O pecado de Porto Negro, de Norberto Morais



Ficha técnica
TítuloO pecado de Porto Negro
Autor – Norberto Morais
Editora – Casa das Letras
Páginas – 432
Datas de leitura – de 09 a 18 de fevereiro de 2018

Opinião
Nestes dias chuvosos, ventosos, cinzentões saboreia-se de forma ainda mais apetitosa qualquer desculpa que se nos apresente para ausentarmo-nos da realidade que vemos do outro lado da janela. É certo que terminei de ler a obra finalista do prémio LEYA há dez dias, mas o calor das paragens que percorre e acima de tudo a ebulição de sentimentos que dominam as suas personagens são memoráveis e perfeitas para aquecer e agasalhar-me no dia de hoje.
Não me lembro como tropecei com referências a este romance. Tenho quase a certeza absoluta de que foi no Goodreads, mas não faço a mínima ideia de quem o recomendou. Deve, porém, ter sido uma recomendação muito convincente, porque rapidamente incluí o título da obra na minha wishlist. E ainda bem que o fiz, pois proporcionou-me, passado quase um ano após a sua chegada à minha estante, momentos quentinhos, cheios de sentimentos à flor da pele, de personagens que regem a sua vida planeando uma vingança, procurando o calor de um corpo recetivo à linguagem do amor ou antecipando a primeira vez que se vai trocar um olhar prolongado com aquele que se ama desde que se conhece como gente.
Na capital duma ilha qualquer do Oceano Pacífico vive uma pequena comunidade de gente simples. Toda a gente se conhece e todos conhecem muito bem Santiago Cardamomo, um jovem bem-apessoado e que faz as delícias da população feminina. Ele domina como ninguém a arte do amor e raramente passa uma noite sozinho. Entre os seus amigos reina a convicção de que nenhuma mulher lhe resiste, excetuando a filha do açougueiro. Ducélia Trajero é guardada como um tesouro pelo seu pai, vive enclausurada em casa, apenas sai para aprender as artes femininas no convento da cidade e nunca deu mostras de saber o que é o amor. Contudo, desde os seus doze anos, quando atendeu Santiago no açougue e este se despediu dela acariciando-lhe o rosto, Ducélia caiu de amores pelo bom malandro e, pouquinho a pouquinho, vai dando passos para que ele detenha o olhar nela.
Estas duas personagens são, como se depreende, os protagonistas desta narrativa e toda a trama que os envolve é motivo mais do que suficiente para que eu recomende a sua leitura. Contudo, a eles se juntam outras que não nos deixam indiferentes e que dão um toque mais apetitoso, mais doce e mais amargo à história. Se ainda a isto tudo adicionarmos o estilo do autor que se coaduna de forma perfeitinha com a contextualização espacial de latitudes quentes, com o fervilhar de sentimentos antagónicos – amor, ódio, alegria, dor, vingança, justiça – e com evidências de que a morte anda sempre de mão dada com a vida, temos o bolo completo para uma leitura suculenta.
Não quero, como não quero nunca, desvendar muito sobre a narrativa, mas tenho que dizer que o clímax da mesma dá-se, na minha opinião, cedo demais, o que fez com que todo o meu entusiasmo esmorecesse um pouco e me apetecesse estrangular quem o provocou e, em última análise, o próprio autor. No entanto, o desenlace da obra é de tal forma bom e reconfortante que tive que me render, fazer as pazes com o escritor, cerrar os dentes e erguer o punho fechado, pois a justiça tarda, mas sempre aparece!

Assim sendo, se quiserem partir para pontos mais quentinhos do nosso planeta, esquecer o quão invernosa está a nossa realidade, deem uma oportunidade a esta obra, porque não tenho dúvidas que vos aquecerá e vos oferecerá uma saborosa leitura, recheada de personagens cativantes, paragens exóticas e sentimentos fervilhantes!
Termino perguntando se alguém mais já leu Norberto Morais e se me aconselha outra ou outras das suas obras. Agradeço, desde já, porque quero ler mais dele!

NOTA – 09/10

Sinopse
Em Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho. O seu sucesso junto do sexo oposto enche, aliás, de inveja aqueles a quem a sorte nunca bateu à porta, sobretudo o enfezado Rolindo Face, que há muito alimenta esperanças no amor de Ducélia Trajero – a filha que o patrão açougueiro guarda como um tesouro. Mas eis que, no dia em que ensaiava pedir a sua mão, assiste sem querer a um pecado impossível de perdoar que acabará por alterar a vida de um sem-número de porto-negrinos, entre os quais a da própria mãe; a de um foragido da justiça que vive um amor escondido para se esquecer do passado; a de Cuménia Salles, a dona do Chalé l’Amour, a mais afamada casa de meninas da cidade; ou a de Chalila Boé, um mulato adamado que, nas desertas horas da madrugada, se perde pelo porto à procura do amor.
O Pecado De Porto Negro, obra finalista do Prémio LeYa, é um mosaico de histórias que se vão encadeando para construir um romance admirável sobre o carácter circular do destino e a capacidade que o passado tem de nos vir bater à porta quando menos esperamos. 

Gato Galáctico - a minha vida animada, de Ronaldo de Azevedo



Ficha técnica
TítuloGato Galáctico – a minha vida animada
Autor – Ronaldo de Azevedo
Editora – PASS Edições
Páginas – 224
Datas de leitura – de 23 a 24 de fevereiro de 2018

Opinião
Gosto muito dos Youtubers. O Gato Galáctico é um dos meus favoritos. Ele chama-se Ronaldo de Azevedo, é brasileiro, tem 28 anos e vive na casa dos Youtubers com outros que, como ele, fazem vídeos e ganham muito, mas muito dinheiro.
Na sexta-feira fui à FNAC com os meus pais e a minha avó e fiquei maluquinho quando vi este livro. Quis logo comprá-lo e tanto chateei a minha avó que ela ofereceu-mo. Nunca mais o larguei. Li-o enquanto jantava, enquanto a minha mãe entrava em lojas e fazia compras e continuei a lê-lo na manhã de sábado. É tão TOP que o acabei logo a seguir ao pequeno-almoço e avisei imediatamente a minha mãe que queria escrever este texto para o blogue dela e que a nota era de 12/10, para rebentar a escala!
Este livro é sobre a vida do Gato Galáctico. Fala-nos de histórias que aconteceram na sua infância e na sua adolescência, mas não estão só escritas em texto. Estão também representadas em imagens bué da fixes. Conta-nos, por exemplo, como é que ele foi suspenso da escola por ter largado uma bombinha de mau cheiro na sala de aula, como quase matou o seu primo quando o empurrou, sem querer, para uma piscina e das maiores cicatrizes que tem no queixo, no joelho e na perna. Ri-me bastante ao ler estas histórias e recordei-me dos vídeos do Youtube onde ele também fala sobre estes mesmos temas.
Se és fã de Youtubers e principalmente do Gato Galáctico, este é o livro perfeito para pedires como prenda aos teus pais ou aos teus familiares! Se quiseres saber mais sobre o Ronaldo, vai ao canal dele e subscreve-o. Eu já o subscrevi!

NOTA – 12/10

Sinopse
O livro de um dos maiores youtubers portugueses, que vive na "Casa dos Youtubers" com o Wuant e mais 6 youtubers. O youtuber mais conhecido dos pequenos internautas, Ronaldo de Azevedo, a.k.a. Gato Galáctico, chegou a Portugal e vai relatar as aventuras da sua vida num livro tão dinâmico e divertido quanto os seus vídeos com mais visualizações! Os seus 3,6 milhões de seguidores (e todos os outros habitantes do Universo) não vão querer perder esta loucura em papel!

Os Malaquias, de Andréa del Fuego



Ficha técnica
TítuloOs Malaquias
Autor – Andréa del Fuego
Editora – Porto Editora
Páginas – 200
Datas de leitura – de 04 a 08 de fevereiro de 2018

Opinião
Comprei esta obra há um ano atrás (sim, ainda estou a ler livros que chegaram aqui a casa em janeiro de 2017!) porque havia lido algumas opiniões muito interessantes sobre a mesma e porque a encontrei a metade do preço numa livraria qualquer.
A página inicial do capítulo 2 é absolutamente soberba e deixa-nos eletrizados perante o fenómeno climatérico que esturrica um casal deitado no seu leito de matrimónio. Sobrevivem ao raio que atravessa a sua casa os três filhos, que ficam órfãos e acabam separados. Nico, o mais velho, vai trabalhar para a Fazenda Rio Claro, enquanto Júlia e Antônio foram para um lar administrado por uma Irmã francesa. Os anos passam, Nico continua a trabalhar para “seu” Geraldo, Júlia á adotada como criada por uma senhora rica e Antônio continua a viver no lar, pois ninguém se mostra interessado em adotar um miúdo anão.
Não tardei muito tempo em ler este romance, mas não posso dizer que tenha gostado de lê-lo. Apreciei a linguagem, o estilo da escrita e o contexto que envolve a narrativa e pressuponho que tenham sido estes aspetos que levaram à atribuição, no ano de 2011, do Prémio Literário José Saramago à história da família Malaquias. Mas, após a descarga elétrica que me tomou quando li a referida página que abre o capítulo 2, nunca mais senti algo semelhante. Ainda tive a esperança de sentir um frémito parecido no momento em que os olhos de Nico batem em Maria e percebe que ela será a mulher da sua vida. Porém, foi um frémito que se evaporou tão rápido como apareceu… Simpatizei com a velha Tizica, compadeci-me de Júlia, uma menina-mulher em fuga permanente, mas com as outras personagens não partilhei qualquer tipo de interesse, já que elas sempre me pareceram uns autómatos, como se passassem pela vida anestesiados, sem brilho nem vontade própria. Não posso, por estas razões, concordar com a opinião de José Luís Peixoto que figura na contra-capa da obra e na qual o autor afirma que “… talvez possa haver leitores a se emocionarem, a se sobressaltarem, a se deslumbrarem…” Eu não senti nem emoção, nem deslumbre e apenas me sobressaltei na cena que descreve a morte dos Malaquias seniores. Nada mais.
Sei que os prémios literários (mesmo este que transporta o nome do meu querido Saramago) valem o que valem e sei que a minha opinião vale o que vale, mas devem compreender a minha frustração e desilusão por ter adquirido uma obra com uma capa cativante, com uma sinopse prometedora, com opiniões suculentas de gente entendedora e por ter, no final, encerrado a sua leitura e me ter questionado – Os Malaquias são isto? Apenas isto? Um estilo rico, uma linguagem repleta de sabor, uma premissa fabulosa de mãos dadas com um leque de personagens insonsas, estáticas, ocas e com atitudes algo contraditórias? Caramba… Se calhar a culpa é minha, será que não entendi nem encaixei da forma mais adequada com a narrativa?... Creio que não…
Não sei que mais dizer. Acho que me fico por aqui, porque também não quero exagerar e acabar por ser demasiado dura ou crítica com uma autora ou uma obra que talvez não o mereçam.
Se houver alguém desse lado que já tenha lido estes Malaquias, por favor, partilhem a vossa opinião. Seria muito bom saber como foi a vossa leitura.

NOTA – 05/10

Sinopse
Serra Morena. Um raio esturrica o casal, em luz e carne. Os filhos ficam órfãos, com destinos diferentes. Antônio, o menino que não cresce. Nico, o patriarca engolido por um bule de café. Júlia, a menina em fuga permanente. Um lugar onde as sombras da terra e da água convivem. Onde a morte e a vida são o mesmo mundo. Um poema seco à humanidade de cada um de nós.
Uma escrita áspera mas poética, desenhada com a vertigem das memórias da família Malaquias, e que evolui como tributo pessoal da autora aos seus antepassados.
Transcendental e mágico, este romance do insólito revela-se uma leitura para o coração.
Um livro forte, aclamado, invulgar.
Vencedora do Prémio Literário José Saramago 2011
Finalista do Prémio São Paulo de Literatura e do Prémio Jabuti, na categoria romance, ambos em 2011.

O labirinto dos espíritos, de Carlos Ruiz Zafón



Ficha técnica
TítuloO labirinto dos espíritos
Autor – Carlos Ruiz Zafón
Editora – Planeta Manuscrito
Páginas – 845
Datas de leitura – de 23 de janeiro a 03 de fevereiro de 2018

Opinião
Estou saciada. 845 páginas e 12 dias depois, estou saciada. Acedi ao âmago e coração do labirinto desta saga abrindo e fechando portas, interligando caminhos e atando muitas pontas que haviam ficado soltas ao longo das três narrativas anteriores. Obtive respostas, pude continuar na vida de personagens que nunca esquecerei, franqueei novamente o portão do Cemitério dos Livros Esquecidos, conheci Alicia Gris e soube por fim quem foi na verdade Isabel Sempere.
Se o primeiro volume se centra na história de um leitor, de “como nos seus anos de mocidade descobria o mundo dos livros e, por extensão, a vida, através de um enigmático romance escrito por um autor desconhecido que escondia um mistério daqueles de deixar a boca seca”; se o segundo tomo relata “a macabra peripécia vital de um romancista maldito” e a descida aos infernos da sua própria loucura; se o terceiro volume se dedica à personagem de Fermín Romero de Torres e ao modo picaresco como chega a ser quem é e nos descreve as suas “muitas desventuras nos anos mais turvos do século”, esta quarta parte, “virulentamente enorme e temperada com os perfumes de todas as anteriores,” leva-nos por fim ao centro do mistério e desvenda todos os enigmas pela mão de um anjo das trevas chamado Alicia Gris.
Continuamos a entrar e a sair da livraria Sempere e Hijos e a conviver com o Sr. Sempere, com Daniel, Bea, o filho de ambos – Julián –, Fermín, Bernarda e o punhado de vizinhos com quem travámos conhecimento no volume inicial desta saga. Estamos no final da década de 50 e um acontecimento desencadeia um turbilhão de consequências que fará com que as vidas aparentemente apaziguadas dos Sempere e amigos sofram uma reviravolta sem retorno. Mauricio Valls, o eminente Ministro da Educação Nacional e ex-diretor da prisão de Montjuic, desaparece sem deixar rasto. o homem que marcou de forma bárbara e tortuosa a vida de Fermín, de David Martín e sobretudo de Isabel Sempere evapora-se, some, mas deixa para trás um rasto de morte, de corrupção, de desejos de vingança, de dor. Deixa igualmente uma filha adolescente a quem Alicia, uma obscura agente de um obscuro grupo de agentes que fazem aquilo que a polícia nacional não consegue, promete encontrar o pai e trazê-lo de volta.
Este desaparecimento e esta promessa são apenas a via de acesso a labirinto de histórias e enigmas que se vão entrelaçando e oferecendo as respostas que o leitor vem sofregamente procurando desde que entrou pela primeira vez no Cemitério dos Livros Esquecidos pela mão de um Daniel Sempere muito jovenzinho. Mas são igualmente a via de acesso para conhecermos e convivermos de muito perto com outra das personagens inesquecíveis saídas do engenho de Zafón – o sombrio, maléfico e obscuro anjo das trevas que dá pelo nome de Alicia Gris. Se Fermín me havia conquistado pelas suas características únicas, Alicia atraiu-me como a luz atrai o inseto indefeso. Bastou ler as primeiras palavras sobre ela, sobre o seu lado indefeso que esconde debaixo de uma capa de crueldade, frieza, dissimulação e laivos diabólicos para que me rendesse ao seu encanto pérfido e me transformasse na sua mais acérrima defensora e protetora. Fui devorando capítulo atrás de capítulo sempre agarrada à sua sombra e quase esqueci a pequenina desilusão que ia sentindo por ver que a sua preponderância, o seu protagonismo ia abafando personagens que conhecia e mimava desde o primeiro volume da saga. Segui-a página atrás de página e assim fui saltando no tempo e no espaço, fui viajando para os anos da guerra civil, para os que imediatamente lhe seguiram e para um presente de ditadura franquista instalada de forma absoluta e que continuava a eliminar sem piedade todos aqueles que a ameaçavam. Saí de Barcelona e viajei com Alicia para a capital, uma Madrid negra, maquiavélica, onde num quarto de um hotel de luxo, com falinhas mansas, doçura temperada com veneno e promessas de uma vida finalmente livre, se transformam jovens indefesas, desamparadas e sós no mundo em bonecas assassinas. Fui, como já referi a sua mais que perfeita sombra e assim constatei o que já é óbvio para mim, mas que me continua a perseguir de forma obsessiva – o dia-a-dia de um país esmagado por uma ditadura, de milhares e milhares de cidadãos das suas duas principais cidades que têm que continuar com as suas vidas, que têm que continuar a engolir o sabor a fel e a dor de anos que lhes roubaram entes queridos, amigos e companheiros, que têm que continuar a ser as marionetas perfeitas de um punhado de poderosos que podem desmembrar famílias, matar-lhes pais, mães, roubar-lhes as crianças apenas porque sabem que a mão omnipotente de Franco será sempre a sua fiel protetora.
No início deste texto mencionei que através deste quarto e último volume soube por fim quem foi na verdade Isabel Sempere, mãe de Daniel. No final de O prisioneiro do céu, fiquei a saber o que de verdade lhe havia provocado a morte. Agora, com esta última leitura, recuei até à sua infância, adolescência e juventude, soube como conhecei o seu marido e outros pormenores que não vou revelar, mas que me saciaram muitas dúvidas e questões. Não posso dizer que tenha ficado satisfeita com todas essas respostas, mas gostei do temperamento de Isabel, da sua garra, da sua determinação e do quanto ela amou e provou amar os seus. É mais um exemplo da força das personagens femininas que povoam esta saga. Bea, Nuria, Isabel e Alicia são, à sua maneira, inesquecíveis e mostram inclusive uma preponderância nas múltiplas narrativas dos quatro volumes que relega para segundo plano algumas das personagens do mundo masculino.
Não posso rematar esta opinião sem referir que Zafón soube manter o ambiente gótico, rocambolesco e pontuado com características folhetinescas que acompanham o leitor desde A sombra do vento. A linguagem algo rebuscada, as descrições polvilhadas de hipérboles, metáforas e outros recursos, as tiradas deliciosas de Fermín continuam em O labirinto dos espíritos e são acentuadas pelo carácter misterioso e de thriller que caracterizam este volume. As portas que vão sendo paulatinamente abertas para o desvendar dos múltiplos enigmas desta saga são também uma mais-valia para conseguir manter o leitor interessado e fazer com que este esqueça o volume gigantesco da obra. Por fim, a parte que encerra a obra e que muitos leitores (de quem fui lendo as correspondentes opiniões no Goodreads e blogues) consideram supérflua faz-nos voltar ao início da saga e encerra o ciclo de uma maneira muito hábil, deixando-nos um sorriso nos lábios – pelo menos a mim deixou – e a sensação de apaziguamento que referi no início deste texto.
Li este calhamaço em apenas 12 dias. Acho que este número diz tudo. Resta-me agradecer a Zafón ter-me proporcionado leituras que se manterão comigo por muito e muito tempo. Este último volume fecha com chave de ouro uma saga que recomendo veementemente e até faz com que me esqueça da desilusão que foi (pelo menos para mim) o segundo tomo da saga, talvez porque me dá uma visão mais realista do papel que o mesmo teve em toda a série de O cemitério dos livros esquecidos.

RECOMENDADÍSSIMO!

NOTA – 10/10

Sinopse
Na Barcelona de fins dos anos de 1950, Daniel Sempere já não é aquele menino que descobriu um livro que havia de lhe mudar a vida entre os corredores do Cemitério dos Livros Esquecidos. O mistério da morte da mãe, Isabella, abriu-lhe um abismo na alma, do qual a mulher Bea e o fiel amigo Fermín tentam salvá-lo.
Quando Daniel acredita que está a um passo de resolver o enigma, uma conjura muito mais profunda e obscura do que jamais poderia imaginar planta a sua rede das entranhas do Regime. É quando aparece Alicia Gris, uma alma nascida das sombras da guerra, para os conduzir ao coração das trevas e revelar a história secreta da família… embora a um preço terrível.
O Labirinto dos Espíritos é uma história eletrizante de paixões, intrigas e aventuras. Através das suas páginas chegaremos ao grande final da saga iniciada com A Sombra do Vento, que alcança aqui toda a sua intensidade, desenhando uma grande homenagem ao mundo dos livros, à arte de narrar histórias e ao vínculo mágico entre a literatura e a vida.

Balanço mensal - livros lidos e recebidos em janeiro


Janeiro é muito especial para os adultos cá da casa. Os dois somos “nativos” do mês que arranca o ano e celebramos o nosso aniversário com quinze dias de diferença. Ora, devem suspeitar que, sendo nós um casalinho amante das leituras, oferecemos leituras um ao outro e ainda recebemos mais leituras dos pais, amigos e familiares. O resultado é esta pilha que me rasga um sorriso pateta todas as vezes que me perco nela e que deve provocar alguma invejazinha boa em muitos de vocês. Eu entendo e perdoo 😊
Como se já não bastasse, à pilha de nove livros que fomos, eu e o maridinho, desembrulhando, juntaram-se dois miminhos que a editora Clube do Autor deixou na nossa caixa do correio. Melhor seria mesmo impossível!
Confesso que tudo o que desembrulhei justifica ainda mais o que, um dia destes, uma colega de trabalho me disse – “A vida sorri-te, não sorri?”. Dos homens da minha vida recebi Atos humanos, de Han Kang e A rapariga do casaco azul, de Monica Hesse. Este último constava da minha wishlist e foi o docinho do meu pequenote. O de Han Kang foi uma surpresa, que resulta das inúmeras conversas que tenho com o N. sobre títulos e obras com que vou tropeçando nos blogues que sigo, nas livrarias, no Goodreads ou nos comentários de quem me segue (não é verdade, Paula?). Referi uma noite qualquer o quão curiosa estava sobre esse romance brutal da autora sul-coreana e, pouco tempo depois, já o tinha comigo.
Da mulher da minha vida recebi carta-branca para comprar o que quisesse. Assim sendo, aproveitei uma das muitas promoções que me tentaram durante todo o mês, aliei-a a um cheque aniversário oferecido pela FNAC e encomendei dois dos inquilinos mais antigos da wishlist – A casa redonda, de Louise Erdrich, e O segredo dos seus olhos, de Eduardo Sacheri.
Novamente espicaçada pelas sugestões suculentas da Paula, comprei (com a permissão do papá) num domingo de manhã e com a Bertrand quase toda para mim, Deixem falar as pedras, de David Machado.
Por fim, os meus queridos sogrinhos ofereceram-me A escada de Istambul, de Tiago Salazar e continuaram, dessa forma, a dizimar a wishlist. Coisa boa!
Quinze dias depois era a vez do maridinho ser mimado como tão bem merece. O filhote presenteou-o com o calhamaço que lhe faltava do José Rodrigues dos Santos – Sinal de vida. Já eu mimei-o com outra das suas obsessões – uma obra sobre a Segunda Guerra Mundial – Os meninos que enganavam os nazis, de Joseph Joffo. Os papás seguiram o meu exemplo e deram-lhe a obra imortal de Primo Levi – Assim foi Auschwitz.
Dois aniversários, nove novas leituras. Apetece-me dizer que o Natal se repetiu em nossa casa apenas umas semanas depois e que temos as prateleiras de livros para ler a rebentarem e a vergarem com o peso de seguramente mais de quarenta obras que esperam que as saboreemos com dedicação, prazer e um sorriso que ilumina o mundo!
Para rematar a primeira parte deste balanço, agradeço muito, muito, muito à editora Clube do Autor que continua a confiar em mim e me enviou o thriller Marcada para morrer, de Peter James (já li e ouvi comentários muitos positivos sobre outros thrillers do autor) e o romance A herdeira dos olhos tristes, de Karen Swan, que, segundo a capa, aborda “um desejo de liberdade ou a fuga de uma vida que não se desejou”. Serão duas leituras para muito em breve, por isso estejam atentos!

Aqueles que vão espreitando o blogue com assiduidade sabem que janeiro foi sobretudo o mês de Carlos Ruiz Zafón. Arranquei o ano com a releitura de A sombra do vento e tenho plena consciência de que voltar à narrativa desta obra foi a forma mais perfeita de iniciar o meu ano. Simplesmente perfeita, ainda mais saborosa do que a leitura que fiz há dez anos. Embrenhei-me e perdi-me na narrativa, nas sombras de Barcelona e na magistralidade com que o autor engendrou uma história que nos abana, que nos faz engolir as páginas, saltar de donde estamos no tempo e no espaço e querer não sair mais, ficar presos, presas a uma história mágica, repleta de sombras, de claridade, de dor, de esperança, de amores, de ódios, de risadas e sobretudo de livros, livros esquecidos e malditos. Obra soberba e merecedora de uma nota que rebenta a escala.
A segunda leitura do mês foi-me enviada no final de 2017 pela editora Clube do Autor. As lágrimas de Aquiles foi a obra de estreia do autor José Manuel Saraiva, de quem li há muitos anos Rosa Brava. Aborda a guerra do Ultramar e o quanto esta ceifou vidas de muitos soldados, mesmo que os mesmos não tenham perdido a vida em Moçambique, em Angola ou na Guiné. É uma narrativa amarga, que nos dói, que mostra uma maturidade de escrita surpreendente e que recomendo muito.
Da editora Clube do Autor veio igualmente a minha terceira leitura. Desta vez, tive que pôr de lado a aversão que confesso sentir por Miguel Sousa Tavares enquanto homem e deixar-me encantar pela história juvenil que compõe O planeta branco. Li-o de uma assentada porque é composto por poucas páginas (muitas delas ilustradas) e porque a história que conta cativa miúdos e graúdos e está repleta de mensagens ecológicas e de algo mais, algo que nos leva a entender o que de verdade é esse planeta branco. Atrevam-se a lê-la com os vossos filhos e vão ver que não se arrependem!
Para recordar aquilo que nunca deveria ter acontecido, li e adorei O rapaz do caixote de madeira, de Leon Leyson. É um livrinho pequeno, mas inesquecível, que nos conta em primeira pessoa quem foi Leon Leyson e como a sua vida de rapazinho judeu foi barbaramente trespassada pelo jugo nazi e como sobreviveu ao que poucos como ele sobreviveram apenas porque teve a sorte de ter conhecido e trabalhado para Oskar Schindler. Foi, como é fácil de calcular, uma leitura muito dorida e muito emotiva, mas que não trocaria por nenhuma outra, pois, por mais leituras do género que faça, continuo, por um lado, a não conseguir assimilar as atrocidades inenarráveis que cometeram alguns homens apenas porque se consideravam superiores a outros e, por outro, a precisar de recordar todos aqueles que morreram às mãos desses seres abjetos.
Finalizei o mês de volta a Barcelona, à livraria Sempere e Hijos e à deliciosa companhia do homem narigudo que me conquistou para sempre. Reli O prisioneiro do céu e agradeci inúmeras vezes ao autor ter oferecido as páginas do terceiro volume da saga de O cemitério dos livros esquecidos Fermín Romero de Torres, permitindo-me conhecê-lo melhor, deliciar-me com as suas tiradas e ficar com desejos de ter uns Sugus pertinho de mim, para confirmar se realmente têm essas propriedades curativas de males físicos e psicológicos que Fermín afirma terem. Este volume não é tão bom como A sombra do vento, mas não fica longe da pontuação máxima, sobretudo porque uma obra que tenha Fermín será sempre uma obra perto da genialidade!

Cinco obras lidas. A uma dei uma pontuação que rebentou a escala, a outra dei a pontuação máxima, a duas atribuí-lhes um nove e à que sobra dei-lhe um oito. Não poderia ter começado melhor o ano!
E o vosso janeiro? Leram muito? Compraram muito? Receberam algum miminho? Fico à espera dos vossos comentários!

Termino deixando-vos os links para acederem à opinião completa das obras lidas este mês:
§  A sombra do vento, de Carlos Ruiz Zafón
§  As lágrimas de Aquiles, de José Manuel Saraiva
§  O planeta branco, de Miguel Sousa Tavares
§  O rapaz do caixote de madeira, de Leon Leyson
§  O prisioneiro do céu, de Carlos Ruiz Zafón


O prisioneiro do céu, de Carlos Ruiz Zafón

RELEITURA

Ficha técnica
TítuloO prisioneiro do céu
Autor – Carlos Ruiz Zafón
Editora – Planeta Manuscrito
Páginas – 398
Datas de releitura – de 19 a 23 de janeiro de 2018

Opinião
De volta às releituras e de volta à saga de “O Cemitérios dos Livros Esquecidos”. Como sabem, iniciei este ano de leituras com uma releitura que já me tentava há demasiado tempo. Reli A sombra do Vento e de novo rendi-me à sua narrativa pincelada de mistérios, de amores impossíveis, de vinganças, de personagens sublimemente (im)perfeitas como Daniel, Bea, Julián, Penélope, Nuria ou Fermín (como ri e chorei com este homem!) e de uma absoluta devoção aos livros, sobretudo àqueles que se classificam de malditos ou àqueles que jazem quase moribundos nas prateleiras da livraria Sempere e Hijos ou no labirinto mágico de um cemitério a que um punhado de afortunados vai tendo acesso. Saboreei a releitura com mais prazer do que a havia saboreado na leitura original e vi-me obrigada a rebentar a escala e dar-lhe uma classificação de 11!
Também já confessei aqui algures que pretendo fazer de 2018 um ano de muitas releituras. Irei intercalando-as com leituras novas e assim poderei satisfazer uma vontade que me persegue sempre que percorro com os olhos e os dedos as lombadas dos livros das estantes cá de casa e sinto aquele arrepiozinho bom ao deter-me num título de uma obra que há dois, três ou mais anos atrás me conquistou sem reservas. Dei azo a essa vontade logo quando o ano arrancou, com a referida releitura de A sombra do vento e a ela seguiu-se a do volume três da saga de Carlos Ruiz Zafón.
Quem conhece esta saga sabe que a mesma não necessita ser lida pela ordem cronológica de publicação. Contudo, essa não foi a razão pela qual decidi saltar do volume um para o três. A razão principal (e única) prende-se com o facto de ter lido o volume dois – O Jogo do Anjo – pouco tempo depois de ter sido publicado e ter ficado muito desiludida com ele. A aura de mistério mantém-se, continuamos em Barcelona, recuamos alguns anos em relação ao período narrado em A sombra do vento, tropeçamos em personagens conhecidas, continuamos enredados pelo amor pelos livros, mas a partir do momento em que o sobrenatural mancha a história, lá se vai o meu interesse e a correspondente credibilidade que tem que sustentar qualquer história que me queira agarrar.
Sendo assim, após ter-me deliciado e lambuzado com A sombra do vento, segui direitinha para O prisioneiro do céu, sem qualquer tipo de dúvida ou remorso. Daniel está casado com Bea e os dois são pais de um bebé chamado Julián. Fermín está prestes a casar, mas anda num estado de irritabilidade e melancolia que não se adequa com a iminente concretização do sonho de juntar os trapinhos com Bernarda. Este estado, porém ficará ainda pior quando se inteirar de uma visita de um homem de aspeto pouco tranquilizador à livraria Sempere e principalmente do recado que o mesmo deixou para si num exemplar da obra O conde Monte Cristo.
Este recado será o motor desencadeador para uma narrativa que nos abrirá portas ao passado de Fermín Romero de Torres e nos fará conhecer ainda melhor este homenzinho enxuto de carnes, dono de um enorme nariz e de um ainda maior coração. Regressaremos aos anos tormentosos do imediato pós-guerra civil, franquearemos as portas da tortuosa cadeia do castelo de Montjuic, saberemos quem era afinal aquele homem estranho e assustador que foi à livraria Sempere apenas para deixar um enigmático recado a Fermín, perceberemos finalmente por que razão este sempre esteve relacionado com a família Sempere e conheceremos um pouco melhor quem foi na verdade Isabel Sempere, mãe de Daniel. Meteremos a mão a tudo isto numa leitura vertiginosa, feita de capítulos curtinhos e de uma história habilmente montada pelo autor que não queremos largar mesmo quando viramos a última página. Comigo, pelo menos, foi assim. Fiquei de tal forma sedenta de respostas que, mal encerrei a leitura deste volume, voei para a estante onde estava à minha espera o calhamaço que contém o volume quatro e me embrenhei de imediato nas suas 845 páginas!
Sinto-me muito, mas muito tentada em deixar nesta opinião algumas migalhinhas do que estou a desvendar no último volume. Mas não o vou fazer, porque acho que, se o fizesse, estaria a ser “injusta” e a menosprezar de alguma forma o valor, o interesse e o prazer que retirei da leitura de O prisioneiro do céu. Admito que não me arrebatou tanto como o fez o seu antecessor (já previa isso, sobretudo porque é quase impossível que dentro de uma saga não haja mais e menos prediletos). Contudo, agradeço e muito ao autor ter dado neste volume a oportunidade de Fermín brilhar. Brilhar com as suas fraquezas, as suas imperfeições e acima de tudo com o seu coração do tamanho do mundo, a sua retidão, a sua verborreia inigualável, que me arranca gargalhadas esteja eu onde estiver, o seu apetite e o poder milagroso que atribui a um Sugus, principalmente se for de limão (os meus preferidos 😊).
Fermín conquistou-me. Aliás, estou um bocadinho apaixonada por ele e já sinto saudades, mesmo ainda não tendo terminado de ler o volume quatro. Por ele, recomendo que leiam O prisioneiro do céu. É certo que não é tão absorvente, tão deliciosamente avassalador como A sombra do vento, mas se estiverem tão apaixonados como eu por Fermín vão querer conhecê-lo melhor e só o podem fazer lendo O prisioneiro do céu.
Fica a recomendação. Eu, entretanto, vou devorando as páginas de O labirinto dos espíritos e vou saboreando a cada momento a vontade gulosa que espicaça as minhas glândulas salivares quando recordo o sabor de um Sugus de limão. Tenho que cuscar em supermercados e quiosques para ver se ainda se vendem!

NOTA – 09/10

Sinopse
Barcelona, 1957. Daniel Sempere e o amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, regressam à aventura, para enfrentar o maior desafio das suas vidas. Quando tudo lhes começava a sorrir, uma inquietante personagem visita a livraria de Sempere e ameaça revelar um terrível segredo, enterrado há duas décadas na obscura memória da cidade. Ao conhecer a verdade, Daniel vai concluir que o seu destino o arrasta inexoravelmente a confrontar-se com a maior das sombras: a que está a crescer dentro de si.
Transbordante de intriga e de emoção, O Prisioneiro do Céu é um romance magistral, que o vai emocionar como da primeira vez, onde os fios de A Sombra do Vento e de O Jogo do Anjo convergem através do feitiço da literatura e nos conduzem ao enigma que se esconde no coração de o Cemitério dos Livros Esquecidos.