O
ano que findou foi ainda melhor do que o seu antecessor, pois suplantei-me e
consegui ler mais um livro do que em 2016, atingindo um total de 68 leituras! É
óbvio que nem todas foram saboreadas com a mesma intensidade e devoção, mas não
considero que nenhuma delas tenha sido uma verdadeira desilusão, já que a nota
mais baixa que atribuí a três leituras foi um 5. Assim, poderei dizer que O menino que não gostava de ler,
de Susanna Tamaro, Ulisses, de
Maria Alberta Menéres e O sentido do
fim, de Julian Barnes foram as leituras menos boas e menos conseguidas.
Calcorreei
a lista das leituras de 2017 em busca das correspondentes melhores várias vezes
e comprovei que dei a pontuação máxima a onze delas. Serão então essas que
encabeçarão este balanço anual, mas acho que não seria completamente justa se
nele não incluísse uma ou outra a que atribuí nove pontos e assim perfazer um
total de quinze leituras que deram sabor, brilho e prazer aos meus dias e
demonstram aquilo que já é incontornável para mim e para aqueles que me
conhecem – a minha vida está umbilicalmente ligada aos livros e às histórias
que eles encerram.
Quinze
obras – onze leituras “adultas”, entre as quais está uma releitura, e quatro
leituras infanto-juvenis. Todas elas, sem exceção, recomendo muito, mas muito
mesmo, pois tenho a certeza absoluta de que transformarão os vossos dias, vos
aconchegarão a alma e ganharão um cantinho especial na vossa vida. Provem-nas,
pois não se arrependerão!
Deixo,
para cada uma delas, um fragmento da correspondente opinião completa, à qual
poderão aceder clicando no seu título.
LEITURAS
Esplendor,
de Margaret Mazzantini
A
última obra de uma das autoras da minha vida.
Esplendor é,
como é afirmado na sinopse, um relato hipnotizante que se serve da vida de dois
homens, principalmente da de Guido para não só sentirmos como o mundo e a vida
avançaram desde os anos setenta até aos dias de hoje, como para, acima de tudo,
compreendermos que qualquer amor transborda de beleza, como qualquer pessoa
enamorada quer estar ao lado da pessoa que ama, quer dar-lhe a mão, quer
olhá-la nos olhos e ver no olhar do outro o reflexo do profundo sentimento que
os une, quer sentir que esse sentimento lhe providencia a audácia e a vertigem
para prosseguir e ser feliz.
Sinto-me,
após o que escrevi, esvaída. E feliz. Sempre me sinto assim quando leio, falo
ou escrevo sobre Mazzantini. Não sei, mais uma vez, se consegui fazer-lhe
justiça, se consegui que mais leitores queiram conhecer esta autora italiana.
Se tiver que implorar, faço-o, porque a causa é mais do que boa. É sublime!
As horas distantes, de Kate Morton
As horas distantes proporcionaram, como não é difícil de adivinhar,
uma leitura soberba, da que não vou “desprender” tão cedo e que me faz repetir
aqui aquilo que disse ao maridinho mal a terminei – “Das cinco obras que
Kate Morton já publicou, eu já li três, isto é, já li mais do que as que me
faltam… Oxalá ela nos brinde com uma obra nova muito em breve para equilibrar a
balança – três lidas, três não lidas…”
Para
finalizar, reitero um desejo que já formulei aquando da leitura das outras
obras – quem ainda não leu Kate Morton deve fazê-lo o quanto antes, porque está
a perder experiências de leitura com um sabor único! Recomendo vivamente Kate
Morton, rogo encarecidamente para que leiam todas as suas obras!
Impunidade,
de H. G. Cancela
Uma
das descobertas do ano.
Esta
é uma obra com contornos de perfeição, recheada de momentos no mínimo
perturbadores, de passagens nas quais o narrador filosofa sobre a natureza
humana, o que tem de mais primário, o quanto os nossos instintos mais básicos
tingem as nossas ações e de personagens que odiamos com todas as nossas forças,
que nos revoltam o estômago, mas que talvez apenas estejam a viver a vida tal
como lhes ensinaram a viver.
Uma questão de classe, de Joanne Harris
Adorei
regressar ao mundo de Joanne Harris. Adorei voltar a ser surpreendida, adorei
ler mais uma obra fantasticamente bem urdida, que puxou por mim desde a
primeira página e sobretudo adorei Roy Straitley, com quem tenho o privilégio
de partilhar a profissão. É uma personagem deliciosa, que nos arranca muitos
sorrisos, por quem ganhamos um carinho que não para de crescer e a quem
perdoamos todas as imperfeições. Ficará comigo por muito tempo, sem dúvida
alguma.
O último adeus, de Kate Morton
O último adeus é a quarta obra que saboreio da australiana Kate
Morton. E tal como as suas antecessoras, esta história que percorre espaços
lindíssimos da Cornualha e as ruas movimentadas de Londres agarrou-me,
prendeu-me, colou-me às suas páginas e comprovou o que não precisava de mais
nenhum comprovativo – as obras desta autora cumprem as minhas expectativas,
melhor dizendo, ultrapassam as expectativas que já de si são sempre
elevadíssimas. Quarta obra lida, quarta obra a que atribuo a nota máxima.
O rosto da avó, de Simona Ciraolo
Obra
infantil.
A
história conta-se em meia dúzia de palavras. Há partes que nos chegam apenas
através de ilustrações lindíssimas, que conseguem transmitir-nos na perfeição o
que vai no pensamento de uma avó que sabe a que momento da sua vida corresponde
cada uma das múltiplas rugas que cobrem o seu rosto – momentos de dor, de
saudade, de sofrimento e momentos de alegria, de sorrisos, de felicidade.
O rapaz do rio, de Tim Bowler
Obra
juvenil.
Esta
leitura foi, como o são todas as obras que abordam a relação especial entre
avós e netos, muito pessoal e pintou-se de uma explosão de sentimentos e
lágrimas. Com esta leitura, regressei à minha infância, à relação estreita e
única que tive com os meus velhinhos e senti-os sempre muito pertinho de mim.
Sr. Pivete, de David Walliams
Obra
juvenil
Li
a obra num tempo recorde, tendo em conta o caos que é o final de um período
letivo, com testes e avaliações que não parecem terminar nunca. Li-a num tempo
recorde porque a narrativa e as ilustrações que a acompanham são deliciosas. A
personagem do Sr. Pivete é uma das melhores personagens com que já me cruzei
nestes anos infindáveis de leitora compulsiva.
O conto da ilha desconhecida, de José Saramago
Obra
juvenil.
Li
assim este conto travando a gula, contendo-a para que o prazer tardasse em
esfumar-se, para que o sabor deste conto deliciosamente perfeito ficasse
comigo.
Cidade de ladrões, de David Benioff
Porém,
as páginas desta obra não se pintam só de dor, crueldade e sofrimento. Pelo
contrário. Pintam-se de passagens hilariantes porque são protagonizadas por
Kolya, uma personagem a quem ninguém, mas mesmo ninguém consegue ficar
indiferente. Não sei se este jovem soldado, que abandonou por momentos o seu
batalhão porque tinha que libertar a sua tensão sexual, porque tinha que
satisfazer o seu ardor sexual com uma das muitas antigas conquistas, é uma
personagem verídica ou não, se foi com ele que Lev embarcou na missão
impossível de conseguir uma dúzia de ovos para o bolo de casamento da filha de
um coronel, mas sei que Cidade de Ladrões não seria a
obra deliciosa que é se Kolya não a habitasse.
A ridícula ideia de não voltar a ver-te, de Rosa Montero
Quero
mesmo que quem leia esta opinião tenha uma vontade irresistível de ler Rosa
Montero, de saborear como eu a sensação de que ela parece estar mesmo a
confidenciar-nos o lado mais íntimo da sua vida e da sua escrita, de sentir o
coração a encolher e suster a respiração perante trechos dolorosamente reais e
próximos de nós. Quero mesmo que sinta o orgulho que senti quando a autora cita
Fernando Pessoa ou admite a predileção que tem por Paula Rego.
A mulher-casa, de Tânia Ganho
Tudo
faz deste livro uma leitura muito saborosa. Senti-me muito bem, muito
confortável neste pequeno nicho do mundo das letras de Tânia Ganho e quero
muito conhecer outros nichos seus, porque é sempre um prazer enorme conhecer
autores novos, principalmente autores que escrevem muito bem, que têm cuidado e
respeitam a nossa língua, que trazem frescura, riqueza e inteligência num
estilo recheado de passagens suculentas, emotivas, sensoriais e com um travo
bem sensual. Recomendado!
O rouxinol, de Kristin Hannah
As
expectativas eram muito altas. Há quase um ano que esta obra morava na
prateleira dos livros não lidos e há quase um ano que me pedia encarecidamente
que a lesse. Mas nisto das leituras sou um bocadinho masoquista (como todos já
devem saber) e, como tal, não cedi ao desejo de pegar-lhe antes que chegasse a
sua vez. Entretanto, fui aconselhando-a a várias pessoas, tal era a minha
confiança de que a sua narrativa, a sua contextualização histórica e as suas
personagens não defraudariam. E não defraudaram. Nem as minhas expectativas nem
as de quem embarcou na sua leitura primeiro do que eu.
Limões na madrugada, de Carla M. Soares
Reitero
o quanto apreciei esta leitura, o quanto me apaixonei por Adriana, o quanto a
sua personagem é fabulosa e nos agarra, o quanto o seu protagonismo não
obscurece personagens menos interventivas na trama, o quanto estas são importantes
para o interesse e a vontade que senti em devorar os capítulos curtinhos da
obra e em saber quem na verdade foram os Branco e o quanto a autora soube tecer
com segurança e engenho uma narrativa muito portuguesa e muito próxima da
realidade de todos nós.
RELEITURA
Vir ao mundo, de Margaret Mazzantini
Um
dos livros da minha vida. Uma dos livros a que dou, sem dúvida alguma, uma
pontuação que excede a pontuação máxima. E acho que não preciso de acrescentar mais
nada.
Termino
agradecendo imenso a todos que deambulam por aqui, engordando e fazendo com que
este meu cantinho esteja cada vez mais “crescido”. Espero que se mantenham aí,
que me continuem a fazer companhia e que este ano que ainda agora começou
transborde de emoção, de partilhas, de sensações arrebatadoras, de conhecimento
e de leituras inesquecíveis, prenhes de sabor!
Obrigada,
mais uma vez, e leiam, leiam, leiam!
Olá Ana,
ResponderEliminarQue boas leituras. Estou curiosa com alguns destes livros. O Impunidade, O Rouxinol, Kate Morton entre outros. És a culpada por mais livros na wishlist 😘
Um beijinho e boas leituras
Olá, Isa!
EliminarSim, foram mesmo belas leituras, que recomendo sem reservas! Não me importo de ser culpada, logo que seja para "oferecer-te" viagens literárias inesquecíveis!
Beijinhos e que venham mais leituras como estas!
68 é um número fantástico, sobretudo sabendo que alguns deles valem por três dos meus em tamanho!
ResponderEliminarMas sabes que já não podemos ser amigas agora que puseste o fenomenal Julian Barnes e a Susanna Tamaro na mesma frase, certo? Não se faz... Mas como detestei o Impunidade, não se fala mais nisso! ;-)
Espero que este ano as nossas leituras se cruzem mais vezes, que tenhamos muitos 10/10 em comum e até que nos calhe um ou outro livro em que discordemos totalmente, porque isso também é normal e expectável.
Uma boa semana! Paula
Quando pus os dois nomes na mesma frase, lembrei-me de imediato de ti e sabia que me ias cair em cima! Mas prometo que vou dar mais uma oportunidade a Julian Barnes, porque sei que ele merece.
EliminarTambém espero isso mesmo, adoro ter-te por aqui, compreender o quanto nos parecemos como leitoras e o quanto essa semelhança não é igualdade. Fico sempre na expectativa de saber, mal publico um texto, se estarás comigo ou se discordas com aquilo que disse e a pontuação que atribuí. É uma das melhores partes desta meu cantinho, ter gente aí desse lado, que dá o seu feedback e que mostra o quanto as minhas leituras também estão presentes na sua vida!
Sei que já o disse, já te agradeci, mas volto a fazê-lo - obrigada por estares aí!
Beijinhos e bom fim de semana!
:-)!!!!!!!!!!!!!!
EliminarOlá, Ana,
ResponderEliminarÉ tão bom acabar o ano a apreciar as leituras que nos tocaram :D hoje consegui publicar o meu pequeno balanço do ano e tive de vir espreitar os dos outros leitores hehe (http://paginasdeviagem.blogspot.pt/2018/01/um-rapido-balanco-de-leituras-de-2017.html)
Concordo contigo acerca de Kate Morton. Este ano espero ler pelo mais um livro da autora - no mínimo cof cof - mas também encontrar outros que me prendam assim tanto.
Que 2018 continue cheio de delícias :D
beijnhos e boas leituras
Olá, Su!
EliminarJá espreitei as tuas leituras e é claro que tive que mencionar a Kate Morton! A mim, apenas me falta ler um livro dela e já estou a sofrer com isso, por saber que não vou ter mais nenhum... Pode ser que ela publique outro em breve!
Também te desejo um 2018 cheiinho de sabor e que nos espreitemos muitas vezes!
Beijinhos e leituras muito saborosas!
Não consigo encontrar o Vir ao Mundo, conhece alguma biblioteca na região de Lisboa que o tenha? Obrigado, mas fiquei muito curioso após as suas críticas.
ResponderEliminarInfelizmente, o livro está esgotado e eu não sou de Lisboa... Sou do Norte e mesmo aqui não o consigo encontrar...
EliminarTente em alfarrabistas, pois vale mesmo a pena!
Bom dia, consegui comprar Vir ao Mundo, livro usado mas em óptimo estado.
ResponderEliminarGostaria de lhe perguntar se já leu algum livro de Guillaume Musso, pois passeando no seu blog não me apercebi de nenhuma recensão.
Que bom! Fico muito feliz e só espero que lhe agrade tanto como a mim!
EliminarNão, nunca li nada do autor! Que obras dele me recomenda?