Ambas as mãos sobre o corpo, de Maria Teresa Horta


Ficha técnica
Título – Ambas as mãos sobre o corpo
Autor – Maria Teresa Horta
Editora – D. Quixote
Páginas – 141
Datas de leitura – de 14 a 16 de junho de 2016


Opinião
Devia ter adivinhado. Devia ter adivinhado pela reação da Nancy quando se deu conta de que esta obra estava na minha wishlist e ma emprestou. Diplomata e querida como é, a minha Nancinha não foi capaz de dizer em palavras que a leitura deste romance iria ser uma deceção. Mas o que não foi capaz de dizer em palavras disse-o claramente através do olhar e de outros exemplos de linguagem não-verbal tão mais claros e significativos que muitas palavras.
Este foi o primeiro livro de ficção de Maria Teresa Horta, o primeiro romance de uma autora até aí consagrada pela poesia. E o contacto inicial que tive com as palavras que abrem este pequeno livro confirmam essa consagração poética, já que até ao final da leitura me senti mergulhada no mundo de uma poesia escrita em prosa.
Nunca fui uma admiradora acérrima da poesia. Sempre tendi para a prosa, porque é mais objetiva, mais clara, mais verosímil e porque possibilita ao escritor criar uma simbiose perfeita entre o melhor de dois mundos, entre um lado mais lírico, mais poético e outro povoado de tempos, espaços, personagens, narradores e enredos. Por estas razões, entusiasmei-me pela sinopse de Ambas as mãos sobre o corpo e embarquei na sua leitura com algumas expectativas.
Contudo, aquilo que a Nancy me tentou dizer confirmou-se e nunca me consegui encontrar nas 141 páginas da obra… Não há enredo definido, não sabemos quem o protagoniza verdadeiramente, se é apenas uma mulher, se são várias, se são as múltiplas facetas de apenas uma. A linguagem é belíssima, mas muito abstrata, de difícil decifração, ou seja, o espelho daquele género de poesia que não me conquista, que não entra em mim, que não me fala e que me deixa renitente perante a maior parte das antologias poéticas. Fui avançando na leitura como se estivesse a desbravar um caminho numa selva inexplorada, densa, sem aparentemente nenhuma brecha que me permitisse apreciar algo mais do que o ato de desbravamento em si. Resultado – uma viagem curtinha, mas custosa, temperada com pitadas de frustração e desilusão…
Não sei se voltarei a ler Maria Teresa Horta. Talvez não… Não enquanto durar, enquanto se mantiver o gostinho “algo amargo” do desapontamento e que me fez sentir incapaz de saborear a que foi considerada “uma das mais inquietantes obras da moderna literatura portuguesa”, mas que para mim falha por não me penetrar na alma…
Resta-me agradecer à Nancy por ma ter emprestado e dizer-lhe que agora compreendo tudo aquilo que me disse com o olhar, alguns trejeitos e silêncios mal disfarçados.

NOTA – 04/10

Sinopse

Primeiro livro de ficção de Maria Teresa Horta, publicado originalmente em 1970, "Ambas as Mãos Sobre o Corpo" veio revelar que o imenso talento da autora não se limitava à poesia. Conjunto de narrativas que, fundindo-se, se organizam num romance fragmentado, nele decorre o retrato moral e estático de «alguém» cuja existência larvar nunca se eleva ao nível do concreto ou nunca se individualiza no seio da existência arquetípica. Livro de momentos, de grandes pausas iniciáticas, de silêncios expressivos, cristalinamente fantástico porque dominado pela compreensão introspetiva e por um intimismo sagaz, circula da narração omnipresente até ao campo raso da corrente de consciência, e cerca-se ou adorna-se de sucessivas deambulações pelos domínios da autointerpretação, permitindo que o leitor se aperceba da solução de um estranho enigma: o da decifração do absurdo deste carácter poético e onírico, este nada, mulher ou sombra fantasmática de valores humanos que se ocultam em cada gesto, em cada segundo do decurso lentíssimo da vida.

2 comentários:

  1. Olá Ana!
    Não conhecia este livro nem a autora. É pena não teres gostado e o livro não ter correspondido à expectativa. Por vezes é assim. Mas venham mais e melhores leituras :)
    Beijinhos e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, Isa, foi uma desilusão, mas felizmente foi de imediato "apagada" pela leitura que se lhe seguiu :)
      Beijinhos e boas leituras!

      Eliminar