Um gato, um chapéu e um pedaço de cordel, de Joanne Harris


Ficha técnica
Título – Um gato, um chapéu e um pedaço de cordel
Autora – Joanne Harris
Editora – ASA Editores
Páginas – 336
Datas de leitura – de 27 a 31 de dezembro de 2016


Opinião
Sou fã assumida de Joanne Harris, mas até hoje não tinha saboreado o seu lado de contista. Lembro-me de há uns anos atrás ter agarrado entusiasmadíssima a sua mais recente obra – Danças e Contradanças havia sido lançada há dias – e tê-la pousado de imediato quando me dei conta de que era uma compilação de contos. Contudo, hoje em dia, após ter lido e me ter deliciado com obras deste género injustamente considerado menos interessante, não tenho qualquer pejo em admitir essa minha falha (que durante tanto tempo prejudicou os meus hábitos de leitura) e em apostar na compra de obras como esta que acabei de ler estava 2016 a dar os últimos suspiros.
Quem, como eu, é uma acérrima seguidora de Joanne Harris, sabe que as suas histórias estão povoadas de personagens pouco ortodoxas, enigmáticas, que vão abrindo frechas a um passado e muitas vezes a um presente tortuoso, mas que nos conquistam e nos absorvem de forma inequívoca. Recordo-me de Vianne, a protagonista da trilogia de Chocolate, de Framboise, de Cinco Quartos de Laranja, ou de Madeleine, de A Praia Roubada. São personagens pouco sociáveis, páridas, desconfiadas, habituadas a ser pouco amadas e olhadas com indiferença, medo ou despeito pelos outros. São personagens que facilmente consideraríamos como anti-heróis ou anti-heroínas. Mas são personagens que prefiro mil vezes a personagens boazinhas, gentis e amadas por todos e todas.
Em Um gato, um chapéu e um pedaço de cordel encontrei mais um punhado dessas personagens. Em cenários mais diversificados, que saltam do continente africano, passam pelo europeu e ainda viajam até ao americano. E em tempos que correm como os rápidos do conto inicial ou que se espreguiçam como um gato gordo a apanhar banhos de sol. Mas com o cunho pessoal de Joanne Harris, sem réstias de dúvidas.
Não encontrei o mesmo sabor em todos os contos, como é óbvio. Engoli, sem lhes encontrar o correspondente travo, os contos “O Jogo” ou “Dríade”; enterneci-me com “Bedford Falls não existe”, “Faça você mesmo” ou “Os espíritos de Natal presentes”; contorci-me de compaixão perante dores maternais em “Gostaria de voltar a estabelecer contacto?” e “Cookie”; apoiei e regozijei-me com a vivacidade e motivação de sentirem-se vivas de Faith e Hope, duas anciãs despejadas num lar de terceira idade e saboreei, como se de um chocolatinho se tratasse, a história de amor de “Fantasmas na Máquina”. Contudo, nenhum dos dezasseis contos me arrebatou. Não como o fizeram as obras que mencionei no início desta opinião e que já me levaram a reler duas delas.
Por tudo isto, por tudo o que referi, não posso dizer que me tenha arrependido de ter, em julho, adquirido esta obra. Também não posso dizer que tenha sido uma das melhores aquisições de 2016. Senti-me de novo embrenhada no mundo muito peculiar de Joanne Harris. Criei empatia com a maioria das personagens que habita esta compilação de contos. Mas queria mais. Não narrativas mais longas, mas sim narrativas, contos que me deixassem torcida, com vontade de morder-me de entusiasmo, com o meu íntimo quentinho e fervilhante de emoções contraditórias. Como fiquei com a história de Framboise, por exemplo. Pode ser que encontre tudo isso na última obra que a autora editou por cá e que ainda não habita a prateleira da estante onde já habitam onze dos seus livros. Pode ser que o ano que já está aí me reserve essa surpresa. Ou pelo menos que se inaugure com uma leitura mais preenchida do que esta…

NOTA – 07/10

Sinopse
"As histórias são como bonecas russas: abrem-se e em cada uma encontra-se uma nova.
As histórias neste livro são um pouco assim. Embora ao princípio não pareçam estar relacionadas, os leitores descobrirão que elas estão ligadas de várias maneiras, umas com as outras e também com os meus romances.
Para mim, as histórias são como mapas de mundos ainda por descobrir. Espero que estas vos levem a avançar um pouco mais por esse território inexplorado."
Joanne Harris

Crianças de vida difícil e coração vibrante, fantasmas domésticos, velhas senhoras em busca de aventura, uma paixão impossível sob os céus de Nova Iorque, a improvável magia de uma sanduíche, as extravagâncias a que a saudade obriga…
O universo romântico, místico e sempre especial de Joanne Harris está de volta em dezasseis histórias que são como bombons: deliciosas, tentadoras e irresistíveis. 

2 comentários:

  1. Olá querida Ana,
    Confesso que nunca li nenhum livro desta autora. Normalmente adoro as capas, mas nunca me deu vontade de pegar neles...até agora ;) Adicionaste uns quantos à minha listinha :)
    Beijinhos e boas leituras

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    Respostas
    1. Olá, Isa!
      Joanne Harris é uma das minhas autoras preferidas, sobretudo por causa dos livros que refiro na opinião e que espero que te agradem tanto como a mim!
      Beijinhos e leituras com muito sabor!
      Um excelente 2017 recheadinho de leituras saborosas!

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