Ficha técnica
Título – Malena es un nombre de tango
Autora – Almudena Grandes
Editora – Tusquets Editora
Páginas – 761
Datas de leitura – de 24 de setembro a 04 de outubro de
2018
RELEITURA
Opinião
Em
setembro quis desafiar-me e pôr em prática um projeto que já me aliciava há
bastante tempo. Como sabem, adoro fazer releituras de obras que me conquistaram
num determinado momento e que merecem que as retire de novo da estante e lhes
dê, uma vez mais, atenção, tempo e mimo. Por tudo isso, desafiei-me a criar o
projeto – Uma releitura por mês.
Escrevi doze títulos em doze post-its – nove amarelos (correspondentes a obras
publicadas em Portugal) e três cor-de-rosa com títulos de obras de Almudena
Grandes. Coloquei-os numa caixinha e todos os meses – de setembro de 2018 a
agosto de 2019 faço um sorteio (podem ver o sorteio de setembro aqui e o de
outubro aqui) e releio a obra que me caia em sorte.
No mês
passado, decidi apenas sortear uma obra em espanhol, porque seria a única que
iria ler em língua castelhana durante esse período. Tive a felicidade de
retirar o papelinho que continha o título que queria reler em primeiro lugar – Malena es un nombre de tango, da
minha Almudena.
Todos
que me conhecem e me seguem por estas bandas estão carecas de saber que
Almudena Grandes é uma das referências incontornáveis da minha vida de leitora
adulta. Nas minhas estantes moram quase todas as suas obras e não há nenhuma
que não me tenha tocado de uma forma muito particular e muito especial. Malena es un nombre de tango não
foi obviamente exceção, muito pelo contrário. Na primeira leitura que fiz da
mesma, fiquei tão arrebatada com a sua protagonista, com a sua história, com os
estereótipos que carrega, com a luta que luta consigo própria e com os outros
para libertar-se dessas ideias e tradições que a amarram e não a deixam ser
feliz e sentir-se realizada, que soube de imediato que teria que lê-la de novo,
um dia mais tarde. E esse dia chegou, oito anos e um mês depois.
Malena
é a menina má de um par de gémeas. É a filha desajeitada, é a filha menos
perfeita, é a aluna pouco brilhante e é a irmã que, ainda na placenta, roubou
alimento à sua gémea, fazendo com que esta nascesse com aspeto de prematura,
precisasse de ir para a incubadora e passasse os primeiros anos debaixo do olho
clínico de médicos especialistas. É a miúda que sempre se sentiu culpada,
sempre se sentiu deslocada e a ovelha negra de um família tradicional, burguesa
e endinheirada. Cresce sem ter a proteção de ninguém, ouvindo e sabendo das
coisas através de falas veladas, de críticas face ao perfeccionismo da irmã
(que até o nome lhe roubou quando nasceu) e dos ensinamentos que mãe, avó e a
própria gémea lhe tentam impor.
Malena
nasce na década de 60, em plena ditadura franquista. Não passou por
necessidades económicas, porque a sua família é endinheirada, mas desenvolve-se
num ambiente que dita que o papel de uma menina é ser obediente, dar suma
importância à família, crescer para ser uma boa filha, uma boa neta e
futuramente uma boa mulher, submissa, religiosa, doméstica e uma boa mãe.
Quando se dá conta de que, por muito que se esforce, nunca será como Reina, a
sua mãe e a sua irmã, e que, pelo contrário, é portadora do sangue impuro que
está presente em alguns elementos da sua família, tem consciência de que terá
que expiar essa culpa. E fá-lo-á eternamente, diminuindo-se face à irmã,
tentando calcar o amor que professa pelo seu avó e pela sua tia Magda (as
outras ovelhas negras da família) e sentindo-se um pouco culpada sempre que dá
ouvidos ao que ela quer, ao que o seu coração e o seu corpo lhe pedem.
É
humanamente impossível não nos apaixonarmos por Malena. É uma miúda e mais
tarde uma mulher vibrante, dona de um corpo que destila sensualidade, que
apenas quer ser ela mesma, amar e ser amada numa época que está, aos
pouquinhos, deixando que as mulheres desabrochem. A sua tórrida história de
amor enquanto adolescente, a dor física que a assola quando é abandonada, as
escolhas imperfeitas que faz em adulta, a diferença abismal entre ela, como
progenitora, e a sua mãe e irmã, a vontade que tem de querer conciliar todos os
papéis que a fazem mulher, tudo a torna numa protagonista inesquecível. E isso
deve-se exclusivamente à genialidade de Almudena Grandes que nos entende, a nós
mulheres, como muitíssimo poucas escritoras.
Numa
obra de quase oitocentas páginas há muito mais do que Malena. Há histórias
igualmente inesquecíveis de outros elementos da sua família, há um travo das
dificuldades que caracterizaram a vida do espanhol anónimo durante a ditadura,
há mais uma ou outra memorável história de amor e há, acima de tudo, o quebrar
de tabus associados ao papel da mulher. Malena vai quebrando-os, tal como o
fizeram a sua tia e a sua avó paterna. Leva muitas bofetadas enquanto o faz,
mas no final compreende que valeu a pena e que se encontrou finalmente como ser
humano e como mulher.
Quem já
leu ou venha a ler esta obra, pode afirmar que poderia ser menos extensa, que a
autora poderia cortar-lhe um bom punhado de páginas. Pode igualmente referir-se
ao estilo de Almudena como algo rebuscado ou rendilhado. Não deixo de estar de
acordo, sobretudo quando o comparo àquele que a própria autora depurou em obras
seguintes. Contudo, mesmo assim, dou nota máxima a Malena, porque voltei a
apaixonar-me por ela, perdidamente, como me apaixonei há oito anos e um mês.
Termino
(e ainda havia tanto para dizer), informando que esta obra foi, há muitos anos,
publicada em português. Infelizmente, só a conseguirão encontrar em alguma
biblioteca ou alfarrabista. Mas se tropeçarem nela, deem-lhe uma oportunidade,
sobretudo aqueles que não se assustam com o seu tamanho e com um estilo denso,
que corre, com muita frequência, do passado para o presente e que parece ter
saído, de rajada, da cabeça da autora para o papel.
NOTA – 10/10
Deixo-vos
também o vídeo de opinião que publiquei entretanto no canal. Neste mesmo vídeo
faço também referência a outra leitura que, infelizmente, não terminei.
Sinopse
Malena
tiene doce años cuando recibe, sin razón, y sin derecho alguno, de manos de su
abuelo el último tesoro que conserva la familia: una esmeralda antigua, sin
tallar, de la que ella nunca podrá hablar porque algún día le salvará la vida.
A partir de entonces, esa niña desorientada y perpleja, que reza en silencio
para volverse niño porque presiente que jamás conseguirá parecerse a su hermana
melliza, Reina, la mujer perfecta, empieza a sospechar que no es la primera
Fernández de Alcántara incapaz de encontrar el lugar adecuado en el mundo. Se
propone entonces desenmarañar el laberinto de secretos que late bajo la
apacible piel de su familia, una ejemplar familia burguesa madrileña. A la
sombra de una vieja maldición, Malena aprende a mirarse, como en un espejo, en
la memoria de quienes se creyeron malditos antes que ella y descubre, mientras
alcanza la madurez, un reflejo de sus miedos y de su amor en la sucesión de
mujeres imperfectas que la han precedido.
Adoro o título do livro e a premissa da mulher que não encaixa nas normas sociais! E a forma apaixonada como falas da obra? Já na wishlist... :) beijinhos!
ResponderEliminarNão sabes a felicidade que sinto sempre que "conquisto" alguém para o clube da Almudena Grandes! E também fico muito contente por conseguir transmitir a paixão que devoto a esta autora! Malena é uma protagonista fabulosa!
EliminarQue bom que também queres conhecê-la!!!
Beijinhos e bom fim de semana!
"Os ares difíceis" e "Castelos de cartão" são os livros que comprei graças às críticas muito positivas que leio aqui e à superlativa adjetivação à sua autora. Estão ambos na estante a aguardar a sua vez...
ResponderEliminarPor enquanto vou-me deliciando com essa maravilha chamada "Ernestina". Abençoado autor que aos oitenta anos escreve desta maneira e abençoada Ana Lopes que nos dá a conhecer estas preciosidades!
Joaquim, muito e muito obrigada! Ernestina é muito, muito bom e tocou-me de uma maneira especial!
EliminarEspero que goste da Almudena!
É muito bom ter este feedback, esta resposta ao verdadeiro propósito deste cantinho - dar, oferecer possibilidades de leituras!!
Beijinhos!