A invenção do amor, de José Ovejero

Quinta-feira, 02 de outubro de 2014




Sinopse
Uma história de amor inventado, absolutamente real. Do seu terraço, Samuel observa a agitação quotidiana de Madrid, repetindo para si próprio que tudo está bem. Sobreviveu aos quarenta, a "idade maldita", não tem filhos, e as mulheres entram e saem da sua vida sem nunca pronunciarem as palavras "para sempre". Uma madrugada, alguém lhe comunica por telefone que Clara, sua ex-namorada, morreu num acidente. De ressaca, Samuel é incapaz de explicar que não conhece nenhuma Clara. Impelido por um misto de curiosidade e enfado, decide ir ao velório. É então que, fascinado pela possibilidade de usurpar a identidade da pessoa com quem o confundem, Samuel ficciona uma história de amor com Clara, que vai partilhando com Carina, a irmã desta.
Samuel vê nesse jogo de ilusões a possibilidade de reinventar a sua existência e sentir-se vivo, por fim. À medida que a memória de Clara vai ganhando verdadeira forma na sua cabeça, vai crescendo também a atração que sente por Carina - e Samuel começa a perder o controlo do jogo que criou. Irá o amor que inventou ser a sua salvação ou a sua perdição?

Opinião
Esta leitura é mais uma das leituras que são consequência das minhas frequentes visitas à página oficial da Alfaguara espanhola. Vencedor do prémio romance de 2013 da referida editora, A invenção do amor foi-me oferecido pelo meu afilhado e queridos compadres e recomendado pela minha compincha e amiga literária, Lucinda.
Tal como nos informa a sinopse, este romance de José Ovejero (o primeiro livro deste autor a “merecer” ser traduzido para português) convida-nos a entrar e a conhecer a vida de Samuel, um solteirão de Madrid que vive só, que cultiva laços de amizade de circunstância e que se arrasta todos os dias, ou melhor, quase todos os dias para a empresa que gere com o sócio e colega de faculdade, José Manuel. Leva assim uma existência monótona, desprendida, que é inesperadamente abanada por um telefonema insólito…
Ao contrário do que se espera de alguém que recebe um telefonema e se apercebe de imediato de que o confundiram com outro Samuel, o nosso protagonista não desliga o telefone, não diz ao seu interlocutor que “é engano”, entabula, sim, conversa com quem está do outro lado da linha, encarna o papel desse outro Samuel e começa a viver uma vida dupla, a ser o Samuel, sócio-gerente de uma firma de materiais de cerâmica e a ser o Samuel, cuja ex-namorada morreu num acidente de viação. A partir daí, sentimos, reconhecemos todos os sinais e sintomas de quanto a vida do verdadeiro Samuel é desprovida de tudo o que nos faz sentir vivos e com ganas de desfrutar do presente e aguardar com esperança o que nos reserva o futuro!... E essa é, para mim, a grande mensagem desta obra.
É um livro de leitura fácil, simples, com uma linguagem onde impera a ausência de elementos rebuscados e complexos e que, como tal, na minha opinião, espelha na perfeição a vida despretensiosa, corriqueira e ausente de emoções de Samuel. Dá-nos igualmente a possibilidade de seguir todos os momentos da sua vida (antes e após telefonema) e de compreender o quanto, para algumas pessoas, a expressa vontade de não se comprometer, de não perder a preciosa liberdade individual pode ser contraproducente, conduzi-las a uma existência cheia de nadas e a agarrar-se a ilusões que podem esfumar-se num abrir e fechar de olhos…
Tendo em conta tudo o que referi até agora, tenho que dizer que gostei deste livro, embora sinta que criei demasiadas expetativas e que no final as mesmas saíram um pouco goradas, por apenas isso – expetativas demasiado elevadas. Tenho outro livro deste autor apontado – Añoranza del héroe – e a vontade de comprá-lo não foi, de forma alguma, beliscada J

Deixo aqui duas passagens:
Não faças amor comigo, inventa-o para mim” (pág. 281)

Sempre acreditei que o pensamento é mais original do que a emoção; é mais fácil pensar coisas novas do que senti-las.” (pág. 283)

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