Divulgação de uma coletânea de contos - Desafios da Europa - que precisa do vosso apoio


A pedido da Márcia, companheira destas andanças “blogueiras”, dou-vos a conhecer uma coletânea de cinco contos (um dos quais escrito pela própria Márcia) selecionados pelo Prémio Literário e de Ilustração Eça de Queiroz. Segundo ela, para esta Coletânea ser uma realidade é vital divulgá-la e apoiá-la. A mesma está neste momento sujeita a um processo de crowfunding e se a correspondente campanha for bem-sucedida levará à publicação da obra!
O apoio é algo muito fácil e pode fazer-se com um montante a partir de 1 euro. Como a divulgação é igualmente essencial, deixo aqui o meu pequenino contributo com este texto e com a correspondente partilha em redes sociais.
Para estarem a par de todos os detalhes da campanha e de como podem apoiar e receber recompensas por esse apoio, deixo-vos o link da mesma:


Muita sorte, Márcia, e muitos, muitos parabéns! Tu bem os mereces!

Retrato de família, de Jojo Moyes


Ficha técnica
TítuloRetrato de família
Autora – Jojo Moyes
Editora – Porto Editora
Páginas – 416
Datas de leitura – de 14 a 19 de abril de 2017


Opinião
Este romance foi mais um inquilino temporário que passou uns dias cá em casa vindo da biblioteca municipal da terrinha. Trouxe-o comigo porque, como sabem, sinto de vez em quando necessidade de leituras mais leves, daquelas que não exigem níveis muito altos de concentração e entrega. A outra razão pela qual o escolhi prendeu-se ao facto de não ter ficado completamente indiferente ao frenesim que a obra Viver depois de ti e a sua sequela provocaram nos tops de vendas dos últimos tempos.
Sendo assim, movida por essas duas razões, decidi conhecer o mundo de Jojo Moyes entrando nele através da sua obra de estreia. Retrato de família conta-nos a história de três gerações de mulheres da mesma família e a sua narrativa vai saltitando no tempo e no espaço. Nas suas páginas iniciais transporta-nos até Hong Kong por altura da coroação da rainha Elizabete II e à medida que nos adentramos na trama iremos passar temporadas em Londres e na parte rural da Irlanda, onde vivem no momento presente as referidas protagonistas.
Joy é a matriarca da família. É mãe de Kate e avó de Sabine. As três aparentemente apenas têm o sangue como elo de ligação, já que não poderiam ser donas de personalidades e gostos mais antagónicos. Contudo, a decisão de Kate de enviar a filha para passar uns tempos com a avó (à qual já não visita há muitos anos) irá proporcionar-nos a oportunidade de conhecê-las melhor e entender o que está por detrás dessas supostas diferenças de carácter e por que razão existe tanta mágoa e frieza entre os vários elementos da família.
Se compararem as datas de leitura da obra anterior com as referentes a esta, vão constatar que tardei bem menos a ler Retrato de família do que a deliciosa Vida no campo, de Joel Neto. Essa diferença é a prova de que consegui o que almejava, ou seja, ler uma obra levezinha, de fácil virar de página e assim intervalar a mesma com leituras mais densas, mas, caramba, sobejamente mais suculentas e avassaladoras.
Reitero que o romance de estreia de Jojo Moyes deixa-nos um sabor docinho na boca, mas daqueles que se esvanecem logo após o seu desenlace. As suas protagonistas são mulheres interessantes, possuidoras de carisma e não é difícil criarmos laços com as três. Mas considero que a autora poderia ter explorado mais aquela que nos acompanha desde as primeiras palavras da narrativa. Joy tem potencial para protagonizar “a solo” as 416 páginas da obra, mas tudo o mais que se desenrola à sua volta, sobretudo no momento presente e que é muitas vezes supérfluo, faz com que nos desapeguemos da mulher que viveu em Hong Kong, que seguiu o marido, oficial da Marinha, pelos vários cantos do mundo e que estabeleceu com ele o seu lar definitivo numa aldeia da Irlanda, criando e amando cavalos. Uma mulher destemida, arisca, temperamental, mas sobretudo amante dos seus, embora nem sempre o consiga demonstrar de forma clara.
Poderia ainda referir um ou outro pormenor que me deixou algo incómoda, mas assim estaria a ser demasiado injusta com uma obra e uma autora que me deram aquilo que procurava – uma leitura tranquila e rápida, com quase tudo bem mastigadinho. Por essa razão prefiro não me alongar mais, porque conhecendo-me como me conheço, nada de muito lisonjeiro sairia dessas palavras. Gostei de conhecer “as letras” de Jojo Moyes, não desdenho a possibilidade de voltar a “prová-lo”, mas para já regresso com avidez àquelas leituras que me deixam exaurida, mas saciada e feliz.

NOTA – 07/10

Sinopse
1953, Isabel II é coroada. A comunidade inglesa em Hong Kong reúne-se para celebrar o acontecimento. Para Joy, trata-se apenas de mais uma reunião enfadonha, idêntica a tantas outras. Mas a sua vida transformar-se-á nessa mesma noite ao conhecer o jovem oficial da Marinha Edward Ballantyne. A impulsiva proposta de casamento após um breve encontro parece ser a resposta a todos os desejos de Joy.
Mais de quarenta anos volvidos, Joy e Edward vivem na Irlanda e a sua relação com Kate, a filha, e Sabine, a neta de dezasseis anos, é distante e fria. Em Londres, Kate tenta resolver mais uma das suas inúmeras crises amorosas e, numa tentativa de proteger Sabine, decide que ela vá passar umas férias com os avós.
Para surpresa geral, Sabine parece adaptar-se bem à vida no campo e ao difícil temperamento da avó. Até que o súbito agravamento do estado de saúde de Edward obriga Kate a um inesperado regresso à casa de família, reabrindo as velhas feridas que a separam de Joy. Que segredos afastam mãe e filha? Poderá Sabine unir duas gerações tão diferentes, ou cairá também ela no silêncio que as separa? 

A vida no campo, de Joel Neto


Ficha técnica
TítuloA vida no campo
Autor – Joel Neto
Editora – Marcador
Páginas – 228
Datas de leitura – de 06 a 14 de abril de 2017


Opinião
Nesta época pascal, na qual a primavera que rebentou em força nos faz olhar com encanto e confiança para os dias que aí se avizinham, tive o privilégio de viajar (fisicamente) até a outra ponta desta península “à beira-mar plantada” e de, através das belíssimas e serenas palavras de Joel Neto, atravessar o Atlântico e penetrar nas portas da sua casa em Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, ilha Terceira, Açores.
Nunca estive no arquipélago açoriano. Até hoje, apenas pude sentir-lhe o sabor a partir da partilha de relatos de amigos e familiares, de imagens e fotos, do anticiclone homónimo e ultimamente dos escritos de Joel Neto, um autor que me arrebatou com a obra Arquipélago. Contudo, apesar de o contacto com essas nove ilhas mágicas nunca ter passado disso, sinto uma vontade imensa em aterrar numa das ilhas, calcorrear a sua paisagem, fixar o olhar naquela imensidão de mar, absorver o seu verde até à náusea e inclusive experimentar a sensação de claustrofobia que me aprisiona sempre que estou num pedacinho de terra rodeado de água.
Como monetariamente ainda não me pude dar ao luxo de desfrutar de uns dias nos Açores, vou tentando colmatar essa falha nas minhas escapadelas geográficas com escapadelas literárias. Sendo assim, tento escolher os “guias” mais conhecedores e que, através de uma linguagem simples e serena, me oriente e dê autonomia para que o deslumbramento seja intenso e pleno, tal como o é tudo o que se relaciona com umas ilhas onde a palavra “paraíso” continua a fazer completo sentido.
Joel Neto entrou na minha vida com o seu Arquipélago. E deixou marca. Uma marca indelével e que exige o que qualquer obra sublime exige – busca companhia, busca outras narrativas do mesmo autor que deixem o leitor em estado de êxtase. De novo.
Sabia de antemão que A vida no campo não era uma narrativa ficcionada. Sabia que se assemelhava a um diário que nos possibilitava seguir as pisadas de Joel Neto durante um ano, durante as quatro estações em que a obra está dividida. Mas estava confiante de que voltaria a deliciar-me não só com o estilo singelo do autor como com uma continuação de uma ode à infância, às gentes que povoaram não só esta etapa como a mais adulta e à simplicidade e magia do verde e do azul das paisagens açorianas.
Não estava enganada. Joel Neto apropria-se de tudo – sobretudo o mais corriqueiro e quotidiano – para partilhá-lo connosco. O seu dia-a-dia no lugar de Dois Caminhos e os passeios que vai fazendo por outras bandas da sua ilha, as suas fugidas para Lisboa, a gente que traz um colorido especial à sua rotina, os costumes, tradições, linguagens e nomes estapafúrdios que abundam pela ilha da Terceira e vizinhas, tudo isto escrito num estilo muito simples, prosaico, mas repleto de humor, alguma ironia e com muita matéria para reflexão.
Foi, como é fácil de adivinhar, uma leitura muito produtiva, que me abriu de novo as portas para entrar no arquipélago açoriano, mas que me deixou, por um lado, imensamente agradecida a Joel Neto e desejosa de ler mais dos seus escritos e, por outro, com um travinho de frustração, já que pude, a partir das suas palavras, viajar do continente até à Terceira, mas não estive verdadeiramente lá e sei que, se já lá estivesse estado, sentiria como mais minhas as paisagens, as gentes, as alterações climatéricas, as tradições, as comidas, enfim a alma açoriana. É só por esta razão que não lhe atribuo a nota máxima. Apenas por isso.
Termino com alguns dos muitos fragmentos que fui sublinhando:

Àquele silêncio nunca mais o encontrei. Acho que é sobre ele que escrevo todos os dias.”
Mas não tenho uma insónia há quase dois anos e meio.”
No alarm and no surprises cantam os Radiohead. Tenho o disco no porta-luvas desde o primeiro dia – quase todas as semanas o ponho no leitor.” (Muito bom gosto musical, Joel)
As mentiras em que as pessoas sustentam a sua felicidade são tão válidas como as verdades.”

NOTA – 09/10

Sinopse

Um homem e uma mulher. Um jardim e uma horta. Dois cães. Ao fim de vinte anos na grande cidade, Joel Neto instalou-se no pequeno lugar de Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, ilha Terceira. Rodeado de uma paisagem estonteante, das memórias da infância e de uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica, descobriu que, afinal, a vida pode mesmo ser mais serena, mais barata e mais livre. E, se calhar, mais inteligente.

As horas distantes, de Kate Morton


Ficha técnica
TítuloAs horas distantes
Autora – Kate Morton
Editora – Porto Editora
Páginas – 528
Datas de leitura – de 22 de março a 06 de abril de 2017


Opinião

Paredes antigas que entoam as horas distantes.” (pág. 63)

Bastaram três livros para que Kate Morton se tornasse numa das minhas autoras preferidas. Melhor dizendo, bastaram dois, pois este que acabei de ler há uns dias serviu apenas de confirmação.
Já o afirmei e repito-o – não considero esta autora australiana um “monstro” da literatura. Não o é, mas também não necessita sê-lo, pois tudo o que escreve, as histórias que engendra, as personagens que concebe, os inúmeros saltos temporais que apimentam a narrativa, os cenários onde esta se desenrola, tudo é sinónimo de prazeres perfeitos e de leituras que nos enchem, que extravasam para além das páginas das correspondentes obras e se enroscam em nós indefinidamente.
Depois de ter lido e devorado O Jardim dos segredos e O segredo da Casa de Riverton, admito que tinha expectativas elevadíssimas, mas estava certa de que esta narrativa que me levaria de novo para terras misteriosas da Inglaterra não as defraudaria. Bem pelo contrário. Iria preencher-me os dias com minutos de leitura que passariam como se segundos fossem, iria desligar-me de tudo o que se passasse à minha volta e iria provocar-me a conhecida sensação agridoce que sempre se me produz quando tenho entre mãos uma história que quero devorar e ao mesmo tempo saborear pedacinho a pedacinho, para apoderar-me de todo o seu sabor.
Tal como acontece com as suas antecessoras, esta narrativa pula constantemente entre o presente – 1992 – e o passado – década de 1940, sobretudo. O elo de ligação entre estes dois tempos é uma carta que chega ao seu destinatário cinquenta anos depois e que desencadeia consequências imediatas em quem a abre e estranheza, suspeita e uma vontade incontrolável de querer saber mais em quem presencia o estado de choque do destinatário e obviamente no leitor.
Edie é uma jovem cuja vida se encontra posicionada numa encruzilhada. Recém-saída de uma relação, funcionária de uma editora sem perspetivas de futuro e filha única de um casal de classe média, a nossa protagonista testemunha o quanto a chegada de uma carta escrita há cinquenta anos perturba a sua mãe e sente-se obrigada a tentar perceber o que continha essa carta e quem são na verdade as irmãs Blythe, com quem a mãe passou uma temporada nos anos 40, época na qual muitas famílias londrinas enviaram as suas crianças para casas de famílias rurais para assim tentarem salvá-las dos bombardeamentos alemães.
Está assim lançado o ponto de partida para uma leitura repleta de mistério, de personagens que nos vão cativando e de toda uma panóplia de motivos suculentos que fazem o leitor querer ler mais um parágrafo, mais uma página, mais um capítulo, mais uma das cinco partes que compõem a obra. Para além de saltarmos no tempo, vamos viajando entre Londres e Milderhurst, onde se encontra o castelo homónimo e residência das irmãs Blythe, e vamos também alternando de narrador, pois sempre que voltamos ao presente, Edie assume esse papel enquanto nos múltiplos recuos ao passado, o narrador é heterodiegético. Vamos ainda travando conhecimento com um leque de personagens muito interessantes, algumas das quais habitam as duas épocas. É o caso obviamente das três irmãs Blythe e da mãe de Edie (apenas para nomear aquelas que têm um papel mais preponderante na trama).
Quem está familiarizado com a obra literária de Kate Morton, sabe que a autora preza o universo feminino e que são as mulheres, tenham a idade que tenham, que movem a narrativa, que lhe dão, para além de movimento, cor, intensidade, emoção, vida. Em As horas distantes, temos o privilégio de conviver com cinco mulheres determinadas, umas mais pragmáticas, outras mais sensíveis, mais emotivas, mas todas elas dotadas de um poder e de um magnetismo que não nos deixam indiferentes. Nem poderia ser de outra forma.
Outra razão que me impele a corroer-me de uma vontade irrefreável em devorar tudo o que esta autora australiana escreve são os cenários nos quais as personagens deambulam em busca de respostas a variados mistérios. Se nas obras anteriores tinha ficado atrapada pelos encantos e segredos de uma casa senhorial e de um jardim, desta vez não consegui resistir às paredes antigas e conhecedoras de um castelo, que entoam, se nos detivermos a escutá-las, horas e histórias distantes. O castelo de Milderhurst, com o seu aspeto imponente, majestoso e que resiste com a dignidade possível à implacável passagem do tempo provoca, em quem o visita, emoções e sensações antagónicas. Quando Edie se aproxima das suas paredes pela primeira vez, entendemos, como se fôssemos nós mesmos a aproximar-nos, que os calafrios de medo e angústia que a povoam lutam em pé de igualdade com uma atração irresistível que guia os seus passos e a levam a querer e a não querer ali estar, a querer e a não querer visitar mais uma dependência degradada, a querer e não querer percorrer espaços que há cinquenta anos atrás tanto seduziram a sua mãe.
Como se tudo isto não bastasse, a autora ainda apimenta a narrativa com múltiplos segredos que vamos desvendando até às derradeiras páginas e revelando na altura certa as múltiplas camadas que moldam o carácter e a vida cada uma das suas fascinantes personagens. Abri os braços e deixei que cada uma das irmãs Blythe – Percy, Saffy e a deliciosa Juniper – e Edie e a sua mãe se acocorassem no meu colo, porque todas, sem exceção são arrebatadoras e merecedoras de um lugar de destaque no leque de personagens inesquecíveis.
As horas distantes proporcionaram, como não é difícil de adivinhar, uma leitura soberba, da que não vou “desprender” tão cedo e que me faz repetir aqui aquilo que disse ao maridinho mal a terminei – “Das cinco obras que Kate Morton já publicou, eu já li três, isto é, já li mais do que as que me faltam… Oxalá ela nos brinde com uma obra nova muito em breve para equilibrar a balança – três lidas, três não lidas…
Para finalizar, reitero um desejo que já formulei aquando da leitura das outras obras – quem ainda não leu Kate Morton deve fazê-lo o quanto antes, porque está a perder experiências de leitura com um sabor único! Recomendo vivamente Kate Morton, rogo encarecidamente para que leiam todas as suas obras!

NOTA – 10/10


Sinopse
Tudo começa quando uma carta, perdida há mais de meio século, chega finalmente ao seu destino...
Evacuada de Londres, no início da II Guerra Mundial, a jovem Meredith Burchill é acolhida pela família Blythe no majestoso Castelo de Milderhurst. Aí, descobre o prazer dos livros e da fantasia, mas também os seus perigos.
Cinquenta anos depois, Edie procura decifrar os enigmas que envolvem a juventude da sua mãe e a sua relação com as excêntricas irmãs Blythe, que permaneceram no castelo desde então. Há muito isoladas do mundo, elas sofrem as consequências de terríveis acontecimentos que modificaram os seus destinos para sempre.

No interior do decadente castelo, Edie começa a deslindar o passado de Meredith. Mas há outros segredos escondidos nas paredes do edifício. A verdade do que realmente aconteceu nas horas distantes do Castelo de Milderhurst irá por fim ser revelada...

Balanço mensal - livros lidos e oferecidos/recebidos em março


No mês que terminou há já uns dias, li seis livros. Intervalei de novo leituras de adultos com leituras dos mais novos. Voltei também às leituras em espanhol, apesar da autora ser italiana (as editoras portuguesas – e consequentemente o seu público-alvo – continuam a não ter noção do quanto Margaret Mazzantini é uma escritora brilhante).
Março foi, para além disso, um mês de estreias. Fiz pela primeira vez uma leitura em conjunto com as “donas” de dois blogues que sigo religiosamente. E finalmente, depois de alguma frustração e muita procura, atribuí nota máxima a uma leitura de adultos e a uma leitura infantil, o que me deixou nas nuvens e com aquele sorrisinho de muita satisfação nos lábios.
Arranquei o mês lendo a segunda obra que me emprestaram os filhotes de uma colega de escola. J’ai peur de savoir lire é uma delícia para miúdos e graúdos e, apesar de exigir muito dos meus limitados conhecimentos de francês, conquistou-me desde as primeiras palavras e saboreei, por um lado, cada passo que deu a mãe para que Stéphane ganhasse um amor incondicional pelos livros e, por outro, as teias de encantamento em que o filho se foi enredando e que o leva a ser mais um sedento de histórias escritas.
Admito que desconfiava que seria a minha Mazzantini que me proporcionaria o fim da busca pela leitura perfeita, por aquela à qual atribuiria a nota máxima. E, como era de prever, não estava enganada, pois Esplendor esteve à altura das mais elevadas expectativas e mexeu com todas as minhas fibras. Aliás, senti-me órfã quando terminei de o ler. Como sempre me sinto quando uma história lambe os laivos da perfeição.
Qualquer obra que se segue a uma que nos tenha oferecido perfeição e saciedade está condenada a sofrer por comparação… Contudo, não posso afirmar que tenha sido essa a razão pela qual não concedi uma nota mais alta à obra Uma praça em Antuérpia. Esplendor exigiu muito de mim, deixou as minhas emoções extenuadas e, por isso, decidi que a obra que se lhe seguiria teria que ser mais leve, menos profunda, menos densa. Acompanhei com gosto a história das duas irmãs gémeas, agradeci a oportunidade que me deram de regressar aos palcos da Segunda Grande Guerra e de recordar umas férias inesquecíveis em terras belgas, mas considero que o leitor (e por que não a obra) mereciam outro final, onde o ciúme e a dor de ser rejeitado não tomassem proporções tão rebuscadas…
O coração e a garrafa é outra obra infantil que transborda de dores infantis e que faz com que o nosso coração se condoa e mirre perante a reação de gentinha de palmo e meio quando tem de conviver com o sofrimento. É mais uma prova do quanto quem escreve para os mais pequenos se tem de armar de “arte e engenho” para, num punhado de páginas, contar uma história que agarre um público inocente mas muito exigente.
Uma leitura conjunta entre mim, a Isaura e a Márcia já estava pensada há algum tempo, mas só se concretizou este mês. E valeu muito a espera, não só pela obra que escolhemos para fazê-la como pela partilha de fragmentos, citações e modos de ver personagens, partes da obra e o estilo do autor. A breve e assombrosa vida de Oscar Wao não me cativou nas páginas iniciais, mas como sigo religiosamente as sugestões da Márcia, sabia que, avançando na sua leitura, iria enredar-me na história turbulenta do Oscar e da sua família e que o estilo oralizante e cru do autor não me iria defraudar. E assim foi. A história transfigurou-se, o protagonismo passou a não ser exclusivamente de Oscar e deliciei-me com a sua “coitadice”, as peripécias explosivas por que passaram os seus familiares e encantei-me com tudo aquilo que transborda da obra e nos faz entender um pouco melhor a República Dominicana, o seu povo e, por que não, os latino-americanos.
Encerrei o mês com O menino que não gostava de ler. Trouxe a obra da biblioteca quando ainda estava sob a influência de J’ai peur de savoir lire, talvez em busca de prazeres semelhantes àqueles que havia sentido no início do mês com a obra francesa. Infelizmente os prazeres não se repetiram, pois o que antes havia estimulado empatia e acenos de concordância, deu lugar a sobrolho franzido, a acenos de discordância e a reações de alguma repulsa. Perda de tempo…
No que diz respeito a habitantes novos na estante, tenho, em primeiro lugar, que dizer que fui uma boa menina, que me portei muito bem e que não comprei nenhum livrinho para mim! A terapia está, pelos vistos, a resultar, ou seja, basta olhar para a estante dos não-lidos que tem vindo a desengordar muito lentamente e lá me vejo obrigada a refrear a vontade de acrescentar-lhe mais uns quilinhos 😄
Contudo, como março é mês do dia do pai e de aniversário do filhote, vi-me forçada a comprar um livrinho para o maridinho e dois para o mais pequeno. Ao papá oferecemos-lhe O contador de histórias duma autora de quem ele gosta muito – Jodi Picoult – e cuja narrativa o levará de volta ao conflito de 39-45. Ao filhote, engordámos-lhe a coleção Os heróis do Futebol com os volumes cinco e seis. Além disso, a família e amigos do D. contribuíram e somaram a estes dois outros cinco de outras coleções!
Março foi assim um belo mês de leituras e só quero que este que já começou lhe siga as pisadas!
Por fim, deixo-vos, como é habitual, os links para acederem à opinião completa das obras lidas este mês:
§  J’ai peur de savoir lire, de Olivier de Solminihac
§  Esplendor, de Margaret Mazzantini
§  Uma praça em Antuérpia, de Luize Valente
§  O coração e a garrafa, de Oliver Jeffers
§  O menino que não gostava de ler, de Susanna Tamaro

O menino que não gostava de ler, de Susanna Tamaro


Ficha técnica
TítuloO menino que não gostava de ler
Autora – Susanna Tamaro
Editora – Editorial Presença
Páginas – 40
Datas de leitura – 22 de março de 2017


Opinião
Não lia Susanna Tamaro há muito, muito tempo. Tenho em casa dois livros seus, um dos quais a sua obra mais conhecida – Vai onde te leva o coração. Não me considero uma admiradora acérrima desta autora, mas decidi ler O menino que não gostava de ler instigada pela obra infantil que li há umas semanas atrás e que também abordava a pouca vontade que um menino tinha de pegar num livro e mergulhar na sua história.
Mais uma vez socorri-me da biblioteca municipal e trouxe esta obra no saco onde vieram outras duas que entretanto já li. Deixei-a para o fim e foi uma decisão que não sei dizer se foi a mais acertada, pois perante as outras que me preencheram quase por completo, O menino que não gostava de ler não cumpriu. A premissa era suculenta – uma criança ainda não maculada pela leitura, pelo sabor de livros e narrativas, resistindo a ser contagiada por histórias que lhe dariam a possibilidade de viajar sem sair do seu cantinho. Uma criança cujos pais são leitores compulsivos. Uma criança que vive numa casa onde se tropeça em livros espalhados por todos os cantos.
Contudo, a viagem pelas 40 páginas que compõem esta obra foi não só rápida como igualmente desenxabida e algo incomodativa… Se eu, tal como Leopoldo, tivesse uns pais que tomassem posições extremistas e tentassem a todo o custo ver-me com um livro nas mãos, só porque eles assim o fazem e assim o querem, também eu muito provavelmente resistiria à leitura com todas as minhas forças e fugiria dos livros como uma criança foge de fazer algo que a obrigam todas as santas horas do dia. Também eu me sentiria incompreendida e tentaria buscar compreensão noutro lado qualquer…
O final da obra e que nos faz descobrir mais uma razão para a aversão de Leopoldo à leitura também me defraudou… Levou a que reagisse com um bom franzir do sobrolho e me apetecesse exclamar – “Então é por isso?...” Bah… Uma autora tão conceituada como Susanna Tamaro poderia ter feito bem melhor. A justificação à aversão é demasiado prosaica para que mesmo o público-alvo da obra se sinta satisfeito.
Concluo dizendo que foi, como já devem ter compreendido, uma leitura pouco produtiva. É verdade que nem tudo é negativo na obra. A relação que nasce entre Leopoldo e o velho cego e a correspondente ligação forte entre os dois e as histórias e os livros são uma lufada de ar fresco e de alegria, mas foram “esmagadas” perante a sensação de frustração e alguma revolta que senti face ao que já expus. Sendo assim, não consigo recomendar-lhes que leiam esta obra…

NOTA – 05/10

Sinopse

No dia em que Leopoldo fez oito anos, os pais ofereceram-lhe dois livros, tal como acontecia em todos os aniversários desde que tinha nascido! Leopoldo sentiu-se tão triste e infeliz... não gostava mesmo nada de ler. Sempre que tentava fazê-lo, as letras começavam a misturar-se umas nas outras numa grande confusão de rabiscos pretos sem qualquer significado. Mas os pais não entendiam o seu problema e insistiam tanto para que ele lesse que um dia Leopoldo decide fugir de casa! É então que conhece alguém muito especial, um grande amigo, que descobre o que realmente se passa com ele e juntos começam a partilhar muitas e muitas páginas de aventuras, sonhos e fantasia...