Ficha técnica
Título – O
mar por cima
Autor – Possidónio Cachapa
Editora – Oficina do Livro
Páginas – 240
Datas de leitura – de 03 a 08 de janeiro de 2017
Opinião
O
nome Possidónio Cachapa por si só provoca estranheza e intriga. Recordo-me de
ter esbarrado nele há uns bons anos quando li uma crítica sobre um romance seu.
Por coincidência, o meu cunhado também descobriu este autor por essa altura,
comprou umas obras suas e espicaçava a minha curiosidade elogiando o seu estilo
e as suas histórias. Contudo, e por motivos que não consigo explicar, fui
protelando e protelando a entrada no mundo deste escritor que, à partida,
oferecia ingredientes mais do que suficientes para enriquecer as minhas
leituras.
O
início de um novo ano traz habitualmente promessas, novas resoluções e, imbuída
desse espírito resolutivo, decidi não perder mais tempo e trazer da minha
primeira visita de 2017 à biblioteca da terrinha o único exemplar que possuem
das obras de Possidónio Cachapa.
Mar por cima encerra em si uma história sofrida,
dorida e de alguma forma claustrofóbica. Claustrofóbica como involuntariamente
sempre me pareceu uma vida que é vivida rodeada por mar por todos os lados, que
nos impossibilita a fuga, a evasão, a procura de uma liberdade que o
continental (como oposto ao insular) permite aos seus habitantes. Sei que esta
visão de uma existência nas ilhas é redutora, mas não consigo evitá-la e
senti-a sempre comigo, ao meu lado, enquanto lia as páginas de Mar por cima, que, de uma maneira
ou de outra, a exacerbou.
Colocando
parte da sua narrativa numa das ilhas do arquipélago açoriano; colocando uma
ênfase muito particular no mar, num horizonte aquático sem fim e aprisionador;
apresentando-nos personagens perdidas, encarceradas na sua geografia interior,
nos meus medos, demónios, culpas, e ao mesmo tempo amputadas pelo preconceito social,
Possidónio Cachapa coloriu os primeiros dias do meu 2017 com tons negros – tal como
tanto gosto. Não é novidade nenhuma que busco na ficção sobretudo o que não é
agradável, doce e fácil. E portanto a leitura de O mar por cima foi, no mínimo, saborosa e a estreia no mundo
do seu autor muito aprazível.
A
narrativa desta obra centra a sua atenção em duas personagens masculinas que
aparentemente nada têm em comum. Por um lado, está Ruivo, um agente policial
que vive com a namorada em Lisboa e, por outro, temos David, um rapaz
introvertido que, por razões familiares, se vê obrigado a mudar para os Açores.
Intercalando estas personagens e correspondentes ações paralelas, vamo-nos
deparando com capítulos escritos em itálico que focam a sua atenção no mar, no
quotidiano de gente que sempre viveu dependente dessa realidade aquática, onde
homens, mulheres e insignificantes pedaços de terra, rochedos e plantas nada
mandam. A unir tudo isto, as personagens referidas e os espaços em que
deambulam, temos a dor, o sofrimento sofrido em silêncio, a culpa, a perda, a
busca de calor e aconchego e sobretudo a já mencionada claustrofobia, os já
mencionados enclausuramento, peso, sufoco e impotência.
Introduzi-me
tarde no mundo literário de Possidónio Cachapa. Mais tarde do que havia
previsto. Mas mais vale tarde do que nunca. Gostei do que li, gostei do estilo,
da sua escrita e faço tenção de pedinchar ao meu cunhado que me empreste as
obras que tem de Possidónio em sua casa.
Como
tal e por tudo o que referi, recomendo.
NOTA
– 08/10
Sinopse
Romance
de uma intensidade feroz, capaz de abalar a nossa visão do mundo, das pessoas e
do amor. Narrativa crua mas simultaneamente pura, uma vertigem de sentimentos
com uma dimensão espiritual e que, por isso, tem de ser engolida pelo mar, pelo
inexplicável... O Mar por Cima
é um desafio à nossa tolerância e aos nomes dos nossos sentimentos.
Olá Ana
ResponderEliminarSó conhecia o autor de nome mesmo, mas fiquei cheia de vontade de ler algo dele, com esta tua opinião. Ainda bem que gostaste.
Beijinhos e boas leituras
Sara, acho que vale a pena arriscar. É mais um autor português com muito para oferecer. Fico à espera da tua opinião.
EliminarBeijinhos e leituras muito saborosas!
Olá Ana,
ResponderEliminarConfesso que também nunca li nada do autor, mas recomendado por ti irei certamente ler.
Este livro não conhecia mesmo. É tão descobrir novas histórias e novos autores.
Beijinhos e boas leituras
Isa, querida, arrisca porque acho que vais gostar. É mais um excelente escritor português que vou seguir a partir de agora.
EliminarBeijinhos e leituras muito saborosas!
Com que vontade de ler este livro me deixaste...
ResponderEliminarAinda bem, é o que acontece quando leio as tuas opiniões ;)
EliminarBeijinhos e leituras muito saborosas!