Ficha técnica
Título – Tengo en mí todos los sueños del mundo
Autor – Jorge Díaz
Editora – Debolsillo
Páginas – 528
Data de leitura – de 15 a 22 de novembro de 2017
Opinião
Voltei
às leituras em espanhol. Voltei ao mundo de Jorge Díaz, um autor que
experimentei pela primeira vez com Cartas
a Palacio. Voltei a Madrid, à capital espanhola dos anos iniciais do
século XX, mais propriamente aos últimos dias de 1915 e aos primeiros de 1916. Mas
a minha viagem não se ficou pelas ruas madrilenas. Esta leitura levou-me a
outras cidades espanholas, ao arquipélago das Baleares, à Ucrânia, a Itália, a
Istambul, ao Brasil e à Argentina. Segui os passos de um leque variado de
personagens, cada uma delas distinta das outras, com os seus anseios, os seus
passados, os seus presentes e uma vontade única de querer concretizar os seus
sonhos, mesmo quando estes parecem inalcançáveis ou postos já de lado porque a
vida assim o quis.
Tengo en mí todos los
sueños del mundo
é a obra mais recente deste autor que até ao momento não foi traduzido para
português. Ao compará-la com Cartas a
Palacio, consigo encontrar muitas semelhanças e uma ou outra diferença
que fazem com que a obra mais recente tenha motivos ainda mais suculentos para
agradar uma vasta gama de leitores a quem lhes agrada uma boa história, com um
contexto histórico muito bem documentado e com personagens que nos cativam, que
nos apelam à compaixão, que nos fazem sentir vontade de esbofeteá-las ou a quem
nos rendemos incondicionalmente. Encantei-me com Gabriela, com Raquel, torci
para que Giulio encontrasse um porto seguro, admirei a força e a retidão do
capitão Lotina, não fui capaz de odiar a Sara (apenas consegui sentir por ela
uma imensa compaixão) e observei a minha mão a esticar-se para esbofetear os
energúmenos que se aproveitaram das condições miseráveis em que viviam
incontáveis jovens judias para fazer delas mulheres que eram obrigadas a
prostituir-se e a receber nos seus quartos centenas de homens por semana.
O
outro motivo que fez desta leitura uma leitura muito interessante foi o facto
de a narrativa estar ancorada em factos verídicos. Sabemos logo nas suas
páginas introdutórias que todas as personagens com quem iremos conviver irão
embarcar no Príncipe de Asturias, um
transatlântico luxuoso, moderno e seguro, mais luxuoso, moderno e seguro que o Titanic. Sabemos também que, apesar de
estar mais apetrechado e preparado que o seu antecessor inglês, teve o mesmo
funesto destino – naufragou junto à costa norte de São Paulo, Brasil. Contudo,
apesar de termos nas mãos estes factos e de os mesmos nos desvendarem muito do
desenlace da trama, não considero que isso manche e prejudique o nosso
interesse enquanto leitores, pois a variedade de personagens, a alternância entre
as suas histórias, os acontecimentos que conduzem à “colisão” de umas com
outras e o pano de fundo histórico, a Primeira Grande Guerra que grassa por
milhares de quilómetros europeus, a “suposta” neutralidade espanhola, a
emigração avassaladora para terras argentinas de espanhóis e de muitos outros
cujos países não lhes providenciam as elementares condições de vida e o
nascimento de uma sociedade multicultural nas ruas de Buenos Aires apimentam
uma narrativa vívida e muito bem conduzida por um autor que vai amadurecendo
obra após obra.
Uma
obra que, como se depreende pelo que referi até aqui, se recomenda e que espero
que seja em breve traduzida para a nossa língua, pois teria garantidamente
público e deixaria o povo português de sorriso orgulhoso na cara, pois abre a
sua narrativa com a citação do nosso e universal Fernando Pessoa que explica o
porquê do título do romance – “No soy
nada. / Nunca seré nada. / No puedo querer ser nada. / Aparte de esto, tengo en
mí todos los sueños del mundo.”
NOTA
– 09/10
Sinopse
Tengo en mí todos los sueños del mundo recrea con maestría diversos hechos históricos, como las vivencias de los
desertores de la Primera Guerra Mundial, los matrimonios concertados entre
jóvenes españolas y antiguos emigrados, la persecución de los judíos europeos o
el tráfico ilegal de mujeres destinadas a vender sus cuerpos en burdeles de
Latinoamérica, en una maravillosa novela sobre la esperanza de conseguir hacer
realidad los sueños.