Ficha técnica
Título – O
meu nome é Lucy Barton
Autora – Elizabeth Strout
Editora – Alfaguara
Páginas – 176
Datas de leitura – de 08 a 10 de março de 2019
Opinião
– “Olha para a tua vida, hoje em dia.
Tu seguiste em frente e… conseguiste.”
(pág. 155)
Há opiniões que funcionam melhor por
escrito e esta, sem dúvida, é uma delas.
O
meu nome é Lucy Barton é uma obra pequenina, não chega às 200 páginas e
parece estar composta de ninharias, de banalidades relacionadas com a infância,
juventude e sobretudo vida adulta de Lucy Barton, uma jovem que deixou para
trás uma família algo disfuncional para ser a única filha a prosseguir estudos
e mudar de uma terreola perdida do Illinois para a Big Apple. Ela apresenta-se,
recordando uma temporada que passou no hospital e que possibilitou estar frente
a frente com a mãe, depois de muito tempo sem que se visitassem. Esse período de
mais de um mês que passou hospitalizada, vendo todos os dias o edifício
Chrysler iluminar-se quando a noite chegava, é o ponto de partida para uma
narrativa que, como já referi, vai saltitando do presente para o passado e nos
vai dando a conhecer a Lucy e a sua vida banal, sem nada que a destaque duma
pessoa anónima. Mas é igualmente o ponto de partida para uma narrativa repleta
de ninharias e paradoxalmente complexa, com muitas pontas soltas e, acima de
tudo, com muito que não é dito, com muito que se vai percebendo nas
entrelinhas.
Na minha opinião, um livro destes só
chega e mexe com o leitor quando é escrito por alguém que domina a escrita com
mestria. Elizabeth Strout, vencedora do Prémio Pulitzer, escreve deliciosamente
bem, transpira talento que nos prende a uma história que se alimenta de uma
mulher simples, “plain”, que se apaixona platonicamente por todo o homem que
trata bem e que lhe devota um bocadinho de carinho, que não despega os olhos
nem a atenção da mãe nos dias “hospitalares” que as duas partilham à “sombra”
do edifício Chrysler, que espera desesperadamente dela umas migalhas de ternura
e que nos vai deixando, ela própria, migalhas daquilo que foi a sua infância de
menina pobre, da sua mudança para a grande cidade, do seu casamento, da sua
maternidade, das amizades e encontros que vai entabulando com um punhado de
pessoas e de um sonho que vai conseguir concretizar.
Desengane-se quem pegar neste livro e
estiver à espera de algo à primeira vista grandioso. Irá, pelo contrário,
conhecer uma realidade que nada parece ter de americano, faustoso, de
exagerado. A história de Lucy, as conversas corriqueiras que partilham com a
mãe, o foco nos outros, as pinceladas incompletas da sua vida, tudo parece
compor uma história nada extraordinária. Contudo, a genialidade da narrativa e
da escrita da autora está nisso mesmo – em ser capaz de pegar no ordinário, no
banal, no normal e elevá-los ao patamar do extraordinário. Fá-lo de uma forma
simples, contida, “incompleta” até, mas proporciona-nos momentos de leitura
inesquecíveis, com passagens de uma beleza suprema, como a que encerra a obra e
que nem em verso teria essa beleza.
E acho que me vou ficar por aqui,
porque creio que o essencial está dito. Gostei mesmo muito de ter lido este
livro e é óbvio que o recomendo e muito a quem quiser ler algo maravilhosamente
bem escrito. Acrescento, para finalizar, que trouxe este livro da biblioteca da
terrinha e que só tenho pena de não encontrar por lá mais nenhum livro da
autora.
Alguém desse lado já leu este livrinho?
Já leram mais algum da autora? Se sim ou se ficaram interessados, comentem, por
favor! Obrigada!
NOTA – 09/10
Sinopse
Mais
do que uma história de mãe e filha, este é um romance sobre as distâncias por
vezes insuperáveis entre pessoas que deveriam estar próximas, sobre o peso dos
não-ditos no seio das relações mais íntimas e sobre a solidão que todos
sentimos alguma vez na vida. A entrelaçar esta narrativa está a voz da própria
Lucy: tão observadora, sábia e profundamente humana como a da escritora que lhe
dá forma.