Ficha técnica
Título – Jogos
de Raiva
Autor – Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 439
Datas de leitura – de 20 a 27 de março de 2019
Opinião
Tenho todos os livros que Rodrigo
Guedes de Carvalho publicou. Já os li todos. Alguns já foram, inclusive,
relidos. Acho que, com estas três frases, dá para entender que este autor
português é um dos meus favoritos e que, modéstia à parte, não sou nenhuma
novata nas suas letras.
Para os que não sabem, o Rodrigo esteve
bastantes anos sem publicar qualquer obra literária. Lançou Canário em 2007 e só passados dez
anos é que voltei a ter nas mãos mais uma obra sua (podem encontrar a
correspondente opinião aqui). Foi um interregno que a nós, os dois leitores
adultos cá de casa, nos deixou algo órfãos e que nos fez querer remediar essa
orfandade comprando e devorando com sofreguidão as duas obras que o autor
publicou quase de rajada entre 2017 e 2018.
Recordo-me de comentar com o meu
maridinho algo semelhante a isto – “Que bom que, após dez anos de silêncio,
tenhamos agora duas obras com que nos podemos deliciar!” “Espero que este
tempo, por um lado, o tenha levado a criar narrativas tão boas ou melhores do
que as anteriores e que, por outro, não deixem de ter os ingredientes que nos
fazem continuar a querer ler o “nosso” Rodriguinho!”
Comprei Jogos de Raiva na FLL de 2018. A obra está autografada pelo próprio
Rodrigo que, nesse dia, estava no stand da Leya a divulgá-la. Esteve na estante
todos estes meses por causa da minha mania das leituras cronológicas e
continuaria aí se eu não estivesse a tentar reverter essa mania e se não a
tivesse escolhido para participar no projeto da Patrícia Rodrigues – Lusiteratura – para a categoria
de Março 2019 – obra escrita por uma
figura pública. Saltou da prateleira dos não-lidos no dia 20 e iniciei a
sua leitura muito bem acompanhada por ti, Paulinha, que esperaste por mim para
lê-la em conjunto.
Tudo, como podem compreender, parecia
muito promissor. Iria mergulhar na leitura do último livro de um dos meus
autores favoritos, que muitos leitores que eu sigo e em que confio tinham
classificado de muito boa ou excelente. E, para cúmulo, iria fazê-lo na
companhia da minha bookbestie.
As páginas iniciais são soberbas,
magistrais, com tudo aquilo que me agrada de sobremaneira em RGC. Contudo, no
dia em que recebi um mail (é através do mail que a Paulinha e eu fazemos as
nossas leituras em conjunto) com o título “Houston, we have a problema”, tudo começou
a descambar. Primeiro, para a Paula, depois para mim. Primeiro, para ela, que
tem, sem dúvida, conhecimentos mais profundos de cultura geral do que eu, os
quais a levaram a torcer o nariz a falhas incompreensíveis em alguém que, para
além de escritor, é jornalista. Posteriormente, para mim, que me fui apercebendo
de que, em Jogos de Raiva, as
personagens têm pouco sumo, são muito planas, estereotipadas e pouco ou nada
reveladoras da complexidade e densidade que habitam aquelas que dão um
protagonismo ímpar às obras anteriores do autor. A tudo isto, que já era razão
suficiente para que me apetecesse devolver a obra às prateleiras, juntou-se
algo ainda pior – a sensação de que o autor apenas escreveu esta narrativa para
poder abordar e espezinhar todo e qualquer tema que seja polémico e que esteja
na berlinda nos dias de hoje – temos racismo, temos homossexualidade, temos as
guerras sem sentido, temos as redes sociais e o seu lado de retrete da
humanidade, temos a violência doméstica, temos as doenças mentais e até temos
mortes de gente inocente às mãos de bárbaros que de humano não têm nada.
Entendo que vivemos numa sociedade onde
imperam todos estes temas e entendo (e assino por baixo) a vontade de espezinhá-los
e aniquilá-los. Mas, como diria a Catarina (uma das personagens da obra),
caramba, era preciso amontoá-los todos numa narrativa só??? Eu acho que
não havia necessidade e que, ao fazê-lo, o autor demonstrou aquilo que nunca
havia demonstrado antes – desleixo, pouco cuidado na criação de uma narrativa,
onde as personagens, o lado ficcional se perde quase por completo e o que resta
é, na minha humilde opinião, uma mistelada, uma salgalhada, uma mistangada
(como diz a minha mãe) que me fez saltar algumas páginas e querer fechar a obra
o mais rápido possível…
Como leitora admiradora de Rodrigo
Guedes Carvalho, dói-me muito partilhar esta opinião e não vos recomendar a
leitura de Jogos de Raiva. Mas
não me sentiria bem se não o fizesse, pois prezo a minha honestidade acima de
tudo e nunca poderia enganar-vos. Agora, vocês são livres de seguir ou não a
minha não-recomendação, pois só precisam de ir ao Goodreads para constatarem que eu e a Paula somos as “más da fita”,
já que todos os restantes leitores deram, no mínimo, 4 estrelas a esta obra.
Se houver alguém desse lado que já
tenha lido a obra e queira deixar aqui a sua opinião, por favor, faça-o! E se
essa opinião for contrária à minha, ainda melhor, não se acanhe!
NOTA – 04/10
Sinopse
Um
homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais
alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele
vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país,
homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem
horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e
pensa: como chegámos aqui? A era da comunicação global trouxe inimagináveis
maravilhas. Partilhas imediatas de ensinamentos, denúncias e solidariedades.
Mas permitiu também que saísse das cavernas uma realidade abjecta. Insultos,
ameaças, ironias maldosas. Nunca, como hoje, a semente do ódio foi tão
espalhada. É sobre este pano de fundo que se conta a história de uma família.
Três gerações a olhar para um futuro embriagado num estado de guerra. Uma
família que esconde, enquanto puder, um segredo. Jogos de Raiva traça
duros retratos sem filtro sobre medos e remorsos, sobre o racismo, a depressão,
a sexualidade, o jornalismo, a adopção, a arte e a amizade. E o poder das
histórias. É sobre a urgência da confiança, da identidade e do amor. É um livro
sobre todos nós, à deriva num novo mundo.