Amanhã na batalha pensa em mim, de Javier Marías

Segunda-feira, 31 de agosto de 2015




Opinião
Despeço-me de agosto, das férias e teoricamente do verão com a leitura de outro livro poderoso de Javier Marías. Amanhã na batalha pensa em mim é a terceira obra que leio deste autor castelhano e depois de encerrá-la sinto-me obrigada a repetir o que afirmei nas opiniões que escrevi sobre Os enamoramentos e Coração tão branco – Javier Marías é um senhor autor, a sua escrita é densa, perturbadora, que nos impele a pensar, a parar a leitura e a refletir sobre o que acabámos de ler, a fazer paralelismos com nosso quotidiano, com os nossos sonhos, medos, terrores e acima de tudo ajuda-nos (com exemplos surreais mas surpreendentemente verosímeis) a compreender a complexidade e o multifacetismo do pensamento e dos comportamentos do ser humano.
Tal como é apanágio do autor (pelo menos nas obras que li dele), o início de Amanhã na batalha pensa em mim prende-nos irremediavelmente a atenção e deixa-nos em polvorosa para virar página atrás de página e acompanhar o drama do protagonista, a quem acontece algo de muito insólito – no primeiro jantar que partilha com quem poderá ser uma breve conquista, Víctor Francés termina a noite não com o previsível ato sexual mas sim com uma mulher morta nos braços.
Quais são os seus passos seguintes? Como reage a esta morte terrível e ao mesmo tempo embaraçosa? Que pode fazer ele, praticamente um desconhecido para aquela mulher, para remediar uma situação que já não tem remédio? Deverá telefonar, avisar alguém? Mas quem? O marido atraiçoado é o único que poderá contactar, mas que lhe dirá – que a sua mulher lhe morreu nos braços, momentos antes de consumar o adultério?
Todas estas questões abrem a narrativa de um livro que possui todos os ingredientes para cativar-nos e deixar-nos empolgados. Apresenta-nos uma ação que é entrelaçada com um desfiar contínuo de pensamentos, de divagações e de paralelismos que mexem connosco, que nos fazem vestir a pele das personagens, sobretudo a do protagonista e narrador, imaginar como reagiríamos se estivéssemos no seu lugar, concordar ou discordar com os seus passos e decisões e sobretudo refletir sobre as inúmeras questões que lhe vão povoando os dias e as noites de insónia.
A obra termina com um epílogo que consiste na transcrição do discurso que Marías proferiu aquando da entrega de um prémio que o galardoou pela criação desta obra. Desse discurso transcrevo aqui algumas passagens que considero importantíssimas para compreendermos o verdadeiro teor e mensagem de Amanhã na batalha pensa em mim:
As pessoas talvez consistam, em suma, tanto no que são como no que não foram, tanto no comprovável e quantificável e recordável como no mais incerto, indeciso e esfumado, talvez sejamos feitos em partes iguais do que foi e do que podia ter sido.” (pág. 377)
Recorda-se que todos vivemos parcial e permanentemente enganados ou então enganando, contando apenas uma parte, ocultando outra parte e nunca as mesmas partes às diferentes pessoas que nos rodeiam.” (pág. 377)
Estes fragmentos são, na minha opinião, perfeitos. Mostram em palavras, de forma nua e crua, sem subterfúgios, como somos. Como nós, seres humanos, por um lado, somos uma soma daquilo que fazemos, pomos em prática e daquilo que por isto ou por aquilo apenas ficou pela ideia, pela vontade, pelo sonho e não se realizou. Mostra por outro que nunca somos verdadeiramente transparentes para com os outros como também estes não o são connosco e que aquilo que deixamos transparecer ou saber não é o mesmo, não é igual consoante quem temos à nossa frente.
Estas são assim as ideias fundamentais que atravessam a obra, bem como a morte, principalmente aquela que é inesperada, ou na qual temos alguma participação, que nos atormenta e nos mantém “haunted”, ou seja, (e segundo o autor, um filólogo inglês), nos amaldiçoa e nos mantém debaixo do seu encantamento. Tudo isto aliado a um punhado de personagens muito bem desenhadas, que encaixam com primor numa narrativa, que volto a frisar, nos permite “viver dentro da cabeça” do protagonista, seguir-lhe o que lhe vai na alma à medida que os dias vão passando, desde o fatídico acontecimento que, tal como ele sabe, não permitirá que jamais se esqueça do nome de Marta Téllez – “Que pena saber o teu nome embora já não conheça o teu rosto amanhã…” (pág. 201)
Termino esta opinião referindo que o título da obra, bem como o de Coração tão branco provêm de obras de Shakespeare e que são mais uma evidência do quanto a língua e cultura inglesas são caras ao autor e do quanto influenciam a sua criação literária. Também não posso deixar de mencionar que as tiradas cómicas que ajudam a abrilhantar uma obra já de si representativa de literatura com letra maiúscula representam muito bem o característico humor britânico J
Só me resta dizer – Bravo, Javier Marías! E quero mais! Muito mais!

Nota – 09 /10

Sinopse

Victor Francés, um guionista frustrado, é convidado a jantar em casa de Marta Téllez, uma bela mulher casada que mal conhece e cujo marido está em viagem. Sem saber bem o que esperar, Victor apercebe-se, a dada altura, do carácter romântico deste convite… No entanto, antes de consumar o adultério, Marta sente-se mal e cai morta à sua frente. Numa Madrid invernosa e noturna, Víctor foge daquela casa para nunca mais ser o mesmo. Para trás, deixou sozinha uma criança de dois anos, filho de Marta, que dormia num dos quartos. Que fazer com o cadáver? Deverá avisar as autoridades? E a criança? E o marido? A sua reação e a infidelidade que não chega a cometer irão consumir-lhe os pensamentos e torná-lo numa sombra de um homem, alguém que se dissimula, e às suas intenções, a cada passo e se questiona sobre a diferença entre a vida e a morte. Ainda mais que nos seus livros anteriores, Javier Marías revela-nos uma narrativa imbrincada acerca das várias questões que a todos nos consomem: o segredo, as ações e as intenções, as vontades que ficam por cumprir, a rejeição, o esquecimento, a indecisão, a despedida e, acima de tudo, o engano que, quiçá, é «a nossa condição natural e, na realidade, não deveria magoar-nos tanto».

Te llamaré viernes, de Almudena Grandes

Sexta-feira, 21 de agosto de 2015




Opinião
Tal como no ano passado, a minha Almudena Grandes deixou a sua marca no meu mês de agosto, colorindo alguns dias das minhas férias com uma história poderosa e intensa. Não tão estupendamente fantástica como a de Las tres bodas de Manolita, mas, mesmo assim, uma narrativa que me proporcionou muito bons momentos, com personagens muito bem construídas (bem ao estilo da autora) e com um emaranhado de histórias dentro da história principal, que nos permite saltar repentinamente do presente para o passado e ir conhecendo a forma de pensar e todo o mundo interior das personagens principais.
Te llamaré viernes é uma das obras dos primórdios da carreira de Almudena e tem determinadas características que apontam para tal – oferece-nos uma história densa, de leitura nada fácil, com permanentes e recorrentes saltos no tempo, com uma escrita carregada, onde imperam uma linguagem de adjetivos, de divagações, de pensamentos, recordações, devaneios e, não menos importante, descrições pouco pudicas e, como já ouvi alguém dizer, algo pornográficas J Mas não se fica por aqui, pelo contrário. É, como qualquer obra desta magnífica autora espanhola, seja de anos mais passados ou mais recente, um romance que nos cativa, que nos derrete e que nos comove desde as suas páginas iniciais (onde, por exemplo, Benito, o protagonista, recorda uma passagem banal e ao mesmo tempo fundamental da sua infância e que nos faz compreender de imediato a ligação umbilical que existia entre ele e a mãe) até às que encerram a narrativa e nos abrem o coração e nos levam a estender uma mão carinhosa a Manuela.
Benito e Manuela são as personagens principais de uma história que se desenrola numa Madrid onde ainda circulam as pesetas. São duas almas solitárias que deambulam pelas ruas da capital espanhola, sem qualquer objetivo concreto, fechadas cada uma no seu mundo cinzento, cheio de inseguranças, desilusões constantes e sonhos patéticos. Nenhum dos dois foi tão pouco agraciado fisicamente. Ele é enfezado, feio e tem o osso do peito muito saliente. Ela é gorda, dona de um rosto com feições pouco atrativas e revela pouco gosto na forma de vestir-se. Encontram-se casualmente, mas a sua história nada terá de vulgar nem de bonito.
Benito, homem perto dos quarenta, que sempre sofreu com o amor que dedicou às mulheres da sua vida, que apenas conheceu o fracasso, a desilusão, o desengano, o desamor, continua no entanto em busca da sua princesa, da sua história de encantar, mas fá-lo de uma forma patética e desoladora, acreditando que pode ter o seu final feliz com uma adolescente, filha da porteira de um prédio vizinho, com mulheres anónimas que respondem a anúncios que põe em revistas cor-de-rosa ou com Teresa, uma antiga paixão. Quando tropeça em Manuela, sente crescer em si dois sentimentos antagónicos – por um lado, sente repulsa perante o seu aspeto físico, por outro não resiste à sua espontaneidade, à sua rudeza de jovem nascida num meio rural e sobretudo ao seu poder encantatório de contar fábulas e contos de fada. E será assim dividido que Benito inicia uma relação de amor-repulsa, de poder-servidão com a sua Manuela, a quem ocasionalmente chamará de “Viernes”, transformando-se ele em Robinson Crusoe, perdido numa Madrid habitada por milhões de habitantes, amo e senhor de alguém que parece não pertencer àquele mundo urbano e cosmopolita, que se submete às normas do seu senhor, que possui uma inocência que nos desarma e que devagarinho vai ganhando o seu espaço no coração empedernido e dorido de Benito.
Para além de Benito e Manuela, Te llamaré Viernes está povoado de outras personagens sofridas, nada abonadas fisicamente, pouco carismáticas, mas que, com as suas vidas tristes, patéticas, dececionantes, nos tocam e ganham a nossa ternura. É impossível ficar indiferente à mágoa, ressentimento e saudades de momentos mágicos que caracterizam a relação de Benito com a sua mãe, à simplicidade saloia de Manuela, à intelectualidade e inteligência que Polibio “desperdiça” atrás de um balcão de um bar decrépito ou à vida perdida de Paquita. Por tudo isto e porque Almudena é genial na construção de histórias densas, carregadas de sentimentos e de realidades, rotinas e sonhos que se acercam aos do nosso dia-a-dia, tenho que dizer que Te llamaré viernes é uma obra marcante e que deixará saudades. Pode não ser a obra de Almudena que mais me tenha agradado, mas vale a pena, ai isso vale J

NOTA – 08/10

Sinopse

¿Cómo condensar en pocas lí­neas toda la complejidad de esta difícil historia de amor, que genera a su vez tantas otras que nos hacen pensar y sentir la abrumadora soledad en la que intentan sobrevivir estos personajes feos y huraños, crecidos en el desamor, conmovedores en medio de tanta dureza y tanta ternura? En un Madrid sin alma, Benito ata los cabos de su accidentada existencia gris, hecha para estrellarse una y otra vez «con la miseria del héroe», hasta el dí­a en que, cual un nuevo y desesperado Robinson urbano, encuentra a su Viernes en Manuela, con quien la Naturaleza no fue benigna pero a quien sí­ dotó del extraordinario don de fabular. Consuelan su tortuoso y tenue deseo de vida y amor el recuerdo insistente de las chinelas azul celeste de una madre infiel y los delirios filosóficos de Polibio, intelectual venido a menos, dueño del bar más cutre de la ciudad. A su alrededor, los demás, el jodido mundo que es como una isla desierta cuando no hay un maldito Viernes que te cuente un cuento.

Retrato de un hombre inmaduro, de Luis Landero

Sexta-feira, 14 de agosto de 2015




Opinião
Um homem sabe que a morte ronda por perto, sabe que a sua vida está prestes a chegar ao fim e durante uma noite no hospital confidencia a alguém episódios que vai recordando arbitrariamente.
Resumidamente, isto é o que nos oferece a narrativa desta obra de Luis Landero, um autor espanhol que até agora apenas conhecia através de opiniões que vou lendo em sites e blogues literários que acompanho amiúde.
Como já devo ter referido anteriormente, adquiri esta obra numa viagem que fiz a Madrid e fi-lo por duas ou três razões – porque estava interessada em ler algo de Luis Landero; porque a sinopse desta obra deixava entrever uma leitura entusiasmante e finalmente porque foi a única obra deste autor que encontrei na FNAC da capital madrilena a um preço baratinho J
Finda a leitura, não sou capaz de afirmar que a sinopse cumpriu o que prometia… Ficou aquém das expetativas sobretudo porque o enredo não nos agarra, a não ser em momentos pontuais. O virar de página atrás de página torna-se um pouco entediante, já que nos leva a acompanhar recordações e histórias (que para cúmulo surgem sem razão aparente) de uma vida que o próprio protagonista define como “ridícula, insípida, trivial, una más entre tantas”. Contudo, uma existência trivial e igual a tantas outras poderia ter ingredientes suficientemente suculentos para dar azo a uma narrativa empolgante e que me levaria a lê-la num ápice. Para isso acontecer seria necessário que o autor usasse alguns mecanismos considerados infalíveis – personagens com densidade psicológica, com as quais criamos laços e que vamos conhecendo à medida que a ação avança, um enredo que nos envolva e um ritmo narrativo vivo, com as obrigatórias viagens ao passado, como se requer numa obra de memórias de uma vida. Infelizmente, Retrato de un hombre inmaduro não possui estes ingredientes e por essa mesma razão resulta numa leitura evitável, com a exceção de, como já disse, uns pensamentos e momentos ternurentos, cómicos ou muito assertivos que, no entanto, não chegam para que tenha vontade de, no futuro, voltar a ler Luis Landero. Lo siento…

NOTA – 05/10

Sinopse

En la habitación de un hospital, y en el curso de la que muy probablemente sea su última noche en este mundo, un hombre de unos 65 años le cuenta a alguien, y también a sí mismo, la historia de su vida. Dejándose llevar por el azar de la memoria y la fluidez de su propio relato, va y viene en el tiempo, rescatando, con no poco humor, las pequeñas y más significativas aventuras que vivió y que vio vivir. Porque a este hombre le ha gustado mirar siempre el espectáculo del mundo tanto o más que participar en él. Pero, como todos, conoció el amor, el sabor agridulce de la libertad, el poder, el horror, la belleza, la amistad, el absurdo, la doble conciencia y, en fin, todos los ingredientes de que está hecha la vida. Y no sólo cuenta, sino que al hilo de cada episodio busca algún sentido al viejo misterio de vivir, ahora que no hay tiempo ya de engañarse ni de rectificar. Como quien manipula las piezas para formar un puzzle, se enlazan el rápido curso vital y los remansos reflexivos, el bullir inagotable de personajes y peripecias casi siempre cómicas o kafkianas, para trazar el perfil de un hombre sesudo y a la vez infantil, responsable y a la vez arbitrario, bueno a la vez que inmoral: un retrato del hombre contemporáneo.

Blanca vuela mañana, de Dulce Chacón

Segunda-feira, 10 de agosto de 2015




Opinião
Vim de férias com a família para redescobrir mais uns cantinhos de Portugal e na bagagem trouxe quatro livros J, três em língua castelhana e um (de um autor castelhano – Javier Marías) mas que felizmente já vem sendo traduzido para português há algum tempo.
Os três livros castelhanos são de autores de língua também ela castelhana e o que acabei de ler há algumas horas é de tal forma precioso que tentei controlar a velocidade com que o li J Mesmo assim, não me refreei o suficiente porque saboreei as suas 144 páginas em apenas três dias!...
Blanca vuela mañana foi escrito por Dulce Chacón, uma autora que me foi apresentada pela minha querida Nancy, mas que a morte nos roubou demasiado cedo. Li-a pela primeira vez com a sua obra mais conhecida, La voz dormida, que aborda a apaixonante Guerra Civil espanhola na perspetiva de um punhado de mulheres destemidas, inesquecíveis e que deixam no leitor (e em mim em particular) uma marca profunda, que não se extingue facilmente.
A narrativa, as personagens de Blanca vuela mañana e o estilo intimista, sensível e intensamente conhecedor da alma feminina de Dulce Chacón também permanecerão comigo por muito tempo, tal como me fizeram companhia, há uns anos atrás, as valentes mulheres protagonistas de La voz dormida. São duas histórias distintas, duas épocas distintas e protagonistas com uma bagagem de vivências também elas distintas. Mas são duas obras que nos deliciam, que nos tocam daquela maneira muito especial e que, ao mesmo tempo, nos apetece partilhar e guardar só para nós como um tesouro precioso.
Hay amores que se mantienen de los réditos, de los intereses de un tiempo feliz que alimentan el deseo de recuperarlo. Es entonces cuando el amor no se vive: se padece, pensaba Blanca.” (pág. 69)
Este fragmento que aqui transcrevo reflete na perfeição o drama amoroso que assola a vida de Blanca – a sua relação com Peter sobrevive a duras penas, já que onde devia imperar o amor e a cumplicidade imperam momentos de um silêncio tenso e incómodo e discussões amargas. Blanca tem plena consciência de que é uma relação que não tem futuro, mas também sabe que, enquanto continuar a temer a solidão, irá agarrar-se a ela como um condenado à morte se agarra a qualquer réstia de esperança.
Em pleno contraste com esta relação temos a de Ulrike e de Heiner, dois alemães que tardiamente encontraram o amor. Mas que encontraram um tipo de amor que traz a ansiada plenitude e que ofusca os demais, sobretudo aqueles que sobrevivem através de recordações e do desejo de recuperar um tempo feliz que não voltará.
Contudo, Blanca vuela mañana não é apenas a história de duas histórias de amor. Oferece-nos igualmente momentos de cumplicidade e ternura entre mãe e filhos, entre irmãs, bem como passagens que demonstram o quanto a Segunda Guerra Mundial foi determinante para a vida e a moldagem da personalidade de algumas das personagens de nacionalidade alemã. É ainda uma obra com capítulos muito curtinhos, com uma linguagem pautada de frases também elas curtinhas e de apontamentos deliciosamente poéticos que me “obrigaram” a estar sempre com o lápis por perto para sublinhar inúmeras passagens que me conquistaram.
Sendo assim, só posso recomendar esta leitura e esperar com muita impaciência uma nova ida a Espanha para comprar as outras obras que compõem La trilogía de la huida da qual Blanca vuela mañana faz parte – Algún amor que no mate e Háblame musa, de aquel varón.
Por fim, refiro que não dou nota máxima a esta leitura porque 144 páginas são algo insuficientes (é como se nos tirassem o doce da boca quando estávamos a lambuzar-nos de deleite) e porque o seu final me deixou um pouquinho frustrada…

NOTA – 09/10

Sinopse

Blanca busca el amor, pero huye de él. Anhela encontrar en su relación con Peter algo que no la destruya, que no le obligue a renunciar a sí misma. Envidia el amor verdadero de Ulrike y Heiner, al que cree capaz de sobrevivir a la muerte, pero construye una pasión falsa en su propia pareja, dejándose engañar por los recuerdos. Blanca huye, luchando contra sus razones y deseos; teme la soledad, pero no hace sino caminar a su encuentro.

A mulher certa, de Sándor Márai

Quinta-feira, 06 de agosto de 2015




Opinião
Ao terminar a leitura de A mulher certa, não consigo deixar de sentir que algo falhou… Não sei se o mês de agosto, com os seus ares de descanso e relaxamento, foi o mais apropriado para adentrar-me numa obra tão densa ou se não abordei a sua leitura da maneira mais certa… A realidade é que ler as suas 418 páginas foi custoso e reconhecê-lo dói um pouco, porque tenho plena consciência de que tive nas mãos um romance de um senhor autor, de um daqueles escritores que têm que ser lidos pelo menos uma vez na vida. Para além disso, muitas das pessoas com quem vou falando e partilhando leituras e sugestões recomendaram-mo, afirmando que qualquer obra deste autor húngaro vale muito a pena…
Tomei conhecimento de A mulher certa através de uma publicação que a minha querida compincha literária, Ana Sofia, deixou no seu blogue Cartografia Pessoal. Na referida publicação, relatava uma estada em Budapeste e mais propriamente a sua passagem por uma pastelaria requintada e que tudo indicava ser a mesma que está presente na primeira parte da obra de Sándor Márai. Os que me conhecem bem sabem que a capital húngara ocupa um cantinho muito especial na minha vida e que morro de vontade de lá voltar. Por essa razão e obviamente por tudo o que mencionei já, apercebi-me de que tinha que ler e conhecer Sándor Márai.
A mulher certa está dividida em quatro partes e todas elas têm um narrador diferente que se situa em momentos distintos do século XX. Cada um está obviamente relacionado com os demais por laços amorosos e vai relatando para um amigo ou amante pedaços da sua vida, que ligações estabeleceu com as outras personagens protagonistas da obra e sobretudo vai tecendo comentários sobre a vida, a natureza humana, o amor, a amizade, a solidão, bem como sobre aquilo que é a essência de ser burguês e que distingue essa classe social das outras.
Assim, cada personagem conta a sua experiência e oferece-nos a sua perspetiva, a sua verdade. Mas fá-lo de uma forma que se torna repetitiva, cansativa e que faz com que o ritmo da leitura se arraste até ao ponto de querermos que a última página chegue o mais rapidamente possível… Apesar de cada uma das partes da obra ser um diálogo entre o seu narrador e alguém, é na verdade um monólogo que aborda inúmeras vezes questões como “o que é realmente um burguês”; “ o que distingue um senhor dos restantes mortais”; “qual a importância da arte para nos compreendermos enquanto seres humanos”; “quem será a mulher ou o homem certo para nós” e muitas mais. Ora, muitas destas questões são interessantíssimas e os comentários e divagações que despoletam levaram a que sublinhasse imensas passagens maravilhosas de tão certeiras me pareceram. Contudo… esses fragmentos não foram suficientes para cativar-me em absoluto. Infelizmente.
Pouco mais resta a dizer… Sinto-me um pouquinho derrotada, defraudada e adoraria poder dizer o contrário, porque é uma obra de Sándor Márai, é uma obra repleta de passagens deliciosamente bem escritas e, não menos importante, é uma obra que faz uma análise muito boa da solidão humana, da sociedade húngara (e não só) dos anos que precederam à Segunda Grande Guerra, de como os habitantes de Budapeste (sobre)viveram ao cerco imposto à capital aquando desse conflito mundial e à chegada dos comunistas e finalmente do capitalismo desenfreado dos finais dos anos setenta. Mas não estaria a ser completamente sincera se aqui afirmasse que A mulher certa me havia conquistado em absoluto. O tédio suplanta a genialidade e não há nada a fazer…
Mesmo assim e para terminar, tenho que dizer que não desisti de Sándor Márai e que pretendo ler outra das suas obras, aquela que reúne as mais altas recomendações – As velas ardem até ao fim.
Deixo-vos algumas passagens que sublinhei:
Vivíamos numa grande cidade, em grande estilo, com muitos conhecimentos e um grupo enorme de amigos. Só que, justamente, estávamos sós.” (pág. 27)
Intentou a tarefa mais difícil que um ser humano pode empreender na vida. (…) Buscou substituir o sentimento pela razão. É como se eu dissesse que alguém tentara convencer, com palavras e argumentos, um pedaço de dinamite a não explodir.” (pág. 74)
Pois, minha cara, que não existe a pessoa certa.” (…) Existem somente pessoas, e, em todas elas, um pedacinho da pessoa certa, mas em nenhuma se concentra tudo o que se aguarda e dela esperamos. Nenhuma pessoa reúne em si tudo isso, nem existe a certa, a única, a maravilhosa, essa figura singular que nos traz felicidade.” (pág. 120)
Lia como se houvesse um sentido do dever: saía um livro, falava-se dele, era preciso ler. Ou: ainda não li este clássico, urge colmatar uma falha tão grave na minha cultura, pelo que lhe dedico uma hora de manhã e uma à noite. E lia… Houve um tempo em que a leitura era para mim uma autêntica experiência, o meu coração cavalgava quando tinha nas mãos um livro recém-saído de escritores que eu conhecia, um novo livro era como que um encontro, uma companhia arriscada de que podíamos tirar grandes emoções, coisas boas, mas, igualmente, consequências inquietantes e dolorosas.” (pág. 194)

NOTA – 06/10

Sinopse

Em Budapeste uma mulher conta a uma amiga como descobriu o adultério do seu marido. Por outro lado, um homem confessa a um amigo como abandonou a sua mulher por outra, e uma terceira mulher revela ao seu amante como se casou com um homem endinheirado para sair da pobreza.
Três vozes, três pontos de vista, três sensibilidades diferentes desvendam uma história de paixão, mentiras e crueldade.

O trabalho convidou a uma tertúlia literária...

Segunda-feira, 03 de agosto de 2015




O meu mês de agosto começou como tem vindo a ser habitual nos últimos anos – com uma ida à escola para dizer um “até já” ao trabalho. Contudo, desta vez a despedida fez-se com um toque literário, o que tornou irresistivelmente saborosa a espera por uma homologação emanada pelas atarefadíssimas instâncias superiores do Ministério da Educação.
Sentadas numa mesa redonda, estivemos infindáveis minutos numa amena cavaqueira literária, na qual cada uma de nós falou da obra que presentemente temos em mãos, da atitude que tomamos perante uma história que não nos agarra desde o início, dos nossos autores favoritos e sobretudo de sugestões de futuras leituras. É mais do que óbvio que “bebi com muita gula” tudo o que fui ouvindo, apontei na memória títulos e autores e, mesmo depois de a tertúlia ter sido interrompida pelo dever que nos chamava, não pude deixar de sorrir para mim mesma, porque há muito pouca coisa que me proporcione tanto prazer como trocar ideias sobre leitura e o amor aos livros.
Saí da escola cansada, admito, mas com a cabeça a fervilhar com títulos de obras que têm obrigatoriamente de cair em breve na minha estante J, tais como:
§  As velas ardem até ao fim, de Sándor Márai – segundo as minhas colegas, a obra-prima deste autor húngaro que me vai acompanhando com A mulher certa
§  O remorso de Baltazar Serapião, de Valter Hugo Mãe – uma obra fantástica (que ainda não tive o prazer de ler) do fantástico escritor vila-condense
§  O último cais, de Helena Marques – uma autora que até agora desconhecia, mas que tem obras como esta que, segundo uma das minhas colegas, seguramente nos cativarão
§  Crónicas do mal de amor, de Elena Ferrante – mais uma obra desta autora italiana que está a apaixonar muitas, mas muitas das minhas compinchas literárias J
§  Mágoas da escola, de Daniel Pennac – um livro delicioso que aborda de uma forma bem-humorada os dissabores de um mau estudante

Já em casa, não descansei enquanto não contagiei o meu maridinho, massacrando-o com tudo o que tínhamos partilhado na tertúlia da tarde e informando-o, como ninguém quer a coisa, de que era Dia B, ou seja, que a Bertrand estava com todos os livros com desconto de 20%, no mínimo. É claro que ele não resistiu ao meu massacre e lá se sentou comigo em frente ao computador para encomendarmos dois livros. Após muita indecisão, lá nos decidimos por estes que já moravam na minha wishlist há uns tempos:
§  Stoner, de John Williams
§  Desamparo, de Inês Pedrosa


É assim caso para dizer que o dia de hoje foi um dia que encheu verdadeiramente as minhas medidas de viciadinha em livros J Resta-me agradecer às minhas queridas companheiras e esperar que dias como este se repitam muito em breve!

Balanço mensal - livros lidos e adquiridos em julho

Domingo, 02 de agosto de 2015





Julho foi um mês cheio de momentos maravilhosos… Foram 31 dias de descompressão, com horários menos rígidos, com muitas mais oportunidades de estar com as minhas queridas amigas, de esparramar-me no sofá e pôr as minhas séries “em dia” e finalmente com tempo suficiente para dedicar-me a outro vício “ que me consome” – a construção de puzzles J


Por todas estas razões não consegui ler tanto como havia lido até aqui – apenas li quatro livros em vez dos habituais cinco ou seis!... No entanto, como dizem as minhas compinchas, o terceiro volume da trilogia “O século”, de Ken Follett, com as suas 1022 páginas, deveria valer por dois ou três e, por isso, a média teria sido mantida J
As quatro obras lidas (três em língua portuguesa e uma em castelhano) garantiram-me “viagens literárias” muito produtivas e não me importaria nada voltar a ler algo escrito por cada um dos seus autores. Senti uma sensação de dever cumprido ao encerrar a leitura da última parte da referida trilogia de Ken Follett, gostei muito de voltar ao mundo islandês de Audur Ólafsdóttir, fiquei atordoada e em choque (mas no bom sentido) com a estreia literária de Afonso Reis Cabral e, por fim, adorei perder-me nas ruas e numa livraria em particular de Madrid dos anos cinquenta que me foram apresentadas por Marian Izaguirre.
Aqui fica, como de costume, a lista das referidas leituras de julho:
§  No limiar da eternidade, de Ken Follett
§  La excepción, de Audur Ava Ólafsdóttir
§  O meu irmão, de Afonso Reis Cabral
§  A vida quando era nossa, de Marian Izaguirre
No que diz respeito às aquisições que já moram cá em casa, o mês que finda foi fraquinho – apenas comprei duas obras, uma para mim e outra para o maridinho. Aproveitando uma promoção das lojas FNAC, adquiri Toda a luz que não podemos ver, de Anthony Doerr, um romance que figurava na minha wishlist há uns bons meses e que sei que me reserva uma daquelas leituras J. Nesse mesmo dia e na mesma saca veio a obra Assim nasceu Portugal, de Domingos Amaral, que agradou imenso ao maridinho (é óbvio que já a “papou” – não partilha a mania das leituras cronológicas da sua cara-metade) porque é um exemplo de um bom romance histórico e porque tudo indica ser o primeiro volume de uma saga que promete!

Agora resta esperar para ver o que o mês de agosto nos reserva… Continuação de boas leituras e de boas férias!