Soldados de Salamina, de Javier Cercas

Sexta-feira, 13 de março de 2015





Opinião

“Embrenhei-me” de novo numa leitura bélica. E de novo na Guerra Civil de Espanha. Só que, desta vez, tratei de conhecer o outro lado, o lado dos “fachas”, dos “falangistas”, o lado vencedor de uma guerra inconcebível. Como todas as outras…
Hoje em dia, se sei alguma coisa sobre esse período negro da História espanhola, devo-o a Almudena Grandes. Aos livros que essa extraordinária autora publicou sobre a Guerra de 36-39, sobre os milhares/milhões de republicanos que perderam ou a sua vida ou a sua pátria ou a sua identidade, sobre os anos terríveis do pós-guerra e da malfadada ditadura franquista. Como tal, não é difícil adivinhar que a minha simpatia sempre esteve desse lado “da trincheira” e que aproveitei a oportunidade, que a minha Nancy me proporcionou, para ler Soldados de Salamina e assim, da forma mais imparcial que pude, abrir os meus horizontes, atravessar a frente de combate e “conviver” com o outro lado, o lado falangista.
Não foi um convívio fácil, pois não consegui ser imparcial. Na verdade, nunca o quis, porque, por muito que dos dois lados se tenham cometido barbaridades (como em qualquer conflito dessas dimensões), resulta-me impossível compactuar com fascistas, com ideais totalitários, ditatoriais, que reduzem um ser humano (só porque não comunga com a mesma ideologia) a um monte destroçado de carne, a quem tudo fazem para que perca a sua identidade, aquilo que o torna alguém, uma pessoa.
Sendo assim, desde o princípio soube que queria, por um lado, tentar abstrair-me dessa falta de imparcialidade e, por outro, tentar acabar de ler o livro o mais rápido possível, porque intuía que ia ser uma leitura incómoda. E a intuição revelou-se (como quase sempre) certeira. E não só pelas razões já expostas, mas também porque Soldados de Salamina não é aquilo que apelidamos de um romance ficcional, que “se aproveita” de factos reais, verídicos e que, tendo-os como base, o autor os trabalha e oferece-nos uma narrativa entusiasmante, que nos cativa do princípio ao fim. É sim uma obra algo monótona, sensaborona e que apenas me empolgou com o seu final, quando os factos históricos são de alguma forma postos de lado e conhecemos não só uma personagem ficcionada (presumo eu) mas deveras humana e ao mesmo tempo heroica e “entramos” ligeiramente no íntimo do narrador, que segundo percebemos na página 145, é o próprio autor.
Contudo, não posso afirmar que estes dias em que estive com esta obra entre mãos tenham sido um desperdício. Pelo contrário. Foram uma aprendizagem, já que aprendi quem foi Rafael Sánchez Mazas, fundador e ideólogo da Falange espanhola, autor da máxima “Arriba España” e quase inexplicadamente sobrevivente de um fuzilamento coletivo às mãos de um grupo de republicanos desesperados face à iminente perda da guerra. Fiquei também a saber que batalha está por detrás do título da obra – a Batalha de Salamina, um confronto entre persas e gregos, em 480 a. C. e que terminou com uma vitória destes últimos. Se os persas tivessem ganho, a evolução da Grécia Antiga teria sido profundamente afetada, bem como o correspondente desenvolvimento do mundo ocidental. É por estes motivos que esta batalha é considerada um dos combates mais importantes da História da humanidade.
E aqui impõe-se a questão – e se, tal como na Batalha de Salamina, na Guerra Civil espanhola não tivessem ganho os nacionalistas, mas sim os republicanos? Que implicações teria essa vitória tido na História e desenvolvimento de Espanha? E na História e desenvolvimento da Europa?...


NOTA – 6/10


Sinopsis

Cuando en los meses finales de la guerra civil española las tropas republicanas se retiran hacia la frontera francesa, camino del exilio, alguien toma la decisión de fusilar a un grupo de presos franquistas. Entre ellos se halla Rafael Sánchez Mazas, fundador e ideólogo de Falange, quizás uno de los responsables directos del conflicto fratricida. Sánchez Mazas no sólo logra escapar de ese fusilamiento colectivo, sino que, cuando salen en su busca, un miliciano anónimo le encañona y en el último momento le perdona la vida.

2 comentários:

  1. Ao ler uma entrevista a João Tordo, ele refere esta obra como o ou um dos livros da sua vida!

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    1. Consigo entender essa referência, mas não consigo partilhar da mesma... Foi uma leitura instrutiva, mas enfadonha...

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