Chama-me pelo teu nome, de André Aciman



Ficha técnica
TítuloChama-me pelo teu nome
Autor – André Aciman
Editora – Clube do Autor
Páginas – 284
Datas de leitura – 16 a 20 de julho de 2018

Opinião
Este livro chegou cá a casa em junho, mais uma vez consequência da gentileza da Berta, do Clube do Autor. Tinha planeado lê-lo brevemente, mas, na minha lufa-lufa de “despachar” leituras por ordem cronológica de entrada, nem sequer pus a hipótese de inseri-lo na maratona literária que tem ocupado os meus dias “literários” desde o início do verão. Porém, por culpa do Booktube, de uma leitura conjunta que fizeram três booktubers que sigo e dos correspondentes vídeos de opinião (a que se juntou uma “live”), não consegui esperar mais, saquei a obra do cantinho da estante dos “por ler” e obriguei-a a fazer-me companhia durante 5 dias.

“… e queria que eu soubesse que ele era mais eu do que alguma vez eu fora, porque, quando ele se tornava eu, e eu me tornava ele, todos aqueles anos antes, ele era, e seria para sempre, muito depois de todas as encruzilhadas da vida, o meu irmão, o meu amigo, o meu pai, o meu filho, o meu marido, o meu amante, eu mesmo. Nas semanas que passámos juntos naquele verão, as nossas vidas mal se tocaram, mas atravessámos para a outra margem, onde o tempo para, o paraíso desce à terra e nos oferece a porção que é nosso direito divino desde o nascimento. Olhámos para o outro lado. Falámos de tudo, mas. Mas sempre soubemos, e não dizer nada, agora, só confirmava que sabíamos. Descobrimos as estrelas, tu e eu. E isso só nos é proporcionado uma vez na vida.” (pág. 278)

Estamos na década de 80. Como acontece em todos os verões, os pais de Elio recebe um jovem académico na sua casa de férias localizada à beira-mar de uma localidade italiana. Desta vez, esse jovem é Oliver, norte-americano, de 24 anos e que vai agitar a suave rotina daqueles dias estivais com a sua boa-disposição, o seu à-vontade e alguma sobranceria. Contudo, o efeito que a chegada deste hóspede produz em Elio é abalroador e fará com que o jovem de 17 anos descubra o desejo intenso, animal e lhe apeteça, com um apetite visceral, que não o deixa pensar em mais nada, conhecer, tocar e penetrar o corpo daquele homem que o tenta desde que pôs os pés em sua casa.
A obra está dividida em quatro partes e uma segue a outra num crescendo que me fez não querer largá-la enquanto não a acabasse. Confesso que a primeira parte foi a que menos gostei, mas compreendo a sua existência e a sua pertinência. É nela que entramos nos pensamentos, gostos e prazeres de Elio, é nela que entendemos o quanto este miúdo é diferente dos demais da sua idade, sobretudo por causa dos seus gostos literários e musicais, que fazem dele alguém com quem se pode falar e discutir praticamente sobre tudo relacionado com as duas artes. Mas é também nessa primeira parte (as outras – a segunda e a terceira – corroborá-lo-ão) que nos enterneceremos e sorriremos perante as inseguranças de Elio, a intensidade dos seus sentimentos e a sensação de premência em ter o que quer, tão típicas da adolescência/juventude de todos nós. A primeira parte é ainda uma porta que se vai abrindo e permitindo que o leitor vislumbre o que irá desenrolar-se nas partes que se lhe seguem e que se resume a isto – serão ou não os desejos de Elio satisfeitos? E qual será a sua reação face a essa realização (ou não) daquilo que o atormenta e que não o deixa pensar ou respirar mais nada?
Deixando o resumo da obra por aqui, para que não desvende mais do que pretendo desvendar, regresso ao que mencionei no parágrafo inicial desta opinião e digo, sem qualquer espécie de dúvida, que as expectativas que levava comigo, quando retirei a obra da estante, não foram defraudadas e que esta leitura está nas melhores deste ano. Sabia de antemão que a reação de outros leitores à mesma não era consensual (houve quem a tivesse adorado e quem nem sequer a tivesse terminado), e entendo-a perfeitamente, pois o tema pode ser constrangedor e as descrições de alguns atos são muito cruas e gráficas. Contudo, nada disso poderia nunca manchar uma experiência avassaladora como acabou por ser aquela que a obra me ofereceu, já que estamos perante uma lindíssima, única e mágica história de amor que me prendeu do início ao fim, que me fez sofrer, sorrir, recordar e chorar. Sim, chorar compulsivamente, como já não chorava há tempos. Chorar com passagens magistralmente bem conseguidas como aquela que aqui transcrevi e que, na minha opinião, capta na perfeição tudo o que deve ficar connosco após o término da leitura – uma história de um amor mais do que completo, que extravasa a parte física e a união de dois seres e que todos nós queremos sentir ou possuir uma vez na vida. Não faço tenção de explicar aquilo que, para mim, está por detrás do título da obra, mas abro ligeiramente o pano e sussurro que é mais um exemplo dessa completude de um amor que “só nos é proporcionado uma vez na vida”.
É com um pequenino aperto no coração que devolvo a obra à estante, porque tenho uma plena e fria consciência de que aquilo que ela me deu é raro e que afetará as leituras que se lhe seguirão. Não é fácil a busca pelo que é especial e mágico, mas também não é fácil (nem justo) desligarmo-nos da felicidade que sentimos quando essa busca finalmente atinge o seu propósito e temos que seguir caminho.
É mais do que óbvio que recomendo encarecidamente que leia esta obra, mas que apenas o faça quem se sente preparada para ela. Tenciono ver a correspondente adaptação cinematográfica que ganhou inclusive o Óscar de melhor argumento adaptado e comprovar aquilo que já li/ouvi várias vezes – que, ao contrário do que é habitual, se deve ver primeiro o filme e só depois ler o livro. Já não seguirei esse conselho, mas estou muitíssimo curiosa por ver o filme e comprovar se ele é tão bom como o livro.
Termino agradecendo novamente à editora Clube do Autor o generoso envio da obra.

Esta foi a sexta leitura que fiz para a maratona literária – Bookbingo – Leituras ao sol 2. Não era a obra que inicialmente tinha previsto para a categoria – Livro que se passe no verão – mas a urgência em lê-la tratou de me fazer trocar as voltas à lista.

NOTA – 10/10

Sinopse
Chama-me pelo Teu Nome é um romance arrebatador sobre o desejo e a experiência da atração. Uma das grandes histórias de amor do nosso tempo, narrada de forma inteligente e imprevisível.
Na idílica Riviera italiana nasce um romance intenso entre um rapaz de dezassete anos e o convidado dos pais, um estudante universitário que irá passar com eles umas semanas no verão.
Divididos entre o receio das consequências e o fascínio que não conseguem esconder, avançam e recuam movidos pela curiosidade, o desejo, a obsessão e o medo, até se deixarem levar por uma paixão arrebatadora e descobrirem uma intimidade rara que temem nunca mais encontrar.

A história de um casamento, de Andrew Sean Greer



Ficha técnica
TítuloA história de um casamento
Autor – Andrew Sean Greer
Editora – Civilização
Páginas – 202
Datas de leitura – 11 a 15 de julho de 2018

Opinião

Julgamos conhecer aqueles que amamos e, apesar de não devermos ficar surpreendidos por descobrirmos que não conhecemos, isso não deixa de nos destroçar o coração. É o mais doloroso tipo de conhecimento, não só acerca do outro, mas também de nós mesmos. Vermos as nossas vidas como uma ficção que escrevemos e na qual acreditámos.” (pág. 47)

Esta leitura teve vários sabores, mas aquele que mais se destacou e que ficou comigo foi o de ter sido a primeira leitura em conjunto contigo, Paula, que estás sempre desse lado. A experiência foi mesmo muito boa e tem que ser repetida, por todas as razões, principalmente por causa dos nossos gostos em comum e do desafiador que é constatarmos que, apesar de sermos “bookbuddies”, há obras que nos tocam e agarram de forma diferente.
Esta obra abre com uma frase que nunca mais largará o leitor e que se repetirá com frequência – “Julgamos conhecer aqueles que amamos.” Em mim, teve o condão de acionar todos os sentidos e levou-me a vê-la como um convite para uma leitura introspetiva, daquelas que abriria portas para o lado mais íntimo, mais escondido e mais nebuloso do ser humano. Não me enganei.
Não vai ser fácil escrever esta opinião sem dar a conhecer demasiado da história que compõe esta “história de um casamento”. Estamos em 1953, na cidade de São Francisco, costa do Pacífico. Pearlie está casada com Holland, um homem mesmo muito bonito, têm um filho e vivem numa casinha junto ao mar. Ele trabalha, ela é dona de casa e todos os dias, sem exceção, ele dá-lhe um beijo antes de sair de casa e outro quando regressa do trabalho enquanto Pearlie tenta protegê-lo das amarguras e vicissitudes do mundo fazendo, com uma tesoura, censura às notícias menos boas do jornal. Porém, ninguém poderá fazer o mesmo por ela quando uma bomba, aparentemente inofensiva, aterra na soleira da sua porta.
Essa bomba não só ameaça destruir os alicerces que sustentavam a rotina e o equilíbrio da existência tranquila de Pearlie. Também traz consigo o elemento vital para que a narrativa agite e nos faça agarrar-nos ainda mais a ela. Aconteceu isso comigo, com a Paula e, calculo, com todos os leitores. Contudo, e falando da minha experiência de leitura, esse abanão que a referida bomba provocou no ritmo da narrativa não foi complementado com aquilo que sempre quero encontrar numa obra – personagens com as quais crio laços, personagens que mexem comigo, que me fazem adorá-las, detestá-las, sentir raiva, piedade, ternura, dor, enfim, personagens que são o suporte vital da trama, que a fazem avançar ou recuar, que lhe dão a cor necessária para que a leitura seja memorável.
Não fui capaz de criar laços significativos com nenhuma das personagens, nem mesmo com Pearlie, a protagonista. Achei que ela se rendeu demasiado cedo, que não lutou pelo que era seu, por tudo aquilo que sempre quis que fosse seu. Baixou os braços, permitiu-se acreditar nas palavras de um desconhecido e deixou que este a manobrasse a ela e aos outros a seu bel-prazer. É certo que Pearlie é uma mulher algo sofrida, muito consciente da sua “diminuta” importância numa sociedade envolvida numa caça às bruxas sem precedentes, onde impera a hipocrisia e uma busca implacável que recorda os tempos da Inquisição. Mas, mesmo assim, eu (e reitero, eu) precisava que ela tivesse mais amor-próprio, mais atitude, mais orgulho.
Lendo aquilo que escrevi até ao momento, pode parecer que ler A história de um casamento foi uma experiência algo dececionante. Mas não o foi. A escrita e o estilo do autor são francamente bons, fartei-me de sublinhar, destacar passagens com as quais me identifiquei e a contextualização histórica revela conhecimentos notáveis de uma época recém-saída de um conflito mundial e que pareceu nada retirar da loucura e megalomania que estiveram por detrás da Segunda Grande Guerra. O autor conseguiu ainda fazer-me sentir em São Francisco, visualizar os espaços desta cidade icónica e sentir muito de perto a segregação racial, política, social e ideológica. Todos estes elementos engrandeceram a narrativa, tornaram-na mais rica, mas não impediram que eu a sentisse algo incompleta, pois as personagens não estiveram à altura dessa riqueza estilística e epocal. Não me agradou a sensação que nunca me abandonou e que sempre me sussurrava que Pearlie, Holland, Buzz ou Alice eram um acessório ao enredo, que a sua presença no desenrolar da história serviu “apenas” para dar visibilidade aos temas que o autor queria abordar. Não sei se me estou a explicar da melhor forma, também não sei se concordas comigo, Paula, (talvez não), mas é essa primazia dada aos temas em detrimento das personagens que, ainda agora, ao escrever este texto, me impossibilita dar a esta leitura uma nota superior a um 8.
Remato a opinião regressando ao que disse no início. O sabor mais doce desta leitura foi o facto de ter sido feita em conjunto e de ter dado o tiro de partida para uma experiência que repetiremos com frequência, não é assim, Paula? Acrescento ainda que esta história, que, como diz o autor, não é apenas de um casamento, poderá não agradar da mesma forma a todos (basta ver o que aconteceu com a leitura em conjunto), mas merece que aqueles que gostam de uma escrita maravilhosamente apurada e de uma contextualização muito cuidada peguem nela e a conheçam.

Esta foi a quinta leitura para a maratona literária – Bookbingo – Leituras ao sol 2 – e encaixa na categoria – Livro cujo título tenha as letras que componham a palavra MAR.

NOTA – 08/10

Sinopse
“Julgamos conhecer aqueles que amamos.”
É assim que Pearlie Cook inicia a sua exploração indirecta e devastadora do mistério que está no centro de todos os relacionamentos: como é que alguma vez poderemos conhecer verdadeiramente outra pessoa?
Estamos em 1953 e Pearlie, uma dona de casa dedicada, vive no Sunset District, em São Francisco, tratando não apenas do marido de saúde frágil, mas também do filho, que sofre de poliomielite. Então, num sábado de manhã, um estranho aparece à sua porta e tudo muda. Todas as certezas com as quais Pearlie sempre viveu são postas em causa enquanto luta por compreender o mundo à sua volta, especialmente o marido, Holland.
A História de Um Casamento retrata três pessoas encurraladas nas limitações da sua época, bem como as medidas desesperadas que estão prontas a tomar para escaparem.

O pianista de hotel, de Rodrigo Guedes de Carvalho



Ficha técnica
TítuloO pianista de hotel
Autor – Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora – Dom Quixote
Páginas – 486
Datas de leitura – 05 a 10 de julho de 2018

Opinião
Moram cá em casa todos os romances que Rodrigo Guedes de Carvalho publicou e foi com enorme alegria que o ano passado eu e o maridinho recebemos a notícia de que o autor tinha posto fim a um interregno demasiado extenso (de mais de dez anos!) publicando O pianista de hotel. Não sabemos o que esteve por detrás desse interregno, mas já lho perdoamos – e sem qualquer espécie de rancor – pois a espera valeu bem a pena.
Não me sinto especialmente à vontade para estabelecer paralelismos entre O pianista de hotel e as suas “irmãs mais velhas”, porque já as li há muitos anos (existe vontade de relê-las, é verdade, mas são sempre suplantadas pelas leituras mais “frescas” na estante) e aquilo que ainda retenho são as influências antunianas em Daqui a nada, por exemplo, a presença marcante de conflitos emocionais e geracionais entre personagens que arrebatam o protagonismo na trama e um estilo que tem o descaramento de nos sugar a atenção e deixar-nos um nadinha furibundos com desfechos pouco conclusivos. Muitas destas características estão presentes em O pianista de hotel, porém aquilo que se destaca e talvez reflita um refinamento e amadurecimento na escrita do RGC seja o papel do narrador e a consequente importância que aquele lhe confere na estrutura e desenrolar da narrativa.
Não é necessário avançar muito na leitura para compreender e sentir que, apesar de estarmos com um livro nas mãos, a escrita parece dar lugar à oralidade e que facilmente nos imaginamos sentados ao lado de alguém que nos conta uma história e que, como sempre ou quase acontece, se dispersa, divaga e vai entrelaçando e intrometendo detalhes, factos, sentimentos e outros aspetos de outras personagens, lugares e tempos. É, assim, envolvidos nesse estilo oralizante e muitíssimo bem trabalhado, que vamos penetrando nas vidas de diversas personagens e criando laços imediatos com todas elas, ou melhor, com quase todas, pois creio que uma ou outra (Ana Paula, por exemplo) são desnecessárias e nada acrescentam à narrativa.
Luís Gustavo, Maria Luísa e Pedro Gouveia foram, sem dúvida, as minhas personagens preferidas. As três são “órfãs” e sentem-se incompletas. Tentam remediar essas lacunas que a vida não lhes quis preencher ou que lhes deixou em determinado momento evitando o mundo à luz do dia, singrando com muito êxito na profissão escolhida ou acobardando-se nos momentos decisivos. Foi-me impossível não me condoer das suas situações, da falta física, emocional e prática que sentem de alguém que partiu das suas vidas, foi-me impossível não acarinhá-los em variadíssimos momentos e foi-me impossível não gostar deles. Amei a relação que Luís Gustavo tem com o seu avô Sérgio (outra personagem deliciosa), a amizade genuína que liga Maria Luísa a Saúl Samuel (mais uma personagem bem construída) e a ligação profissional e paternal que une Luís Gustavo e Pedro Gouveia. São inquestionavelmente – personagens e laços que as juntam – pontos fortes desta obra e que me fizeram devorar quase quinhentas páginas em pouco tempo.
Aliada a estas personagens, aos seus laços, a um narrador com um toque preponderante de contador de histórias e a temas como a homossexualidade, a violência doméstica, a solidão, o divórcio ou o alcoolismo, está a música, que remete para o título da obra e para muito mais. A música preenche os espaços, a música acalma, aconchega, alimenta e aquece a alma e mexe com os cantinhos mais recônditos e escondidinhos que todos nós possuímos. Um piano, uma guitarra, um violoncelo e uma harmónica bastam para que esta obra, já tão rica por tudo aquilo atrás mencionado, atinja outros níveis e me tenha feito chorar sobretudo com Luís Gustavo que vê a sua vida clarear e brilhar por causa de uma harmónica de brincar e com Pedro Gouveia que desata os nós que lhe prendem o coração ao ouvir um pianista tocar num bar de um hotel.
Muito mais poderia dizer desta leitura que se assemelhou a um regresso a casa – a uma casa de que já sentia saudades. Mas pretendo apenas dizer mais duas coisas – a primeira (e que me impede de lhe dar pontuação máxima) tem a ver com o facto de ter achado que o autor mastigou algumas partes e ter, como referi antes, posto na ação algumas personagens que não eram necessárias; a segunda (e que me faz perdoar-te, Rodrigo Guedes de Carvalho, me teres presenteado, de novo, com o final aberto e que me deixou abananada! “Porra, e agora? Por que é que ele não a chamou???) é sobre a parte que o autor intitulou “Depois do fim” e que me deixou ainda mais “apaixonada” por este jornalista que sempre considerei íntegro e um bom homem. É com lágrimas nos olhos e um nó do tamanho do mundo na garganta que te digo que os meus também estão sempre aqui comigo. Sim, eu, mulher sem nenhuma outra fé, também acredito.

Esta leitura foi a quarta que fiz para a maratona literária - Bookbingo - Leituras ao sol 2 - e foi para a categoria - Livro escrito por uma celebridade.

NOTA – 09/10

Sinopse
O Pianista de Hotel transporta-nos numa melodia. 
É uma entrada para um mundo regido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes no ritmo de cada frase, de cada parágrafo rigorosamente medido.
Livro em camadas, nele se cruzam diversos planos, diversas histórias perpassadas pelo poder redentor da música que entra e rasga, a solidão, a dor e o vazio das pessoas que habitam nestas páginas. Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações.
Há um pouco de nós em todas elas.
Há muito de nós neste mergulho ao mais fundo da alma humana. 
É um romance que se lê e ouve, que mantém todos os sentidos alerta. Uma pauta musical, com andamentos diversos, que acabam por se cruzar numa vertigem imprevisível de autêntico thriller psicológico.
E, depois, há o pianista…

O pintor debaixo do lava-loiças, de Afonso Cruz



Ficha técnica
TítuloO pintor debaixo do lava-loiças
Autor – Afonso Cruz
Editora – Editorial Caminho
Páginas – 176
Datas de leitura – 02 a 05 de julho de 2018

Opinião

Podei tudo na minha vida, como fez Gauguin. Sabia que ele abandonou a família para ir para Paris e tornar-se pintor? (…) Tenho tido pensamentos contraditórios e alguma vontade de que a árvore cresça para os lados, com folhas verdes e vários ramos e, quem sabe, flores e frutos.” (págs. 161/162)

 A primeira coisa que me apraz (bela palavra, esta, não é?) dizer é que ninguém sai incólume de uma leitura do magnífico Afonso Cruz. Li algures que o autor nos aquece o coração e não poderia estar mais de acordo. Ter um livro seu nas mãos, enroscar-me no sofá com as histórias que ele magistralmente engendra, terminar o meu dia na sua companhia é indescritível. Creio que muito poucos têm a sensibilidade e o à-vontade com as palavras que possui Afonso Cruz e isso resulta sempre em histórias mirabolantes, deliciosas e que iluminam o nosso coração.
Em O pintor debaixo do lava-loiças conhecemos Jozef Sors, um pintor eslovaco, nascido no final do século XIX e que sempre acreditou que a sua vida e ele próprio tinham que ser como uma árvore, completamente vertical e despida de ramos, flores e frutos. Só assim o seu trabalho como pintor faria sentido e poderia acontecer. Tenta, como fez Gauguin, desprender-se de todos os laços emocionais, perde o pai, desvincula-se da mãe e os poucos amigos ou se afastam ou são deixados para trás. Ruma para vários espaços, cidades e países e termina na Figueira da Foz, em plena Segunda Guerra Mundial, debaixo de um lava-loiças. Resumidamente, esta é a trama da obra, mas o que realmente me aqueceu o coração e me voltou fazer cair o queixo perante a genialidade do autor foi a sua escrita, a magia que ele coloca na construção de uma simples frase e, mais uma vez, a coexistência da palavra com um lado gráfico que casam de forma perfeita. Voltei a assinalar inúmeras passagens, rendi-me de novo à prosa cruziana, enfim, à criatividade e beleza que assistem às suas palavras e ideias.
Foi uma leitura rápida, mas absorvente. Confesso que a parte final me aqueceu mais do que a parte inicial, principalmente por causa do que revela a citação com que abri esta opinião e também pelo que – e não estou a “spoilar”, basta ler a sinopse – o autor partilha connosco no epílogo e que esteve na base desta obra. As vivências com os seus avós que, como é óbvio, abrem uma saudade em mim que nunca se esfumará, tocaram-me e fizeram-me sentir ainda mais próxima deste autor que já ocupa um cantinho muito especial nas minhas preferências.
Recomendadíssimo!
Esta leitura foi a terceira que fiz para a maratona literária Bookbingo – Leituras ao sol 2 e encaixa direitinho na categoria – Livro de um autor que tenha as tuas iniciais. Venha a próxima! 😄😄

NOTA - 09/10

Sinopse
A liberdade, muitas vezes, acaba por sobreviver graças a espaços tão apertados quanto o lava-loiças de um fotógrafo. Esta é a história, baseada num episódio real (passado com os avós do autor), de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império Austro-Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.

A biblioteca, de Zoran Zivkovic



Ficha técnica
TítuloA biblioteca
Autor – Zoran Zivkovic
Editora – Cavalo de Ferro
Páginas – 104
Datas de leitura – 01 a 02 de julho de 2018

Opinião
Esta é a quarta obra que leio das cinco que comprei o ano passado na FLL e é a segunda leitura para a maratona literária Bookbingo – leituras ao sol 2. Li-a para a categoria – Prémio literário estrangeiro.
A biblioteca, de Zoran Zivkovic ganhou o prémio World Fantasy Award e chegou à minha estante novamente pela “mão” e recomendação da Márcia Balsas e do seu Planeta. Fiquei tão extasiada e tão arrebatada com a sua opinião que, consciente ou inconscientemente, arrumei numa gavetinha pequenina do meu cérebro o facto de a obra ser de fantasia e de eu ser pouco adepta desse tipo de leituras. Mas adiante.
A obra está composta por seis contos cujos títulos têm a palavra “biblioteca”. Pressupus, ao observar o índice, que cada conto seria uma porta de entrada para esse lugar mágico e que, ainda hoje, me deixa de sorriso parvinho na cara e de olhos a brilharem de pura alegria. Fantasiei e projetei noites encerrada em bibliotecas, estantes e estantes que parecem não ter fim e, por que não, recordando O cemitério dos livros esquecidos da saga de Zafón, uma biblioteca secretíssima, onde moram livros esquecidos, livros malditos e livros que apenas querem ser folheados uma vez mais. Resumindo, criei as minhas próprias fantasias e, aliando-as ao que já referi, isto é, que o género fantástico não é o que mais me enche as medidas, deparei comigo mesma algo defraudada e dececionada com todos os contos da obra, pois nenhum deles me deslumbrou, nem mesmo aquele que se intitula “Biblioteca particular” (no qual o narrador, sempre que abre a caixa de correio, constata que lá dentro se encontra um livro novo) ou o que tem como título “Biblioteca nocturna”, que foi ao encontro das minhas fantasias iniciais e fez com que o narrador ficasse fechado dentro da biblioteca municipal, após o seu encerramento. Senti que o autor não trabalhou (pelo menos, para mim) a premissa destes dois contos como o deveria ter feito, pois que livrólico ou bibliófilo não ficaria histérico perante uma caixa de correio que “vomita” livros sempre que a abrimos (caramba, quem me dera que a minha fizesse isso e poderia apenas fazê-lo semanalmente, que me sentiria a mulher mais feliz do prédio, do país e talvez do planeta) ou perante a perspetiva de ter uma biblioteca municipal só para si por uma noite? Porém, o autor não me ouviu e tratou apenas de pôr o protagonista do primeiro conto a amontoar mecanicamente os livros que retirava da caixa do correio nos espaços livros do seu minúsculo apartamento e a arranjar-lhes mais espaço, deslocando móveis para a garagem. Quanto ao protagonista do segundo conto que mencionei, fica assustadíssimo ao constatar que na biblioteca onde ficou fechado há um livro onde estão anotados todos os factos e movimentos (importantes e insignificantes) da sua vida e só quer sair daquele espaço o mais rápido possível…
Dos restantes quatro contos gostei ainda menos, à exceção do que se chama “Biblioteca infernal”, que relata a chegada ao inferno de todos os que morreram e que terão como castigo (ou terapia) ler todos os dias e assim tentarem redimir-se dos seus pecados. Concordam comigo que é uma ideia genial, não é? Embora obrigar a ler quem não o quer nem sempre dê bons resultados…
Tenho mesmo muita pena de não ter usufruído desta leitura como gostaria, mas, ainda assim, não deixo de recomendá-la para quem aprecie o género e adore bibliotecas, privadas ou públicas. Se espreitarem as opiniões e classificações no Goodreads que outros leitores deram a esta obra, poderão comprovar que todas são muito positivas e encorajadoras. Por isso, não é minha intenção afastar-vos deste livrinho nem de outros do autor. Eu ainda tenho mais dele para ler – O livro – e tenciono lê-lo em breve.

NOTA – 06/10

Sinopse
Livro vencedor do prestigiado World Fantasy Award, A biblioteca reúne seis histórias fantásticas ligadas à bibliofilia, fazendo-nos pensar em Jorge Luis Borges e na sua biblioteca infinita, mas também no universo de Kafka ou de Umberto Eco.
No conto de abertura, um escritor descobre um site onde todos os seus livros, inclusive os que ainda não escreveu, se podem consultar; num outro, uma comum biblioteca transforma-se durante a noite num arquivo de almas; noutro, ainda, o Diabo decide estabelecer os níveis da literacia infernal...

Balanço mensal - livros lidos e adquiridos/recebidos em junho



Há dois anos que junho está indiscutivelmente associado à Feira do Livro de Lisboa. Os novos habitantes que chegaram cá a casa durante este mês foram todos (à exceção de um) adquiridos nesse certame literário que dá vida ao Parque Eduardo VII. Disso dei conhecimento na publicação que podem encontrar aqui.
Porém, não foram apenas os novos habitantes que provieram da FLL, já que metade das leituras de junho coincidem com as obras que adquiri o ano passado nas bancas da Feira. Refiro-me a Os olhos de Tirésias, O deslumbre de Cecilia Fluss e a Morrer sozinho em Berlim. As outras três vieram de uma oferta de parceria e da biblioteca da terrinha.
Junho iniciou-se com Elmet, de Fiona Mozley, uma leitura estranha, densa, enigmática, mas que nos prende do princípio ao fim. É a obra de estreia da autora, mas ninguém o diria, tal a maturidade e “know-how” que a Fiona Mozley demonstra na construção das personagens, da trama e sobretudo numa escrita sensorial e riquíssima em descrições extremamente visuais. Gostei mesmo muito e atribuí-lhe a nota de 09/10.
Os olhos de Tirésias, de Cristina Drios, foi a primeira leitura que fiz das obras que vieram comigo há um ano atrás de Lisboa. Permitiu-me entrar nas letras desta autora que ainda não conhecia e gostei tanto que quero ler mais do que ela escreveu. Deliciei-me com o seu estilo repleto de criatividade, originalidade, muito primoroso e com personagens redondas e que nos conquistam. Recomendadíssimo! Nota – 09/10!
Para fazer uma pausa em leituras mais complexas trouxe duas obras da biblioteca da terrinha. Uma delas foi A princesa de gelo, de Camilla Lackberg, considerada a Agatha Christie dos países nórdicos. Não tenho muita experiência em leituras policiais, mas, mesmo assim, não considero que esta obra que abre uma saga que creio estar associada à vilazinha onde decorre a ação de A princesa de gelo, seja uma obra-prima do género. Proporcionou-me uma leitura agradável, encobriu bem a identidade do assassino, mas achei os protagonistas um pouco frouxos e desenxabidos. Por essa razão, não atribuí a esta leitura mais do que um 07/10. Contudo, não ponho de parte voltar a ler obras da autora, ainda para mais sabendo que possa encontrar algumas delas na biblioteca.
Da feira do livro do ano transato veio – autografadinho e tudo – o livro que encerra a trilogia que João Tordo iniciou com O luto de Elias Gro. Não é novidade para ninguém que me acompanha que nutro um especial carinho por este autor português e que o considero um dos melhores escritores lusos contemporâneos. Porém, a escrita de João Tordo ultimamente tem estado entrelaçada com a filosofia e a religião e isso aborrece-me bastante. Foi assim que me senti na primeira parte de O deslumbre de Cecilia Fluss e só não acho que a leitura da obra foi dececionante porque Tordo escreve maravilhosamente bem e porque as segunda e terceira partes salvam e fazem esquecer o aborrecimento que me fez bufar e revirar os olhos na parte inicial do livro. Dei-lhe 08/10.
Voltei a fazer um intervalo entre leituras mais densas e li um livrinho juvenil da autora Margarida Fonseca Santos. Bicicleta à chuva devora-se em pouco tempo, possui uma trama simples, mas muito atual e com uma mensagem importante para miúdos e graúdos. Gostei muito e quero ler mais do que a autora escreve para os mais jovens. Atribuí-lhe 08/10.
O mês terminou de forma portentosa, com mais uma leitura proveniente da FLL do ano passado. Morrer sozinho em Berlim é uma obra magistral, com personagens inesquecíveis e de certeza absoluta que será uma das melhores leituras de 2018, merecedora da nota máxima! Rogo a todas que a leiam!

Para além das compras da FLL deste ano, junho engordou a estante com mais uma generosa oferta da editora Clube do Autor. Chama-me pelo teu nome, de André Aciman, que já deu origem ao filme homónimo, promete uma leitura aclamada pela crítica, repleta de paixão, amor, pormenores sensuais e beleza. Estou curiosíssima e quero mesmo lê-lo em breve!

Deixo-vos, como é habitual, os links para acederem à opinião completa das obras lidas em junho:

§  Elmet, de Fiona Mozley
§  Os olhos de Tirésias, de Cristina Drios
§  A princesa de gelo, de Camilla Lackberg
§  O deslumbre de Cecilia Fluss, de João Tordo
§  Bicicleta à chuva, de Margarida Fonseca Santos
§  Morrer sozinho em Berlim, de Hans Fallada


Seis obras lidas e nove novos habitante. Junho foi um mês muito proveitoso, não acham? E vocês, que leram e que compraram? Contem-me tudo nos comentários, por favor!

Morrer sozinho em Berlim, de Hans Fallada



Ficha técnica
TítuloMorrer sozinho em Berlim
Autor – Hans Fallada
Editora – Relógio D’Água
Páginas – 520
Datas de leitura – 23 a 30 de junho de 2018

Opinião
Não me recordo quem é que me recomendou este livro. Talvez não tenha sido ninguém em particular, talvez tenha tropeçado nele numa das minhas visitas ao Goodreads. O que sei é que ele figurava na minha wishlist há algum tempo e que aproveitei a ida à Feira do Livro de Lisboa do ano passado para trazê-lo comigo.
Na aba da capa, debaixo da foto do autor, temos alguma informação sobre Hans Fallada, ou melhor, Rudolf Ditzen. Nasceu em 1893, publicou o seu primeiro romance em 1920 e caiu em desgraça com a chegada de Hitler ao poder. Escreveu Morrer sozinho em Berlim em 1946 e faleceu um ano depois. Permaneceu esquecido durante décadas e só recentemente foi reconhecido como um dos mais importantes escritores alemães do século XX.
Entrei na leitura às escuras, apenas com essa informação do autor e um vislumbre da sinopse. Tão-pouco perguntei nada ao maridinho, que leu a obra pouco tempo depois de ela ter entrado na estante. Constei que estava dividida em quatro partes e que, no final, para além de um glossário, apresentava fotos dos protagonistas, de documentos a eles associados e imagens de Berlim. Por fim, sabia que a narrativa estava baseada em factos verídicos e se passava durante a Segunda Grande Guerra em Berlim, obviamente.
Otto e Anna Quangel são um casal de meia-idade, com uma rotina muito vincada, que se repete sem exceção dia atrás dia. São uma família remediada e neles nada se destaca. Cumprem as suas obrigações, sabem com a exatidão de um relógio o que devem fazer e o que esperar do outro. Porém, a notícia da morte do seu único filho em combate transtorna e rompe tudo o que estava pré-estabelecido e faz que Otto tente demonstrar à mulher o quão as suas palavras – “Mas é o que vós conseguistes, tu e o teu Führer, com a vossa guerra de merda!” (pág. 17) são injustas e descabidas e que nunca houve nem haverá verdade e justiça no paralelismo “tu e o teu Führer”. Durante dias magica sozinho um plano que porá em prática todas as semanas, primeiro uma vez e depois, quando se sentir mais seguro e confiante, duas e três vezes. Escreverá todos os domingos um postal, com mensagens contra o Führer, contra os nazis e contra tudo o que sustenta o poder no seu país, e deixá-lo-á num sítio público, numas escadas de um prédio, por exemplo, para que os berlinenses recolham esse postal, o leiam, se inteirem do rumo sangrento e vil que está a tomar o seu país e, de preferência, passem a palavra.
Não será demasiado pouco isso que queres fazer, Otto?” (Anna, pág. 138)
Este é o comentário que Anna dirige ao marido quando este lhe conta o seu plano e é óbvio que nós, leitores, nos inclinamos a concordar com ela. Contudo, Otto é inflexível e levará a cabo esta vital missão sempre com a firme convicção de que o que a esposa considera “demasiado pouco” terá um papel fundamental na consciencialização dos berlinenses e quiçá de todos os alemães de quanto a nação de todos eles está nas mãos de lunáticos perigosos e assassinos.
Não quero alongar-me muito mais no resumo da narrativa para não tirar-vos o prazer de a descobrir página atrás página. Quero sim, e muito, mostrar-vos como esta obra é uma leitura imprescindível e foi para mim, sem qualquer dúvida, uma das leituras de 2018! Sim, porque não posso dar-lhe menos do que a nota máxima!
Não é uma leitura fácil para quem não gosta de calhamaços, pois são mais de quinhentas páginas com letra pequena e espaçamento reduzido. As páginas estão praticamente todas ocupadas pelo texto e não há muitos diálogos. No entanto, tudo isto fui esquecendo à medida que a leitura progredia, porque me deixei contagiar de imediato pelo estilo mordaz, cáustico de um autor que, somente um ano depois do final da guerra, escarafuncha sem dó nem piedade no nazismo, nos nomes e pessoas que o encabeçavam e nos alemães/berlinenses que se deixaram dominar pelo medo, pela brutalidade do regime ou que se aproveitaram deste para subir na vida e espezinhar nos mais fracos. É facilmente compreensível o ódio e a vergonha que sentia o próprio autor do seu país e dos seus. E é igualmente perceptível o quanto Hans Fallada quis usar o exemplo dos Quangel para demonstrar que, mesmo através de ações demasiado insignificantes, se podia lutar contra aquilo que, no âmago, muitos e muitos alemães sabiam estar errado.
Outro dos pontos fortes desta narrativa brilhante são as suas personagens. Otto é um homem esquisito, avaro, que não admite mudanças, nem que sejam milimétricas, à sua rotina. Devota um amor (do qual só percebemos a força e o tamanho à medida que o conhecemos melhor) calado e reservado à sua mulher e prefere não estabelecer laços afetivos com mais ninguém. Contudo, será uma das minhas personagens preferidas de sempre pela retidão do seu carácter, pela sua ingenuidade e pela firmeza das suas crenças que nada nem ninguém o impedirão de partilhar aos sete ventos, se assim for preciso. Há outras personagens igualmente inesquecíveis, como a própria Anna, o Bom Pastor, Herr Doktor, o velho magistrado Fromm e até o inspetor Escherich. Todas elas estão construídas e moldadas de forma brilhante e complementam na perfeição uma narrativa perfeita.
Não posso deixar de referir outro aspeto importantíssimo para a força e a magistralidade desta obra. Refiro-me a algumas passagens tremendamente fortes e que não esquecerei, tais como o processo de detenção de Otto e de Anna (desculpem o spoiler, mas os documentos que fecham a obra e o próprio índice dão essa informação), a força de carácter dos dois, a ligação indestrutível que os une e, por fim, o último diálogo entre Otto Quangel e o inspetor Escherich. São momentos brutais e aos quais não posso fazer jus com umas simples palavras aqui deixadas.
Acho que já disse tudo. Falta-me apenas mencionar que esta foi a primeira leitura para a maratona literária Bookbingo – Leituras ao sol 2 e para a categoria – Livro que tenha sido publicado há mais de dez anos. Não poderia ter começado de forma mais auspiciosa!
Já sabem – RECOMENDADÍSSIMO! Rogo-vos – Leiam-na, por favor!!!

NOTA – 10/10

Sinopse
Morrer Sozinho em Berlim é o mais importante livro escrito sobre a resistência alemã ao nazismo.
Berlim, 1940. A cidade vive sob o jugo de Hitler, cujas tropas avançam vitoriosamente em várias frentes europeias. Otto e Anna Quangel recebem uma carta que lhes anuncia a morte do filho na guerra. Perante isto, decidem não permanecer de braços cruzados. Otto inicia com a ajuda da mulher uma arriscada denúncia do regime. Em resposta, o inspetor da Gestapo, Escherich, desencadeia uma perseguição impiedosa.
O resultado é um thriller sobre a resistência no centro do poder nazi.