Ficha técnica
Título – Que importa a fúria do mar
Autora – Ana Margarida de
Carvalho
Editora – Teorema
Páginas – 240
Datas de leitura – de 05
a 10 de setembro de 2016
Opinião
Comprei
este livro porque a sinopse prometia e porque sinto um gostinho especial quando
espreito o mundo de novos autores portugueses. Que importa a fúria do mar aliciou-me garantindo-me uma
espreitadela ao nosso passado ditatorial e a umas das suas facetas mais
doentias – o campo de concentração do Tarrafal. Piscou-me o olho com uma
história de amor que nos anestesiaria e faria com que arrumássemos no cantinho
dos factos inumanos cometidos por humanos todas as descrições de dor, tortura,
desespero daqueles acorrentados apenas por ansiarem por um futuro mais justo.
As
expectativas eram assim consideráveis. Contudo, foram-se escorrendo mal abri o
livro e percorri as páginas iniciais… Primeiro instalou-se a frustração e a
esta seguiu-se aquilo que mais temo que aconteça em qualquer leitura – ergueu-se
uma carapaça que não possibilitou a tão saborosa ligação entre leitora e
leitura. Inconscientemente (ou talvez não) deixei que se instalasse a malfadada
indiferença e, por muito que lutasse para afastá-la, sabia que dificilmente
ganharia essa luta.
Não
foi um completo desperdício de tempo. A personagem de Joaquim não deixou que
fosse. A sua personalidade, os seus imensos olhos verdes, a sua infância
dorida, a intensidade de amor que devotava a Luísa assemelharam-se a uma boia
que me manteve a flutuar num mar linguístico demasiado barroco, rococó.
Sinceramente esperava que a autora, que é jornalista, optasse por um estilo
mais limpo, mais “clean”. Concordo com as opiniões que fui lendo no goodreads e que transmitem alguma frustração
perante uma história que teria os ingredientes certos para resultar numa
leitura interessantíssima e que, sobretudo por causa de um estilo pomposo e
algo artificial, leva a que o leitor não se deixe embalar, lute, esbraceje e
ponha o livro de lado ou, como eu, continue a virar páginas, mas dolorosamente indiferente ao que
vai encontrando.
Para
além do estilo rebuscado, considero que a personagem que partilha o
protagonismo com Joaquim – Eugénia – poderia estar mais bem explorada.
Apresenta comportamentos e considerações irritantes que são suavizados por
analepses à sua infância e juventude. Busca com insistência a aprovação dos
outros apesar de querer demonstrar o contrário e coloca a sua vida em pausa
quando conhece Joaquim, a quem quer entrevistar como sendo o único sobrevivente
vivo do Tarrafal e em quem cuja casa se instala. Compreende-se que uma
menina-mulher que nunca foi convenientemente amada queira mergulhar nos olhos
de Joaquim, enroscar-se no seu colo (como se um gato fosse) e recriar-se no
papel de Luísa. Mas, mesmo que tudo isto nos seja desvendado, nunca criei laços
com Eugénia e nunca deixei de sentir que haveria muito ainda para explorar, de
preferência de uma forma clara, mais direta e ainda assim clarividente e
enternecedora.
Uma
leitura confusa, rebuscada e de alguma forma indiferente deriva numa opinião
mastigada… Não estou particularmente contente com o que escrevi até aqui, mas
não me sinto capaz de fazer melhor. Sinto-me, sim, ansiosa por acabar este
texto, publicá-lo e seguir em diante. Que venha uma nova leitura, ou melhor, uma
releitura – vou regressar aos braços de Almudena Grandes, que nunca, nunca me
defraudou, leia uma, duas, três vezes o mesmo romance, os mesmos contos. Tenham
eles 20, 100, 800 ou 1000 páginas!
NOTA
– 06/10
Sinopse
Frente a frente, duas
gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou…
Numa madrugada de 1934,
um maço de cartas é lançado de um comboio em andamento por um homem que deixou
uma história de amor interrompida e leva uma estilha cravada no coração. Na
carruagem, além de Joaquim, viajam os revoltosos do golpe da Marinha Grande, feitos
prisioneiros pela Polícia de Salazar, que cumprem a primeira etapa de uma
viagem com destino a Cabo Verde, onde inaugurarão o campo de concentração do
Tarrafal.
Dessas cartas e da
mulher a quem se dirigiam ouvirá falar muitos anos mais tarde Eugénia, a
jornalista encarregada de entrevistar um dos últimos sobreviventes desse
inferno africano e cuja vida, depois do primeiro encontro com Joaquim, nunca
mais será a mesma.
Separados pelo tempo,
pelo espaço, pelos continentes, pela malária e pelo arame farpado, os destinos
de Joaquim e Eugénia tocar-se-ão, apesar de tudo, no pêlo de um gato sem nome
que ambos afagam e na estranha cumplicidade com que partilham memórias
insólitas, infâncias sombrias e amores decididamente impossíveis.
Que Importa a Fúria
do Mar é um romance de estreia com uma
maturidade literária invulgar que coloca, frente a frente, duas gerações de um
Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou.
Eu gostei bastante deste leitura. Mas sim, este livro provoca as opiniões mais díspares.
ResponderEliminarOlá, Márcia!
EliminarSim, apercebi-me disso ao percorrer as opiniões publicadas no "Goodreads". Infelizmente comigo não funcionou, para muita pena minha, já que odeio quando isso acontece...
Olá Ana,
ResponderEliminarJá vejo por aqui este livro há algum tempo, mas confesso que nunca tive muita vontade de o ler. Com alguma pena minha porque gosto de ler autores nacionais, principalmente os que ainda não conheço. Mas talvez tente um dia.
Beijinhos e boas leituras
Pois... Não quero influenciar-te, mas às vezes mais vale fiar-nos da nossa intuição... É uma obra que provoca reações antagónicas, por isso até pode ser que tu adores... Não sei...
EliminarBeijinhos e boas leituras.
Olá Ana
ResponderEliminarTinha alguma curiosidade para ler este livro. Talvez ainda o leia, mas se ler, parto para a leitura com as expetativas mais baixas.
Beijinhos e boas leituras
Sara, que a minha opinião não te influencie em demasia - podes perfeitamente saborear a obra de outra forma bem distinta e oxalá que sim!
EliminarBeijinhos e boas leituras.