações da protagonista Delia para tentar perceber o que esteve por detrás da morte da mãe levam-na a confrontar-se com um passado sujo, violento e a finalmente confessar os ciúmes, a repulsa e a atração de querer ser igual à sua mãe:
         “Era a ela que eu queria fazer mal. Porque me tinha abandonado no mundo a brincar sozinha com as palavras da mentira, sem limites, sem verdade.” (pág. 126)
         “Estava de tal forma decidida a tornar-me diferente dela que perdia uma a uma as razões para ser semelhante.” (pág. 131)
         A segunda crónica/história – Os dias de abandono – era aquela da qual tinha mais expetativas, sobretudo por partilha de opiniões com uma compincha literária e pelo seu início: "Num dia de Abril, a seguir ao almoço, o meu marido anunciou-me de repente que queria deixar-me. Fê-lo enquanto levantávamos a mesa (...) Falou muito dos nossos quinze anos de casamento, dos filhos, e admitiu que não tinha acusações a fazer-nos..." (pág. 135). Não posso dizer que as expetativas não tenham sido cumpridas, mas a um preço quase deveras elevado, porque tudo é demasiado real, demasiado cru e ao mesmo tempo tão verosímil, tão assustadoramente verosímil que o estômago revolve-se ainda agora que já se passaram 4 dias desde que terminei a leitura. Ainda agora fecho os olhos como que para proteger-me de toda aquela dor, irracionalidade, perda de chão e de vontade de existir, buraco sem fim que nos pode transformar literalmente num farrapo autómato, largado num canto qualquer da casa, que não reage perante nada nem ninguém, mas que ganha vida e uma fúria arrasadora perante aquele que aniquilou a sua vida.
         Por fim, a terceira crónica/história – A filha obscura – permite-nos acompanhar as férias de Lena, uma mulher de quase cinquenta anos, separada do marido e das filhas. Nos dias que passa à beira-mar descreve-nos a leveza que sente por não ter de viver mais com as suas filhas –  "Quando as minhas filhas se mudaram para Toronto, onde o pai vivia e trabalhava há anos, descobri com perplexo espanto que não sentia qualquer desgosto, sentia-me leve, como se só então as tivesse posto definitivamente no mundo." (pág. 292)
Estamos perante uma mãe que confessa o inconfessável – a prisão que os filhos trazem para a vida de uma mulher, a perda da sua identidade – deixa-se de ser mulher para apenas ser-se mãe. E para onde vão os nossos projetos, os nossos sonhos, a nossa rotina, os nossos pequeninos prazeres quando a nossa existência é abalroada pela chegada de um ser minúsculo que nos suga e nos aniquila? E quantas vezes essa aniquilação, esse sugar dos nossos minutos diários revelam o que de mais monstruoso e animal todos possuímos dentro de nós?
Com tudo isto, nem sei bem se recomendo a leitura destas crónicas… Estão maravilhosamente bem escritas (como tudo o que sai da mão de Ferrante), mas são surrealmente reais, são assustadoramente reflexos de quem somos, expõem com uma precisão clínica o que de mais abjeto/humano nos compõe e, como tal, não são nada fáceis de digerir. Deixo ao vosso critério se as querem ler ou não…

NOTA – 09/10 (É-me impossível dar a nota máxima por causa do choque em que ainda me sinto…)


Sinopse
«Ferrante disse que gosta de escrever histórias “em que a escrita é clara, honesta, e em que os factos — os factos da vida normal — prendem extraordinariamente o leitor”. Com efeito, a sua prosa possui uma clareza despojada, e é muitas vezes aforística e contida (…). Mas o que os seus primeiros romances têm de electrizante é que, ao acompanhar complacentemente as situações desesperadas das suas personagens, a própria escrita de Ferrante não conhece limites, está ansiosa por levar cada pensamento para diante, até à sua mais radical conclusão, e para trás, até à sua mais radical origem. Isto é sobretudo óbvio na forma destemida como os seus narradores femininos pensam sobre filhos e sobre maternidade

Do Prefácio de James Wood

O meu atlas interativo


Ficha técnica
Título – O meu atlas interativo
Autores – Jenny Slater, Katrin Wiehle e Maryin Sanders
Editora – Porto Editora
Páginas – 29
Datas de leitura – de 05 a 10 de março de 2016

Opinião
Adoro partilhar leituras com o meu filhote. Não o faço com a frequência que desejaria, mas, sempre que escolhemos um livro, nos sentamos um ao ladinho do outro no sofá e saboreamos esse tempinho desfolhando folhas e lendo à vez aquilo que elas nos oferecem, gozo de uma felicidade e de um preenchimento indescritíveis J É o materializar, é o concretizar do que para mim é ser mãe.
O meu atlas interativo ocupava um cantinho na estante do quarto do meu filhote desde o Natal, desde que o Avô L. lho tinha oferecido. Sei que o D. já o tinha folheado, já tinha inclusive colado alguns dos autocolantes que fazem parte da projeto, mas ainda não o tinha saboreado por completo. Sendo assim, aliciei-o no dia do seu aniversário para uma leitura conjunta e ele aceitou com entusiasmo.
Todas as noites lemos um pouquinho e colámos os autocolantes correspondentes a cada página, já que este atlas, para além de nos fornecer informação básica sobre cada continente, sobre os seus países e alguns factos geográficos, dá a possibilidade às crianças (e por que não aos adultos) de colarem autocolantes de alguns pontos de interesse, animais, figuras famosas e das bandeiras de todos os países que formam cada um dos continentes terrestres.
Foi uma leitura recheada de boa disposição – quem resiste a rir perante nomes engraçados de capitais como Tashkent (Uzbequistão) ou Sri Jayawardenapura-Kotte (Sri Lanka) ou perante a lista infindável de países cujos nomes terminam em –istão, como Paquistão, Uzbequistão, Turquemenistão ou Quirguistão? Foi igualmente uma leitura que serviu para que eu limasse os meus conhecimentos geográficos e pusesse de parte ideias feitas (e erradas) de que países como Belize ou as duas Guianas se situavam em África. Foi, por fim, uma leitura que me encheu de orgulho ao constatar o quanto o meu filhote sabe de geografia e o quanto lhe agrada esta área! Sou uma mamã babada, não há dúvida J
O objetivo principal destas leituras partilhadas é bem visível na palavra “partilhadas” – desfrutar de deliciosos momentos com o D. e, se possível, espicaçar o seu gosto pelos livros, que combatem em pé de (muita) desigualdade com os “viciantes” jogos de computador… Quero por isso que esta leitura seja uma de muitas que lhe seguirão e que delas tiremos gostosos momentos a dois, prazer e conhecimento.
A próxima já está escolhida e recai de novo na geografia J
Aguardem novas partilhas!

NOTA – 10/10

Sinopse
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para apoio a projetos relacionados com a História de Portugal nos 3º, 4º, 5º e 6º anos de escolaridade.

Parte à descoberta do Mundo com este fantástico atlas cheio de atividades. As ilustrações coloridas dos mapas estão repletas de informação e tu podes completá-las com mais de 250 autocolantes, incluindo bandeiras, animais, pontos de interesse e maravilhas naturais.

Balanço mensal - livros lidos e adquiridos em fevereiro


Depois de dois meses fervilhantes, nos quais caíram cá em casa nada mais nada menos do que quinze livrinhos novos, em fevereiro voltámos aos números habituais J Recebi ainda uma prenda de aniversário (que gostinho têm estes miminhos atrasados), o maridinho e eu presenteámo-nos com mais uma leitura e, como tinha pontos a expirar no cartão da FNAC, lá me vi obrigada a usá-los na aquisição de uma obra que morava há já algum tempo na minha wishlist J
A minha “coleção” de obras do fantástico Valter Hugo Mãe está em expansão. Presentearam-me com a sua última criação – Contos de cães e maus lobos. Tenho a certeza de que mergulharei nessa coletânea com avidez e que não me defraudará, como nenhuma obra do autor de Vila de Conde me defraudou até agora.
Para celebrar uma data muito significativa para nós, o maridinho mimou-me com o último volume de uma tetralogia que nos tem deixado em estado de transe. Ofereceu-me (e a ele também, já que partilhamos o “fanatismo” por Elena Ferrante) História da menina perdida, o volume que encerra a extraordinária e inquietante narrativa das vidas de duas amigas de Nápoles.
Tendo como perfeita desculpa a aproximação da expiração de pontos no cartão FNAC, voltei a pecar (já não o fazia desde novembro…) e comprei Arquipélago, de Joel Neto. A sua sinopse é entusiasmante, tem traços que me recordam as histórias mirabolantes que saíam do génio de Saramago que se combinam com ingredientes de mistério e de uma “epopeia” que se lerá com sofreguidão. Mal posso esperar por estrear-me no mundo deste autor que quero desesperadamente conhecer!
Quanto às leituras deste mês que nos brindou com mais um dia, só posso dizer que não defraudaram as minhas expectativas e que me mantiveram no rumo certo para concretizar um dos meus objetivos para 2016 – “papar” 60 histórias!
Arranquei o mês regressando ao mundo de Zezé de O meu pé de laranja lima. Com Vamos aquecer o sol, voltei a derreter-me com a sua inocência, o seu lado precoce e travesso e adorei acompanhar a sua caminhada em direção à idade adulta!
A seguir, embrenhei-me no terceiro volume da tetralogia de Elena Ferrante. Confesso que História de quem vai e de quem fica não me agarrou como me haviam agarrado os seus antecessores, mas todo o brilhantismo da escrita da autora italiana continua lá!
Com A vida secreta das abelhas fiz a segunda releitura do ano e só posso dizer que a segunda leitura desta obra cheia de magia e ternura me conquistou tanto ou mais do que me havia conquistado há mais de dez anos.
Seguindo o conselho de outros livrólicos que devoram leitura atrás de leitura sem gastar dinheiro, fiz uma visita à biblioteca da terrinha e trouxe para casa uma obra com um título muito sugestivo – Gente feliz com lágrimas –,que, por um lado, me deixou de rastos com tanta tristeza e miséria, mas que por outro me abriu as portas para a escrita sublime de João de Melo. 
Por fim, nas últimas horas do último dia do mês encerrei a leitura de uma obra que me deixou aquele saborzinho saboroso (passando o pleonasmo) na alma – Estrela errante traz-nos uma narrativa poderosa, que mistura ingredientes históricos com duas personagens femininas redondas, complexas, frágeis, determinadas e tão, tão cativantes!
Foi assim um mês que me rendeu cinco leituras suculentas e que só espero que sejam seguidas de outras tantas recheadinhas de histórias muito saborosas!
Resta-me deixar-vos o link para acederem à opinião completa das obras lidas este mês:

Estrela Errante, de J. M. G. Le Clézio


Ficha técnica
Título – Estrela errante
Autor – J. M. G. Le Clézio
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 290
Datas de leitura – de 24 a 29 de fevereiro de 2016


Opinião
Que delícia foi ler esta obra! Pode parecer contraditório afirmar isto, porque muito pouco em Estrela errante nos coloca um sorriso na cara, nos faz pensar cor-de-rosa ou ser otimista, mas tudo isso torna-se supérfluo quando esbarramos com palavras, parágrafos, capítulos tão bem delineados, tão bem escritos. Vezes sem conta dei comigo com o olhar preso em determinada passagem, presa ao poder das palavras, como que perdida entre a beleza e o deleite dum amontoado de letras, que combinadas pela mão genial do escritor, nos permitem tomar o lugar da personagem, enroscar no seu íntimo e ver os que os seus olhos veem, pensar o que o seu intelecto pensa, sentir o que seu coração sente, desfrutar o que os seus sentidos desfrutam. É esta a magia e a força da leitura J
Esther e Nejma são as protagonistas desta obra. São duas adolescentes marcadas por experiências terríveis. Uma é judia, conseguiu escapar às garras dos nazis, mas na fuga perdeu o pai, a inocência e a noção de casa, de pertencer a um lugar. A outra é palestiniana e também ela se vê obrigada a fugir da sua cidade, do mar e das ruas que sente como suas para não sucumbir, para não perder a vida. A errância e a casualidade fazem com que os passos de uma se cruzem com os passos da outra, que Esther e Nejma se olhem nos olhos, se toquem e troquem muito mais dos que os seus nomes, já que nunca mais se esquecerão desses breves momentos, desse diálogo mudo, dorido que recordarão em alturas fulcrais ou insignificantes das suas vidas.
 A força, a determinação, a coragem, o crescimento forçado por circunstâncias terríficas, a inocência que espreita em lugares desoladores e sobretudo a capacidade de olhar, de observar e de ainda desfrutar da magia da natureza fizeram com que me rendesse sem reservas às duas meninas-mulheres que erram, vagueiam ao longo das 290 brilhantes páginas da obra. Foi impossível não me identificar com as fugas de Esther, que tenta enganar a realidade de guerra e de terror, evadindo-se, indo ao encontro de refúgios, de locais mágicos, onde a água, os sons que produz, o choque térmico que lhe eriça a pele, o seu irrevogável curso alimentam os seus sonhos, a sua esperança. Foi ainda pungente e aflitivo acompanhar Nejma nos intermináveis dias de um campo de refugiados, no qual o calor abrasador, a falta de água potável, a perda de quase tudo o que nos define como humanos a impeliam a afastar-se de todos, a pôr o olhar no horizonte e a desafiar a morte.
Estrela errante é assim uma obra pouco ou nada indicada para quem não quer mergulhar na dor, no desespero, na desolação, naquilo que faz enroscar e querer desaparecer. Contudo, para quem busca – tal como eu – com desespero e agonia uma obra que nos toca, que nos faz crescer, que nos alimenta o vício de querer ler mais e mais, que nos leva a agradecer a existência da literatura, deve mergulhar no mundo deste autor francês, galardoado com o Nobel em 2008. A sua deliciosa escrita (pelo menos nesta obra, que é a única que li dele) é contemplativa, contida, carregada de lirismo, sensorial e alcançou aquilo que eu pretendo de uma leitura – fez-me viajar, arrebatou-me, extasiou-me, enlevou-me.
         É, por fim, uma obra que glorifica o feminino. É um hino às mulheres como um todo, como um ser único e especial que somos.
         Antes de terminar, tenho que agradecer à Verinha “Gastabromas” por me ter emprestado o livro. Gracias, Verinha, proporcionaste-me cinco dias de uma leitura “terriblemente exquisita” J J

         NOTA – 09/10 (não lhe dou a nota máxima, apenas porque queria mais de Nejma…)

         Sinopse
         Esther descobre o que pode significar ser judia em tempo de guerra: após uma adolescência serena, vai conhecer o medo, a humilhação, a fuga pelas montanhas e a morte do pai. 
Terminada a guerra, Esther parte para o jovem estado de Israel. Mas a Terra Prometida não lhe vai proporcionar a paz: à chegada terá um encontro com Nejma, que deixa o seu país com as colunas de palestinianos rumo aos campos de refugiados. 
 Esther e Nejma, a judia e a palestiniana, nunca mais deixarão de pensar uma na outra. 

 Estrela Errante é a descrição de uma viagem rumo à consciência de si mesmo.  Um romance onde Le Clézio glorifica as mulheres e denuncia o absurdo da guerra.