Ficha técnica
Título – As
Flores perdidas de Alice Hart
Autora – Holly Ringland
Editora – Porto Editora
Páginas – 398
Datas de leitura – de 16 a 23 de novembro de 2018
Opinião
Há leituras
que são um bálsamo, que nos agasalham nestes dias ventoso, frios e chuvosos. Há
leituras que nos salvam um mês que, até ao momento, estava a ser mediano e
frouxo. Há leituras que nos presenteiam com uma narrativa poderosa, que
deambula por espaços inebriantes e inesquecíveis. Há leituras que nos
apresentam personagens feridas, quebradas, sovadas pelos mais próximos e pela
vida e que, mesmo assim, não vergam, tentam a todo o custo sobreviver,
reerguer-se e encontrar o seu lugar, o seu cantinho. As flores perdidas de Alice Hart foi uma dessas leituras e
só isso chegaria para que eu a recomendasse sem qualquer reserva.
Contudo,
penso que uma obra com esta carga emotiva, com uma capa belíssima e que é
acompanhada por ilustrações não menos belas no seu interior, com uma mensagem
tão forte e tão importante merece que se fale dela com mais detalhe e mais
cuidado.
Este
primeiro romance da autora Holly Ringland chegou até mim como muitos outros
chegam – através da passagem da mensagem, através da partilha de opiniões entre
bloggers e booktubers. O pouco que li e ouvi da obra serviu para me aguçar a
curiosidade e o interesse e para querer lê-la o mais rápido possível. Decidi
arriscar um contacto com a Porto Editora e, para gáudio meu, poucos dias depois
As flores aterraram na minha
caixa de correio. Recebi-as no dia 14 de novembro e iniciei a sua leitura dois
dias depois. Morou nas minhas mãos exatamente uma semana, mas ficará comigo, na
minha lembrança, muito mais tempo do que meramente sete ou oito dias.
Não é
uma leitura de fácil digestão, porque aborda temas dolorosos e que me levaram
frequentemente às lágrimas. Mas é uma leitura que se cola a nós e da qual não
queremos despegar-nos, por muito que sintamos o estômago a ser esmurrado, por
muito que nos arrepiemos de angústia, dor, revolta, compaixão e outros
sentimentos mais obscuros. Adotei a protagonista desde a primeira página,
senti-a como se fosse alguém muito próximo a mim e a quem queria proteger a
todo o custo. É impossível ficarmos indiferentes à Alice, ao seu corpinho
franzino, ao seu amor desmesurado pelos cães a quem recorre para amar e ser
amada, ao seu fascínio pelos livros infantis e pelas fábulas e ao seu
crescimento rodeado de dor, de sofrimento, de perguntas não respondidas, de uma
vontade avassaladora de ser amada e de, acima de tudo, encontrar-se a si mesma
e ao seu lugar no mundo.
Contudo,
As flores perdidas de Alice Hart não
se fica apenas pela história esmagadoramente emotiva da sua protagonista. Está
povoada de outras mulheres também elas inesquecíveis à sua maneira, de uma
linguagem ligada de forma umbilical às flores e à sua correspondente simbologia
e de espaços que, emboras fictícios, nos transportam para as paisagens
multifacetadas de um país que sempre me fascinou e me vai fascinar – a gigante
ilha da Austrália. Desde espaços marítimos até ao magnetismo do deserto, que
mesmo agora, com a leitura encerrada, me chegam à memória com um simples fechar
de olhos. E se a isto aliarmos o desconcertante facto de esta ter sido apenas a
primeira obra que Holly Ringland escreveu, então têm que me dar razão absoluta
quando eu afirmo que todos aqueles que se pelam por encontrar uma narrativa
muito bem construída, que nos agarra do princípio ao fim, que nos oferece uma
protagonista rodeada de silêncios sofridos e de um desejo infinito de respostas
e de pertença, que nos faz viajar por espaços mágicos, onde a natureza cria uma
relação simbiótica com as personagens, TÊM que dar uma oportunidade a esta
obra, porque não se arrependerão!
Creio
que já disse tudo. Prefiro não me alongar mais e assim não estragar a vossa
leitura. Eu tão-pouco li e vi muitos textos e vídeos sobre estas Flores, pois queria saboreá-las
sem saber muito daquilo que elas me iriam reservar. E foi a decisão mais
acertada, acreditem!
Antes
de terminar e continuando a ser o mais sincera possível, aponto apenas aquilo
que me impede de dar a pontuação máxima à leitura – senti, mesmo sabendo que a
vida é composta de ciclos, que a última experiência amorosa de Alice era, de
alguma forma, desnecessária…
Concluo
(agora sim) agradecendo, e muito, a gentileza e celeridade com que a Porto
Editora me enviou a obra em troca da sua leitura e correspondente opinião.
NOTA – 9,5/10
Sinopse
Um romance sobre as histórias
que deixamos por contar e sobre as que contamos a nós próprios para
sobrevivermos.
Alice tem nove anos e vive num
local isolado, idílico, entre o mar e os canaviais, onde as flores encantadas
da mãe e as suas mensagens secretas a protegem dos monstros que vivem dentro do
pai.
Quando uma enorme tragédia muda
a sua vida irrevogavelmente, Alice vai viver com a avó numa quinta de cultivo
de flores que é também um refúgio para mulheres sozinhas ou destroçadas pela
vida. Ali, Alice passa a usar a linguagem das flores para dizer o que é
demasiado difícil transmitir por palavras.
À medida que o tempo passa, os
terríveis segredos da família, uma traição avassaladora e um homem que afinal
não é quem parecia ser, fazem Alice perceber que algumas histórias são
demasiado complexas para serem contadas através das flores. E para conquistar a
liberdade que tanto deseja, Alice terá de encontrar coragem para ser a verdadeira
e única dona da história mais poderosa de todas: a sua.