Se em
abril o outro lado da vida se intrometeu nas minhas leituras, em maio e
princípios de junho encolheu para tamanhos reduzidíssimos o tempo que dedico a
este cantinho… É por isso que tenho textos em atraso e que este balanço mensal
aparece apenas agora, quinze dias após o arranque do mês que se lhe segue.
Contudo,
se compararmos as leituras de abril e maio, confronto-me com um número maior,
já que de três leituras passei a cinco, isto é, os minutos dedicados a um dos
prazeres mais saborosos da minha vida continuaram a ser escassos, mas foram
muito profícuos 😊
A
primeira leitura de maio foi a mais difícil do ano e talvez uma das mais
difíceis de todos os tempos. A narrativa de Eu
confesso, de Jaume Cabré é deveras alucinante, a mistura de tempos, espaços,
narradores, personagens que frequentemente é realizada num parágrafo apenas
deixa qualquer leitor experiente atordoado, perplexo e sem fôlego. Mas se
combinarmos esse ritmo e essa mistura alucinantes com uma escrita e um
estilo assombrosos, sublimes, geniais, temos na nossa mão uma obra que tem que
ser conhecida e lida por todos aqueles que ansiamos e desesperamos por uma
leitura que nos retire o chão e se mantenha connosco tempos infinitos.
Furta-cores, da brasileira Cristina Parga, é uma
coletânea de contos pequeninos, grande parte de pouco mais do que duas páginas.
Chegaram à minha estante em outubro do ano passado e foram-me oferecidos por
uma “gran amiga”. Nunca havia lido nada da autora, aliás não a conhecia de
todo, mas a sua escrita emotiva, prenhe de sentimentos e emoções que nos
caracterizam fizeram com que lesse com muito interesse as histórias que compõem
Furta-cores, que me
apaixonasse e me emocionasse com passagens, com personagens e correspondentes
dores, desejos, medos, nostalgias e sonhos. Não me emocionei com todos os contos,
é certo, mas aqueles que me tocaram pedem que continue a querer ler mais daquilo
que esta jovem escritora escreve. E pode ser que o faça mais cedo que o que
estava à espera!...
A terceira obra que li chegou por empréstimo.
E que bom que é ter colegas, amigos que me disponibilizam os seus livros,
porque fazem-me poupar dinheiro e idas à biblioteca e possibilitam-me leituras
maravilhosas. Como a que saboreei com A
ridícula ideia de não voltar a ver-te, da espanhola Rosa Montero. Dela
apenas havia lido Amantes e Inimigos
e tinha ficado fascinada e enfeitiçada pela sua escrita intensa, que fala da
vida, de sentimentos, do lado feio e do lado belo do ser humano com
familiaridade e conhecimento e que nos faz pensar e sentir que a autora é
alguém próximo, que pode a qualquer momento sentar-se ao nosso lado e entabular
um diálogo connosco de igual para igual. Essa sensação voltou a materializar-se
com a obra que me emprestaram, que entrelaça a biografia da genial Maria Curie
com aspetos biográficos da própria Rosa Montero e com divagações e apontamentos
que a mesma vai partilhando com o leitor sobre a vida, a morte, o papel da
mulher na sociedade ao longo dos tempos, o seu papel de escritora, de mulher e de
esposa de alguém ou apenas sobre banalidades que tanto colorido aportam ao
dia-a-dia de cada um de nós.
A
quarta obra saiu diretamente do meu e-mail para o tablet do meu filhote. Não
sou a maior fã de e-books, mas tenho que, mais uma vez, expressar o meu
agradecimento à Cristina Tista, uma seguidora do blogue e que me vai enviando
obras em formato digital que sabe que me irão agradar. Uma vida à sua frente, de Romain Gary, conta-nos a história
sofrida e dolorosa de um órfão, filho de uma prostituta e do seu chulo, que vai
sobrevivendo em casa de uma anciana, também ela uma antiga prostituta e
sobrevivente dos campos de extermínio de Auschwitz. A narrativa, como se pode
depreender, aperta-nos o coração de compaixão e leva-nos a querer saltar para
dentro dela para podermos estreitar Momo (o protagonista) nos nossos braços e
não mais o largarmos. Está muito bem escrita e o estilo sensível, quase
poético, do autor é outro fator que nos agarra e faz de Uma vida à sua frente um romance que deve ser lido por
todos.
Encerrei
o mês como o comecei – com uma obra saída da minha estante. Mas as semelhanças
terminam aí, porque No país da nuvem
branca cumpriu com o seu propósito – dar-me espaço para respirar, para
desfazer os nós de emoção que me foram apertando com uma leitura levezinha e
fácil de tragar, contudo não permitiu sequer que criasse muita empatia com as
personagens, sobretudo com as protagonistas, às quais senti que lhes faltava
mais entusiasmo, mais força, mais vida.
Resumindo
o que foi dito até aqui, as cinco obras lidas em maio não defraudaram. Nenhuma
delas o fez, mesmo aquelas às quais dei nota mais baixa. Destaco sobretudo a
obra magistral de Jaume Cabré e a deliciosa biografia/autobiografia/ensaio de
Rosa Montero. Ficarão comigo por muito tempo!
Quanto
a novos inquilinos na estante e face a promessas que cumpri a muito custo, o
mês de maio encheu a prateleira das aquisições apenas com uma obra que o meu
filhote ofereceu com muito amor no dia da mãe!
Trata-se de Rapariga em guerra, de Sara Novic, que me vai fazer regressar
aos palcos da guerra, mais precisamente à guerra dos Balcãs. O meu coração já
se aperta de antecipação, porque, como sabem, nutro especial predileção pela
dor e pelo sofrimento, anseio por narrativas que me transtornem, que deixem
marca. E esta seguramente deixará.
E o
vosso maio, como foi? Fico à espera das vossas respostas.
Deixo-vos,
como sempre, os links para acederem à
opinião completa das obras lidas este mês:
Um livro com uma dedicatória dessas vale por uma montanha deles! Cá em casa ninguém me oferece livros, e não estou a chorar-me, só a dizer a verdade. Riem-se e fazem piadinhas quando digo que quero mais livros, não há respeito...
ResponderEliminarEu comprei poucos livros em Maio porque estava a amealhar para a Feira, e o melhor que li foi O Meu Nome é Lucy Barton, da Elizabeth Strout.
Paula
Sim, Paula, este livro será sempre especial pela sua dedicatória!
EliminarBom, que "crime" não te oferecerem livros e que "crime ainda maior" fazerem piadinhas com a "tua mais que justa" reclamação de que não tens livros suficientes! Isso de verdade não se faz!
Fiquei muito curiosa com o livro que recomendas - já pesquisei e é com muita alegria que digo que vou requisitá-lo um dia destes na biblioteca da terrinha!!! Depois digo-te como foi a minha leitura!
Beijinhos e bom fim de semana!
Acho que tu lhe chamas "terrinha" mas deves viver numa grande metrópole, pois tem uma biblioteca muito bem recheada! Eu vivo numa cidade dos subúrbios de Lisboa e a minha biblioteca só tem velharias. Nem um computador para fazermos pesquisa tem...
ResponderEliminarEspero que gostes da Lucy Barton. É triste mas muito suave e introspectivo, sem grandes conflitos ou dramalhões.
Paula
Bom, comparada com o Porto ou algumas cidades suburbanas, a minha terrinha é mesmo uma terrinha, mas no bom sentido e é verdade que a biblioteca municipal não deixa a desejar! Vai tendo novidades muito frequentemente e eu lá as vou anotando para uma próxima vez! E numa dessas próximas vezes quero trazer o da Lucy Barton, sem dúvida, porque já me cativou, eu que busco a tristeza, a dor e a instrospeção, como tu bem sabes. Obrigada pela sugestão!
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