Ficha técnica
Título – Furta-cores
Autora – Cristina Parga
Editora – 7 letras
Páginas – 84
Datas de leitura – de 07 a 09 de maio de 2017
Opinião
Dezassete
contos. Uns muito curtinhos, de apenas duas páginas. Outros mais longos. Em
todos eles abundam referências corais, o azul do mar em sintonia ou em
contraste com o azul do mar ou de um rio, a palete de cores indescritíveis das
flores, um cor-de-rosa choque de umas chinelas abandonadas no chão do quarto de
alguém – “… as cores invadem, embalam,
encantam.”
Este
livrinho, totalmente desconhecido até ao momento em que o recebi, foi um
“regalito” da minha querida colega e amiga, Lili. É da autoria de uma jovem
brasileira, Cristina Pargas, que estudou e viveu em Lisboa e que atualmente
vive no Rio de Janeiro, trabalhando como editora. Esta coletânea de contos é o
seu primeiro livro.
Apesar
da sua juventude, Cristina Pargas delicia-nos com a sua escrita original,
polvilhada de apontamentos sensoriais e poéticos. Todas as histórias que
compõem esta obra calcorreiam as vidas de gente anónima, de gente que busca
conforto, que tateia à procura do contacto, do calor, dos cheiros de alguém. De
alguém que o abrace, que o agasalhe e o proteja e o faça não sentir-se só,
desamparado.
Desde
as primeiras palavras do primeiro conto somos atingidos pelo poder, poesia e
magia da escrita desta autora brasileira. A doçura, a sonoridade, os cheiros e
a ternura que transportam as palavras que escreve e combina são memoráveis e
fizeram com que fosse sublinhando e anotando trechos de uma beleza e
sensibilidade que eu considero perfeitas, porque nos entram na alma e tocam no
nosso lado mais íntimo e emotivo. Aqui estão alguns exemplos:
“… seus dedos tateiam os meus, úmidos da água.
Eu estou aqui ainda, não fui embora, não irei – queria dizer – mas a fala se
represa em minha boca.”
“Teu rosto ainda em meus dedos, os traços
riscados nos movimentos da noite, corpo, olhos e gestos inscritos na minha pele
para sempre…”
“… e eu te toco e dispo os tênis e os atiro
para longe e relembro o mapa do seu corpo pelo cheiro de cada curva e segredo,
e abraço e adormecemos com as estrelas acesas, no escuro do teto acima.”
Como
acontece com qualquer coletânea de contos, nem todos mexeram comigo com a mesma
intensidade. Houve inclusive um ou outro que me deixaram ou confusa ou
indiferente, mas na generalidade senti que o meu coração se encolhia e um
arrepio me trespassava ao ter acesso à solidão de uns, à dor, à amargura,
nostalgia, medo, luto, abismos e demónios de muitos outros. Por isso, valeu a
pena esta leitura, estas leituras. Por isso, agradeço uma vez mais à Lili este “regalito”
saboroso e sensorial. Por isso, recomendo-o a quem se inclina de prazer perante
uma coletânea de contos e se verga perante uma escrita poética, repleta de
sensações, emoções, repleta de vida.
NOTA –
08/10
Sinopse
Furta-cores é um
daqueles livros que não é apenas para ser lido: é para ser saboreado a cada
releitura, em todas as suas texturas, cores, perfumes e sons. Os contos de
Cristina Parga nos levam a redescobrir o gosto da língua, num percurso pelas
mais íntimas paisagens estrangeiras – revelando com delicadeza os encontros e
desencontros entre as mais diversas solidões humanas.
Olá querida Ana,
ResponderEliminarComo sabes não sou grande fã de contos. Ainda assim parece-me uma boa leitura para quando não pudemos ou queremos leituras muito demoradas.
Vou ficar de olho :)
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isa querida!
EliminarJá estive aí, há uns tempos também não gostava de ler contos, mas decidi dar-lhes uma verdadeira oportunidade e até agora têm-me dado muitos momentos de saborosas leituras. Estes valem a pena, mas só se estiveres com vontade de dar-lhes uma oportunidade, porque não são de leitura muito fácil...
Beijinhos e leituras muito saborosas.