O colégio das quatro torres, de Enid Blyton

19 de novembro a 01 de dezembro de 2012




Opinião
Sem livros novos para ler... Ora, nada melhor do que agarrar a oportunidade e continuar a "descer a rua da saudade ou da nostalgia" e reler, um a seguir ao outro, os seis volumes de outra coleção de Enid Blyton - Colégio das Quatros Torres.
Não há grandes diferenças entre esta coleção e a já relida de As Gémeas. Um colégio internato feminino, um grupo de raparigas que vamos acompanhando ao longo de seis anos, muitas partidas pregadas (algumas bem divertidas!), piqueniques e festas proibidas à meia-noite e a vida normal de estudantes e do colégio.
Desta vez, a personagem principal é Diana Rivers, uma miúda bem-disposta, bondosa, sincera, mas com bastante mau-génio que lhe vai causar alguns dissabores. Além dela, conhecemos e vamos acompanhado a Celeste, a Alice, a Irene, a Joana, a Milú ou a presumida Ludovina.

Tal como referi na mensagem que partilhei sobre as Gémeas, infelizmente também nesta coleção algumas personagens vão mudando de nome, sem qualquer razão explicativa, exceto o facto de que a tradução de todos os volumes não ter sido feita pela mesma pessoa... Isso não pode ser desculpa, mas... os meus livrinhos são de finais dos anos 70 e nessa altura a tecnologia não era a de agora...


Excetuando estes pormenores menos positivos, é sempre doce recordar, reler livros que tiveram um papel tão importante na minha vida de adolescente J

O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe

Domingo, 18 de novembro de 2012



Sinopse
Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.

Opinião
Esta foi a minha estreia no mundo literário de Valter Hugo Mãe! E que estreia! Adorei O filho de mil homens! É um livro muito afetivo, que vive das emoções de várias personagens (como por exemplo o quarentão que queria um filho, o filho da anã que fica órfão, a mulher enjeitada, o maricas, a mãe do maricas), cujas vidas se entrecruzam e os levam a concluir que a felicidade está ao alcance de nós e que, se quisermos, conseguimos estar e fazer melhor.
O livro está recheado de momentos e passagens de uma beleza e sensibilidades às quais não conseguimos, de maneira nenhuma, ficar indiferentes. Registo aqui trechos que são disso exemplo e que me ficaram e ficarão na memória:
"Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia: não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então o médico acrescentava: ah, fique pois sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. (...)
Quando percebeu o jogo, o Camilo disse ao avô que havia de se notar na casa, a quem não lesse livros caía-lhe o tecto em cima de podre. O velho Alfredo riu-se muito e respondeu: um bom livro, tem de ser um bom livro. Um bom livro em favor de um corpo sem problemas de colesterol e de uma casa com o tecto seguro. Parecia uma ideia com muita justiça." 

O toque de alguém, dizia ele, é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra.”
 “E amar uma pessoa é o destino do mundo”.


Bom, é oficial… Estou sem livros novos para ler… Este magnífico romance de Valter Hugo Mãe era o último que tinha e, como diz uma colega minha, “já o mamei”! Sendo assim, encontro-me numa situação que já não me era familiar há muito… Contudo, tenho que ver o lado positivo disto – tenho “montones” de livros para reler (desde os juvenis aos ditos adultos) e, além disso, sendo agora sócia da Biblioteca Municipal cá da terra, posso sempre requisitar os livros que lá existam J


De amor e de sombra, de Isabel Allende

Domingo, 11 de novembro de 2012



Sinopse
De amor e de sombra, o segundo romance de Isabel Allende, relata a apaixonada relação de duas personagens dispostas a arriscar tudo em nome da justiça e da verdade, num país onde as detenções arbitrárias e execuções sumárias são uma prática constante.
A jornalista Irene Beltrán provém de uma família burguesa, mas isso não impede Francisco Leal, um jovem fotógrafo e membro da resistência, de se apaixonar por ela. A partir de uma reportagem rotineira, um mundo estranho, oculto pelo discurso oficial, é-lhes revelado, fazendo-os sentir-se responsáveis perante os factos cruéis que se sucedem. É nas sombras do poder, do abuso e das injustiças que o amor de Irene e Francisco se aprofunda.
Isabel Allende confirma-se como uma narradora de histórias fantásticas, dando vida a personagens que quase saltam das páginas: a mãe decadente e ignorante de Irene, o impulsivo e temerário pai de Francisco e Mário, uma celebridade homossexual e um subversivo sem medo. Esta é uma história fascinante de tragédia e de êxtase, de valentia e de sacrífico - um romance comovente e estimulante.

Opinião
Li De amor e de sombra pela primeira vez em 1999, quando N. mo ofereceu, e desde aí que, sempre que olhava para a sua lombada repetia para mim mesma que teria que voltar a lê-lo, que teria que voltar a perder-me na sua narrativa idílica, mágica e, ao mesmo tempo, muito real! E finalmente fiz a vontade a essa vontade - e que prazer me deu!
No prefácio escrito pela própria autora, lemos um trecho que nos prende de imediato a atenção e nos pede que descubramos a história desse homem e dessa mulher, que a guardemos e que a partilhemos para que não seja esquecida:
Esta é a história de uma mulher e de um homem que se amaram plenamente, salvando-se assim de uma existência vulgar. Guardei-a na memória de forma a que o tempo a não desgastasse e é só agora, nas noites silenciosas deste lugar, que finalmente posso contá-la. Fá-lo-ei por eles e por outros que me confiaram as suas vidas, dizendo: toma, escreve, para que o vento não o apague.

É óbvio que quem conhece Isabel Allende e a sua obra, sobretudo os primeiros romances concorda comigo quando digo que esta autora e a sua escrita estão indissoluvelmente entrelaçadas com a história do seu país natal, Chile, com os seus mitos, as suas superstições, uma realidade que comunga com a fantasia e a magia e, não menos importante, com as barbaridades e a cruel falta de liberdade que a ditadura de Pinochet impôs ao povo chileno durante demasiados anos. Tudo isto povoa a obra que terminei de reler com uma mistura de sensações antagónicas, como sempre são as sensações que me percorrem quando leio uma obra que retrata um período negro da história de qualquer país ou de qualquer povo.
Essas sensações antagónicas ainda mais se agudizaram com o desenrolar desta narrativa, porque a par de relatos de situações cruéis e desumanas vivemos a história de amor de Irene e Francisco, um amor que realmente os salva de uma existência vulgar, das sombras da história do seu país. E que bem que Isabel Allende narra esse amor! Já para não falar da descrição, repleta de erotismo e de sensualidade, da primeira vez que os dois fazem amor, em plena comunhão com a natureza! É uma descrição tão intensa que dificilmente a esqueceremos!

Para que realmente se compreenda o quão alguns trechos da obra são intensamente bem escritos e por essa razão nos podem deixar em êxtase literário, partilho aqui um exemplo perfeito disso mesmo:

 Irene colheu uns talos de erva e levou-os à boca, mordendo-os para chupar a seiva. Voltou-se, fitou o amigo e ele sumiu-se nos seus olhos nublados. Sem pensar, Francisco atraiu-a para si e procurou a sua boca. Foi um beijo casto, tépido, leve, mas teve o efeito de um abalo telúrico nos seus sentidos. Cada um percebeu a pele do outro, nunca antes tão nítida e próxima, a tensão das mãos, a intimidade de um contacto ansiado desde o começo dos tempos. Um calor palpitante invadiu-lhes os ossos, as veias, a alma, algo que não conheciam ou tinham esquecido por completo, pois a memória da carne é frágil. Tudo desapareceu ao seu redor. Para eles apenas contavam os lábios unidos, dando e recebendo. Na verdade, foi apenas um beijo, a sugestão de um contacto esperado e inevitável, mas ambos estavam certos de que este seria o único beijo que poderiam recordar até ao fim da vida e, entre todas as carícias, a única que lembrariam com saudade.


É por isto que Isabel Allende me conquistou!

Anatomia dos mártires, de João Tordo

Domingo, 04 de novembro de 2012



Sinopse
Anatomia dos Mártires é a história de uma obsessão verdadeira transformada em ficção - a de uma investigação contemporânea (e original) sobre o mito de Catarina Eufémia - e também a tentativa de reconciliação de um escritor nascido imediatamente após a Revolução de Abril com o passado. Um jornalista insensato e ambicioso quer provar ao seu editor - um comunista irascível, alcoólico e com bastante desprezo pelos jovens - que não é só mais um na redacção. Escolhido para ir a Berlim entrevistar o biógrafo de um mártir religioso, aproveita a deixa para fazer, no seu artigo, uma analogia com a história de Catarina Eufémia, a camponesa que se tornou um ícone do Partido Comunista, mas de quem, na verdade, pouco ou nada sabe. Quando, porém, o artigo é publicado, as reacções de indignação por parte dos leitores não se fazem esperar, algumas das quais bastante ameaçadoras; e, na noite em que o editor é encontrado na rua em coma, aparentemente brutalizado, o jornalista pergunta-se se não terá sido por defender publicamente o seu artigo e começa a suspeitar de que existe muito mais em jogo do que a simples memória de uma camponesa assassinada pela GNR durante a ditadura. É então que decide investigar obsessivamente a vida de Catarina, desbravando por entre o nevoeiro que paira sobre os mártires e os transforma em mitos de que sempre alguém se apodera. E encontra realidades bem distintas - e mais tenebrosas - do que podia esperar.

Opinião
A leitura do segundo romance de João Tordo que "mora" na minha biblioteca caseira não foi tão arrebatadora como foi a de As 3 vidas. Tudo o que me conquistou neste autor mantém-se em Anatomia dos Mártires – a sua rica escrita, a boa construção das personagens, sobretudo a do protagonista (a quem curiosamente o autor não dá nome) e um final que não gora as expetativas. Contudo, o ritmo da narrativa não é o mais desejado e há momentos que se caracterizam pela estagnação e pela repetição…
Abordando os aspetos que considerei mais positivos tenho que referir o protagonista, o cuidado que o autor demonstra ter posto na sua construção, um homem desalentado, que está nos antípodas de um jovem crente em ideologias (como acreditamos terem sido os jovens do antes 25 de abril) e que põe na obcecada procura de respostas sobre Catarina Eufémia um sentido para a sua vida estagnada e sem rumo. Essa obsessão sobre esta camponesa alentejana assassinada foi também importante para mim, pois espicaçou a minha curiosidade em saber mais sobre alguém de quem já tinha ouvido falar, mas muito vagamente.

Mesmo com estes aspetos positivos, não posso considerar este romance tão interessante e tão recomendável como As 3 vidas… 

As Gémeas, de Enid Blyton (terminando a leitura da coleção)

19 a 26 de outubro de 2012



Opinião
A coleção de As Gémeas (a que tenho desde a minha adolescência mais os dois volumes novos a que fiz referência na mensagem de 28 de setembro a 06 de outubro) está lida. J Contudo, agora que a terminei, ao prestar atenção à contracapa dos novos volumes, apercebi-me de que irá ser publicado um outro volume, que dará continuidade ao último que li e que dirá respeito ao 6º ano no Colégio de Santa Clara. Bom, lá terei que comprá-lo!...
De momento, importa deixar aqui registado o quanto me soube bem voltar a percorrer os espaços do primeiro colégio interno com que tive contacto (bem, primeiro não foi realmente, pois sempre vivi perto de um masculino, por acaso bem conhecido no nosso país), um contacto que me permitiu sonhar recorrentemente com a ideia de frequentar um colégio desses, onde se construíam belíssimas amizades, se pregavam partidas e se realizavam monumentais festas e piqueniques secretos e proibidos, a altas horas da noite!  J J
Foi saborosamente nostálgico voltar a acompanhar o percurso escolar, as brincadeiras, as ansiedades, as zangas e as alegrias das gémeas, de Ilda, Dora, Joana, Tony, Carlota, Adelina e muitas mais alunas do inesquecível Colégio de Santa Clara.

O único aspeto menos positivo prende-se com o facto de o nome de algumas personagens mudar de volume para volume, mesmo só tendo em conta os meus 6 volumes iniciais - por exemplo, a Tony é Roberta no dois últimos livros, o mesmo acontecendo a Gladys que passa a ser Glória e Mirabel que passa a chamar-se Marília. Para além disto, os seis volumes apresentam muitas gralhas ortográficas que não têm muita explicação...

Agora, de volta aos livros "do complexo mundo adulto"!



A Ilha, de Victoria Hislop

Quinta-feira, 18 de outubro de 2012




Sinopse
Num momento em que tem que tomar uma decisão que pode mudar a sua vida, Alexis Fieldings está determinada a descobrir o passado da sua mãe. Mas Sofia nunca falou sobre ele, apenas contou que cresceu numa pequena aldeia em Creta antes de se mudar para Londres. Quando Alexis decide visitar Creta, a sua mãe dá-lhe uma carta para entregar a uma velha amiga e promete que através dela, Alexis vai ficar a saber mais. Quando chega a Spinalonga, Alexis fica surpreendida ao descobrir que aquela ilha foi uma antiga colónia de leprosos. E então encontra Fotini e finalmente ouve a história que Sofia escondeu toda a vida: a história da sua bisavó Eleni, das suas filhas e de uma família assolada pela tragédia, pela guerra e pela paixão. Alexis descobre o quão intimamente ligada está àquela ilha e como o segredo os une com tanta firmeza.


Opinião
Este foi o segundo romance de Victoria Hislop que li, depois de me ter deliciado com a leitura de O regresso. Comprei-o na Feira do Livro do ano passado e bendigo a hora em que o fiz!
Neste romance a autora não desilude os seus leitores de obras anteriores, pois voltamos a cruzar-nos com personagens muito bem construídas, com um enredo e correspondente ritmo que nos envolvem do princípio ao fim.
Tal como acontece em O Regresso, A Ilha apresenta-nos a história de uma família, de quatro gerações suas, com as quais vamos travando conhecimento principalmente através dos seus elementos femininos - Eleni, Anna e Maria, Sofia e Alexis. É a viagem desta última às ilhas gregas que desencadeia todo um desenrolar de recordações da família de sua mãe, Sofia, das quais nunca havia tido conhecimento. E é sobretudo a partir deste momento da narrativa, do momento em que Fontini inicia o relato da história da família a Alexis que não conseguimos largar o livro, tal é a vontade que sentimos em ler e ler até nos tornarmos conhecedores de todos os segredos, aventuras e desventuras desta família grega.
Não posso deixar de referir uma problemática que está omnipresente na narrativa e que teve um papel preponderante na história da família de Alexis - a doença da lepra que afetou diretamente dois dos seus membros. Graças à excelente pesquisa da autora, tomamos conhecimento de que essa enfermidade dilacerou muitas famílias gregas e que as medidas adotadas pelas autoridades (até à descoberta da sua cura) passavam por isolar e ostracizar os enfermos na ilha de Spinálonga.

Por tudo isto que foi mencionado, pela força e envolvência da narrativa, pelas personagens repletas de personalidade e pelos factos históricos que unem todos estes fatores, recomendo vivamente a leitura de A Ilha!

As Gémeas, de Enid Blyton

28 de setembro a 06 de outubro de 2012




Já havia referido há uns tempos que os livros da coleção As Gémeas (bem como todas as outras coleções de Enid Blyton) estavam a ser reeditadas e que foi essa reedição que me fez sentir uma vontade quase incontrolável de voltar a lê-los. E tal como não refreei as "ganas" de ler Heidi, também não o fiz com os volumes desta coleção tão feminina e que marcou incondicionalmente a minha geração e outras, passadas, presentes e futuras.
Os volumes que compõem a coleção são sobre duas gémeas, Patrícia e Isabel O'Sullivan, que começam a frequentar o colégio interno de Santa Clara. Contudo, os primeiros tempos não são muito fáceis para elas já que evidenciam um comportamento pouco simpático, não deixam de comentar em voz alta que estão em Santa Clara contra a sua vontade, o que leva a que as suas colegas as apelidem de "gémeas emproadas". Contudo, como Isabel e Patrícia são no fundo boas raparigas, após terem sido vítimas de algumas partidas e da indiferença das outras, acabam por ser integradas e por ganhar a estimas das colegas.
Como referi, fui acompanhando a reedição de perto e, para meu espanto, até à data não foram lançados seis volumes de As Gémeas, mas sim oito! Sempre havia pensado que a coleção fosse de seis exemplares (os que tenho em casa, da altura da minha infância), mas pelos vistos, quando comparadas as duas coleções - a de antes e a de agora - compreendo que a coleção que sempre conheci tem um hiato entre o 2º ano no Colégio de Santa Clara e o 4º, ou seja, que esses dois volumes "a mais" na coleção nova deverão dizer respeito ao 3º ano.

Sendo assim, decidi que tenho que comprar esses dois volumes que me faltam, mas só o vou fazer daqui a uns dias, para aproveitar uma promoção que sairá em breve! Por isso, li durante estes dias apenas os quatro primeiros volumes para poder encaixar os que irei comprar e seguir desta forma uma ordem cronológica.

Entretanto fiz uma pesquisa na Net sobre os referidos dois volumes e fiquei a saber que os mesmos não foram escritos por Enid Blyton, mas sim por Pamela Cox, em 2009, para assim preencher o hiato acima referido. Por essa razão é que eu nunca havia ouvido falar deles!

O teu rosto será o último, de João Ricardo Pedro

Sexta-feira, 28 de setembro de 2012



Sinopse
Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu. 
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial. 
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?

Opinião
Vencedor do prestigiado prémio Leya 2011, O teu rosto será o último foi amplamente publicitado, não só por ser visto como um primeiro e supostamente genial romance de João Ricardo Pedro, mas também pelo facto de este o ter escrito após ter perdido o seu emprego como engenheiro. É óbvio que não fiquei imune a toda esta publicidade e, depois de ter estado com o livro nas mãos, ter lido a correspondente sinopse, tomei a decisão de o trazer para casa.
O livro oferece-nos em pinceladas rápidas o retrato de três gerações - o avô, médico que optou deixar a cidade e exercer a profissão numa aldeia; o pai, obrigado a ir lutar numa guerra que nada lhe diz e que regressa um outro homem; e o neto, nascido com os ventos da Revolução de abril.

O enquadramento histórico era, assim, algo que me poderia interessar e muito, mas tudo o resto me desiludiu e incomodou, como é o caso do uso excessivo e às vezes descontextualizado de palavrões, alguns episódios rebuscados e grosseiros, e uma linguagem repetitiva, deselegante que nada favoreceu a leitura e que me leva a estar muito renitente no que respeita a voltar a ler algo escrito por João Ricardo Pedro (se ele o voltar a fazer, é claro!).

Heidi, de Johanna Spiry

Sexta-feira, 21 de setembro de 2012



Sinopse
Órfã desde tenra idade, Heidi vive com a sua tia. Após receber uma proposta de trabalho irrecusável, a tia é obrigada a entregar Heidi ao seu avô, um velho zangado com o mundo, vivendo isolado num planalto nos Alpes. Ao chegar ao novo lugar, Heidi apaixona-se de imediato pelas paisagens esplendorosas e pelos animais dos vales e das montanhas.  Com o passar do tempo conquista também  o coração do avô,  mostrando-lhe que é possível ser feliz e reencontrar a paz.
Mas essa felicidade desaparece quando a tia regressa aos Alpes e leva a menina para Frankfurt. Na cidade, Heidi irá viver na casa do senhor Sasemann, um homem rico que precisa de companhia para Clara, a sua filha paraplégica. Apesar da amizade que nasce entre as duas meninas, e de todas as coisas boas que aprende em Frankfurt, Heidi não consegue afastar as saudades do avô e dos dias felizes na montanha… Será ela capaz de regressar ao seu lar nos Alpes e concretizar os seus sonhos?

Como já partilhei em anteriores mensagens, a nostalgia pelos meus livros de infância e adolescência já há muito que não me larga e decidi não lhe resistir mais! Sendo assim, vou intercalando a sua leitura com os ditos livros mais adultos J J
O primeiro que veio ansiosamente para as minhas mãos foi Heidi e em dois dias devorei todas as suas páginas com um misto de sensações contraditórias!... Chorei muitíssimo em variadas partes do livro, sobretudo aquelas que partilhavam connosco os momentos ternurentos de Heidi com o seu avô, a forma como ela conseguiu "amaciar" o coração endurecido do Velho do Planalto, a dor que sentem e que nos toca tão pungentemente quando os dois estão separados e a alegria indescritível que transborda dos seus corações no momento em que Heidi sobe à montanha para não mais a deixar.
Aparte o choro (as relações entre avôs e netos mexem muito comigo) que considero sempre retemperador, foi uma delícia reler esta história intemporal, a sensação de voltar à infância não tem preço (recordar os desenhos animados que retrataram esta história) e, mais do que nunca, sinto que, por mais que os anos passem, que já esteja perto dos 40 , é um bálsamo e um consolo reler as histórias que fazem parte do meu crescimento e que me formaram como pessoa e como leitora!

Venham mais livros infantis e juvenis! J

Emma, de Jane Austen

Terça-feira, 18 de setembro de 2012



Sinopse
Ema é uma herdeira rica, inteligente e bela. Optimista, consciente da sua superioridade, segura de si mesma, fiel respeitadora as "conveniências" - enfim, o tipo acabado da "verdadeira senhora" -, passa o tempo a combinar casamentos "convenientes" entre amigos e protegidos.
Um dia, sem arranjos prévios, ela própria é pedida em casamento por Mr. Knightley. Ema não assume um compromisso, mas não o desencoraja, debatendo-se com um drama interior: o pretendente é amado por uma das suas melhores amigas, a qual Ema deseja ver feliz e "convenientemente" casada. No íntimo, porém, tem um sentimento de aversão ao casamento de Harriet com Knightley e não pelas questões de conveniência que tanto respeita: é que ela própria ama Knightley.
Ema cede finalmente a um amor que tem razões mais fortes que a própria razão.

Opinião

A homenagem a Jane Austen segue o seu caminho!...
Acabadinho de ler, sinto que o romance Emma não foi apreciado e lido com a atenção e o carinho que merece... Permiti que todo o nervosismo e angústia que me têm acompanhado nos últimos dias prejudicassem os meus sagrados momentos de leitura e... confesso que até houve partes da narrativa que me maçaram...
A protagonista Emma Woodhouse é uma jovem bela, rica inteligente, mas cuja personalidade alberga muitos defeitos - é fútil, egoísta, manipuladora, preconceituosa, snob. Contudo, também demonstra uma preocupação genuína pelo pai e pelos amigos, é divertida e generosa. O seu passatempo predileto é influir na vida amorosa dos que rodeiam, adora fazer de casamenteira, mas fá-lo da pior forma por exemplo para a sua protegida Harriet, colocando-a em situações no mínimo embaraçosas.
No seu núcleo íntimo de amizades está Mr. Knightley que é oposto de Emma. Ponderado, calmo, conhece Emma melhor do que ninguém e não tem pejo algum em chamá-la à atenção e criticá-la quando assim acha necessário. Foi a personagem com quem mais simpatizei e admirei a sua "astúcia" e o seu lado estoico que foram recompensados no final quando consegue que Emma compreenda o que estava à vista de todos - que o que a une a Mr. Knightley é mais do que uma profunda amizade.

Considerado como o romance perfeito de Jane Austen, Emma não me prendeu a atenção como o fabuloso Orgulho e Preconceito... Estou convencida de que, mesmo que a sua leitura não tivesse sido prejudicada por aspetos da minha vida profissional, não me teria enchido as medidas da mesma forma que o fez e faz Orgulho e Preconceito!... 

As novas meninas dos chocolates, de Annie Murray

Sexta-feira, 07 de setembro de 2012



Sinopse
Na sua juventude, Edie, Ruby e Janet partilhavam sonhos enquanto se dedicavam à deliciosa tarefa de fazer chocolates na famosa fábrica Cadbury, em Inglaterra. Duas décadas depois, o mundo está radicalmente diferente e as vidas das amigas também. Agora, a geração seguinte está a crescer e a enfrentar os seus próprios desafios.
Greta, a filha da temperamental Ruby, é tão bela quanto infeliz. A sua vida familiar foi sempre instável, o que a levou a procurar refúgio junto das suas amigas, na fábrica de chocolates Cadbury, onde também trabalha. Mas tudo vai piorar com o regresso da sua detestável irmã, Maureen. E assim, enquanto Inglaterra vive a euforia da louca década de 1960, Greta precipita-se para um casamento que rapidamente destruirá os seus sonhos românticos. Grávida e sem-abrigo, é acolhida pela maternal Edie e pelo marido, Anatoli. Mas o amor e segurança deste refúgio em breve serão despedaçados por uma tragédia que mudará as suas vidas para sempre…
Uma heroína inesquecível, uma história de destinos cruzados, segredos antigos… e um amor capaz de mudar tudo.

Opinião
Quatro meses depois de ter lido As Meninas dos Chocolates, aventurei-me finalmente a ler a sua sequela e tenho que dizer que gostei mais desta do que da obra antecessora.
Tal como podemos ler na sinopse, As novas Meninas dos Chocolates retrata a vida dos descendentes de Edie, Janet e de Ruby, mas a narrativa centra sobretudo a sua ação em Greta, a filha mais nova de Ruby, uma personagem que me cativou desde o início por ser completamente diferente da estouvada da mãe e da pérfida irmã, Maureen e por ser dotada de uma personalidade lutadora e mais forte do que ela própria supõe. Deu-me muito prazer assistir ao seu desabrochar como mulher, à belíssima e comovente relação que estabelece com Anatoli (marido de Edie), a quem vê como o pais que nunca teve, e ao paulatino nascer do amor que a unirá ao outro homem que completará por inteiro a sua vida.
As novas Meninas dos Chocolates oferecem-nos assim uma história muito interessante, repleta de momentos enternecedores, comoventes e dolorosos, que fazem com que a sua leitura seja atraente e empolgante.

Resta-me dizer que, uma vez mais, o título não nos oferece uma visão muito verosímil do que encontraremos nas 464 páginas - o chocolate não está muito presente, é inclusive suplantado pelo chá, esse sim, tal como seria de esperar em ambientes ingleses, pulula nas reuniões familiares.

Las tres bodas de Manolita, de Almudena Grandes

Sexta-feira, 22 de agosto de 2014




Sinopse:
En un Madrid devastado, recién salido de la guerra civil, sobrevivir es un duro oficio cotidiano. Especialmente para Manolita, una joven de dieciocho años que, con su padre y su madrastra encarcelados, y su hermano Antonio escondido en un tablao flamenco, tiene que hacerse cargo de su hermana Isabel y de otros tres más pequeños. A Antonio se le ocurrirá una manera desesperada de prolongar la resistencia en los años más terribles de la represión: utilizar unas multicopistas que nadie sabe poner en marcha para la propaganda clandestina. Y querrá que sea su hermana Manolita, la señorita Conmigo No Contéis, quien visite a un preso que puede darles la clave de su funcionamiento. Manolita no sabe que ese muchacho tímido y sin aparente atractivo va a ser en realidad un hombre determinante en su vida, y querrá visitarlo de nuevo, después de varios periplos, en el destacamento penitenciario de El Valle de los Caídos. Pero antes tiene que saber quién es el delator que merodea por el barrio.
La tres bodas de Manolita es una emotiva historia coral sobre los años de pobreza y desolación en la inmediata posguerra, y un tapiz inolvidable de vidas y destinos, de personajes reales e imaginados. Una novela memorable sobre la red de solidaridad que tejen muchas personas, desde los artistas de un tablao flamenco hasta las mujeres que hacen cola en la cárcel para visitar a los presos, o los antiguos amigos de colegio de su hermano, para proteger a una joven con coraje.

Opinião: 
Foi com uma satisfação e um prazer indescritíveis que, no passado mês de abril, na visita que fiz à monumental cidade de Ávila pude ter, pela primeira vez nas minhas mãos, o mais recente romance de Almudena Grandes - Las tres bodas de Manolita - o terceiro romance da série Episodios de una Guerra Interminable, da qual já li e tenho (como preciosidades sem preço) El lector de Julio Verne e Inés y la alegría.
O enredo desta história centra-se numa Madrid devastada pela recentemente terminada Guerra Civil, mas, tal como é habitual nas obras desta autora, as analepses e prolepses são recorrentes e vamos poder acompanhar o percurso de personagens antes e durante os anos da Guerra e já no desenlace, ficamos a conhecer o destino de algumas delas depois da morte de Franco. Contudo, a trama central transporta-nos aos anos do pós-guerra, durante os quais seguiremos as vidas de várias personagens que tentam sobreviver da melhor maneira possível, lutando contra a fome, a falta de condições de vida e contra um regime franquista que espalha os seus poderosíssimos tentáculos por todas as partes, destruindo de uma forma lenta, mas inexorável, as já devastadas vidas das famílias que apoiaram a República.
Uma dessas família é a de Manolita Perales que, com o terminar da guerra, se vê numa situação terrível - com apenas dezoito anos, esta jovem, com o pai e a madrasta presos, o irmão mais velho escondido e desaparecido para o resto do mundo, tem que tomar a seu cargo o sustento de quatro irmãos mais pequenos.
À medida que a narrativa se desenvolve, vamos travando conhecimento com aspetos que caracterizaram os primeiros anos da ditadura franquista - os internatos de freiras que recebiam as filhas das presas para que supostamente elas continuassem a sua formação escolar, mas onde as mais velhas (como Isabel Perales) eram escravizadas e obrigadas a lavar roupa com soda cáustica; a vida quotidiana dos presos de Porlier, as filas das mulheres que os visitavam e nas quais Manolita (quando visitava seu pai e, mais tarde, Silverio, el Manitas) se sentia como uma delas, protegida, acarinhada e amada; o capelão dessa mesma prisão que encheu os bolsos e a barriga à custa dos reclusos e das suas mulheres, ao organizar casamentos fictícios (muitas vezes entre filhas e pais, irmãos e irmãs) para que estes pudessem desfrutar de uma hora sem grades ou rede entre eles num quarto infestado de todo o género de bichos, sujíssimo, sem condições nenhumas e, ainda por cima, sempre na companhia de outros presos; a vida em Cuelgamuros aquando da construção do monumento de Valle de los Caídos, onde Silverio e milhares de outros presos republicanos trabalharam para assim poderem diminuir a sua pena - um dia de trabalho correspondia a uma diminuição de 5 dias de pena.
Para além deste enriquecedor e detalhado retrato social da capital madrilena dos anos quarenta e inícios dos anos cinquenta, Las tres bodas de Manolita é uma obra que nos apresenta personagens criadas como Almudena tão bem sabe, com muito cuidado nos pormenores e com uma riqueza e complexidade que continuam a surpreender-me e a empolgar! A maneira como também nos faz fazer parte das suas vidas e principalmente das suas relações (a descrição e  narração dos amores de Manolita e Silverio e de Antonio e Eladia são tão intensamente bem trabalhados que me fizeram suspirar, conter a respiração, sorrir, chorar, enfim, vivê-los como se fossem meus!) é algo que é único e deslumbrante no estilo desta magnífica autora espanhola.
Por fim, não posso deixar de referir que, tal como aconteceu en El lector de Julio Verne, também neste terceiro romance da série iniciada com Inés y la Alegría há breves referências a personagens e espaços de essas duas obras - na página 477, há uma alusão à taberna que Inés e outras mulheres republicanas geriam em Toulouse e na página 597 Antonio, depois de ter fugido da prisão é entregue a Pepe, el Portugués, que está acompanhado por Nino, personagens protagonistas de El lector de Julio Verne. Também é impossível deixar passar em branco que na obra "tropeçamos" em algumas referências ao clube de eleição da autora - o Atlético de Madrid J!

É óbvio que recomendo e MUITO a leitura desta e de qualquer obra de Almudena!!! E editoras portuguesas, de que estão à espera para continuar a traduzir a obra desta fantástica e importantíssima autora? Por favor, façam-no!

O parque de Mansfield, de Jane Austen

Sábado, 01 de setembro de 2012



Sinopse:
Com 12 anos, Fanny Price vai viver com os seus parentes ricos em Mansfield Park. Inteligente, estudiosa e uma escritora com uma imaginação irónica e valores éticos bastante seguros, aproxima-se bastante de Edmund, o único de entre os seus primos que partilha da sua paixão pelos livros. Fanny, que com a idade se tornou muito bonita e amável, depressa atrai as atenções de um vizinho, Henry Crawford. O tio de Fanny, Thomas, fomenta o relacionamento entre os jovens mas, para seu descontentamento, Fanny impõe a Henry que este prove ser digno do seu amor. Enquanto Edmund corteja a irmã de Henry, e a relação entre o dinheiro de Thomas e a escravatura do Novo Mundo se torna mais clara, Fanny tem de avaliar a índole de Henry e defender o seu coração e a sua orientação.

Opinião:
O Parque de Mansfield é considerado o romance menos amado de Jane Austen, talvez porque a protagonista não é de modo nenhum dotada de uma personalidade forte como, por exemplo, Lizzie de Orgulho e Preconceito. Fanny Price provém de uma família pobre e numerosa, não é dotada de uma grande beleza, é muito tímida e quase passa despercebida no meio de Sir Thomas e Lady Bertram.
Durante a longa temporada que passa em Mansfield Park apenas se aproxima do seu primo Edmund, por quem irá apaixonar-se e sofrer até que este, depois de praticamente passar toda a narrativa apaixonado por outra, se apercebe de que o que sente pela sua prima é mais do que um amor fraternal.

Apesar de Fanny Price nos ser apresentada com todas as características de uma anti-heroína, não pude deixar de sentir alguma empatia por ela, principalmente nos momentos em que a detestável tia Norris a rebaixa e a trata de uma forma quase desumana. Contudo, mesmo nesses momentos deu-me vontade de lhe dar uns abanões e fazê-la reagir, porque ninguém aguenta tanto sem ripostar!

Não posso também deixar de comentar o final da obra, no qual Fanny consegue, finalmente concretizar o seu sonho amoroso e acabar junto do homem que amava há anos. Obviamente que, para quem lê a obra, seria esse o final previsível, mas, como mulher que se rendeu indiscutivelmente aos encantos do orgulhoso Mr. Darcy, tenho que “criticar” a escolha da autora! Jane Austen, ao não “permitir” que Fanny desse a oportunidade que Henry Crawford, o seu pretendente mais fervoroso, merecia e, consequentemente, não se apaixonando por ele, não possibilitou que o mesmo fosse um exemplo do quanto as pessoas podem mudar com o poder do amor!...

Um mundo sem fim, de Ken Follett

Domingo, 26 de agosto de 2012



Sinopse
À semelhança de Os Pilares da Terra, Ken Follett volta ao registo do romance histórico, numa obra dividida em duas partes graças às quase mil páginas que a compõem. O autor sentiu-se bastante motivado a escrever este novo livro já que, desde Os Pilares da Terra, publicado em 1989, os leitores de todo o mundo clamavam insistentemente por uma sequela. Finalmente Follett inspirado e com coragem e determinação, sem esquecer uma enorme dedicação, lançou-se na escrita de Um Mundo Sem Fim, a continuação de Os Pilares da Terra, onde recorre a elementos comuns do primeiro livro e dá vida a descendentes de algumas personagens. Recuperando a mesma cidade Kingsbridge, o cenário é ambientado dois séculos mais tarde onde nos transporta até 1327. Aí iremos ao encontro de quatro crianças que presenciam a morte de dois homens por um cavaleiro. Três delas fogem com medo, ao passo que uma se mantém no local e ajuda o cavaleiro ferido a recompor-se e a esconder uma carta que contém informação secreta que não pode ser revelada enquanto ele for vivo. Estas crianças quando chegam à idade adulta viverão sempre na sombra daquelas mortes inexplicáveis que presenciaram naquele dia fatídico. Uma obra de fôlego com a marca assinalável e absolutamente incontornável de Ken Follett.

Tal como é referido na sinopse, este romance de Ken Follett recupera o espaço e descendentes de personagens fulcrais de Os Pilares da Terra, mas avança no tempo até plena Idade Média (século XIV). Contudo, os elementos comuns entre as duas sagas de estrondoso sucesso não ficam por aqui – o ritmo absorvente da narrativa, a vontade que sentimos de ler sofregamente página após página e as pinceladas de História medieval que obviamente me agradam: uma sociedade maioritariamente pouco instruída e controlada por uma instituição religiosa extremamente conservadora, os comerciantes que nos dão indício de uma classe burguesa que ganha cada vez mais poder e notoriedade, as crenças e costumes arreigados e, sobretudo, através de personagens como Caris e Merthin, as novas ideias, os novos conceitos e as novas formas de ver o mundo e o lugar que o homem e a mulher ocupam nele.

Senti particular carinho pelas personagens acima referidas, pelos inúmeros obstáculos que tiveram que ultrapassar para que o seu amor triunfasse e pelas suas personalidades fortes e determinadas, que os colocam num patamar acima dos restantes no que diz respeito à visão que têm do mundo e do que podem fazer para melhorá-lo.
Outra personagem que me cativou foi a de Gwenda. Apesar de ter nascido numa família pobre, de passar por inúmeras dificuldades, não desiste até que consegue juntar-se ao homem que ama e ganhar o seu sustento lavrando o seu pedaço de terra.


Um Mundo sem Fim é assim uma obra que recomendo, porque é cativante, de leitura fácil e que nos leva a travar conhecimento com personagens que nos mostram o melhor e o pior do ser humano. Para além disso, é um belíssimo retrato da Idade Média. Não posso, por fim, deixar de referir que uma boa parte da obra retrata o período da peste negra, como esta terrível enfermidade devastou a Europa e o papel preponderante que as freiras tiveram ao tentar (dentro dos seus conhecimentos) tratar dos infetados, mesmo que, muitas vezes, pusessem a sua própria vida em perigo.

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

Sábado, 28 de julho de 2012




RELEITURA

E a homenagem à obra de Jane Austen continua!... Assim, vou intercalando a leitura dos seus romances com outros que tenho pendentes na estante!

Sinopse: 
Orgulho e Preconceito é o romance mais conhecido de Jane Austen. Embora o universo que retrata seja circunscrito - a sociedade inglesa rural da época -, graças ao génio de Austen o seu apelo mantém-se intacto. É uma história de amor poderosa, entre Elizabeth Bennet, a filha de espírito vivo e independente de um pequeno proprietário rural, e Mr. Darcy, um aristocrata altivo da mais antiga linhagem. Mas é também uma deliciosa comédia social, à qual estão subjacentes temáticas mais profundas. A sua atmosfera é iluminada por uma jovialidade contagiante, por uma variedade de personagens e vozes que tornam o enredo vibrante e constantemente agitado pelo elemento surpresa, pela genialidade da inteligência e da ironia de Austen.

O romance que se seguiu a A Abadia de Northanger foi o aclamadíssimo Orgulho e Preconceito. Acabei de lê-lo hoje e, apesar de ser, pelo menos, a terceira vez que o leio, tenho que dizer que me voltei a deliciar com a história de amores e Lizzie Bennet e o fabuloso Mr. Darcy que me parece já faz suspirar metade (pelo menos) do universo feminino!...

A narrativa tem o seu início com uma breve apresentação da família Bennet, composta por Mr. e Mrs. Bennet e as suas 5 filhas. A sua vida sofre uma reviravolta com a chegada de Mr. Bingley (um aristocrata com uma considerável fortuna), que vem passar uma temporada na sua propriedade, na companhia de família e amigos. Será a oportunidade ideal para que, nos bailes que se avizinhem, Mrs. Bennet consiga o que tanto ambiciona – apresentar a sua bela filha mais velha, Jane, a Mr. Bingley e esperar que este se caia de amores pela beleza e outros atributos da sua filha e esta concretize o sonho da sua mãe e de muitas famílias monetariamente desfavorecidas como a sua – um casamento vantajoso!
Na comitiva de Mr. Bingley vem Mr. Darcy, por quem Lizzie, a segunda filha dos Bennet, cairá imediatamente “de desamores”, já que aquele se mostra frio, desagradável e com atitudes que espelham na perfeição o preconceito que sente para com os elementos da família Bennet.
Contudo, com o desenrolar da narrativa, iremos acompanhar a mudança de sentimentos deste último par e ver como tanto um como o outro lutarão contra essa mudança e com o orgulho que move as suas ações.

Jane Austen é primorosa em retratar a época em que viveu, a sua sociedade, os seus defeitos e virtudes e fá-lo de uma forma magistral, com humor e ironia que não passam despercebidos e que dão um toque algo caricatural mas realista do que moviam e urdiam as tramas e relações da sociedade inglesa do século XIX.


Com o livro relido, resta-me apenas recordar os meus anos de faculdade, durante os quais me lembro de ver a ótima série da BBC baseada neste romance e na qual o “delicioso” Mr. Darcy era interpretado pelo fabuloso Colin Firth! Como eu e as minhas colegas suspirávamos por ele – Ai que rico Mr. Darcy!!!

Vir ao mundo, de Margaret Mazzantini

Segunda-feira, 23 de julho de 2012




Sinopse
Gemma deixa para trás a sua vida e entra num avião com o filho de dezasseis anos, Pietro. Destino: Sarajevo, uma cidade entre o Ocidente e o Oriente, ainda cicatrizada pelas feridas de um passado recente. À sua espera no aeroporto está Gojko, um poeta bósnio, velho amigo, que durante os dias festivos das Olimpíadas de Inverno de 1984 apresentou Gemma ao amor da sua vida, Diego, um fotógrafo que captava cenas de beleza estonteante nos reflexos de poças de água. 
Este romance conta a história do seu amor, de dois jovens em tempos frenéticos e envelhecidos pela guerra. Uma história de amor tão apaixonada e imperfeita como apenas o amor verdadeiro pode ser, num ambiente contemporâneo e devastador do mundo em guerra e em paz.

Demorei quase um mês a ler Vir ao Mundo, não porque não tivesse tempo disponível, mas porque quis realmente saborear MUITO bem cada página deste livro tão comovedor, tão belo, tão triste, mas TÃO delicioso!!! Contive-me imenso (eu que possuo uma velocidade considerável de leitura) para poder conhecer o livro com calma, afagá-lo, cheirá-lo e, sobretudo, para apreciar com todo o meu ser a LINDÍSSIMA e TRÁGICA história de Gemma e Diego e conhecer um pouco melhor os pormenores que estiveram na origem da atroz Guerra que assolou e dividiu a Jugoslávia…
No meu ponto de vista, este segundo romance que leio da fabulosa, mas infelizmente pouco conhecida (pelo menos em Portugal) Mazzantini é, até ao momento, o melhor que li este ano e muito possivelmente um dos romances da minha vida! Contudo, sinto que não consigo encontrar as palavras necessárias e adequadas para expressar por escrito o quanto me impressionou e tocou este inesquecível livro! Para tal, deve contribuir, sem dúvida, os oito anos que a autora dedicou da sua vida a escrever Vir ao Mundo, uma obra que compreendemos ter sido escrita com muito detalhe, muita atenção, muita dedicação e onde há amor, paixão, aventura, retrato de uma época e de espaços e um verdadeiro amor à escrita! O livro está recheado de passagens que nos fazem parar a leitura, pensar no lido naquele momento, suspirar e inclusive deixar-nos com a respiração em suspenso!...

A narrativa tem o seu início com uma chamada telefónica, na qual é comunicado a Gemma que será inaugurada, em Sarajevo, uma exposição de fotos de Diego, o amor da sua vida e pai do seu filho. A partir daí desenrolar-se-á uma narrativa que nos remete para o presente, mas sobretudo para o passado, para o enfrentar dos fantasmas desse tempo e recordar a sua passagem por uma Sarajevo que ficará sempre presente na sua vida. A viagem que faz com o seu filho Pietro será também a oportunidade para que este conheça finalmente o local onde nasceu e talvez comece a dar valor à vida, ao que tem e deixe de a viver com a indiferença e despreocupação típica dos adolescentes. Será finalmente o momento ideal para que esta mãe se sinta ainda mais ligada a um filho que quis ter, a todo custo, do homem que mais amava na vida e que o conseguiu pagando um preço muito alto…


Por tudo o que foi dito e pelo muito que fica por dizer – a forma magistral como nos são, por exemplo, descritos os espaços nos quais se desenvolve a narrativa, a lenta agonia de Sarajevo e dos seus habitantes durante o sangrento e atroz conflito bélico e as personagens secundárias que pululam a trama – eu recomendo, ou melhor, eu rogo encarecidamente a todos que leiam esta obra de Mazzantini, porque seguramente que não se arrependerão!!!

A Abadia de Northanger, de Jane Austen

Domingo, 24 de junho de 2012




Há uns meses atrás, partilhei aqui indícios fortes de que estava na hora de prestar homenagem a Jane Austen. E essa merecida homenagem iniciou-se em fevereiro, com a releitura de Persuasão. Foi também por essa altura que o meu maridinho me presenteou com 4 livros desta autora inglesa! Ora, já não havia mais desculpas para não continuar com a homenagem…
Sendo assim, o livro que se seguiu foi A Abadia de Northanger, publicado após a morte da autora, apesar de ter sido o primeiro a ser terminado por ela. Escrito para ser uma sátira ao género gótico, best-sellers do período, a narrativa é recheada de ironia e tiradas sarcásticas tanto sobre a ingenuidade de sua personagem principal quanto a ganância das outras personalidades criadas por sua pena. Tendo em mente o fato de Jane Austen ser famosa pela criação de obras que prezavam por ordem, controle e moralidade, por obras densas como “Orgulho e Preconceito”, chega a ser surpreendente dar-nos conta do quanto sua imaginação – e sua pena – eram afiadas.

Sinopse:
A Abadia de Northanger é considerado um dos trabalhos mais ligeiros e divertidos de Jane Austen. De facto, para além dos ambientes aristocráticos da fina-flor inglesa do século XVIII, encontramos aqui uma certa dose de ironia, sátira e até comentário literário bem-humorado. Catherine Morland é porventura a mais estúpida das heroínas de Austen. A própria insistência no termo “heroína” ao longo da obra e a constatação recorrente do quão pouco este epíteto se adequa à personagem central fazem parte da carga irónica da história. E se Catherine é ingénua para lá do que seria aceitável, e o seu amado Henry a personificação de todas as virtudes masculinas mais do que seria saudável, a perfídia dos maus da fita - amigos falsos, interesseiros e fúteis – não lhes fica atrás no exagero. Tudo isto seria deveras irritante não fora o tom divertido com que Austen assume ao longo das duas partes que constituem este livro o quão inverosímeis são as suas personagens… Acrescente-se a paródia do romance gótico e do exagero em que induz as suas leitoras, e uma crítica inteligente aos críticos que acusam o romance de ser fútil e “coisa de mulheres”, e temos uma interessante historieta de amor, escrita com bastante graça e capaz de ultrapassar a moralidade caduca que nos habituámos a esperar da pena de Jane Austen.

Pessoalmente, tenho que confessar que, mesmo tendo a noção de que o principal objetivo deste romance da autora passava por uma boa paródia ao romance gótico e uma crítica aos críticos que classificavam o romance de ser fútil, esta obra talvez seja aquela que menos apreciei do espólio de Jane Austen… Mas não lhe retiro o mérito, pelo contrário! É apenas uma questão de gostos, nada mais

Claraboia, de José Saramago

Segunda-feira, 18 de junho de 2012




Sinopse
A ação do romance localiza-se em Lisboa em meados do século XX. Num prédio existente numa zona popular não identificada de Lisboa vivem seis famílias: um sapateiro com a respetiva mulher e um caixeiro-viajante casado com uma galega e o respetivo filho - nos dois apartamentos do rés do chão; um empregado da tipografia de um jornal e a respetiva mulher e uma "mulher por conta" no 1º andar; uma família de quatro mulheres (duas irmãs e as duas filhas de uma delas) e, em frente, no 2º andar, um empregado de escritório a mulher e a respetiva filha no início da idade adulta.
O romance começa com uma conversa matinal entre o sapateiro do rés do chão, Silvestre, e a mulher, Mariana, sobre se lhes seria conveniente e útil alugar um quarto que têm livre para daí obter algum rendimento. A conversa decorre, o dia vai nascendo, a vida no prédio recomeça e o romance avança revelando ao leitor as vidas daquelas seis famílias da pequena burguesia lisboeta: os seus dramas pessoais e familiares, a estreiteza das suas vidas, as suas frustrações e pequenas misérias, materiais e morais.
O quarto do sapateiro acaba alugado a Abel Nogueira, personagem para o qual Saramago transpõe o seu debate - debate que 30 anos depois viria a ser o tema central do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis - com Fernando Pessoa: Podemos manter-nos alheios ao mundo que nos rodeia? Não teremos o dever de intervir no mundo porque somos dele parte integrante?

Claraboia foi o primeiro e último livro póstumo (até ao momento) de Saramago e aquele que, segundo as suas palavras, “É uma história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser”.

Lendo as primeiras frases, o que nos salta logo à vista é a diferença de estilo no que diz respeito à escrita – a pontuação, ou melhor dizendo, a ausência de sinais gráficos que indicam a presença de diálogo, marca inconfundível do estilo saramaguiano, ainda não havia surgido, tal como não a havíamos encontrado em Terra do Pecado. Mas se analisarmos todos os outros elementos, realmente temos que concordar com as palavras do autor transcritas acimas – a descrição dos espaços, a caracterização das personagens (sobretudo o que nos dá a conhecer da sua alma, dos pensamentos que vão partilhando com o leitor, das suas mágoas, segredos, esperanças, enfim, sobre a sua vida) e um narrador totalmente omnisciente que nos conduz pela narrativa e nos vai partilhando o que sabemos (nós os que “devoramos” e veneramos as obras do nosso genial Nobel) ser o que vai ao encontro do modo de ser e ver a vida de Saramago.

Não posso dizer que Claraboia tenha sido a obra que mais gostei de ler do meu querido Saramago (tal como não foi Terra do Pecado), mas tem passagens com as quais me identifiquei totalmente e que passo a transcrever:
 ”Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nós deve ser orientada por essa esperança e por esse ideal. E que se há gente que não sente assim, é porque morreu antes de nascer”.

“Ter não é possuir. Pode ter-se aquilo que se não deseja. A posse é o ter e o desfrutar o que se tem.”

Como sempre, ler um romance de Saramago é uma experiência que deixa sempre marcas, que me faz, uma vez atrás da outra, sentir uma identificação única com aquele que, para mim, é o génio da nossa Literatura do século XX.

Saudades, meu Saramago!...