2016 ditou uma explosão de visualizações que
fez com que este cantinho engordasse desmesuradamente. Nos dias que correm, a
média mensal de gente que visita O
sabor dos meus livros é de 9000 a 10000 e recebemos visitantes dos mais variados cantos do mundo, destacando-se os Estados Unidos, Brasil, Rússia,
Alemanha, Irlanda e França. Confesso que esta explosão ainda me aturde, ainda
me deixa abismada, mas ao mesmo tempo aumenta a responsabilidade e, claro, a
alegria e o orgulho de constatar que aquilo que me apaixona, aquilo que traz um
gostinho tão saboroso aos meus dias contagia amigos, conhecidos e sobretudo
desconhecidos e está a transformar um projeto pessoal em algo que já faz parte
de um bocadinho da rotina de outras pessoas que têm prazer em saborear livros e
leituras.
2016
também foi sinónimo de muitíssimas leituras, mais do que as que havia lido em
qualquer outro ano. Entre leituras individuais, releituras e leituras partilhadas
com o filhote, li no ano passado 67 livros. Um número que me faz querer ler
ainda mais este ano que está a começar. Um número que equivale a momentos de
completa cumplicidade entre mim e um livro e que tornam o ato de ler e procurar
leituras novas num vício muito complicado de combater… Um número que espelha o
quanto me é impossível viver sem estar rodeada de alguma obra.
Ao
planear este rescaldo, percorri toda a lista de essas 67 leituras e, após
alguma indecisão, resolvi dar destaque apenas àquelas a que atribuí nota
máxima. Sendo assim, as melhores leituras de 2016 são onze – duas releituras,
duas leituras infanto-juvenis (uma delas também uma releitura) e sete leituras
“adultas”. Todas elas me marcaram de uma forma única e especial e muito
dificilmente as esquecerei. Pelo contrário, vou seguramente querer lê-las de
novo em algum momento futuro.
Ora
aqui estão então elas, por ordem cronológica, as leituras e releituras que
recomendo sem nenhuma reserva, que peço encarecidamente que provem:
(Clicando no nome da
obra, poderá aceder-se à opinião/crítica completa)
LEITURAS
Perguntem a Sarah Gross é na verdade uma belíssima obra, habitada por
personagens fabulosamente bem construídas, redondas, complexas, poços de força
e determinação e que, como tal, nos conquistam. A mim conquistou-me
principalmente o leque de personagens femininas que, vivendo os horrores e as
atrocidades cometidas pelos nazis ou fugindo de passados tortuosos e
angustiantes, encaram a vida de frente, não se rendem e prestam homenagem a
todos e todas que veem os seus direitos, a sua liberdade coartados por gentalha
cujo comportamento nem o mais abjeto animal é capaz de imitar.
NOTA 10/10
O jardim dos segredos, de Kate Morton
Esta obra foi a porta de entrada para o mundo de
Kate Morton e dele não vou sair mais, porque esta autora sabe prender-nos como
muito poucos autores sabem.
Kate Morton pode não ser a melhor escritora do
mundo. Não consigo compará-la com, por exemplo, José Saramago, Gabriel García
Márquez, Javier Marías ou qualquer outro autor que se preza pelo amor à
literatura, a um estilo cuidado, detalhado, rico, denso e que nos proporciona
momentos de reflexão, de intimidade e conhecimento próprio. Contudo, esta
autora australiana conquistou-me irremediavelmente, entrou-me na alma apenas
com uma obra que, apesar de não ser dona de um estilo e de uma escrita muito
elaborados e complexos (como tanto gosto, porque me desafiam), me prendeu desde
o parágrafo inicial e me obrigou a ler de forma quase compulsiva mais de
quinhentas páginas.
NOTA 10/10
Arquipélago, de Joel Neto
Mais uma estreia que resultou em completo
deslumbramento!
Do princípio ao fim, a leitura de Arquipélago envolve-nos,
enreda-se em nós e subjuga-nos como o típico nevoeiro açoriano que nos
impossibilita ver para além do que está ao alcance das nossas mãos. Nos oito
dias em que o romance me fez companhia foi assim que me senti, atrapada num
redil de paisagens geográficas, climatéricas, gastronómicas, linguísticas,
místicas, míticas, históricas, sociais e pessoais. Ou seja, presenteou-me com
uma viagem iniciática ao mundo terceirense, uma descoberta que vai muito para
além dos conhecimentos rudimentares que possuía sobre esse “calhau” perdido nas
águas profundas do Atlântico.
NOTA 10/10
Contos de cães e maus lobos, de Valter Hugo
Mãe
Não sou uma entusiasta leitora de contos – terminam
mal começam. E estes de Valter Hugo ainda mais. Contudo, que terramoto, que tsunami
provocaram nas minhas emoções! É um livrinho perfeito, que nos sucumbe e que
causa aquela mossa deleitosa que sempre busco nas leituras que me passam pelas
mãos.
Não pretendo alongar-me muito neste texto, prefiro
que as palavras do autor mostrem o quanto aquilo que saiu da sua mente
romântica (“Sou muito romântico, quero melhorar o mundo.”) é
fabuloso, é encantador, é encantatório, viaja diretamente ao nosso coração e o
deixa pequenino, apertadinho e insuficiente para abraçar tantos sentimentos.
NOTA 10/10
O leitor, de Bernhard Schlink
O Leitor é apelidado de obra-prima, de uma pérola negra. Não poderia estar
mais de acordo. É de uma mente iluminada que sai um pequeno romance que encerra
em si uma história de amor, uma história sobre culpa, vergonha e crimes de
guerra e uma história sobre o poder que alberga quem lê, quem possui a arma do
alfabetismo. Três histórias numa só. Três histórias numa pequena história. Que
mais dizer?... Sublime, magistral.
NOTA 10/10
O segredo da casa de Riverton, de Kate Morton
Estou com alguma dificuldade em pôr em palavras o
quanto adorei regressar ao universo de Kate Morton… Nem sempre me debato com
este género de dificuldades, contudo quando me entrego avidamente a uma
leitura, dou frequentemente comigo a olhar para o teclado, sem ser capaz de
acalmar o turbilhão que se desenrola na minha cabecinha…
Desse turbilhão que me assalta ainda hoje (depois
de já ter devolvido o livro à estante há quatro dias), sobressaem expressões,
títulos, autores, características literárias como Jane Eyre, O
monte dos vendavais, Emily Brontë, Jane Austen, Downton
Abbey, literatura inglesa, gótico, Heathcliff e Catherine… E destaca-se
com mais clareza ainda que não é preciso que uma obra seja brilhantemente
escrita, profunda, que levante questões intrínsecas à vida para que me
conquiste e se cole a mim que pareça uma extensão das minhas mãos.
NOTA – 10/10
Uma escuridão bonita, de Ondjaki
E assim foi. Em menos de uma hora embalei-me com a
magia, a poesia e a doçura de palavras e imagens. Bebi o encantamento que
transpira de uma estória recheada de inocência, de ansiedade, de desejos, de
tremuras e de uma previsibilidade que em nada “amarga” o sabor inesquecível e
perene que nos marca o travo durante e após termos chegado ao seu fim. Tive que
combater constantes tentações de sublinhar passagem atrás de passagem, porque
trouxe Uma escuridão bonita da última visita à
biblioteca municipal da terrinha. Fui remediando essa tentação dizendo para mim
mesma que semelhante preciosidade é motivo mais do que suficiente para um
próximo gasto monetário numa livraria qualquer.
NOTA – 10/10
RELEITURAS
A vida secreta das abelhas, de Sue Monk Kidd
Tendo sido releitura ou leitura desta vez com olhos
de ver, de reparar, as páginas impregnadas de doçura de A vida
secreta das abelhas aquietaram o meu coração, varreram o
mau-humor, os sentimentos amargos e os dias de tormenta para um canto e
propiciaram aquilo que tanto busco numa leitura – mudanças (por muito
pequeninas que sejam) em mim própria e aquela ânsia aflitiva que me assalta
frequentemente – a de tocar, de abraçar, de olhar e de mimar aqueles que me são
tudo.
Foi, sem dúvida alguma, uma leitura muito emocional
e, como tal, tenho que dar-lhe nota máxima!
NOTA – 10/10
Los aires difíciles, de Almudena Grandes
Regressar ao mundo de Almudena Grandes é como
regressar a casa, ao nosso refúgio de cantinhos conhecidos, que nos acolhe de
sorriso nos lábios e braços estendidos. Sempre que retiro da estante uma obra
desta autora, que considero muito minha, sei com aquele saber que não engana
que embarcarei numa viagem algo demorada (o número de páginas da maioria dos
seus romances não engana…), mas que ficará comigo, não importa as vezes que
decida fazê-la ou refazê-la.
NOTA – 10/10
LEITURAS
INFANTO-JUVENIS
A lua de Joana, de Maria Teresa Maia Gonzalez
A lua de Joana é uma leitura preciosa, para ler e reler por miúdos e graúdos.
Tive o privilégio de lê-la como miúda e graúda e arrebatou-me quando tinha
quinze anitos e agora, já mais crescida. Não tenho dúvidas em dizer que a
autora mostra conhecer como poucos aquilo que caracteriza a fase da
adolescência, que esse conhecimento transparece na construção das personagens,
do seu mundo, das suas vivências, gostos, preocupações e linguagem e que por
tudo isto concordo plenamente que esta obra faça parte das leituras
aconselhadas pelo Plano Nacional de Leitura.
NOTA – 10/10
O mundo em que vivi, de Ilse Losa
Por favor, se ainda não leram esta obra de Ilse
Losa, se, como eu, já percorrem os anos adultos há algum tempo, não deixem de
saboreá-la e, por que não, a outras obras “infanto-juvenis”. Não deixem de
fazê-lo apenas por serem aconselhadas a um público mais jovem. Estarão a
permitir que vos escapem experiências de leituras inesquecíveis!
NOTA – 10/10
Para finalizar, refiro que a explosão de visualizações
que mencionei no início deste rescaldo se reflete na quantidade de vezes que
gente anónima (sobretudo) percorre determinadas opiniões que escrevi sobre
algumas leituras. A polémica e a febre que rodeiam o nome e obras de Elena
Ferrante também estiveram por detrás dessa explosão e fizeram com que a
opinião que escrevi sobre a obra que abre a tetralogia de Nápoles – A
amiga genial – fosse a opinião mais lida/visitada este ano.
Quero, por fim, agradecer do fundo do coração a
todos vocês que mimam este cantinho, que o engordam dia a dia e desejar-vos um
2017 muito livrólico e repleto de momentos mágicos e iluminados por sorrisos,
gargalhadas, ternura, cumplicidade e leituras arrebatadoras!
Vamo-nos lendo por aí!
Ou as notas estão muito inflacionadas ou foi um ano Vintage de muito boas escolhas. Obrigado pela partilha.
ResponderEliminarAi não estão inflamadas, não! Foi mesmo um ano delicioso!!!
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