A desumanização, de Valter Hugo Mãe

Domingo, 27 de abril de 2014




Opinião
Com o fim de semana a chegar ao fim, cheguei ao fim de A desumanização, a obra mais recente de Valter Hugo Mãe.
Tal como nos é dito na contracapa, este romance passa-se nos recônditos fiordes islandeses e chega-nos através da voz de uma menina de onze anos, que nos conta o que sobra da sua vida depois de perder a sua irmã gémea.
Se compararmos A desumanização com outras obras de Valter Hugo Mãe que já li, há diferenças e semelhanças evidentes. Neste romance, o autor põe de lado o “não uso” das maiúsculas no início das frases, uma característica do seu estilo (à Saramago, talvez…), mas volta a escrever uma história tristíssima, aflitiva, angustiante, desconcertante, que nos ataranta e desarma. As personagens que a habitam são estranhas, diferentes, esquisitas. Contudo, mexem connosco, tocam-nos, pois, por muito diferentes ou esquisitas que se apresentem, são um retrato de seres humanos, que sofrem como qualquer um de nós sofre e querem o que todos nós queremos – que o dia de amanhã seja melhor do que o de hoje e, acima de tudo, querem ser amadas e merecedoras de alguma esperança e de alguma felicidade.
Não considero A desumanização um livro tão imperdível como O filho de mil homens. Neste caso, não há realmente amor como o primeiro… Contudo, é uma achega muito significativa para quem já se apaixonou pelo estilo peculiar e característica deste autor emergente ou para quem queira entrar pela primeira vez no seu mundo.
Algumas passagens:
“Quem não sabe perdoar, só sabe coisas pequenas.” 
“As pessoas que não liam não tinham sentidos. Andavam como sem ver, sem ouvir, sem falar.” 
“Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas. A minha irmã dizia: são. Algumas pessoas são longe. Quando for grande quero ser longe.” 
“Queria proteger contra o esquecimento. A maior vulnerabilidade do humano, a contingência de não lembrar e de não ser lembrado.” 

NOTA – 08/10

Sinopse
«Mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.»

Passado nos recônditos fiordes islandeses, este romance é a voz de uma menina diferente que nos conta o que sobra depois de perder a irmã gémea. Um livro de profunda delicadeza em que a disciplina da tristeza não impede uma certa redenção e o permanente assombro da beleza.

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