Domingo, 27 de julho de 2014
No passado mês de março, numa das
MUITAS visitas que faço à Bertrand, enquanto pagava (dessa vez nenhum dos
livros era para mim – só regalitos para outros!...), vi que no balcão estava,
em promoção, um livro de uma autora (irlandesa!!!) que já me havia “piscado o
olho” num outro momento. Apercebendo-se do meu interesse, a funcionária
entabulou conversa comigo e disse-me que Corpo
Presente (era esse o título da obra) era uma boa escolha – tratava de
uma reunião familiar que acontece num momento menos bom e que, apesar de haver
um óbvio domínio de sentimentos de tristeza ao longo da sua narrativa, a mesma
não me iria desapontar. É claro que tudo isto me convenceu e lá saí eu da
Bertrand toda contente, porque trazia mais um livro para adicionar à biblioteca
lá de casa e que só me tinha custado 5€!
Só consegui ler Corpo Presente agora e o que
posso dizer é que a compra valeu a pena. Vencedor do Man Booker 2007, este
romance de Anne Enright é tudo menos alegre. É um relato na primeira pessoa, no
qual Veronica Hagerty, proveniente de uma família numerosa, nos deixa entrar na
sua vida presente, passada e futura. E fá-lo com um discurso cru, implacável,
que põe o dedo nas múltiplas feridas da sua família que se vê privada de um dos
seus elementos – Liam, o irmão com quem Veronica tinha mais afinidades e que se
suicida numa praia inglesa.
Numa narrativa repleta de
analepses e prolepses, de factos reais e outros que poderão ser fruto da
imaginação da narradora (ou não), vamos acompanhando a forma como Veronica
escavaca sem dó nem piedade sobretudo a sua vida, em busca do que correu mal,
do que poderia ter sido diferente e sentimos empatia por ela, porque, apesar de
sabermos que é um caso perdido, que os traumas da sua infância (que talvez
sejam os mesmos que levaram ao suicídio do seu irmão) a marcaram
implacavelmente, há, em raríssimos momentos, uma réstia de esperança que não a
abandona e que, afinal, nunca nos abandona, por muito que a vida nos maltrate…
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