Respirar por la herida, de Víctor del Árbol


Ficha técnica
Título – Respirar por la herida
Autor – Víctor del Árbol
Editora – DeBolsillo
Páginas – 522
Datas de leitura – de 28 de julho a 09 de agosto de 2016

Opinião
Passei estes últimos treze dias submergida num poço literário de dor e vingança. Se porventura não estivesse de férias, num ambiente relaxado e adverso a preocupações, creio que essa imensidão negra de luto não encerrado, de vidas amarguradas e obsessões doentias me teriam afetado e ficado comigo. Mas felizmente (ou não) isso não ocorreu…
Víctor del Árbol é um autor espanhol que conquistou o seu lugar na literatura espanhol e internacional. Já publicou um bom punhado de obras e todas elas mereceram o reconhecimento de alguns bloguistas que vou seguindo religiosamente. Sendo assim, e porque esses mesmos bloguistas nunca me defraudaram, arrisquei na compra de uma das suas obras na última vez que passeei por terras espanholas.
Respirar por la herida é uma narrativa que está prenhada de perda e de dor. Ao lermos a correspondente sinopse, penetramos um pouquinho naquilo que, a meu ver, é uma história feita de muitas histórias, como se de um puzzle se tratasse. Eduardo perdeu a sua família há catorze anos num estúpido acidente de trânsito. Morreu a mulher que preenchia os seus dias, a mulher que o completava. Morreu também o fruto desse amor inquebrável. E Eduardo, apesar de continuar a respirar, fá-lo através de uma ferida que nunca sarou nem sarará, passem catorze, vinte, trinta ou mais anos. Nada na sua existência faz sentido, nada nem ninguém lhe dá alento para voltar a levantar-se da cama com vontade de viver. Vai sobrevivendo porque o seu corpo ainda não se rendeu. Contudo, essa rotina de sobrevivência sofre um abanão quando recebe uma proposta enigmática e absurda – Gloria Tagger pede-lhe que faça o retrato de Arthur Fernández, o homem que está preso porque foi o responsável pela morte de Ian, o seu único filho.
Esta é assim a premissa demoníaca e macabramente cativadora que prende qualquer leitor que busque uma narrativa original e que nos amarre desde a página um. Uma história que nos retrata a perda mais dolorosa de todas – a perda de quem está ao nosso lado, de quem traz luz e alegria aos nossos dias, de quem nos completa – a perda familiar e, pior ainda, a perda de um filho. Uma história que nos traz igualmente histórias de gente só, desamparada, sem raízes, que procura desenfreadamente um gesto de carinho, de amor, de cumplicidade. Uma história onde pululam homens e mulheres de várias classes sociais, de países distintos e que, movidos pelas suas feridas, pelas suas chagas, pelas suas obsessões, não olham a meios para atingir uns fins que poderão não presenteá-los com o encerramento que sabem já não ser possível, mas que se apresentam como o único escape, como aquilo que ainda os move, que ainda os faz permanecer.
Por tudo o que referi até agora, é óbvio que este romance encontra o seu fôlego numa trama dorida, complexa, repleta de urdiduras, como se uma boneca matrioska se tratasse. Todas as histórias, todas as peças, juntas, funcionam como um todo, já que se misturam, entrelaçam e permitem-nos ir absorvendo a riqueza e densidade do estilo do autor que, munido de uma linguagem simples, acessível e fluida, mostra-nos que o intricado, o emaranhado, o complexo consegue-se sem que para isso seja necessário recorrer a uma linguagem e estilo rebuscados e demasiado cuidados. Basta socorrer-se de “armas simples e eficazes” – personagens desenhadas ao pormenor, das quais somos como que sombras, que as acompanham e assim ficam a conhecer intimamente. De todas elas, o narrador nos faculta ações, sensações, pensamentos, sonhos e sentimentos. Do presente, do passado e inclusive do futuro. Com todas elas criamos laços – de simpatia, de empatia, de indiferença, de compaixão, de solidariedade, de antagonismo e do mais profundo desprezo.
Não fui capaz de odiar Eduardo. Não fui capaz de odiar Guzmán. Não fui capaz de odiar Ibrahim. Os três carregam nas costas assassinatos que cometeram no passado. Mas estão de tal forma bem concebidos pelo autor que compreendemos que atuam ou movidos por uma vingança cega ou por uma certa resignação face ao fardo que a vida os obrigou a carregar. E todos eles mostram que são ou foram capazes de gestos de humanidade, de ternura e que agora ou antes se enamoraram de alguém que lhes fez ver o lado belo e sereno da existência enquanto seres humanos.
No início desta opinião afirmei que felizmente (ou não) a carga dramática, violenta e até macabra que caracteriza esta obra não me vergou, não ficou comigo. Se por um lado isso é positivo, por outro não o é, pois é sinónimo de que o impacto que esta obra teve em mim não foi o expectável e que essa leveza que restou no final da leitura traduz alguma desilusão. Desilusão essa que é algo inesperada e que me “obriga” a não avaliar Respirar por la herida com uma nota muito alta… Contudo, o mesmo não significa que não darei outra oportunidade ao autor. Muito pelo contrário. Fica aqui a promessa.

NOTA – 07/10

Sinopse
Acaso sea el azar el que nos arrebata aquello que más amamos, pero puede que todo lo que nos ocurre no sea sino el resultado de nuestros propios actos. Estas son las preguntas que atormentan a Eduardo, un pintor para quien nada tiene sentido tras la muerte de su mujer y su hija en un accidente de coche. 
Una famosa violoncelista, Gloria Tagger, le dará una razón para seguir viviendo al contratarlo para pintar un cuadro: el retrato de Arthur, el autor de la muerte de su hijo. 

Aceptar ese reto desencadena una cascada de sentimientos que durante muchos años han permanecido ocultos. En Respirar por la herida, con una trama perfectamente urdida y una intensidad descarnada, el dolor y la culpa desbordan los límites de sus protagonistas, con una precisión y una psicología digna del maestro en que se ha convertido ya su autor, Víctor del Árbol (premio Le Prix du Polar Européen a la mejor novela negra europea por La tristeza del samurái, Editorial Alrevés, 2011). 

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