Terça-feira, 03 de setembro de 2013
Sinopse
Uma
mulher cai do céu durante uma tempestade tropical. As únicas testemunhas do
acontecimento são Bartolomeu Falcato, escritor e cineasta, e a sua amante,
Kianda, cantora com uma carreira internacional de grande sucesso. Bartolomeu
esforça-se por desvendar o mistério enquanto ao seu redor tudo parece ruir.
Depressa compreende que ele será a próxima vítima. Um traficante de armas em
busca do poder total, um curandeiro ambicioso, um antigo terrorista das
Brigadas Vermelhas, um ex-sapador cego, que esconde a ausência de rosto atrás
de uma máscara do Rato Mickey, um jovem pintor autista, um anjo negro (ou a sua
sombra) e dezenas de outros personagens cruzam-se com Bartolomeu, entre um
crepúsculo e o seguinte, nas ruas de uma cidade em convulsão: Luanda, 2020.
Opinião
Este é o segundo livro que leio de Agualusa, depois
da estreia com Milagrário Pessoal e que me deixou rendida à
escrita deste escritor angolano. Contudo, tenho que confessar que Barroco
Tropical não teve o mesmo impacto que o seu antecessor… A trama é
interessante, narra as “tragédias” que assombram a vida de Bartolomeu Falcato,
escritor angolano que, em 2020, vive numa Luanda em convulsão e ainda muito afetada
pelo seu passado de capital de um país colonial.
A par de Bartolomeu, conhecemos um leque de
personagens como uma cantora angolana que se tornou o maior ícone da música
mundial, um sujeito que cobre o rosto destruído por uma mina com uma máscara de
Mickey, gémeos anões estilistas, um anjo negro, ou seja, personagens que são
mais uma evidência do estilo imaginativo e fantástico do autor, que os faz
povoar uma Luanda decadente e futurista, onde “convivem” prédios em ruína com
arranha-céus que parecem não terminar nunca, com um manicómio no qual se testam
técnicas para tratar os doentes mentais e com situações que realçam o quanto a
sociedade angolana do futuro (ou do presente?) sofre com a já referida pesada
herança colonial e com uma democracia que muito ainda tem que caminhar para provar
a si mesma e ao outros que consegue sustentar-se e que se consegue afastar de
um regime autoritário e corrupto.
É certo que África e obviamente os países que
compõem este continente nunca me fascinaram. Não consigo entender o quanto as
suas paisagens, os seus povos, as suas tradições, as suas religiões cativam
tantas pessoas, sejam elas portuguesas ou não… Não consigo mesmo. E talvez por
isso esta obra de Agualusa não me tenha tocado, não me tenha apaixonado por ela
como pensei que me apaixonaria… No entanto, continuo a defender que Agualusa é
um belo escritor, que o seu estilo é imaginativo, criativo e muito pessoal e
que valerá a pena conhecer mais obras suas. Exemplo dessa minha convicção foi o
prazer, o sorriso que me aflorou os lábios e aquele aceno de completo
entendimento que senti e se produziram em mim quando li esta passagem:
“Há quem confunda a alegria com a felicidade. A
alegria não se parece com a felicidade, a não ser na medida em que um mar
agitado se parece com um mar plácido. A água é a mesma, apenas isso. A alegria
resulta de um entorpecimento do espírito, a felicidade de uma iluminação
momentânea. O álcool pode levar-nos à alegria - ou um cigarro de liamba, ou um
novo amor - porque nos obscurece temporariamente a inteligência. A alegria
pode, pois, ser burra. A felicidade é outra coisa. Não ri às gargalhadas. Não
se anuncia com fogo de artifício. Não faz estremecer estádios. Raras são as
vezes em que nos apercebemos da felicidade no instante em que somos felizes.”
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