Mar de mañana, de Margaret Mazzantini

Terça-feira, 10 de fevereiro de 2015





RELEITURA

Sinopsis
Jamila tiene apenas veinte años y ya es viuda y madre. Su hijo Farid ha crecido rodeado del polvo rojo del desierto y nunca ha visto el mar. La guerra arrasa su país, Libia, y Jamila sueña con buscar refugio en Italia. Así, emprende con Farid un viaje en barcaza, prometiéndole que durará menos que una canción de cuna.
Desde la otra orilla, Angelina ve los navíos procedentes de Trípoli llegar a puerto. Hace cuarenta años emprendió el mismo viaje y ahora rememora la imagen del temible Gadafi, los amigos árabes que la recibieron y a Alí, su promesa de amor.
Los caminos de Angelina y Jamila nunca se cruzarán, pero ambas tejen distintas tramas de una misma historia.

Opinião
Li algures que Mazzantini vomita lirismo e não podia estar mais de acordo. Esta autora italiana é, sem dúvida alguma, uma das minhas favoritas e nunca consigo resistir a ler e a reler as suas obras. A prova do QUANTO eu sou viciada no que edita (e sou mesmo, mas mesmo viciada) é que já reli as três obras dela que moram na minha estante.
Li pela primeira vez Mar de mañana o ano passado (no início de março) e simplesmente não resisti a lê-lo outra vez, tão presa me sinto ao estilo de Mazzantini, ao quanto as suas histórias nos transmitem de lirismo, beleza, imagens densamente carregadas de sentimentos, sensações e da complexidade do que nos define como seres humanos.
Tal como nas suas outras obras (Vir ao mundo e Não te movas), a maternidade/paternidade é um dos temas principais. As protagonistas são duas mulheres, de idades distintas, que vivem nas margens opostas do Mar Mediterrâneo, mas que têm em comum o amor pelo seu filho único e por um país, uma pátria que lhes foi arrancada – Líbia – pelas atrocidades de uma guerra que não parece terminar e que tem como líder o ditador Kadafi. São duas mulheres de personalidade forte (como qualquer personagem feminina que habita as obras de Mazzantini), que conhecem bem de mais as adversidades da vida, mas que não vergam perante as mesmas. De maneira nenhuma.
Jamila é uma doçura de mãe-menina. Com apenas vinte anos, perde um dos homens da sua vida e tem que encontrar forças e ânimo para continuar a velar e a proteger o outro homem da sua vida – o pequeno Farid, que olha para a sua progenitora e vê nela muitas vezes uma irmã ou uma namorada, tal é a cumplicidade que os une e a curta diferença de idades que os separa.
Angelina aprendeu desde muito nova a não confiar na vida e nos outros, a depender de si mesma para sobreviver, pois a sua existência, desde que teve que deixar para trás a sua infância numa Trípoli que não tinha mais lugar para os italianos, não tem sido mais do que uma sobrevivência, um dia atrás do outro sempre lutando por um lugar num país que é apenas seu nos documentos de identificação.
Entre estas duas mulheres cujas vidas, tal como nos é dito na sinopse, nunca se cruzarão, encontra-se um mar que é visto ou como a única hipótese de salvação ou como um obstáculo intransponível entre uma época de felicidade, inocência, amor, vida e um presente estagnado, nublado e que não oferece perspetivas de futuro. Mas é também um mar que permite a Angelina e ao seu filho Vito um escape, horas e horas nadando contra as suas correntes, que culminam num esgotamento físico que conduz ao esquecimento, ao pôr de lado tudo o que os angustia.
As 129 páginas (tão pouquinhas L e com uma letra gordinha) desta obra oferecem-nos assim um retrato de vidas atormentadas e desfeitas, por um lado pelo poder aniquilador de uma guerra incompreensível (como todas, ao fim e ao cabo) e por outro o quanto uma existência feliz, serena pode ser arrasada por uma onda, que nos pode devolver à margem, à praia, ou que pode levar-nos consigo. De uma maneira ou de outra, nunca nada mais será igual. Se sobrevivermos, seremos apenas isso – sobreviventes. Aprenderemos a suportar o dia-a-dia mas, ao mesmo tempo, a esperar por algo, um momento, que nos faça parar de sentir estrangeiros dentro do nosso país. Dentro da nossa vida.
Não tenho muito mais para acrescentar. Apenas que tenho muita pena que as editoras portuguesas tenham deixado de publicar as obras desta magistral autora e que tenha que recorrer às editoras de “nuestros hermanos” para conseguir continuar a saborear os romances dela. Foi exatamente isso que fiz na última visita às livrarias de Vigo. Saí de lá com a minha gula saciada – um dos livros que “me compré” foi Nadie se salva solo, obviamente da autoria da minha querida Mazzantini!

Por último um apelo – se não conhecem esta autora, não hesitem em ler qualquer uma das suas obras – não se arrependerão!

NOTA – 9/10 (apenas porque é uma obra pequenina e porque queria mais…)

4 comentários:

  1. Esta autora foi-me muito recomendada (adivinha por quem ;) ). Entusiasmou-me tanto que trouxe o "Não te movas"/"Non ti muovere" de Itália. Pelo que escreves e sugeres, tenho a certeza de que foi uma boa aposta! bjs

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  2. Fico muito feliz, Ana Sofia!! Não te vais arrepender - a escrita desta autora arrebata-nos :)
    Bjs

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  3. Pelo teu comentário parece ser um livro muito interessante. Pena é que deixaram de publicar esta brilhante autora.

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    1. É mesmo uma leitura maravilhosa! E sim, é uma pena que as questões monetárias ditem o que é ou não publicado pelas nossas editoras :(

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