Estrela Errante, de J. M. G. Le Clézio


Ficha técnica
Título – Estrela errante
Autor – J. M. G. Le Clézio
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 290
Datas de leitura – de 24 a 29 de fevereiro de 2016


Opinião
Que delícia foi ler esta obra! Pode parecer contraditório afirmar isto, porque muito pouco em Estrela errante nos coloca um sorriso na cara, nos faz pensar cor-de-rosa ou ser otimista, mas tudo isso torna-se supérfluo quando esbarramos com palavras, parágrafos, capítulos tão bem delineados, tão bem escritos. Vezes sem conta dei comigo com o olhar preso em determinada passagem, presa ao poder das palavras, como que perdida entre a beleza e o deleite dum amontoado de letras, que combinadas pela mão genial do escritor, nos permitem tomar o lugar da personagem, enroscar no seu íntimo e ver os que os seus olhos veem, pensar o que o seu intelecto pensa, sentir o que seu coração sente, desfrutar o que os seus sentidos desfrutam. É esta a magia e a força da leitura J
Esther e Nejma são as protagonistas desta obra. São duas adolescentes marcadas por experiências terríveis. Uma é judia, conseguiu escapar às garras dos nazis, mas na fuga perdeu o pai, a inocência e a noção de casa, de pertencer a um lugar. A outra é palestiniana e também ela se vê obrigada a fugir da sua cidade, do mar e das ruas que sente como suas para não sucumbir, para não perder a vida. A errância e a casualidade fazem com que os passos de uma se cruzem com os passos da outra, que Esther e Nejma se olhem nos olhos, se toquem e troquem muito mais dos que os seus nomes, já que nunca mais se esquecerão desses breves momentos, desse diálogo mudo, dorido que recordarão em alturas fulcrais ou insignificantes das suas vidas.
 A força, a determinação, a coragem, o crescimento forçado por circunstâncias terríficas, a inocência que espreita em lugares desoladores e sobretudo a capacidade de olhar, de observar e de ainda desfrutar da magia da natureza fizeram com que me rendesse sem reservas às duas meninas-mulheres que erram, vagueiam ao longo das 290 brilhantes páginas da obra. Foi impossível não me identificar com as fugas de Esther, que tenta enganar a realidade de guerra e de terror, evadindo-se, indo ao encontro de refúgios, de locais mágicos, onde a água, os sons que produz, o choque térmico que lhe eriça a pele, o seu irrevogável curso alimentam os seus sonhos, a sua esperança. Foi ainda pungente e aflitivo acompanhar Nejma nos intermináveis dias de um campo de refugiados, no qual o calor abrasador, a falta de água potável, a perda de quase tudo o que nos define como humanos a impeliam a afastar-se de todos, a pôr o olhar no horizonte e a desafiar a morte.
Estrela errante é assim uma obra pouco ou nada indicada para quem não quer mergulhar na dor, no desespero, na desolação, naquilo que faz enroscar e querer desaparecer. Contudo, para quem busca – tal como eu – com desespero e agonia uma obra que nos toca, que nos faz crescer, que nos alimenta o vício de querer ler mais e mais, que nos leva a agradecer a existência da literatura, deve mergulhar no mundo deste autor francês, galardoado com o Nobel em 2008. A sua deliciosa escrita (pelo menos nesta obra, que é a única que li dele) é contemplativa, contida, carregada de lirismo, sensorial e alcançou aquilo que eu pretendo de uma leitura – fez-me viajar, arrebatou-me, extasiou-me, enlevou-me.
         É, por fim, uma obra que glorifica o feminino. É um hino às mulheres como um todo, como um ser único e especial que somos.
         Antes de terminar, tenho que agradecer à Verinha “Gastabromas” por me ter emprestado o livro. Gracias, Verinha, proporcionaste-me cinco dias de uma leitura “terriblemente exquisita” J J

         NOTA – 09/10 (não lhe dou a nota máxima, apenas porque queria mais de Nejma…)

         Sinopse
         Esther descobre o que pode significar ser judia em tempo de guerra: após uma adolescência serena, vai conhecer o medo, a humilhação, a fuga pelas montanhas e a morte do pai. 
Terminada a guerra, Esther parte para o jovem estado de Israel. Mas a Terra Prometida não lhe vai proporcionar a paz: à chegada terá um encontro com Nejma, que deixa o seu país com as colunas de palestinianos rumo aos campos de refugiados. 
 Esther e Nejma, a judia e a palestiniana, nunca mais deixarão de pensar uma na outra. 

 Estrela Errante é a descrição de uma viagem rumo à consciência de si mesmo.  Um romance onde Le Clézio glorifica as mulheres e denuncia o absurdo da guerra.

2 comentários:

  1. Olá Ana,
    Fiquei muito curiosa com este livro. Especialmente devido ao tema que tenho este mês no blog: Mulheres! Parece muito interessante. Mais um para a lista :)
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Isa, é um livro fantástico. Aborda a segunda guerra mundial, o conflito israelita - palestiniano, mas de uma forma muito instrospetiva. E as duas protagonistas são maaravilhosas, é impossível não nos apaixonarmos por elas!
      Para além disso, a escrita do autor é soberba!
      Toca a pô-lo na lista (como nós gostamos de listas "gordas" ;) )
      Beijinhos e boas leituras!
      PS - conta comigo para participar no tema do mês!

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