Agosto
trouxe na bagagem quatro leituras e uma releitura. Cinco viagens literárias
muito diferentes. Umas mais apetitosas que outras. Mas através de todas elas,
através de uma personagem, do enredo, das épocas, do estilo do autor, de uma
determinada passagem, pude relaxar, banhar-me e besuntar-me de magia, de
cumplicidade, de novas ideias e de muito, muito prazer e deleite.
Arranquei
este mês de férias percorrendo as ruas de Madrid e respirando através das
feridas do punhado de personagens que percorrem as páginas de Respirar por la herida, de Víctor
del Árbol. Havia lido muitas opiniões favoráveis a respeito do autor e das
várias obras que já publicou no país vizinho e decidi ser mais uma dos milhões
de leitores que se renderam ao seu estilo “negro”. Não posso afirmar que me
tenha rendido incondicionalmente, mas admito que Respirar por la herida não me deixou de maneira nenhuma
indiferente e que a sua trama e sobretudo as suas personagens foram criadas por
uma mão e uma mente muito hábeis e que sabem cativar o interesse do leitor,
sobretudo daquele que se agarra a um género que mistura pinceladas policiais,
de mistério e de sentimentos de dor, culpa, vingança e arrependimento.
Deixei
para trás a literatura espanhola e escrita em espanhol e viajei em português
para o mundo autobiográfico de Daniel Pennac. Recuei à sua infância e
adolescência de um mau aluno e compreendi o quanto essa “má” experiência lhe
forneceu as ferramentas necessárias para, enquanto professor, saber lidar da
forma mais conveniente com alunos espelhos de si próprio. Contudo, ou por estar
a mexer com assuntos de escola em mês de férias ou por sentir que Mágoas da Escola é excessivamente
dissertativa em certas partes, encerrei a sua leitura algo desanimada, pois as
expectativas não foram saciadas.
A
terceira obra que me caiu nas mãos ganhou um cantinho muitíssimo especial na lista
das melhores obras que já li até hoje. O
leitor é um pequeno romance que tem que ser descoberto por todos
aqueles que se pelam, como eu, por obras que nos atropelam e nunca mais os
abandonam. Está maravilhosamente bem escrita e os seus protagonistas são
personagens redondas, densas, que vamos “descascando” à medida que a ação
avança e que nos arrepiam, nos atormentam e nos esgotam. Recomendadíssima!
Neste
mês decidi regressar às releituras. Fi-lo com um autor de que gosto muito, mas
algo aconteceu para que a entrega não tenha sido integral. Não me senti dona de
A casa quieta como me havia
sentido aquando da primeira visita. Por que razão isso ocorreu não sei… Poderia
referir uma ou outra razão, mas nenhuma delas me satisfaria nem satisfaz. No
entanto, aconselho a todos que conheçam o mundo literário de Rodrigo Guedes de
Carvalho, porque não se arrependerão.
Encerrei
o mês com mais uma leitura que não correspondeu ao que esperava da mesma. Carta à mulher do meu futuro
parte de uma premissa arrebatadoramente promissora, mas perde-se esse
arrebatamento logo nas páginas iniciais e nunca mais o encontra, já que o
estilo do autor não se coaduna com a vontade férrea e avassaladora com que os
protagonistas se agarram à vida e à promessa de um amor que os fará esquecer as
atrocidades de que foram vítimas e sorrir perante o que está para vir.
Como não poderia deixar de ser (simplesmente
porque não consigo controlar-me), voltei a gastar dinheiro em livrinhos novos
e, como tal, moram na minha estante três novos habitantes. Todos eles comprados
em Espanha. Todos eles comprados no país vizinho porque, infelizmente, não são
publicados cá. Dois deles far-me-ão embrenhar (mais uma vez, mas com o
deslumbramento de sempre) em dois dos conflitos bélicos que mais me apaixonam e
o terceiro far-me-á regressar à minha Margaret Mazzantini.
Volver a Canfranc, de Rosario Raro faz-nos viajar a
Canfranc, onde se encontra a estação internacional ferroviária homónima, que
liga Espanha a França. É lá que as personagens Laurent, Jana e Esteve, armadas
somente com a sua valentia, sentido de honra e justiça e o amor ao próximo,
tudo fazem para que cidadãos judeus escapem ao jugo nazi e alcancem a liberdade a
que todos temos direito.
Cartas a Palacio será a minha estreia na escrita de
Jorge Díaz. Apaixonei-me à primeira vista pela sua sinopse que nos informa que
a obra baseia-se em factos e conta-nos os esforços evidenciados por um grupo de
colaboradores do rei Afonso XII em ajudar famílias devastadas pela falta de
notícias dos seus entes queridos que partiram para a guerra e de lá não
voltaram.
Esplendor
é, creio eu, o mais recente romance de uma das minhas autoras de eleição –
Margaret Mazzantini. Relembro que, para grande mágoa minha, esta escritora tem
apenas dois romances traduzidos em Portugal, talvez porque o correspondente
volume de vendas não atingiu os números desejados… Sendo assim, vi-me obrigada
a voltar-me para edições estrangeiras, porque a outra opção nem se põe, ou
seja, eu não consigo viver sem continuar a ler e a maravilhar-me com o que esta
autora italiana tão maravilhosamente cria e escreve. O seu último romance
aborda a história de amor entre dois homens numa sociedade contaminada pelo
preconceito. Sei que vou render-me à sua leitura sem reservas nem qualquer tipo
de rede e que no final estarei com sentimentos e sensações à flor da pele e que
novamente agradecerei à vida ter-me feito embater com a literatura e os livros.
Porque Mazzantini provoca tudo isso nos leitores que devoram e se deleitam com aquilo
que põe no papel e partilha connosco, que somos afortunados por lê-lo.
Agosto
foi assim um bom mês. Espero que o vosso também tenha sido.
Deixo-vos
por fim o link que vos permite aceder à opinião completa das obras lidas este
mês:
Mais um da Mazzantini, que inveja!
ResponderEliminarQue pena não teres gostado da Carta à Mulher do meu Futuro, pois ficou sob o meu radar assim que foi editado. Desde a capa ao título, tinha tudo para ser bom, mas se caracterizas a escrita como "objetiva, jornalística", dificilmente me cativaria.
Paula
Eu suspeitava que ficarias com alguma invejazinha, porque sei o quanto me acompanhas na adoração pela Mazzantini! Depois partilho o sabor deste seu novo romance!
EliminarQuanto a Carta à mulher do meu futuro, infelizmente deixa muito a desejar, porque o que poderia ser uma obra bombástica acaba por ser corriqueira, sem chama...