Ficha técnica
Título – Uma História de amor e trevas
Autora – Amos Oz
Editora – Edições ASA
Páginas – 640
Datas de leitura – de 06
a 16 de outubro de 2016
Opinião
Já se passou quase uma semana desde
que terminei a leitura desta obra. Só hoje consegui encontrar um pedacinho de
tempo livre para ordenar as ideias e começar a estruturar este texto. Contudo,
não posso apenas culpar o acumular de trabalho. Tenho, sim, a perfeita
consciência de que não me sentei à frente do computador imediatamente depois do
fecho da leitura porque esta foi algo dececionante.
É o que acontece quando as
expectativas são demasiado altas. É o que acontece quando espreitamos o trailer
da adaptação cinematográfica da obra, ficamos paralisados de emoção perante as
imagens que correm diante dos nossos olhos e assumimos que o que estamos a ver corresponderá
quase literalmente ao que vamos descobrir nas imensas páginas que compõem o
livro que, desde junho, espera que o retiremos da estante.
Não me assustam os calhamaços. Pelo
contrário. Quanto mais páginas, melhor. Mais o autor poderá aprofundar,
detalhar acontecimentos. Mais poderemos conhecer as personagens e as
circunstâncias que as rodeiam. Mais tempo estará a obra juntinho a nós. No
entanto, tenho que reconhecer que os dez dias em que Uma história de amor e trevas me fez companhia fizeram-me
questionar essa preferência por obras volumosas. Logo nas primeiras páginas
pressenti que tinha colocado a fasquia das expectativas muito lá em cima. Lado
a lado com passagens absolutamente fabulosas, que sublinhei com encantamento,
fui-me deparando com descrições às vezes exasperantes de gentes, de espaços e
de acontecimentos ligados a Israel e à demanda judia. Descrições e apontamentos
repetitivos e que, na minha perspetiva, nada acrescentavam ao desenrolar da
narrativa.
Uma história de amor
e de trevas é
autobiográfica. Conta-nos, na primeira pessoa, a infância do autor, a sua
juventude e oferece-nos imagens e notas que fazem a ponte entre o seu passado e
o seu presente. Compreendemos, à medida que a narrativa desenrola, as
dificuldades que os judeus foram ultrapassando para encontrar o seu canto de
terra, o seu lar, a sua pátria. Percebemos ainda que Israel é a última etapa de
uma vida de luta, de fuga, de discriminação, de genocídio de um povo
extremamente culto. Entendemos por fim que nem todos os judeus e os árabes se
veem uns aos outros como um pérfido inimigo e que uns e outros sentem que
poderia haver espaço para uma pacífica convivência entre ambos os povos.
Quando embarco na leitura de uma obra
deste género não espero apenas que a ação se centre apenas no dia-a-dia das
personagens. Quero que essa rotina se misture com uma contextualização
histórica adequada porque só essa junção traz aquele saborzinho a um suculento romance
histórico. Contudo, creio (e é apenas a minha opinião, vale o que vale) que o
autor complicou demasiado, mastigou muito aquilo que, em muito menos páginas,
seria uma interessante narrativa autobiográfica. Cansou-me ter que ler dia após
dia os detalhes das pessoas que eram íntimas da sua família. Bufei de
aborrecimento perante capítulos e capítulos de pormenores dos seus familiares,
sobretudo as personagens mais secundárias. Não tive a paciência necessária para
ler passagens que se foram repetindo ao longo da obra como, por exemplo, a
ideia de que a mãe falava pouco quando familiares e amigos se reuniam, mas que
quando o fazia, a conversa não mais voltava a ser a mesma. Custa-me reconhecer,
mas estas passagens maçudas obrigaram-me a fazer batota e a lê-las na diagonal…
Sendo assim, tenho que reconhecer aquilo
que é evidente naquilo que escrevi até ao momento. Não foi uma leitura fácil.
Senti-me fraudulenta e só não desisti da obra por causa do incentivo do
maridinho (que já a havia lido), de opiniões bastante favoráveis que a obra
mereceu por parte de pessoas em quem confio muito e de que talvez o final me
pudesse surpreender. E assim foi. Nas derradeiras cem páginas (mais ou menos),
o maçudo desaparece e a leitura flui. Estabelece-se uma ligação mais próxima
entre leitor e personagens principais, recordei passagens do trailer da
adaptação cinematográfica que me entusiasmaram e dessa forma fiz as pazes com o
autor.
Concluo dizendo que essas páginas
finais seriam suficientes para mim. O resto lê-lo-ia se quisesse aprofundar os
conhecimentos escassos que tenho sobre Israel, sobre a sua importância para os
judeus e sobre rituais, tradições, línguas e outros aspetos culturais e
históricos deste povo. Ou seja, se me quisesse debruçar sobre factos e não
sobre um romance.
NOTA – 07/10 (sobretudo por causa da
já referida parte final da obra)
Apesar de ter consciência de que pode
ser contraproducente, deixo-vos o trailer da adaptação cinematográfica – penso que
o filme deve ser fabuloso!
Sinopse
Farsa e dor, história e
humanidade integram este retrato mágico de um escritor que testemunhou o
nascimento de uma nação.
Amor e trevas são duas
poderosas forças que se cruzam e acompanham a história de Amos Oz, que nos guia
numa fascinante viagem ao longo dos 120 anos de história da sua família e dos
seus paradoxos.
Um relato impregnado de ruído e fúria, nostalgia, perda e solidão. Em busca das raízes remotas da sua tragédia familiar, Amos Oz desvenda segredos e "esqueletos" de quatro gerações de sonhadores, intelectuais, homens de negócios fracassados, reformistas, sedutores antiquados e rebeldes ovelhas negras. Uma ampla galeria de grotescos, patéticos, ingénuos, trágicos e extravagantes personagens, homens e mulheres, todos eles participantes do cocktail genético e das circunstâncias quase surrealistas do nascimento do homem que um inevitável momento de revelação transforma em romancista.
Um relato impregnado de ruído e fúria, nostalgia, perda e solidão. Em busca das raízes remotas da sua tragédia familiar, Amos Oz desvenda segredos e "esqueletos" de quatro gerações de sonhadores, intelectuais, homens de negócios fracassados, reformistas, sedutores antiquados e rebeldes ovelhas negras. Uma ampla galeria de grotescos, patéticos, ingénuos, trágicos e extravagantes personagens, homens e mulheres, todos eles participantes do cocktail genético e das circunstâncias quase surrealistas do nascimento do homem que um inevitável momento de revelação transforma em romancista.
Um relato escrito na
primeira pessoa por um homem que testemunhou o nascimento do seu país e que
viveu na íntegra a sua turbulenta história. Celebridades históricas
materializam-se em personagens autênticos, de David Ben-Gurion, um dos
fundadores do Estado de Israel, ao lendário líder das organizações clandestinas
e primeiro-ministro Menahem Begin, passando pelo gigante da poesia hebraica moderna,
Saul Tchernichovsky , ou o laureado com o Nobel de Literatura, S. Y. Agnon.
Ana, comigo também já aconteceu várias vezes dececionar-me com um livro...muito por causa do meu entusiasmo prévio. Eu adorei este livro, mas concedo que algumas descrições são muito pormenorizadas, demoradas e algo aborrecidas. No meu caso, não foi problema, pois adoro descrições :) E a vontade de continuar a ler Amos Oz continua. Desejo-te melhores leituras futuras! Beijinhos
ResponderEliminarSofia, eu também gosto de descrições, mas desta vez não reagi bem às que fui lendo ao longo desta obra... Talvez porque fazem parte de uma realidade que sinto que é distante e desconhecida para mim... Compreendo que se Israel fosse um destino que me atraísse, de certeza que me identificaria muito mais com a obra, o autor e a contextualização da mesma.
EliminarContudo, não posso dizer que não gostei da escrita de Amos OZ ;)
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Olá Ana
ResponderEliminarNunca li nadado autor mas quero fazê-lo, embora não deva começar por este livro.
É por isso que não gosto de desistir dos livros, pode sempre surpreender em algum momento e mudar tudo.
Beijinhos e boas leituras
Oi, Sara!
EliminarTambém detesto desistir de uma leitura e só o faço muito raramente, quando já lhe dei todas as hipóteses.
Acho que deves tentar ler algo deste autor. Eu também devo fazê-lo futuramente!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Vivi sensações semelhantes quando li este livro. Esperava muito mais.
ResponderEliminar:( Frustração... Mas não foi tempo perdido, pelo menos isso...
EliminarBeijinhos e leituras com muito sabor!
Olá Ana,
ResponderEliminarJá vi este livro por aí, mas tenho visto algumas opiniões controversas. Tenho tido algum receio em pegar-lhe, mas gostei muito da tua opinião.
Vou tentar dar-lhe uma oportunidade. O problema é mesmo a minha relação com os calhamaços :)
Beijinhos e boas leituras
Oi, Isa!
EliminarNão é uma leitura fácil, nem fluída, pelas razões que explico na texto que escrevi. Nem sei se to aconselho por essas razões e por ser um verdadeiro calhamaço... Tu depois verás se vale a pena!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Pelo trailer, o filme deve ser arrebatador. Se calhar, é daqueles poucos casos em que o filme é melhor que o livro, não?
ResponderEliminarDo Amos Oz comecei a ler A Terceira Condição e pareceu-me interessante, mas tive de o pousar temporariamente para lhe pegar numa altura em que me possa concentrar mais nele. Há dias em que só me apetece ler livros de mulheres ou sobre mulheres e não há nada a fazer!
Paula
Paula, o trailer é realmente arrebatador, como tu dizes, e, por essa razão, quero mesmo ver o filme! A ver se as expectativas não saem goradas...
EliminarSei que tenho que dar outra oportunidade a Amos Oz, talvez o faça com a obra que mencionas.
Quanto a livros de mulheres, sobre mulheres e para mulheres... Como é óbvio também tenho uma evidente predilecção pelos mesmos ;) Como poderia não ter com autoras tão fantásticas que povoam a literatura nacional e internacional?
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Permita-me, com todo o respeito, dizer-lhe que, começar a ler Amos Oz pela "História de Amor e Tréguas" não é a melhor via para conhecer este enorme autor. Porque não começar pelo "princípio", por exemplo, "Não Chames à Noite, Noite"?.
ResponderEliminarDesculpe-me, Ana Lopes, esta minha intromissão no seu Blogue que desde longa data sigo com gosto,bem como o de "sugerir" leituras pois cada leitor segue os ritmos da sua
própria vontade. Deixo-lhe a minha amizade e a certeza de a seguir.
Armando Sousa
Olá, Armando, e que bom tê-lo desse lado! Intrometa-se e abuse de sugestões à sua vontade! É por isso que tenho este cantinho, para partilhar sugestões e opiniões!
EliminarVou ter em consideração a sua sugestão, embora o título que refere não exista na minha biblioteca municipal... Há mais algum que me queira recomendar?
Muito obrigada por ter deixado aqui este comentário! Deixou-me muito feliz!
Beijinhos com muita amizade!