Los besos en el pan, de Almudena Grandes


Ficha técnica
Título – Los besos en el pan
Autor – Almudena Grandes
Editora – Tusquets Editores
Páginas – 327
Datas de leitura – de 14 a 19 de maio de 2016


Opinião
Não é o melhor livro de Almudena, mas, caramba, é mais um livro desta fabulosa autora e só isso fez com que me tenha embrenhado nele com a mesma alegre antecipação, com a mesma ânsia, com o mesmo êxtase e com a certeza de que, tal como os outros que já li dela, iria dar ainda mais sabor à minha vida e confirmar o porquê de a leitura e os livros ocuparem um lugar primordial na minha vida.
Somos transportados para um bairro do centro de Madrid. Um bairro como outro qualquer, com ruas largas e estreitas, com poucos monumentos, mas um bairro bonito porque está vivo, porque continua a resistir apesar de estar a afundar-se numa crise que assola não só este bairro, como a própria cidade, o próprio país, a própria península, o próprio continente. Aí, Almudena apresenta-nos aos seus habitantes que pertencem a famílias da classe média, a famílias remediadas e a famílias que, de um dia para o outro, se veem sem a casa que tanto suor, dor e horas infinitas de trabalho e de poupanças lhes arrancou do corpo. Todos, sem exceção, sentem tremer e rasgar-se o chão estável e sólido de anos de prosperidade e despreocupação – perdem os empregos que pareciam para a vida, constatam que os seus salários sofrem cortes, observam o bairro ser invadido por mão-de-obra barata e subserviente, verificam que restaurantes, cabeleireiros e outros serviços lutam não só para manter a clientela habitual como também para não despedir os empregados e reconhecem que até as crianças sofrem porque os seus pais, os seus avós desesperam porque não têm como enviá-las para a escola com o lanche que era habitual.
Los besos en el pan é assim uma obra que reflete a realidade, a realidade que afeta aos espanhóis como nos afeta a nós. E é também o reflexo do quanto somos ibéricos, do quanto nos une apesar da fronteira política que dita que Vilar Formoso nos pertence e Tui é de terras castelhanas. Somos dois povos que, no século passado, viveram debaixo de ditaduras castradoras, que se arrastaram durante décadas sem fim, mas que ensinaram aos nossos avós o quanto um pão é valiosíssimo, que mesmo que caia ao chão, não deve ser desperdiçado, já que, com um beijo, todas as impurezas que possam advir dessa queda milagrosamente desaparecem. Somos dois povos que, depois desse jugo ditatorial, se viram perante anos de prosperidade onde a palavra poupança deixou de fazer sentido. Somos dois povos cujas gerações mais recentes se sentem completamente atarantadas e desesperadas perante cortes de salário, perda de privilégios, benefícios e ignorantes face à perspetiva de poupar, de desprender-se da casa do campo, das escapadelas de fim de semana, do telemóvel de última geração ou do carro de topo de gama. Somos igualmente dois povos que felizmente continuam (não sei por quanto tempo…) a dar muito valor à família, aos conselhos dos mais velhos e à comunhão de afetos, ideais e ensinamentos que resulta dessa convivência.
Por tudo isto, pela magistral escrita de Almudena, que transborda de verdades e sobretudo de afetos, de conhecimento da alma e do coração humanos, embrenhei-me sem qualquer filtro, completamente “despida” na leitura desta obra. Los besos en el pan deixou-me rendida, tocou como só aquela que é, sem dúvida alguma, uma das minhas escritoras de eleição consegue fazê-lo. Obrigou-me a afagar as suas páginas ainda com mais mimo, a deliciar-me com a belíssima foto de capa (onde uma menina nos chama e nos provoca uma mistura de sentimentos) e acima de tudo a desejar com muitas forças reler Almudena, reler histórias suas, mais antigas e que conheço muito bem, mas que onde me quero perder e encontrar de novo!
Gracias, Almudena, por tudo o que escreves e por me desafiares com um “enxame” de personagens, pertencentes a diversos núcleos familiares e que se entrelaçam num bairro de Madrid. Personagens admiráveis, desde uma avó que monta a árvore de Natal em setembro para assim mimar e alegrar os seus que se sentem derrotados pela crise até uma cabeleireira que não hesita em pentear as suas rivais chinesas que trabalham na manicure em frente e cobram uma escandalosa insignificância pelo trabalho. Personagens humanas, que retratam o dia-a-dia de um bairro espanhol, mas que bem poderia ser português. Gracias de nuevo, por todo, querida Almudena.
Termino dizendo que escrevi esta opinião muito bem acompanhada por um excelentíssimo cantor e músico. Graças ao sistema de “puxar para trás”, pude hoje ver e ouvir o concerto de quase três horas com que o senhor Bruce Springsteen agraciou mais de 60000 pessoas que puderam ver ao vivo. Não sou a sua fã número um, longe disso, mas tenho que reconhecer que o que ele e a sua fiel banda fazem em palco é magistral, tal como o é aquilo que Almudena oferece aos seus leitores. Por isso, deixo aqui também o meu obrigada ao Boss e à ajuda musical que me deu para pôr em palavras o quanto gostei de ler novamente a minha Almudena! Como reconhecimento, aqui uma das minhas canções favoritas deste venerável senhor:


NOTA – 09/10 (apenas porque sou muito exigente com o que Almudena escreve)


Sinopse
Hay que ser muy valiente para pedir ayuda, pero hay que ser todavía más valiente para aceptarla. Los besos en el pan, una conmovedora novela sobre nuestro presente.

¿Qué puede llegar a ocurrirles a los vecinos de un barrio cualquiera en estos tiempos difíciles? ¿Cómo resisten, en pleno ojo del huracán, parejas y personas solas, padres e hijos, jóvenes y ancianos, los embates de una crisis que «amenazó con volverlo todo del revés y aún no lo ha conseguido»? Los besos en el pan cuenta, de manera sutil y conmovedora, cómo transcurre la vida de una familia que vuelve de vacaciones decidida a que su rutina no cambie, pero también la de un recién divorciado al que se oye sollozar tras un tabique, la de una abuela que pone el árbol de Navidad antes de tiempo para animar a los suyos, la de una mujer que decide reinventarse y volver al campo para vivir de las tierras que alimentaron a sus antepasados?En la peluquería, en el bar, en las oficinas o en el centro de salud, muchos vecinos, protagonistas de esta delicada novela coral, vivirán momentos agridulces de una solidaridad inesperada, de indignación y de rabia, pero también de ternura y tesón. Y aprenderán por qué sus abuelos les enseñaron, cuando eran niños, a besar el pan.

2 comentários:

  1. E pronto, mais um "post" sobre a grande Almudena, que aguça a vontade de a ler com caráter de urgência :) Gostei muito deste teu texto. Até ao próximo! ;)

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    1. :) Se quiseres empresto-te, Aninha! É realmente mais um exemplo do quanto esta mulher espanhola mexe com todas as minhas fibras "literárias" e me leva a textos inspiradores! Fico muito feliz por teres gostado!
      Até ao próximo texto então!

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