Segunda-feira, 09 de março de 2015
RELEITURA
Opinião
Esta releitura foi (como se ainda
necessitasse de provas…) mais um exemplo de como realmente “saborear” uma
leitura pela segunda vez sabe mesmo muito bem!
Barbara e Stephanie Keating são duas
irmãs irlandesas J que fazem aquilo que não é muito
comum no mundo das letras – escrevem romances “a quatro mãos”, vivendo cada uma
delas num país diferente – Irlanda e França. Até hoje, a Editora Asa (Leya)
publicou quatro desses romances – À minha
filha em França e a trilogia
Langani. É óbvio que todos “vivem” cá em casa e que todos, sem exceção,
merecem ser lidos ou relidos, porque nos proporcionam leituras arrebatadoras, que
nos conquistam de uma forma que só posso descrever como sôfrega!
À
minha filha em França
“mora” cá em casa há mais de 10 anos e é o livro “primogénito” das autoras.
Recordo a primeira vez que o li como uma experiência que teria que ser, sem
dúvida alguma, repetida. E foi-o com a leitura dos três volumes da trilogia
Langani e agora com a releitura de uma história que é apaixonante, que nos toma
por completo, que nos seduz e à qual me entreguei de novo como se fosse a
primeira vez! Um romance como devem ser todos os romances. Um romance como eu
gosto, cá dos meus J
A narrativa abre com uma missiva
escrita a 20 de fevereiro de 1970 por Eleanor Kirwan a Solange de Valnay, duas
irmãs que até ao momento eram duas estranhas, mas que, através da leitura do
testamento do falecido Richard Kirwan, ficam a saber que, em comum, têm o mesmo
pai biológico. A notícia tem um efeito catastrófico em ambos os lados do Canal
da Mancha e será o elemento catalisador de uma história que nos fará saltar para
vários tempos e espaços e acompanhar um leque de personagens muito bem
construídas, humanas, com atitudes que se assemelham a qualquer uma de um
vulgar ser humano, mas ao mesmo tempo dotadas de um caráter invulgar,
excecional e que irremediavelmente nos cativa.
A ação desenrola-se, como já referido
antes, entre os dois países onde vivem as duas partes desta família que nada
sabiam da existência da outra metade até que se leu a última vontade de Richard
Kirwan – “À minha filha em França,
Solange de Valnay (…), deixo o remanescente do meu património” (pág. 7). De
Dublin “viajamos” à costa irlandesa de Connemara, saltamos o Canal da Mancha e
passamos por Paris, Montpellier, St. Joseph de Caunes no sul de França, costa
da Bretanha e ainda “damos um salto” a Genebra, Suíça. Que viagem literária
extraordinária! Que deleite poder “voar” com a minha imaginação e (re)descobrir
países que tanto me fascinam!
Mas, para minha satisfação, o deleite
não ficou por aí. Não foi apenas espacial, geográfico. Foi igualmente temporal,
histórico. Esta releitura levou-me de novo a ambientes bélicos, à tentadora
Segunda Grande Guerra (que sempre me seduziu e seduzirá, de uma forma quase
demoníaca) e à luta gloriosa e heroica da Resistência francesa. Voltei a
sofrer, a angustiar-me até às lágrimas com a inconcebível caça aos judeus, com
as sessões de tortura excruciante que os mesmos e resistentes suportaram, com
os relatos de sobreviventes de campos de concentração, enfim, com aquilo que
ainda hoje me pergunto pode um ser humano fazer a outro.
Por
fim, a minha satisfação, o meu contentamento de leitora atingiram o pleno com
os laços que unem as personagens desta magnífica narrativa e sobretudo com as suas
histórias de amor. São amores plenos, sensuais, poderosos e tão apaixonantes,
tão extraordinários que ficam na memória, que nos fazem sentir aquela
invejazinha boa, que nos fazem ter esperança, acreditar e que fizeram
personagens como Richard, Celine, Leah, Seamus e outros querer viver. Viver
por, pelo menos, mais um dia.
Por tudo isto, tenho que dar nota máxima
a esta releitura. Como poderia não fazê-lo? Adorei cada página, cada linha,
cada momento e a vontade de reler as outras obras destas autoras é mais que
imensa! Espero ainda que, brevemente, possam editar algum livro novo!...
NOTA – 10/10
Sinopse
Um
testamento inesperado, a uma filha desconhecida, que vai alterar a vida de duas
famílias.
Uma
extraordinária história de paixões proibidas, de sacrifícios feitos por amor e
pela honra, de coragem e heroísmo. Um drama histórico que se movimenta entre a
França ocupada, a costa de Connemara e a região francesa das vinhas do
Languedoc nos anos setenta.
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