Ficha técnica
Título – Amada vida
Autora – Alice Munro
Editora – Relógio D’Água
Páginas – 267
Datas de leitura – de 22
a 28 de outubro de 2016
Opinião
Na última visita à Biblioteca
Municipal da terrinha não perdi muito tempo a percorrer as estantes. Já sabia
exatamente o que pretendia trazer no saco – O
mundo em que vivi, de Ilse Losa (opinião que podem consultar aqui) e um
qualquer de Alice Munro. Acabei por trazer Amada
Vida simplesmente porque a sinopse prometia.
Pouco ou nada sabia desta autora
canadiana. Tinha conhecimento de que havia sido laureada há uns anos atrás com
o Nobel da Literatura por dedicar-se àquele que ainda é considerado um género
menor dentro das artes literárias – o conto. Para além disto, nada mais. Não
conheço ninguém que tenha lido qualquer obra sua, apenas ouvi aqui e ali alguns
comentários positivos.
Sendo assim e sobretudo porque
ultimamente tenho tido experiências muito gratificantes com compilações de
contos, atrevi-me a arriscar e a ler uma obra da autora de contos premiada com
o galardão máximo da literatura.
Todos os contos que compõem Amada Vida são curtinhos e
leem-se rapidamente. Têm outras características em comum, tais como
desenrolarem-se no território natal da autora, sobretudo em épocas da primeira
metade do século XX e serem quase todos protagonizados por personagens
femininas. Contudo, o ingrediente que mais sobressai em toda a obra é a
sensação com que ficamos leitura após leitura de todos os contos – a realidade interior
e exterior às personagens, os seus atos, a sua corriqueira rotina, os seus
sentimentos, tudo nos chega de uma forma muito despretensiosa, quase como se a
autora deliberadamente não os quisesse apimentar com doses de alma e de vida.
Deparamo-nos com exemplos de adultério, de chantagem, de morte de um filho, de
mudanças radicais no que estava previsto fazer com o resto de uma vida, de
pensamentos macabros associados ao assassinato de um ente querido. E em todos
estes exemplos e outros não menos dramáticos, senti que a intenção da autora
era transformá-los em meras coisas corriqueiras, típicas de uma existência
banal e consequentemente não passíveis de serem postas numa história repleta de
drama e sentimentos à flor da pele.
Tenho consciência de que, para um
escritor, deve ser bem mais exigente e complicado banalizar o que facilmente
poderia ser narrado de forma intensa, dorida e assoberbada de adjetivos e
trechos carregados de emoção. Contudo, apesar de não simpatizar com esse género
de literatura que puxa pela lágrima fácil, confesso que o que, com muita
frequência, busco na leitura é a dor, a amargura, a complexidade de sentimentos
que nos compõem como seres humanos. Sendo assim e apenas por essa razão, tenho
que admitir que a minha estreia no mundo “contista” de Alice Munro não foi
muito feliz… Gostei do seu estilo simples e limpo, reconheço que maneja como
poucos as artes de criação de um conto, mas aqueles que constituem Amada Vida não me prenderam, não
agitaram as águas dos dias em que me fizeram companhia. Quero turbulência, quero
sentir e não me entusiasma mesmo nada a estagnação.
Por tudo o que referi, não posso
atribuir a esta leitura uma nota superior…
NOTA – 07/10
Sinopse
Plano Nacional de
Leitura
Livro recomendado para o
Ensino Secundário como sugestão de leitura.
Uma poeta, na sua primeira festa literária em território inóspito, é resgatada por um colunista de jornal, acabando por partir numa incursão pelo continente que a leva a um inesperado encontro.
Um jovem soldado, ao
regressar da Segunda Guerra Mundial para os braços da sua noiva, sai na estação
de comboio anterior à sua, encontrando numa quinta uma mulher com quem começa
nova vida.
Uma jovem mantém um caso com um advogado
casado, contratado pelo seu pai para gerir os seus bens. Quando é descoberta,
encontra uma forma surpreendente de lidar com a chantagista.
Uma rapariga que sofre de insónias imagina,
noite após noite, que assassina a irmã mais nova.
Uma mãe resgata a sua filha no exacto momento
em que uma mulher tresloucada invade o seu quintal.
«Quem é capaz de dizer a
um poeta a coisa perfeita acerca da sua poesia? E sem uma palavra a mais ou a
menos, apenas o suficiente.»
Alice Munro, «Dolly», in Amada Vida
Olá Ana,
ResponderEliminarJá estive muitas vezes para ler algo desta autora, mas outros foram metendo-se no caminho.
Mas confesso que não sou muito de contos.
Mas uma dia quero mesmo ler.
Adorei a tua opinião, como sempre :)
Beijinhos e boas leituras
Obrigada, Isa, pelas palavras carinhosas!
EliminarEu também nunca fui muito de contos, mas admito que aqueles que vou descobrindo vão mudando essa opinião menos positiva que tinha dos mesmos!
Estes de Alice Munro não me entusiasmaram, mas, mesmo assim, continuarei a apostar no género, porque acho que a aposta vai compensando!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Oh, assim continuo com medo de arriscar, porque os livros dela costumam ser muito caros. É melhor ver se há na biblioteca.
ResponderEliminarFalando em contos: visto que me acobardei temporariamente com os "Ares Difíceis", vou estrear-me na Almudena com "Castelos de Cartão", mas já sei que a minha opinião não vai condicionar o resto, porque eu e os contos não somos os melhores amigos.
Paula
Paula, eu também continuo a preferir narrativas mais longas, mas há contos que merecem que apostemos neles, como, por exemplo, os de Valter Hugo Mãe em "Contos de cães e maus lobos".
EliminarEu vou continuar a apostar, sobretudo entre leituras mais longas!
Quanto a "Castelos de Cartão", ainda não li - falha minha, porque são da Almudena!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Olha, que disparate... Confundi "Castelos de Cartão" com outro que tive na mão num alfarrabista, "Sete Mulheres", e afinal é um romance. Ainda melhor!
ResponderEliminarTambém encontrei "Idades de Lulu". Gostaste? Não vejo aqui a tua recensão.
Paula
Não li nenhum dos que referiste, mas tenho mesmo que corrigir essa falha!
EliminarFico à espera da tua opinião! A ver se a Almudena te enfeitiça tanto como a mim!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Nunca li Alice Munro, mas lá chegarei...
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