Ficha técnica
Título – A
vida no campo
Autor – Joel Neto
Editora – Marcador
Páginas – 228
Datas de leitura – de 06 a 14 de abril de 2017
Opinião
Nesta
época pascal, na qual a primavera que rebentou em força nos faz olhar com
encanto e confiança para os dias que aí se avizinham, tive o privilégio de
viajar (fisicamente) até a outra ponta desta península “à beira-mar plantada” e
de, através das belíssimas e serenas palavras de Joel Neto, atravessar o
Atlântico e penetrar nas portas da sua casa em Dois Caminhos, freguesia da
Terra Chã, ilha Terceira, Açores.
Nunca
estive no arquipélago açoriano. Até hoje, apenas pude sentir-lhe o sabor a
partir da partilha de relatos de amigos e familiares, de imagens e fotos, do
anticiclone homónimo e ultimamente dos escritos de Joel Neto, um autor que me
arrebatou com a obra Arquipélago.
Contudo, apesar de o contacto com essas nove ilhas mágicas nunca ter passado disso,
sinto uma vontade imensa em aterrar numa das ilhas, calcorrear a sua paisagem,
fixar o olhar naquela imensidão de mar, absorver o seu verde até à náusea e
inclusive experimentar a sensação de claustrofobia que me aprisiona sempre que
estou num pedacinho de terra rodeado de água.
Como
monetariamente ainda não me pude dar ao luxo de desfrutar de uns dias nos
Açores, vou tentando colmatar essa falha nas minhas escapadelas geográficas com
escapadelas literárias. Sendo assim, tento escolher os “guias” mais
conhecedores e que, através de uma linguagem simples e serena, me oriente e dê
autonomia para que o deslumbramento seja intenso e pleno, tal como o é tudo o
que se relaciona com umas ilhas onde a palavra “paraíso” continua a fazer
completo sentido.
Joel
Neto entrou na minha vida com o seu Arquipélago.
E deixou marca. Uma marca indelével e que exige o que qualquer obra sublime exige
– busca companhia, busca outras narrativas do mesmo autor que deixem o leitor
em estado de êxtase. De novo.
Sabia
de antemão que A vida no campo
não era uma narrativa ficcionada. Sabia que se assemelhava a um diário que nos
possibilitava seguir as pisadas de Joel Neto durante um ano, durante as quatro
estações em que a obra está dividida. Mas estava confiante de que voltaria a
deliciar-me não só com o estilo singelo do autor como com uma continuação de
uma ode à infância, às gentes que povoaram não só esta etapa como a mais adulta
e à simplicidade e magia do verde e do azul das paisagens açorianas.
Não estava
enganada. Joel Neto apropria-se de tudo – sobretudo o mais corriqueiro e
quotidiano – para partilhá-lo connosco. O seu dia-a-dia no lugar de Dois
Caminhos e os passeios que vai fazendo por outras bandas da sua ilha, as suas
fugidas para Lisboa, a gente que traz um colorido especial à sua rotina, os
costumes, tradições, linguagens e nomes estapafúrdios que abundam pela ilha da
Terceira e vizinhas, tudo isto escrito num estilo muito simples, prosaico, mas
repleto de humor, alguma ironia e com muita matéria para reflexão.
Foi,
como é fácil de adivinhar, uma leitura muito produtiva, que me abriu de novo as
portas para entrar no arquipélago açoriano, mas que me deixou, por um lado,
imensamente agradecida a Joel Neto e desejosa de ler mais dos seus escritos e,
por outro, com um travinho de frustração, já que pude, a partir das suas
palavras, viajar do continente até à Terceira, mas não estive verdadeiramente lá
e sei que, se já lá estivesse estado, sentiria como mais minhas as paisagens,
as gentes, as alterações climatéricas, as tradições, as comidas, enfim a alma
açoriana. É só por esta razão que não lhe atribuo a nota máxima. Apenas por
isso.
Termino
com alguns dos muitos fragmentos que fui sublinhando:
“Àquele silêncio nunca mais o encontrei. Acho
que é sobre ele que escrevo todos os dias.”
“Mas não tenho uma insónia há quase dois anos
e meio.”
“No alarm and no surprises cantam os
Radiohead. Tenho o disco no porta-luvas desde o primeiro dia – quase todas as
semanas o ponho no leitor.” (Muito bom gosto musical, Joel)
“As mentiras em que as pessoas sustentam a
sua felicidade são tão válidas como as verdades.”
NOTA –
09/10
Sinopse
Um homem e uma mulher. Um
jardim e uma horta. Dois cães. Ao fim de vinte anos na grande cidade, Joel Neto
instalou-se no pequeno lugar de Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, ilha
Terceira. Rodeado de uma paisagem estonteante, das memórias da infância e de
uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica, descobriu que,
afinal, a vida pode mesmo ser mais serena, mais barata e mais livre. E, se
calhar, mais inteligente.
Olá Ana,
ResponderEliminarQue bom que gostaste. Li este livro o ano passado e adorei. Se já tinha vontade de conhecer os Açores agora então muito mais :)
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isa!
EliminarGosto mesmo muito de Joel Neto, de tudo o que ele escreve! E sim, quero MUITO conhecer os Açores!!!
Beijinhos e leituras muito saborosas!
Olá Ana
ResponderEliminarSe antes já tinha alguma curiosidade para ler este livro, agora está sem dúvida na lista de livros a ler.
Beijinhos e boas leituras
Sim, Sara, se não leste nada de Joel Neto, deves fazê-lo o quanto antes. Este e o "Arquipélago" são fabulosos! Recomendadíssimos!
EliminarBeijinhos e leituras muito saborosas!