Assim começa o mal, de Javier Marías


Ficha técnica
Título – Assim começa o mal
Autor – Javier Marías
Editora – Alfaguara
Páginas – 530
Datas de leitura – de 19 a 29 de maio de 2016


Opinião
A “maníaca” ordem cronológica que dita as minhas leituras impôs que retirasse da estante e consequentemente lesse a última obra de Javier Marías na última quinzena de maio, ou seja, ditou que numa época carregadinha de trabalho e de outras circunstâncias preocupantes carregasse um “calhamaço” de 530 páginas para onde quer que fosse (como o faço sempre com qualquer livro). Resultado – sinto que planei sobre as referidas 530 páginas, sinto que não me debrucei sobre as mesmas, que não lhes dediquei a atenção que merece tudo o que sai das mãos deste autor que é considerado (e justamente) um dos melhores romancistas espanhóis da atualidade.
Nunca é fácil nem ligeiro ler o que quer que seja de Javier Marías. Este é o quarto romance seu que leio e, como tal, sabia perfeitamente naquilo em que me ia embrenhar desde que desfolhei as suas páginas iniciais – um romance denso, onde imperam de forma absolutista a reflexão, a divagação, os questionamentos e a busca, não de respostas, mas de possíveis elucidações que nos ajudem a compreender melhor o ser humano e o porquê de muitas das suas ações. Tal como em Coração tão Branco, Os enamoramentos e Amanhã na batalha pensa em mim, em Assim começa o mal deparámo-nos com personagens que escondem algo pouco claro do seu passado, que cometeram alguma imoralidade. Contudo, enquanto nos referidos três romances somos confrontados, mal iniciamos a leitura, com uma morte abrupta, inexplicável, obscura e que nos impele a virar página atrás de página e a seguir o protagonista na sua demanda, na sua procura de respostas, na obra que acabei de ler tal não acontece. O mote é mais suave, podemos assim dizer. Há realmente partes do passado de três personagens que sabemos de antemão que ou são consideradas imorais, indecentes ou mudaram drasticamente a vida de um casal, mas não posso afirmar que o mistério, o suspense e correspondente desassossego de querer conhecer a verdade, a causa de tais comportamentos e ações sejam equiparáveis aos que vivi e senti aquando da leitura das três obras prévias a esta.
 Por outro lado, tal como mencionei no início desta opinião, o conflito entre trabalho e lazer, entre leitura e obrigações teve consequências que me desgostam e me custam admitir, já que sei que em algumas passagens mais filosóficas ou introspetivas (em que narrador ou a emblemática personagem de Muriel deambulam sobre questões múltiplas) a minha concentração “desconcentrou-se”, isto é, lia e não lia, avançava e tinha que recuar… Resumindo, sinto que me defraudei e que defraudei o autor…
Javier Marías é, para além de um autor magnífico, um amante da língua. E isso nota-se apesar de estarmos a ler uma tradução. O seu estilo é erudito, percebe-se perfeitamente que devota paixão pela linguagem, pelas palavras, pelos jogos que podemos fazer com as mesmas. É igualmente um conhecedor nato da literatura e não é nada difícil compreender que é um admirador profundo de Shakespeare – aliás tanto o título desta obra como o de Amanhã na batalha pensa em mim advêm de citações de obras shakespearianas. É ainda um “questionador” incessante da alma humana, dos seus comportamentos, do que a impele, das suas fraquezas, dos seus enigmas, enfim, é impossível não nos identificarmos, não sentirmos empatia ou asco ou pena, ou estranheza ou desprezo por aquilo que nos vai sendo contado.
Por tudo isto, sinto que falhei um pouco com Javier Marías. Não apreciei nem saboreei a sua última obra como devia e como a mesma merecia. Contudo, o “mal” está feito, encerrei a leitura com a referida concentração algo “desconcentrada” e nada mais me resta que não seja admiti-lo aqui e virar a página. Não há-de ser a última vez que algo semelhante me acontece, porque por muito que a leitura seja evasão ainda me é impossível fechar completamente a porta à realidade, sobretudo quando esta assenta em cansaço acumulado e num desejo irracional (mas compreensível) de liberdade condicional!...
Termino com uma citação que se encontra na contracapa da obra e que é uma ótima janela para o que podemos descobrir no interior das 530 páginas de Assim começa o mal:
Não é um romance autobiográfico, mas contém vivências da juventude do autor. Não é um romance político, mas as referências estão lá. Não é um romance sobre a década de 80, mas é nela que a ação decorre. Não é um romance histórico, mas os estilhaços do pós-guerra civil, nos anos 40 e 50, atingem as personagens. Não é um romance de amor, mas da desdita do casamento do protagonista. Não é um romance sobre vinganças, antes sobre a impunidade e arbitrariedade do perdão.” (El País)
A esta certíssima citação atrevo-me a acrescentar que não é um romance para quem anseia por uma ação rápida, linear e pouco descritiva. Também não é um romance para quem espera apaixonar-se ou render-se ante uma ou mais personagens. Nenhuma tem estofo de herói ou heroína, todas expõem o seu lado mais frágil, indecente ou desprezível. Por fim, reitero que também não é um romance de fácil absorção, por tudo o já referido.
Mas é um grande romance, disso não há dúvidas.

NOTA – 08/10

Sinopse

Na fervilhante Madrid pós-ditadura franquista do início dos anos 1980, Juan de Vere começa a trabalhar como secretário particular do cineasta Eduardo Muriel. Graças à sua função, de Vere se insere na privacidade da família, convertendo-se num espectador da união misteriosa e infeliz entre Muriel e sua esposa Beatriz Noguera.
O cineasta encarrega seu secretário de investigar um amigo, Dr. Jorge Van Vechten, cujo comportamento indecente no passado foi motivo de rumores. Mas de Vere passa a tomar iniciativas questionáveis, com profundas repercussões na vida de todos. A sua atitude vai mostrar-lhe que não há justiça desinteressada e que tudo — o perdão ou castigo — são decisões arbitrárias.

Los besos en el pan, de Almudena Grandes


Ficha técnica
Título – Los besos en el pan
Autor – Almudena Grandes
Editora – Tusquets Editores
Páginas – 327
Datas de leitura – de 14 a 19 de maio de 2016


Opinião
Não é o melhor livro de Almudena, mas, caramba, é mais um livro desta fabulosa autora e só isso fez com que me tenha embrenhado nele com a mesma alegre antecipação, com a mesma ânsia, com o mesmo êxtase e com a certeza de que, tal como os outros que já li dela, iria dar ainda mais sabor à minha vida e confirmar o porquê de a leitura e os livros ocuparem um lugar primordial na minha vida.
Somos transportados para um bairro do centro de Madrid. Um bairro como outro qualquer, com ruas largas e estreitas, com poucos monumentos, mas um bairro bonito porque está vivo, porque continua a resistir apesar de estar a afundar-se numa crise que assola não só este bairro, como a própria cidade, o próprio país, a própria península, o próprio continente. Aí, Almudena apresenta-nos aos seus habitantes que pertencem a famílias da classe média, a famílias remediadas e a famílias que, de um dia para o outro, se veem sem a casa que tanto suor, dor e horas infinitas de trabalho e de poupanças lhes arrancou do corpo. Todos, sem exceção, sentem tremer e rasgar-se o chão estável e sólido de anos de prosperidade e despreocupação – perdem os empregos que pareciam para a vida, constatam que os seus salários sofrem cortes, observam o bairro ser invadido por mão-de-obra barata e subserviente, verificam que restaurantes, cabeleireiros e outros serviços lutam não só para manter a clientela habitual como também para não despedir os empregados e reconhecem que até as crianças sofrem porque os seus pais, os seus avós desesperam porque não têm como enviá-las para a escola com o lanche que era habitual.
Los besos en el pan é assim uma obra que reflete a realidade, a realidade que afeta aos espanhóis como nos afeta a nós. E é também o reflexo do quanto somos ibéricos, do quanto nos une apesar da fronteira política que dita que Vilar Formoso nos pertence e Tui é de terras castelhanas. Somos dois povos que, no século passado, viveram debaixo de ditaduras castradoras, que se arrastaram durante décadas sem fim, mas que ensinaram aos nossos avós o quanto um pão é valiosíssimo, que mesmo que caia ao chão, não deve ser desperdiçado, já que, com um beijo, todas as impurezas que possam advir dessa queda milagrosamente desaparecem. Somos dois povos que, depois desse jugo ditatorial, se viram perante anos de prosperidade onde a palavra poupança deixou de fazer sentido. Somos dois povos cujas gerações mais recentes se sentem completamente atarantadas e desesperadas perante cortes de salário, perda de privilégios, benefícios e ignorantes face à perspetiva de poupar, de desprender-se da casa do campo, das escapadelas de fim de semana, do telemóvel de última geração ou do carro de topo de gama. Somos igualmente dois povos que felizmente continuam (não sei por quanto tempo…) a dar muito valor à família, aos conselhos dos mais velhos e à comunhão de afetos, ideais e ensinamentos que resulta dessa convivência.
Por tudo isto, pela magistral escrita de Almudena, que transborda de verdades e sobretudo de afetos, de conhecimento da alma e do coração humanos, embrenhei-me sem qualquer filtro, completamente “despida” na leitura desta obra. Los besos en el pan deixou-me rendida, tocou como só aquela que é, sem dúvida alguma, uma das minhas escritoras de eleição consegue fazê-lo. Obrigou-me a afagar as suas páginas ainda com mais mimo, a deliciar-me com a belíssima foto de capa (onde uma menina nos chama e nos provoca uma mistura de sentimentos) e acima de tudo a desejar com muitas forças reler Almudena, reler histórias suas, mais antigas e que conheço muito bem, mas que onde me quero perder e encontrar de novo!
Gracias, Almudena, por tudo o que escreves e por me desafiares com um “enxame” de personagens, pertencentes a diversos núcleos familiares e que se entrelaçam num bairro de Madrid. Personagens admiráveis, desde uma avó que monta a árvore de Natal em setembro para assim mimar e alegrar os seus que se sentem derrotados pela crise até uma cabeleireira que não hesita em pentear as suas rivais chinesas que trabalham na manicure em frente e cobram uma escandalosa insignificância pelo trabalho. Personagens humanas, que retratam o dia-a-dia de um bairro espanhol, mas que bem poderia ser português. Gracias de nuevo, por todo, querida Almudena.
Termino dizendo que escrevi esta opinião muito bem acompanhada por um excelentíssimo cantor e músico. Graças ao sistema de “puxar para trás”, pude hoje ver e ouvir o concerto de quase três horas com que o senhor Bruce Springsteen agraciou mais de 60000 pessoas que puderam ver ao vivo. Não sou a sua fã número um, longe disso, mas tenho que reconhecer que o que ele e a sua fiel banda fazem em palco é magistral, tal como o é aquilo que Almudena oferece aos seus leitores. Por isso, deixo aqui também o meu obrigada ao Boss e à ajuda musical que me deu para pôr em palavras o quanto gostei de ler novamente a minha Almudena! Como reconhecimento, aqui uma das minhas canções favoritas deste venerável senhor:


NOTA – 09/10 (apenas porque sou muito exigente com o que Almudena escreve)


Sinopse
Hay que ser muy valiente para pedir ayuda, pero hay que ser todavía más valiente para aceptarla. Los besos en el pan, una conmovedora novela sobre nuestro presente.

¿Qué puede llegar a ocurrirles a los vecinos de un barrio cualquiera en estos tiempos difíciles? ¿Cómo resisten, en pleno ojo del huracán, parejas y personas solas, padres e hijos, jóvenes y ancianos, los embates de una crisis que «amenazó con volverlo todo del revés y aún no lo ha conseguido»? Los besos en el pan cuenta, de manera sutil y conmovedora, cómo transcurre la vida de una familia que vuelve de vacaciones decidida a que su rutina no cambie, pero también la de un recién divorciado al que se oye sollozar tras un tabique, la de una abuela que pone el árbol de Navidad antes de tiempo para animar a los suyos, la de una mujer que decide reinventarse y volver al campo para vivir de las tierras que alimentaron a sus antepasados?En la peluquería, en el bar, en las oficinas o en el centro de salud, muchos vecinos, protagonistas de esta delicada novela coral, vivirán momentos agridulces de una solidaridad inesperada, de indignación y de rabia, pero también de ternura y tesón. Y aprenderán por qué sus abuelos les enseñaron, cuando eran niños, a besar el pan.

O amante japonês, de Isabel Allende


Ficha técnica
Título – O amante japonês
Autor – Isabel Allende
Editora – Porto Editora
Páginas – 336
Datas de leitura – de 09 a 13 de maio de 2016

Opinião
Por muito que me custe admitir, para mim mesma e aqui, a escrita de Isabel Allende perdeu fulgor. Perdeu fulgor, perdeu fogosidade, perdeu sensualidade e paixão e perdeu aquele encantamento e magia que me fizeram devorar as suas primeiras obras como A casa dos espíritos; De amor e de sombra; Filha da fortuna ou Retrato de sépia.
Torci o nariz quando a autora se aventurou por outros géneros literários, escrevendo obras mais juvenis ou outras com apontamentos policiais. Contudo, não se abandona uma das nossas autoras favoritas só porque a mesma tropeça uma, duas ou algumas vezes. Confia-se que se erga desses tropeções e que encontre de novo o seu caminho original.
O amante japonês parecia ser a prova desse regresso aos primórdios. Pelo menos a sua sinopse assim o prometia. Uma mulher notável, que em criança atravessa meia Europa, o Oceano Atlântico e o Canal do Panamá em direção a São Francisco e a uma nova vida, sem os pais, sem o irmão mais velho e deixando para trás a sua Polónia natal invadida e agrilhoada pela Alemanha nazi. Uma criança que tem que aprender a viver de novo e que se apaixona para toda a vida por um jovem japonês, filho do jardineiro dos seus tios. Uma senhora idosa que por iniciativa própria deixa a casa de uma vida e ingressa num lar de terceira idade e aí inicia uma relação de trabalho e de amizade com uma reservada funcionária, muito mais jovem do que ela, mas com uma bagagem demasiado pesada.
Em pouco mais de trezentas páginas desfolhamos a história de Alma Mendel (mais tarde Alma Belasco). E desfolhámo-la sempre na expetativa de sermos surpreendidos, de voltarmos a ser arrebatados por descrições repletas de fulgor, fogosidade, sensualidade, paixão, encantamento e magia. Mas, infelizmente parece que a passagem dos anos, o afastamento geográfico de paisagens e da essência sul-americanas ou o contágio pelo “norte-americanismo” votaram a escrita de Isabel Allende a um patamar mediano, a um patamar que não posso dizer que não seja agradável, mas que está longe de satisfazer alguém que, como eu, adorava tudo o que provinha dos escritos desta autora.
 Tal como Os cadernos de Maya e o Jogo de Ripper, O Amante japonês não me satisfez plenamente. Para além do referido, julgo que a última obra de Isabel Allende põe em palco “demasiadas” personagens, possibilita-nos entrar no seu jardim mais privado para depois nos deixar numa espécie de limbo povoado de muitos fios soltos que não se unirão nem no desenlace. A personagem de Irina, o seu passado negro, sofrido e cruel são por demais suculentos para serem “varridos” para debaixo de uma solução tão previsível e desenxabida como a de um namoro que, em outras épocas, daria azo a páginas e páginas de descrições e narrações dolorosas, sofridas e ao mesmo tempo mágicas, fogosas e sensuais. O protagonista da história de amor que atravessa quase um século, Ichimei Fukuda, é-nos apresentado como sendo alguém cativante, dono de uma personalidade enternecedora, contemplativa, amante da vida, mas senti que nunca me aproximei devidamente dele, que a história ganharia um fôlego maior se essa aproximação se concretizasse a outro nível, que nos permitisse ganhar (e muito) com o contacto com alguém tão fascinante.
Talvez esteja a ser um pouco dura naquilo que aqui estou a escrever, mas sei que o faço porque Isabel Allende me habituou a um patamar muito elevado. É certo que esse patamar já não é atingido há algum tempo, mas, tal como já disse, não se abandona de vez os nossos escritores favoritos. Dá-se-lhes uma e outra e outra oportunidade, até que a verdade se planta à nossa frente. Como penso que já se plantou… Não pretendo voltar a comprar qualquer obra que Isabel Allende publique. Lê-las-ei se mas emprestarem ou se estiverem disponíveis em alguma biblioteca. Mas não me posso conformar com leituras agradáveis ou medianas quando há um passado de leituras maravilhosas, extasiantes e de sabor único. Lo siento…

NOTA – 07/10

Sinopse
Em 1939, quando a Polónia capitula sob o jugo dos nazis, os pais da jovem Alma Belasco enviam-na para casa dos tios, uma opulenta mansão em São Francisco. Aí, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho do jardineiro japonês da casa. Entre os dois brota um romance ingénuo, mas os jovens amantes são forçados a separar-se quando, na sequência do ataque a Pearl Harbor, Ichimei e a família – como milhares de outros nipo-americanos – são declarados inimigos e enviados para campos de internamento. Alma e Ichimei voltarão a encontrar-se ao longo dos anos, mas o seu amor permanece condenado aos olhos do mundo.
Décadas mais tarde, Alma prepara-se para se despedir de uma vida emocionante. Instala-se na Lark House, um excêntrico lar de idosos, onde conhece Irina Bazili, uma jovem funcionária com um passado igualmente turbulento. Irina torna-se amiga do neto de Alma, Seth, e juntos irão descobrir a verdade sobre uma paixão extraordinária que perdurou por quase setenta anos.

Em O amante japonês, Isabel Allende regressa ao estilo que tanto entusiasma o seu público, relatando de forma soberba uma história de amor que sobrevive às rugas do tempo e atravessa gerações e continentes.

A “wishlist” engorda um pouquinho mais :)


Depois de me ter deliciado com a primeira obra de Kate Morton que passou pelas minhas mãos, não há outro remédio que acrescentar à wishlist todas as outras que esta escritora australiana publicou por terras lusas J. Sendo assim, espero poder brevemente voltar a embrenhar-me em histórias repletas de mistério, de viagens por locais enigmáticos e de personagens fascinantes e que cativam irremediavelmente.
Até hoje, Kate Morton publicou, para além de Jardim dos segredos, as quatro seguintes obras:

O segredo da Casa de Riverton
Sinopse
Como sobrevivem os que presenciam a tragédia?
Verão de 1924
Na noite de um glamoroso evento social, um jovem poeta perde a vida junto ao lago de uma grande casa de campo inglesa. Depois desse trágico acontecimento, as suas únicas testemunhas, as irmãs Hannah e Emmeline Hartford, jamais se voltariam a falar.
Inverno de 1999
Grace Bradley, de noventa e oito anos de idade, antiga empregada da casa de Riverton, recebe a visita de uma jovem realizadora que pretende fazer um filme sobre a morte trágica do poeta.
Memórias antigas e fantasmas adormecidos, há muito remetidos para o esquecimento, começam a ser reavivados. Um segredo chocante ameaça ser revelado, algo que o tempo parece ter apagado mas que Grace tem bem presente.
Passado numa Inglaterra destroçada pela primeira guerra e rendida aos loucos anos 20, O Segredo da Casa de Riverton é um romance misterioso e uma emocionante história de amor. 

As horas distantes
Sinopse
Tudo começa quando uma carta, perdida há mais de meio século, chega finalmente ao seu destino...
Evacuada de Londres, no início da II Guerra Mundial, a jovem Meredith Burchill é acolhida pela família Blythe no majestoso Castelo de Milderhurst. Aí, descobre o prazer dos livros e da fantasia, mas também os seus perigos.
Cinquenta anos depois, Edie procura decifrar os enigmas que envolvem a juventude da sua mãe e a sua relação com as excêntricas irmãs Blythe, que permaneceram no castelo desde então. Há muito isoladas do mundo, elas sofrem as consequências de terríveis acontecimentos que modificaram os seus destinos para sempre.
No interior do decadente castelo, Edie começa a deslindar o passado de Meredith. Mas há outros segredos escondidos nas paredes do edifício. A verdade do que realmente aconteceu nas horas distantes do Castelo de Milderhurst irá por fim ser revelada...

Amores secretos
Sinopse
Laurel, actriz de sucesso, regressa à casa da família para celebrar o nonagésimo aniversário da mãe, Dorothy, que sofre de Alzheimer.
Esse dia recorda-lhe um outro, há muito esquecido. Naquele fatídico aniversário do seu irmão, Laurel estava escondida na casa da árvore, a fantasiar com um amor adolescente e um futuro grandioso em Londres, quando assistiu a um crime terrível, que mudaria a sua vida para sempre. Foi com terror que Laurel viu a mãe cravar a faca do bolo de aniversário no peito de um desconhecido. O regresso ao local onde tudo aconteceu é a última oportunidade para Laurel descobrir o temível segredo daquele dia e encontrar as respostas que só o passado da sua mãe lhe pode dar. Pista após pista, Laurel irá desvendar a história secreta de três desconhecidos que a Segunda Guerra Mundial uniu em Londres — Dorothy, Vivien e Jimmy — e cujos destinos ficaram para sempre ligados.
Uma fascinante história de segredos e mistérios, de um crime obscuro e de um amor eterno. Mais um livro inesquecível de uma das autoras de maior sucesso dos nossos tempos.

O último adeus
Sinopse
O melhor romance da autora reconhecida mundialmente pelo público e a crítica.
Numa majestosa casa de campo inglesa um miúdo desaparece sem deixar rasto. Setenta anos depois Sadie Sparrow, de visita a casa de seu avô, encontra uma mansão abandonada. Espreita através de uma janela e sente que alguma coisa terrível aconteceu nessa casa.



Das minhas deambulações e cusquices por outros blogues e por correspondentes suculentas opiniões de bloguistas, retirei mais duas sugestões às quais não consegui resistir. À primeira – A senda estreita para o norte profundo, de Richard Flanagan – foi-lhe atribuída a nota máxima por Miss Lamora, do blogue O imaginário dos livros e a sinopse atrai (e de que maneira!) aos amantes de romances históricos, sobretudo aqueles cuja narrativa aborda mais uma perspetiva da Segunda Grande Guerra. A segunda sugestão é 84, Charing Cross Road, de Helene Hanff e retrata a amizade à distância de duas pessoas unidas pelo amor aos livros. Ou seja, a premissa perfeita para que me enfurne nesta narrativa e seja mais uma pessoa a juntar-se às referidas duas e a mostrar a minha devoção aos livros, às leituras, à literatura.

A senda estreita para o norte profundo
Sinopse
Centenas de milhares de prisioneiros de guerra, entre eles numerosos australianos, são forçados pelos japoneses a um trabalho escravo nas selvas da Indochina durante a Segunda Guerra Mundial. O objetivo é construir, num prazo inverosímil e sem maquinaria adequada, uma via-férrea de 450 quilómetros ligando o Sião à Birmânia, o que permitiria atacar a Índia. Até à conclusão da linha em 1943, morreram dezenas de milhares de homens, incluindo um terço dos 22 mil prisioneiros de guerra australianos. Executores fanáticos das ordens imperiais, alguns oficiais japoneses chegavam a recitar haikai antes de torturar ou decapitar os prisioneiros.
É neste clima de desespero que o cirurgião Dorrigo Evans, prisioneiro neste campo de guerra japonês na Ferrovia da Morte, se vê assombrado pela relação amorosa que manteve com a jovem esposa do seu tio dois anos atrás, enquanto tenta evitar que os homens sob o seu comando morram de fome, de doença, ou sejam simplesmente espancados.
O romance de Richard Flanagan aborda as diferentes formas que o amor, a morte, a guerra e a verdade podem assumir, à medida que um homem envelhece e tem consciência de tudo o que perdeu.


84, Charing Cross Road
Sinopse
Em 1949, uma carta, escrita num pequeno apartamento nova-iorquino, atravessa o oceano Atlântico e vai parar às mãos de Frank Doel, funcionário da livraria Marks & Co., no número 84 de Charing Cross Road, em Londres. É assim que se inicia uma correspondência de vários anos, que virá a transformar-se numa história de grande amizade.



Sugestões que muito desejo que se transformem em viagens, em leituras inesquecíveis. E que o façam o mais breve possível!

O Jardim dos segredos, de Kate Morton


Ficha técnica
Título –  Jardim dos segredos
Autor – Kate Morton
Editora – Porto Editora
Páginas – 551
Datas de leitura – de 01 a 08 de maio de 2016


Opinião
Há livros que nos encantam da primeira à última página, que nos seduzem e nos enredam numa teia de mistério, encantamento, sedução e empolgamento que faz com que seja impossível, inimaginável largá-los antes de alcançar a sua página final. Aí, quando lemos as derradeiras palavras, instala-se um sentimento de saciedade, de prazer satisfeito e, de olhos fechados e sorriso nos lábios, abraçamos mais uma vez o livro, partilhamos pensamentos com as personagens e agradecemos com devoção a quem foi capaz de criar tal compilação de deliciosos momentos de leitura.
Kate Morton pode não ser a melhor escritora do mundo. Não consigo compará-la com, por exemplo, José Saramago, Gabriel García Márquez, Javier Marías ou qualquer outro autor que se preza pelo amor à literatura, a um estilo cuidado, detalhado, rico, denso e que nos proporciona momentos de reflexão, de intimidade e conhecimento próprio. Contudo, esta autora australiana conquistou-me irremediavelmente, entrou-me na alma apenas com uma obra que, apesar de não ser dona de um estilo e de uma escrita muito elaborados e complexos (como tanto gosto, porque me desafiam), me prendeu desde o parágrafo inicial e me obrigou a ler de forma quase compulsiva mais de quinhentas páginas.
Uma criança inglesa perdida, que desembarca completamente só num porto do outro lado do mundo, sem nada que a identifique e que é acolhida por um casal desesperado por ter filhos. Um segredo que apenas é revelado muitos anos depois. Uma neta que se vê a braços com a morte dolorosa da sua avô e com uma correspondente herança que a deixa perplexa. Dois países separados por milhares de quilómetros de mar. Um punhado de mulheres extraordinárias, determinadas, destemidas que me arrebataram e me fizeram querer saber mais, querer conhecê-las, querer segui-las, querer acompanhá-las. Uma história onde todos estes elementos se misturam e se unem para produzir uma narrativa poderosa, que nos deixa em pulgas, com uma vontade infinita de chegar ao seu final e ao mesmo tempo de não o fazer, de continuar ao ladinho de Cassandra, de Nell e sobretudo de Eliza, a personagem mais marcante e que de certeza absoluta não deixará ninguém indiferente. Que mulher, que mulheres!
Poderia prolongar indefinidamente esta opinião, poderia seguir elogiando a obra, valorizando a sua história, as suas personagens cativantes e merecedoras da nossa admiração, poderia continuar a desenrolar o novelo, a exaltar o quanto fiquei enfeitiçada pelas descrições das paisagens inebriantes da Cornualha (um destino a considerar seriamente para uma futura viagem), mas prefiro não estragar (mais) o prazer, o fascínio e o deslumbramento de quem ainda não leu esta obra e o queira fazer. Todos merecem penetrar nela imaculados, porque tenho a certeza de que, se assim for, irão saboreá-la tanto ou mais do que eu.
Leiam esta obra, por favor! Peguem nela e deslumbrem-se, porque não se arrependerão!

NOTA – 10/10 (merecidíssima)!

Sinopse
Uma criança perdida: em 1913 uma criança é encontrada só, num barco que se dirigia à Austrália. Uma mulher misteriosa prometera tomar conta dela, mas desapareceu sem deixar rasto. 
Um terrível segredo: no seu 21.º aniversário, Nell Andrews descobre algo que mudará a sua vida para sempre. Décadas depois, embarca em busca da verdade, numa demanda que a conduz até à costa da Cornualha e à bela e misteriosa Mansão Blackhurst. 

Uma herança misteriosa: aquando do falecimento de Nell, a neta, Cassandra, depara-se com uma herança surpreendente. A Casa da Falésia e o seu jardim abandonado são famosos nas redondezas pelos segredos que ocultam - segredos sobre a família Mountrachet e a sua governanta, Eliza Makepeace, uma escritora de obscuros contos de fadas. É aqui que Cassandra irá por fim desvelar a verdade sobre a família e resolver o mistério de uma pequena criança perdida.

Divulgação editorial

Duas obras que prometem leituras suculentas… Quem sabe virão proximamente parar à minha estante?...

Ficha técnica
Título – Se o passado não tivesse asas
         Autor – Pepetela
         Editora – Dom Quixote
         Data de publicação – 10 de maio de 2016


         Sinopse
         Himba, treze anos acabados de fazer, durante a fuga do Planalto Central para Luanda, motivada pela guerra, perde-se do resto da família, vendo-se de repente sozinha no mundo. Sem outros meios que não sejam a sua inteligência, consegue chegar à capital, onde conhece Kassule, um menino de dez anos que perdeu uma perna devido a estilhaços de uma mina. Ambos órfãos vítimas da guerra, sem teto e dependendo do lixo dos restaurantes, unem-se para conseguirem subsistir, lutando pela sobrevivência dia a dia. Assim nasce uma bela amizade. Sofia, que há muito aguarda uma oportunidade para mudar de vida, descobre que tem um sentido muito apurado do gosto. Numa aposta arriscada, aceita gerir um restaurante, onde também dá conselhos sobre temperos. À medida que o restaurante vai ganhando clientes da classe alta de Luanda, também a ambição de Sofia vai sendo alimentada.
Uma narrativa original com um desfecho imprevisível, que retrata os últimos vinte anos da história de Angola.

        
Ficha técnica
         Título – Doce carícia
         Autor – William Boyd
         Editora – Dom Quixote
         Data de publicação – 31 de maio de 2016

        
Sinopse

         Quando Amory Clay nasceu, na década que antecedeu a I Guerra, o seu pai desapontado, deu-lhe um nome andrógino e anunciou o nascimento de um filho. Mas esta filha que nasceu não se deixa definir pelos outros; Amory tornou-se uma mulher que não aceita que lhe imponham limites para o que isso pode significar e, mal se viu com a sua primeira máquina fotográfica nas mãos, passou a ser também alguém que regista sempre a sua própria versão dos acontecimentos. Circulando livremente entre Londres e Nova Iorque, entre o fotojornalismo e a fotografia de moda e, também, entre os homens que a amam sempre de um modo complexo, Amory impõe-se como alguém capaz de arriscar tudo, como uma apaixonada passageira da vida. A sua fome de experiências leva-a a conhecer a decadência da Berlim da República de Weimar e a violência dos motins dos camisas negras de Londres; fá-la viajar até à Renânia com as tropas aliadas; e, mais tarde, até ao epicentro do turbilhão político de um Vietname dividido pela guerra. No curso da sua ambiciosa carreira, os momentos fundamentais do século xx tornar-se-ão igualmente os momentos inesquecíveis da sua própria biografia.

Balanço mensal - livros lidos e (não) adquiridos em abril


Este mês, por incrível que pareça, não comprei nenhum livro. Nenhum mesmo. Cumpri assim a promessa que tinha feito cá em casa. Doeu cumpri-la, sobretudo quando o mail e o facebook me bombardeiam com novidades, com promoções e quando passo ao ladinho de bancas e bancas de livros à venda com descontos muito apetitosos… Mas promessas são promessas e eu faço questão de não as quebrar.
Quanto às leituras saboreadas no mês que findou, tenho que admitir que até eu estou surpreendida com o facto de em 30 dias ter lido 6 livros adultos e ter partilhado uma leitura infantil com o filhote.
Arranquei o mês terminando de ler Pasión India, de Javier Moro, uma obra emprestada pela minha querida Verinha “gastabromas”. Foi uma leitura maravilhosa, que “papei” sofregamente e que deu uma sova na visão algo preconceituosa que tinha (bom… e ainda tenho…) sobre a Índia.
O remorso de Baltazar Serapião, de Valter Hugo Mãe, fez-me viajar até a um Portugal medieval e fez com que os meus cabelos se arrepiassem e o estômago se contraísse perante tanta crueza, tanta maldade de gente/homens limitados e que não viam na mulher nada mais do que um saco de porrada e um meio de libertar tensões acumuladas em determinadas partes do corpo.
Estreei-me no mundo literário de Pepetela com O tímido e as mulheres. Foi uma estreia tão boa que terei que arranjar forma de ler as suas outras obras.
A esta estreia seguiu-se outra, mas não tão satisfatória. Li o primeiro volume da saga A minha luta, de Karl Ove Knausgard e pressinto que muito dificilmente terei vontade de ler os restantes…
A terceira estreia foi com o aclamado autor Richard Zimler. A sua última obra publicada (uma reedição) – Os anagramas de Varsóvia – retrata o gueto de Varsóvia em plena Segunda Guerra Mundial e relata, com pinceladas de suspense, policial e de densidade psicológica, a demanda de um judeu ancião em busca de respostas para a morte cruel do seu sobrinho-neto. Foi uma leitura muito interessante, mas que ficou algo aquém das expetativas iniciais (talvez demasiado elevadas…).
Terminei o mês como o comecei – lendo uma obra emprestada (desta vez tenho que agradecer à querida Ana Sofia) e saboreando uma leitura suculenta, daquelas que nos enchem de prazer e nos deixam saciados. O sol dos Scorta, de Laurent Gaudé, era-me completamente desconhecido, mas com uma linguagem muito sensorial, com paisagens, gentes, cheiros, costumes que se aproximam tanto daquilo que nos é familiar, conquistou-me em cheio.
Sendo assim, apesar de não ter trazido nenhum inquilino novo para as estantes, abril foi um mês muito saboroso e que espero que seja prenúncio dos que se lhe seguem. Para já, posso dizer que a leitura que abriu o mês de maio está a deixar-me empolgadíssima J
Aqui ficam os links para acederem às opiniões completas das leituras de abril:
§  Pasión India, de Javier Moro
§  Robin dos bosques, de Howard Pyle
§  O remorso de Baltazar Serapião, de Valter Hugo Mãe
§  O tímido e as mulheres, de Pepetela
§  A morte do pai – A minha luta (volume1), de Karl Ove Knausgard
§  Os anagramas de Varsóvia, de Richard Zimler
§  O sol dos Scorta, de Laurent Gaudé

O sol dos Scorta, de Laurent Gaudé


Ficha técnica
Título – O sol dos Scorta
Autor – Laurent Gaudé
Editora – Edições Asa
Páginas – 219
Datas de leitura – de 28 a 30 de abril de 2016


Opinião

O calor do sol parecia fender a terra. Nem um sopro de vento fazia estremecer as oliveiras. Tudo permanecia imóvel. O perfume das colinas esvanecera-se. A rocha gemia de calor.” (pág. 13)
Assim se abre a narrativa desta obra e, mal os meus olhos percorreram e assimilaram este punhado de palavras, a minha mente viajou para paragens às quais o meu corpo não se adapta, mas que me prendem com um fascínio quase inexplicável. Fascinam-me as paisagens áridas, secas, de natureza bruta e aparentemente estéril, onde apenas vingam as plantas, os animais e talvez as pessoas mais resistentes, mais resilientes. Fascinam-me por isso as terras transmontanas, beirãs ou alentejanas. Concordo plenamente com Miguel Torga quando se refere ao Minho, dizendo que é demasiado verde e monótono.
A narrativa desta obra espraia-se por terras do sul de Itália, terras que cheiram a azeite, a oliveiras, a terra calcinada, a pedras aquecidas pelo sol, a um mar de um azul sem fim, estendido como se uma toalha fosse, mas que nos atraiçoa quando menos esperamos. Uma paisagem que exige dos seus homens suor, sangue e lágrimas, uma dedicação que nem sempre é recompensada, já que nem sempre os homens que nela vivem são bafejados pela sorte de colher de um punhado de terra seca e pedregosa os frutos necessários para a sobrevivência. Mas que sabem, no seu mais íntimo, que nenhuma sensação, nenhuma felicidade suplantará aquela que resulta de deter nas mãos o resultado dessa labuta árdua, dessa luta desigual entre a força humana e a força da natureza.
É preciso aproveitar o suor. É isto que eu digo. Porque são os melhores momentos da vida. Quando nos batemos por uma coisa, quando trabalhamos dia e noite como danados e nem temos tempo para ver a mulher e os filhos, quando suamos para construir o que desejamos, vivemos os melhores momentos da vida.” (pág. 138)
Como o título indica, esta obra é sobre os Scorta, uma família de ladrões, de rejeitados, de filhos produto de violações ou de casamentos estranhos, em cujas veias corre sangue com laivos de loucura, de obsessão e que os levam a cometer atos demoníacos, cruéis e obviamente despojados de qualquer indício de humanidade. Acompanhamos várias gerações dos Scorta, desde os finais do século XIX aos finais do século seguinte e por muito que me tenham repugnado algumas das suas atitudes, sobretudo as dos homens das primeiras gerações, fui obrigada a render-me à tenacidade, à inquebrável união de sangue existente entre Domenico, Guiseppe e Carmela; ao orgulho e prazer que Rafaelle punha nas palavras quando afirmava que era um Scorta; ao esforço que os quatro fizeram, dia após dia, para conseguir o seu lugar na aldeia natal, para sentir que pertenciam àquele lugar; à cumplicidade e comunhão entre todos os membros dos Scorta que os leva a nunca mais endireitarem-se quando a morte de um deles quase os derruba; à força que transmitem a quem priva com eles… Enfim, são personagens fictícias, mas o autor foi de tal forma engenhoso e brilhante na sua construção, na sua moldagem que, apesar de estarmos perante uma obra de ficção, sentimo-nos naquelas paragens inóspitas e ardentes do sul de Itália (tão próximas de paragens portuguesas) e sobretudo sentimos que entramos em casa das suas gentes, dos seus humildes habitantes e que reconhecemos a sua personalidade muito vincada, de almas simples, remediadas, mas que nunca baixam os braços perante a adversidade. Que abraçam a morte com a sensação de dever cumprido.
Por tudo isto, adivinha-se que O sol dos Scorta me proporcionou uma leitura muito proveitosa. Gostei muito do estilo simples e direto do autor, saboreei com muito gosto a “viagem” até ao sul de Itália e o sentimento de proximidade que retirei da mesma, criei muita empatia com praticamente todas as personagens, fui até às lágrimas sobretudo com a de Donato e amei sentir-me mais uma convidada num banquete oferecido por Rafaelle a toda a família e que, para mim, resume o que pode ser a felicidade – uma reunião familiar, comida farta na mesa, apetite saciado e principalmente o sentimento de felicidade, de pertença, de cumplicidade, de amor, de proteção que une quem lá está.
Resta-me agradecer-te, Ana Sofia, por me teres emprestado esta preciosidade que seguramente não leria se não mo tivesses recomendado. Obrigada por esta viagem! Valeu mesmo a pena!

NOTA – 09/10

Sinopse
Prémio Goncourt de 2004
Depois de ter passado quinze anos na prisão, Luciano Mascalzone regressa a Montepuccio, uma pequena aldeia do sul de Itália onde as horas passam debaixo de um calor inclemente. Luciano vem à procura de Filomena Biscotti, uma mulher que desde a juventude deseja profundamente, mas ignora ainda que quem lhe abrirá a porta de casa e se deixará violar será Immacolata, a irmã mais nova de Filomena. Espancado pelos habitantes da aldeia, Luciano morre sem saber que Immacolata dará à luz um filho, o primeiro elo da linhagem dos Scorta…

Com uma imaginação que atingiu o seu esplendor e com a musicalidade de um estilo único, Laurent Gaudé conta-nos a existência dos Scorta de 1870 aos nossos dias, num fresco fabuloso que obteve em 2004 o mais importante prémio literário francês, o Goncourt.