Ficha técnica
Título – A
Gorda
Autora – Isabela Figueiredo
Editora – Editorial Caminho
Páginas – 288
Datas de leitura – de 22 a 29 de janeiro de 2017
Opinião
Esta
obra, da qual já tinha ouvido/lido bastantes opiniões favoráveis, “chegou” cá a
casa inesperadamente, vinda por empréstimo de uma biblioteca escolar. O marido,
mal pôde, embrenhou-se nela e também ele teceu um comentário positivo. Não tive
remédio então. Quebrei a minha maníaca ordem cronológica e embrenhei-me nela
logo após terminar O quarto de Jack.
Já
se passaram alguns dias desde que encerrei a sua leitura e ainda não consigo destrinçar
que tipo de sentimentos me provocou ou simplesmente se me agarrou ou não.
Maria
Luísa não é uma protagonista que nos conquiste. É gorda, arrasta-se numa vida servil
ao seu corpo, à sua fome, aos preconceitos dos demais, aos pais, a uma colega
de escola espampanante e aos homens por quem se apaixona. É uma menina – jovem –
mulher que, por mais que despreze a sua vida, a forma do seu corpo, as ideias
formatadas da mãe, se acomoda a uma rotina que se molda a si como uma das peças
de roupa desformadas pela sua gordura e que teima em não deitar fora mesmo
depois de se ter sujeitado a uma dessas cirurgias que encolhe o estômago de
quem come demasiado.
Maria
Luísa não é uma protagonista que nos conquiste não só por tudo o que referi no
parágrafo anterior mas também porque retrata com detalhe o corriqueiro, a
insignificância, a luta que logo à partida parece não vir a ter um desfecho
favorável de uma existência banal, anti-heróica. Uma existência compartimentada
como se de uma casa se tratasse, com divisões mais do que conhecidas,
percorridas, onde nos deparamos com móveis e objetos de decoração hediondos,
que detestamos, mas, ou porque nos recordam algo ou alguém ou porque estão
ligados a passagens da nossa vida, não conseguimos simplesmente deitá-los fora.
Sabia
de antemão – o título da obra e a imagem que ilustra a sua capa são
esclarecedores – que a leitura de A
Gorda não seria leve nem prazenteira. Mas como normalmente não busco
esse tipo de leituras, não me refreei e embarquei na sua história à procura da
descoberta de mais uma autora portuguesa e de mais um livro que me desafiasse.
E tenho que admitir que esses dois objetivos foram perfeitamente alcançados.
Isabela Figueiredo é dona de uma escrita sincera, crua, sem artifícios e que
fez com que jamais pensasse em abandonar a leitura da sua obra a meio. Traz-nos
uma história de uma anti-heroína e muito mais. Permite que recuemos para as
últimas três décadas do século XX e recordemos (sobretudo aqueles que, como eu,
tiveram a sorte de desfrutar da sua infância e juventude nos anos 80)
acontecimentos marcantes da história do nosso país, nomes de personalidades,
marcas e modelos de automóveis que coloriram e influenciaram a História de
Portugal e das suas ex-colónias. Oferece-nos ainda, através de Maria Luísa, da
sua família e daqueles que povoam a sua vida, uma visão muito verosímil da
sociedade portuguesa desses últimos tempos do século XX e da que compõe estes
primeiros anos do ano 2000. Por fim, num plano mais individual, cria com mestria
personagens que ilustram com igual verosimilhança projetos, desilusões, afetos,
desafetos e sentimentos de pertença, abandono, ódio, amor, resignação, ambição
que habitam em todos nós.
Sendo
assim, é por tudo isto que ainda hoje, passados alguns dias, me gladio com
sentimentos contraditórios em relação a esta leitura. Sinto que Maria Luísa é
muito real, é como uma pedra no sapato que nos magoa e da qual nos queremos ver
livre rapidamente. Mas sinto também que esse incómodo que ainda me provoca é
reflexo da habilidade e do talento da escrita de Isabela Figueiredo, uma autora
que quero continuar a seguir e a cuja obra nunca poderia atribuir uma nota
razoável.
NOTA
– 08/10
Sinopse
Maria Luísa, a heroína
deste romance, é uma bela rapariga, inteligente, boa aluna, voluntariosa e com
uma forte personalidade. Mas é gorda. E isto, esta característica física,
incomoda-a de tal modo que coloca tudo o resto em causa. Na adolescência sofre,
e aguenta em silêncio, as piadas e os insultos dos colegas, fica esquecida, ao
lado da mais feia das suas colegas, no baile dos finalistas do colégio. Mas não
desiste, não se verga, e vai em frente, gorda, à procura de uma vida que valha
a pena viver.
Este é um dos melhores livros que se escreveu em Portugal nos últimos anos.
Este é um dos melhores livros que se escreveu em Portugal nos últimos anos.
Andas a ler livros que me interessam mesmo muito. Este, o do Possidónio, o Quarto de Jack, todos na minha extensa lista. Falando em listas, estou a ler um da tua, A Vida Inútil de José Homem, e já engoli em seco várias vezes. Está extremamente bem escrito e a história é muito tocante.
ResponderEliminarPaula
Sim, tenho tido a sorte de encontrá-los em bibliotecas.
EliminarEstou em pulgas para saber qual a tua opinião final sobre "A vida inútil de José Homem". Por favor, depois dá-me mais detalhes, embora os que me deste já me aguçaram ainda mais o apetite!