Ficha técnica
Título – Vitória
– de amor e de guerra
Autora – Luísa Beltrão
Editora – Manuscrito
Páginas – 294
Datas de leitura – de 03 a 07 de julho de 2017
Opinião
Segunda
leitura do mês. Segunda leitura que não me preencheu…
Este
livro veio da estante do maridinho. É um romance histórico, ambientado
principalmente nos últimos anos da Primeira Grande Guerra e que, de acordo com
a sinopse, prometia uma viagem entusiasmante pelos meandros da guerra e do amor.
Protagonizado por Vitória, uma jovem portuguesa que decide acompanhar o marido,
soldado do CEP, Corpo Expedicionário Português, na sua ida para a frente de
combate, este romance que me fez estrear no mundo literário de Luísa Beltrão,
permite-nos, por um lado, acompanhar o horror das trincheiras, de combates que
chacinam milhares e milhares de vidas inocentes e completamente despreparadas
para o combate bélico e, por outro, através de vários membros da família de
Vitória, conhecer com mais detalhe o contexto político-social de Portugal desde
meados e finais do século XIX até aos primeiros anos do século seguinte.
Se
tivermos apenas em conta esta contextualização histórica de cores nacionais e a
que abarca a Primeira Guerra Mundial, posso afirmar, sem dúvida alguma, de que gostei
muito desta leitura. Recordei factos, aprendi outros e fiquei ainda com mais
vontade de conhecer a zona norte de França, compreendida entre Lille, Arras,
Amien, tão presente na narrativa e onde o CEP e soldados de muitos cantos do
mundo se entrincheiraram como toupeiras em busca de um desenlace de uma
contenda mortífera.
Contudo,
se tivermos em conta a parte ficcionada e acima de tudo as personagens, então
tenho que fazer um esforço enorme para encontrar algo, um pormenor que me tenha
cativado. Infelizmente, excetuando o avô de Vitória, um homem de carácter
forte, íntegro e cuja personalidade e consistência não deixam ninguém
indiferente, não fui capaz de sentir nada mais do que indiferença e frieza por
todas as outras personagens. Vitória deveria ter sido mais “apaparicada” pela
autora, é uma personagem quase sem alma, a forma como nos é apresentada e como
evolui ao longo da narrativa não nos aquece, não nos faz sentir compaixão dela
quando sente falta dos filhos que deixou para trás para acompanhar o marido,
não há chama nem calor nas relações que mantém com os mais próximos e
sinceramente não entendi o porquê da autora a ter cruzado com Andrew, um soldado
que dá entrada no hospital onde Vitória trabalha. Se o propósito era que essa
relação entre enfermeira e paciente se transformasse num dos pontos altos da
história, então creio que esse propósito falhou, porque não me fez sentir mais
empatia por Vitória, não a fez crescer como personagem, como mulher, como uma
jovem que poderia sentir pela primeira vez emoções vivas e não mornas.
Outro
dos aspetos que contribuíram para que esta leitura não me preenchesse foi o
estilo de escrita da autora. Não me senti confortável com a ligação entre
ideias, entre orações, entre frases. Senti frequentemente falta de conectores,
de organizadores de discurso para que este se tornasse mais fluído. Pressuponho
que a autora queira aproximar a escrita à oralidade, ao discorrer do
pensamento, mas, para mim, essa tentativa resulta forçada, artificial.
Somando
tudo o que referi até ao momento, talvez esteja a ser um pouco intransigente,
mas que a autora, a quem continuarei a respeitar, me perdoe, porque apenas
gostei (e muito) da apurada investigação histórica que fez e que se reflete na
contextualização epocal da narrativa. A outra parte, a ficcionada, aquela que
terá que mexer comigo num romance qualquer que leia, não produziu o efeito
desejado, não me aqueceu. Com muita pena minha…
NOTA –
05/10
Sinopse
Na madrugada de 4 de novembro
de 1917, quando faziam exatamente cento e três dias sobre a saída de Vitória de
Lisboa, Andrew dava entrada no hospital de Arras. E a vida de Vitória altera-se
para sempre. Desde que entrara no cenário de guerra, um cenário onde numa
questão de segundos se podia viver ou morrer, ficar louco, cego ou sem braços,
Vitória aprendera que a vida nos conduz, de forma sinuosa, para constantes
acasos. Chegara a França para acompanhar o marido, soldado do contingente
português na Primeira Guerra Mundial, deixando para trás os filhos e a família
tradicional que a moldara. Ela era apenas um elo de uma longa cadeia que vem de
trás e se continua. Um acaso fá-la ingressar no corpo de enfermagem como
voluntária num hospital inglês e, por outro acaso, estava de serviço naquela
madrugada em que ficou incumbida de cuidar do soldado da cama sete. Um herói de
guerra, médico, celebrizado nas trincheiras por salvar vidas.
Luísa Beltrão regressa à
escrita com um romance poderoso de amor e de guerra. Pelos olhos de Vitória
vemos passar a calamidade do conflito que assolou a Europa, conhecemos a
história de uma família dividida pela guerra, através dos diálogos com Andrew
questionamos o sentido da vida e das nossas expectativas. E sentimos a solidão,
aquele vazio assustador que antecede a esperança.
Olá Ana,
ResponderEliminarQueria há algum tempo ler um livro desta autora, mas acho que não começo por este.
É pena. Melhores leituras virão.
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isa!
EliminarSe entretanto leres algo da autora, cusco a tua opinião e vejo se vale a pena voltar a pegar-lhe, porque sinceramente esperava mais de uma autora tão consagrada. Quero dar-lhe uma nova oportunidade!
Beijinhos, querida, e leituras com muito mais sabor do que esta!