O segredo da casa de Riverton, de Kate Morton


Ficha técnica
Título – O segredo da casa de Riverton
Autora – Kate Morton
Editora – Porto Editora
Páginas – 477
Datas de leitura – de 29 de agosto a 04 de setembro de 2016

Opinião
Estou com alguma dificuldade em pôr em palavras o quanto adorei regressar ao universo de Kate Morton… Nem sempre me debato com este género de dificuldades, contudo quando me entrego avidamente a uma leitura, dou frequentemente comigo a olhar para o teclado, sem ser capaz de acalmar o turbilhão que se desenrola na minha cabecinha…
Desse turbilhão que me assalta ainda hoje (depois de já ter devolvido o livro à estante há quatro dias), sobressaem expressões, títulos, autores, características literárias como Jane Eyre, O monte dos vendavais, Emily Brontë, Jane Austen, Downton Abbey, literatura inglesa, gótico, Heathcliff e Catherine… E destaca-se com mais clareza ainda que não é preciso que uma obra seja brilhantemente escrita, profunda, que levante questões intrínsecas à vida para que me conquiste e se cole a mim que pareça uma extensão das minhas mãos.
O segredo da Casa de Riverton possui assim características certeiras para uma rendição total. A autora recorre às mesmas ferramentas que recorrerá em O jardim dos segredos (cronologicamente esta última é posterior). Explora sobretudo duas épocas temporais – o presente e um passado algo longínquo – e estende entre os dois fios, teias que nos obrigam a querer ler mais uma página, mais um capítulo, mais. Num tempo e no outro a ação alimenta-se de personagens atraentes, dentro das quais se evidenciam duas protagonistas (mais uma vez femininas) fascinantes, detentoras de uma personalidade muito bem moldada e vincada, por quem me apaixonei e de quem me tornei a mais acérrima defensora. Por fim e não menos importante, o elo que prende os finais do século XX aos que intervalaram a Primeira Grande Guerra e os loucos anos 20 volta a ser uma entusiasmante aura de mistérios recheados com segredos familiares que obviamente só são desvendados bem no finzinho da obra.
Grace entra em Riverton aos 14 anos pela entrada de serviço e sairá de lá já uma mulher feita, conhecedora de todos os cantos daquela casa e da família que nela habita há várias gerações. Começará como criadita para todos os serviços e terminará como criada pessoal da senhora da casa. Observará como todas as decisões que tomar e como a sua visão da vida serão moldadas, influenciadas pelo que fizer, presenciar e participar no interior das paredes da casa de Riverton. Escapará de lá detentora da resposta ao mais terrível segredo que manchou a história da família Hartford. Carregá-lo-á consigo e apenas se libertará dele quando morre.
Hannah Hartford é a segunda filha de Frederick Hartford, o segundo filho de Lord e Lady Ashburn. É o paradigma da jovem aristocrática que pretende romper a todo o custo a malha de tradições e convencionalismos que a obrigam a ser um objeto vivo de decoração, cujos objetivos principais passam por saber um pouco de línguas, um pouco de música, um pouco das artes de bem receber e sonhar que a sua apresentação oficial à sociedade seja seguida de um bom casamento, com um bom marido que lhe dê uma boa prole com que se entretenha enquanto mulher casada.
Entre estas duas mulheres, provenientes de estratos sociais bem distintas nascerá uma relação de cumplicidade e confiança que determinará em muito o desenvolvimento e desfecho da ação. Para além delas, existe um bom leque de personagens mais ou menos secundárias mas que ajudam a colorir os cenários das duas épocas e tornar a leitura ainda mais agradável e emocionante. Destaco, por razões muito próprias, Robbie, Alfred, Mr. Hamilton, Sra. Townsend e Ursula.
No início deste texto referi que, do turbilhão de emoções e ideias que habitava a minha cabecinha, ressaltavam alguns títulos de obras e correspondentes autores, de uma série de televisão e características associadas. Downton Abbey foi, sem dúvida alguma, a série televisiva que mais me apaixonou nos últimos tempos. Por tudo. Pelo brilhantismo com que foi criada, pelo perfeccionismo e detalhe postos na contextualização epocal, na conceção de todo o elenco das personagens, na música do genérico… Enfim, a cereja no topo do bolo da genialidade das séries britânicas. Ao ler O segredo da casa de Riverton voltei a entrar em Downton Abbey – vi em Mr. Hamilton o mordomo Carson, a Sra. Townsend fez-me recordar Mrs. Patmore, Hannah tem traços de Mary Crawley e toda a mecânica associada ao pessoal, aos criados, o espaço na casa reservado aos mesmos, a deferência aos patrões, a noção de que tudo que se passa upstairs stays upstairs, a inexistência de uma vida própria fora dos muros de Riverton, ou seja, Grace, Nancy, Alfred. Mr Hamilton e o resto do pessoal apenas vivem para servir os senhores, enfim tudo isto e outras coisas mais permitiram um regresso nostálgico ao mundo da aristocracia britânica dos princípios do século XX.
Com esta obra retornei também aos clássicos da literatura inglesa do século XIX. Deixei que os amores doentios e desenfreadamente intensos de Catherine e Heathcliff me preenchessem enquanto os comparava à principal história de amor de O segredo da Casa de Riverton. Deixei que a aura gótica, misteriosa e de amores impossíveis da literatura romântica do século XIX se encostasse a mim enquanto devorava as páginas da obra de Kate Morton. Senti saudades de Jane Austen e das irmãs Brontë. E finalmente viajei, mais uma vez mas com o deslumbramento de uma primeira viagem, a momentos da História que me empolgam como ao meu filhote e à minha amiga Nancy lhe brilham os olhos, o rosto, a alma quando mencionam a palavra “chocolate”!
Resumindo, já vão dois livros de Kate Morton a que dou nota máxima. Venham os restantes três já publicados!

NOTA – 10/10

Sinopse
Como sobrevivem os que presenciam a tragédia?
Verão de 1924
Na noite de um glamoroso evento social, um jovem poeta perde a vida junto ao lago de uma grande casa de campo inglesa. Depois desse trágico acontecimento, as suas únicas testemunhas, as irmãs Hannah e Emmeline Hartford, jamais se voltariam a falar.
Inverno de 1999
Grace Bradley, de noventa e oito anos de idade, antiga empregada da casa de Riverton, recebe a visita de uma jovem realizadora que pretende fazer um filme sobre a morte trágica do poeta.
 Memórias antigas e fantasmas adormecidos, há muito remetidos para o esquecimento, começam a ser reavivados. Um segredo chocante ameaça ser revelado, algo que o tempo parece ter apagado mas que Grace tem bem presente.

 Passado numa Inglaterra destroçada pela primeira guerra e rendida aos loucos anos 20, O Segredo da Casa de Riverton é um romance misterioso e uma emocionante história de amor. 

10 comentários:

  1. Este foi o primeiro livro que li da Kate Morton e gostei bastante!

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  2. Ainda só li "O Último Adeus" há uns meses e também adorei. Os saltos temporais do costume, personagens femininas cheias de defeitos, mas fortes e cativantes, relações mãe/filhos (o meu ponto fraco!)... Só o final me pareceu um pouco forçado depois de tantas reviravoltas, mas não me tirou vontade de pegar nestes dois que já leste.
    Paula

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    1. Paula, quero muito ler os que faltam da Kate Morton por todas as razões que apontaste! Com certeza que já percebeste que aconselho vivamente aqueles que já li - não te defraudarão!
      Beijinhos e boas leituras.

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  3. Respostas
    1. Bem-vinda, Edite!
      Eu também, muitooooooooooo!!!
      Só vou descansar quando os ler todos e depois "reazarei" para que ela publique muitos mais!
      Beijinhos, boas leituras e volta sempre!

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  4. Querida Ana,
    Mais uma confirmação que tenho que ler mais desta autora. Vou de certeza ler este livro até ao final do ano. É tão bom ler livros assim.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Siiiiim, querida Isa! São livros que nos viciam e que nos deixam com aquele sorriso nos lábios de quem está saciada, mas ao mesmo tempo com uma vontadinha irrefreável de "papar" o próximo desta autora fantástica!
      Beijinhos e suculentas leituras como esta!

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  5. Olá Ana
    Esta é uma autora que me desperta bastante a atenção, só vejo boas opiniões dos seus livros. Este não conhecia, mas já fica na lista de livros a ler.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Sara, sou suspeita, mas, mal possas, recomendo-te a ler esta autora. Quando o fizeres não vais conseguir parar :) É assim de tão bom!!!
      Beijinhos e boas leituras.

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