Ficha técnica
Título – A catedral do mar
Autora – Ildefonso
Falcones
Editora – Bertrand
Páginas – 583
Datas de leitura – de 26
a 31 janeiro de 2016
Opinião
Não vale a pena tentar usar eufemismos
– a verdade é muito simples – foi com muito sacrifício que avancei na leitura
deste romance, sem conseguir chegar ao seu final. Confesso que fiz batota, que
li na diagonal algumas partes e que me obriguei a seguir com a leitura, mas por
razões muito minhas e por outras que explanarei a seguir, tenho que fechar o
livro e pô-lo de lado sem ter lido a última página. Raramente o faço, quase
sempre tento ler mais um pouco, em busca de algo que me impele a continuar e a
chegar ao fim. Mas desta vez não foi possível.
Quando retirei a obra da estante,
tinha consciência de que iria haver lugar às inevitáveis e óbvias comparações
com Pilares da terra, de Ken
Follett. Acompanhavam-me igualmente as mais que favoráveis opiniões do
maridinho, de quem me havia emprestado o livro (Lo siento, Lucinda…) e de milhares de leitores que recomendam a sua
leitura sem hesitações. Contudo, tentei abstrair-me (na medida do possível) de tudo
isso e embrenhei-me na Idade Média, na Catalunha do século XIV, numa narrativa
que realça o povo como classe espezinhada por uma hierarquia nobre e feudal e
sobretudo nas descrições de Barcelona, habitada por massas de gente que vivem
com os olhos postos nas águas promissoras do Mediterrâneo e com o desejo de
erguer uma igreja que reflita amor e gratidão a esse mar que fez da capital da
Catalunha uma das cidades mais prósperas do mundo ocidental de então.
À medida que ia avançando páginas,
nada fazia prever que esse avanço fosse perdendo fulgor e sendo substituído
primeiramente por um esforço em ler e reter certas partes e posteriormente por
uma mistura de aflição, frustração e, porque não, aborrecimento. O autor
põe-nos, na parte inicial da obra, em contacto com o seu protagonista ainda
bebé, abandonado em circunstâncias trágicas pela mãe, e cuidado por um pai extremoso
que tudo faz para que o filho não venha a sofrer debaixo do jugo feudal de
senhores a quem nada mais importa que o seu dinheiro, o seu nome e o seu
umbigo. Fogem os dois para Barcelona e Bernat Estanyol viverá obcecado com o
plano de fazer dele e do filho homens livres.
É após a morte de Bernat que a
narrativa perde, na minha opinião, o fulgor inicial. Aliado a um rigor
histórico de louvar, que não só nos permite conhecer a fundo o contexto epocal
e social que envolve a Barcelona do século XIV e ao mesmo tempo visualizar a
sua traça urbana, vamo-nos deparando com uma narrativa de ritmo lento, na qual
a primazia recai na contextualização histórica e não nas personagens. Estas
apenas acompanham a maré dos acontecimentos, são algo planas, sem a densidade e
complexidade que tanto aprecio nas mesmas. Folheamos página após página e o
narrador não nos dá acesso ao seu mais íntimo e quando o faz, fá-lo de forma
frouxa, previsível. Nem mesmo a histórias de amor, aquelas que sempre apimentam
qualquer história, nos espicaçam ou entusiasmam.
Adoro a cidade de Barcelona e na única
vez que a visitei não tive oportunidade de conhecer a belíssima igreja de Santa
María del Mar, à volta da qual gira a trama da obra. Mas nunca foi meu
propósito ler a obra de Ildefonso Falcones para saber pormenor a pormenor como
foi construída e porquê. Se fosse esse o meu objetivo leria um guia turístico
ou qualquer texto não-ficcional. O que realmente queria e desejava era
perder-me nas quase 600 páginas e só reencontrar-me quando encerrasse a sua
leitura com um sorriso nos lábios e aquele prazer inigualável que extraio de qualquer
obra a que me rendo sem condições.
Talvez a culpa seja minha. Talvez não
fosse este o momento apropriado para pegar neste livro. Talvez não tenha dado o
real valor ao trabalho exaustivo e rigoroso feito pelo autor. Talvez não esteja
a ser imparcial e tenha deixado que a minha opinião fosse contagiada pela
inevitável comparação com a obra-prima de Ken Follett. Talvez tenha sido por
tudo isto, mas sei que já não há nada a fazer e que não tenho mais forças e
ânimo para ler as páginas que faltam… E são menos de 100.
Resta-me pedir de novo desculpas a
quem me emprestou a obra. Desculpa mesmo, Lucinda! De coração.
NOTA – 05/10
Sinopse
Século
XIV. A cidade de Barcelona encontra-se no auge da prosperidade; cresceu até ao
humilde bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o
dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano conhecido: Santa
Maria do Mar. Uma construção paralela à desditosa história de Arnau, um servo
da terra que foge dos abusos do seu senhor feudal e que se refugia em
Barcelona. Daqui se torna cidadão e, assim, num homem livre. O jovem Arnau
trabalha como estivador, palafreneiro, soldado e cambista. Uma vida extenuante,
sempre à sombra da Catedral do Mar, que o tirará da condição miserável de
fugitivo para lhe dar nobreza e riqueza. Mas com esta posição privilegiada
chega também a inveja dos seus pares, que tramam uma sórdida conspiração que
põe a sua vida nas mãos da Inquisição... Lealdade e vingança, traição e amor,
guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa, a ambição
material e a segregação social. Um romance absorvente, mas também uma fascinante
e ambiciosa recreação das luzes e sombras do mundo feudal.