Ficha técnica
Título – O cavalheiro inglês
Autora – Carla M. Soares
Editora – Marcador
Coleção – Os livros RTP
Páginas – 399
Datas de leitura – de 19
a 27 de julho de 2016
Opinião
Oferecemos
(o filhote e eu) este livro ao N. o ano passado, no Dia do Pai. Ele leu-o e
recomendou-o. Mas por esta ou outra razão inexplicável, o livro foi remetido ao
seu cantinho da estante e por lá foi ficando até que numa limpeza mais a fundo
ao pó voltei a estar com ele nas mãos, decidi que teria que resgatá-lo da
estante para a mesinha de cabeceira e mergulhar na sua história.
E
ainda bem que o resgatei porque ninguém consegue ficar indiferente aos amores
tumultuosos, ariscos e excitantes de Sofia da Silva Andrade e do seu enigmático
cavalheiro inglês. A narrativa transporta-nos até aos finais do século XIX,
época em que Portugal vivia uma situação conturbada a nível económico, social e
político (é impossível não traçar um paralelismo entre o passado e o presente…).
A nação estava ainda a tentar digerir a afronta do Ultimato Inglês, a família
real e os seus gostos exorbitantes depauperavam ainda mais os já depauperados cofres
nacionais e os assentos políticos de destaque mal aqueciam, pois quem se
sentava neles fazia-o por muito pouco tempo, estando constantemente a ser
substituído. Deste cenário nada favorável resultam consequências catastróficas
para muitas famílias nobres, que, de um momento para o outro, constatam que
estão a poucos passos de perder tudo o que investiram e uma vida de luxos e
comodidades.
A
família Silva Andrade é um desses exemplos. Agarrada a nostalgias, ao nome, ao
título nobiliárquico e a preconceitos, apenas vê no casamento dos seus dois
filhos com elementos de outras famílias nobres a solução ideal para escapar a
uma vida inaceitável para quem não conhece outra que não seja pautada por
dinheiro, posição social, festas, jantares e ambientes requintados.
Contudo,
nem Sebastião, o filho varão, nem Sofia comungam com a visão estreitada e
rígida dos seus progenitores. Ele alimenta-se de ideais anárquicos e defende a
todo o custo a abolição de classes e sobretudo da monarquia. Ela combate com as
armas que pode a posição inferior e de “bibelô” imposta às mulheres da sua
classe, procura estar informada e deseja fazer algo mais do que sujeitar-se a
um casamento para ajudar a família a resolver os seus problemas financeiros.
Infelizmente, nem tudo é tão linear como estes irmãos anseiam e tanto um como o
outro veem-se obrigados a pôr de lado os seus ideais, os seus sonhos…
Iniciei
esta opinião fazendo referência aos amores de Sofia e de Robert, o seu
cavalheiro inglês. É inegável que a obra escrita por Carla M. Soares é um
romance histórico, mas também é evidente que a sua força maior reside nos seus
protagonistas e especialmente, na força das suas personalidades e no amor que
explode entre os dois.
Sofia
é o paradigma da menina aristocrática que usa a cabecinha não só para
enfeitá-la com chapéus, laços e fitas. Está atenta ao que se passa ao seu
redor, escuta as conversas dos homens, lê os jornais e confidencia as suas
preocupações com quem esteja disposta a ouvi-la. É dona de uma personalidade
forte, de um geniozinho que explode à mínima provocação e de um coração que se
aperta sobretudo com as desventuras do seu irmão.
Por
sua vez, Robert é o típico homem atraente, enigmático e que consegue perturbar
a determinação e a altivez de Sofia com a profundidade do seu olhar azul. Não é
bem visto pela sociedade nobre portuguesa (muito menos pelos pais de Sofia)
apenas porque é da banda inimiga, apenas porque calhou nascer em terras
inglesas. Carrega consigo um passado sombrio, mas ao qual qualquer mulher faz
vista grossa perante o seu charme, o seu olhar carregado de promessas “incendiárias”
e toda a sua postura de “bad boy” com um coração de ouro, que tudo faz para
ajudar os mais desfavorecidos nem que seja por vias menos claras ou por puro
interesse próprio.
Por
tudo isto, pela força e carisma destes protagonistas fui avançando com prazer e
interesse na narrativa. Acedi de bom grado a que a sua história, a crescente
cumplicidade e intimidade dos dois me disponibilizassem a perfeita evasão para
outros tempos, para outros lugares, para outros costumes e me possibilitassem
sair, esquecer estes dias tórridos. Mas reconheço que O cavalheiro inglês nos proporciona uma bela leitura por
outras igualmente suculentas razões – o estilo simples, mas cuidado da escrita
da autora, a bem documentada contextualização histórica (apenas ressalvo o que
se diz no início da página 319 e que faz crer que, em finais do séc. XIX, se
atravessava de comboio o rio Douro pela ponte D. Luís – penso que a informação
correta seria “ponte D. Maria Pia”), o leque de personagens provenientes de
vários estratos sociais, o clima de mistério e ação que envolve determinados
acontecimentos da vida de Sofia e de Sebastião e a parte mais cómica e leve dos
arrufos entre irmãos e entre os protagonistas.
Em
conclusão, recomendo a leitura desta obra. É de leitura fácil, ótima para
acompanhar-nos nestes dias de descanso e relaxamento, possui um ritmo vivo e
oferece-nos uma história de amor daquelas às quais não faltam vilões, uma
heroína “acorrentada a um castelo de preconceitos e tradições retrógradas” e um
herói que, vindo de terras longínquas” luta contra “ventos e marés” para que a
sua amada seja apenas sua. Em suma, os ingredientes indispensáveis estão lá –
basta deixares tentar-te por eles J
NOTA
– 08/10
Sinopse
PORTUGAL. 1892. Na
sequência do Ultimato inglês e da crise económica na Europa e em Portugal, os
governos sucedem-se, os grupos republicanos e anarquistas crescem em número e
importância e em Portugal já se vislumbra a decadência da nobreza e o fim da monarquia.
Os ingleses que permanecem em Portugal não são
amados.
O visconde Silva Andrade está falido, em
resultado de maus investimentos em África e no Brasil, e necessita com urgência
de casar a sua filha, para garantir o investimento na sua fábrica.
Uma história empolgante que nos transporta
para Portugal na transição do século XIX para o século XX numa descrição
recheada de momentos históricos e encadeada com as emoções e a vida de uma
família orgulhosamente portuguesa.
Olá Ana,
ResponderEliminarTambém já li este livro e gostei bastante. Sabe bem ler livros assim.
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isa! Foi uma leitura muito agradável, leve e que me ajuda a "intervalar" leituras mais duras!
EliminarBeijinhos e boas leituras.
Olá Ana
ResponderEliminarFoi o primeiro livro que li da autora e adorei. Entretanto já li os outros dois e gostei, mas este continua a ser o meu preferido.
Beijinhos e boas leituras
Também pretendo ler os outros dois - vamos lá ver se coincido com a tua opinião!
EliminarBejinhos e boas leituras!