A morte do pai - A minha luta (volume 1), de Karl Ove Knausgard


Ficha técnica
Título – A morte do pai – A minha luta (volume 1)
Autor – Karl Ove Knausgard
Editora – Relógio D’Água
Páginas – 377
Datas de leitura – de 16 a 20 de abril de 2016

Opinião
Até meados do passado mês de dezembro, a polémica e consequente visibilidade deste autor norueguês não me tinham feito mossa. Contudo, a azáfama e estratégica “pressão” que livrarias e editoras levam a cabo nessa época pré-natalícia ditaram que eu tropeçasse em algumas opiniões e reportagens sobre o épico propósito que Karl Ove Knausgard quer concretizar – escrever a sua autobiografia em seis volumes com o título de A minha luta.
Confesso que não sou a maior adepta de autobiografias, mas as expressões “escreve sobre a vida com dolorosa honestidade”; “criou uma história universal de lutas, grandes e pequenas, que todos enfrentamos na vida” “um trabalho profundo e hipnotizante” conseguiram que desse realmente atenção a este projeto e comentasse em casa que não me importaria de “adentrar-me” na vida de Karl Ove.
Como o meu maridinho adora fazer-me surpresas e oferecer-me, por exemplo, algum livro que ainda não figure na minha wishlist oficial, presenteou-me no último Natal com o primeiro volume da saga. A ordem cronológica das minhas leituras determinou que só agora o lesse. Fi-lo em cinco dias, mas tenho que admitir que por detrás da rapidez de leitura esteve muita perseverança, encorajamento a mim mesma e constante procura de algo que modificasse aquele pressentimento, aquela sensação que desde o início me segredavam que as 377 páginas que tinha nas mãos não me iriam preencher nem arrebatar, que a descrição da vida com dolorosa honestidade não teriam o efeito pretendido…
Não me deixei abater por essas impressões iniciais. Prossegui com a leitura. Ultrapassei a primeira parte que se debruça ora sobre o presente ora sobre a infância e a adolescência do autor. Penetrei na segunda parte com a esperança de que a narrativa possuísse algo mais, algo que me cativasse. Admito que melhora, que acompanhar a fase mais adulta de Karl Ove nos recompensa de certa forma, mas, mesmo assim, a sensação de que estamos a avançar a duras custas numa leitura maçadora não desaparece totalmente… Sobretudo porque, apesar da qualidade narrativa, que se destaca nas viagens que o autor faz ao interior de si mesmo e ao seu passado, a narração é como que plana, preenchida com imensos detalhes corriqueiros, repetidos e que não mexeram comigo, não provocaram um turbilhão (nem pequenino nem grande) nas minhas emoções nem levaram a que sentisse empatia, solidariedade, desprezo ou asco pelo narrador/protagonista.
Não foi uma leitura em vão. Não. A qualidade da escrita, a profundidade e a honestidade crua que povoam a obra não o permitiriam. Mas também não posso dizer que o prometido no texto da sinopse seja cumprido. Pelo menos para mim, falha. Encontrei a prometida honestidade, profundidade, partilha de lutas grandes e pequenas que fazem de nós seres humanos. Mas encontrei tudo isto aliado a um ritmo lento e maçador, que me levou a prosseguir com a leitura porque sou teimosa, perseverante e sempre estou à espera de que uma narrativa que se prefigura algo dececionante se transforme e me surpreenda.
Concluo dizendo aquilo que se pode adivinhar – ponho sérias reticências na compra dos volumes seguintes… Se os encontrar na biblioteca municipal ou se alguém mos emprestar, talvez faça o esforço de continuar, mas se assim não for, tenho muitas dúvidas em dar mais uma oportunidade a Karl Ove…

NOTA – 06/10

Sinopse
Karl Ove Knausgård escreve sobre a vida com dolorosa honestidade. Escreve sobre a infância e os anos de adolescência, a paixão pelo rock, a relação com a sua afectuosa e algo distante mãe, e o seu pai, sempre imprevisível, cuja morte o desorientou. O álcool e a perda pairam como sombras sobre duas gerações da família.
Quando ele próprio se torna pai, Knausgård tem de encontrar um equilíbrio entre o amor pela família e a determinação em escrever. 

Knausgård criou uma história universal de lutas, grandes e pequenas, que todos enfrentamos na vida. Um trabalho profundo e hipnotizante, escrito como se a própria vida do autor estivesse em risco.
«A Morte do Pai» é o primeiro de seis romances que compõem a obra autobiográfica «A Minha Luta»
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6 comentários:

  1. Olá Ana,
    Eu gosto muito de biografias, mas confesso que me afastei desta série quando só ouvia falar nela. Normalmente afasto-me de livros muito falados, muito polémicos, pois tendem a ser mais do que aquilo que prometem. E só os leio se os encontro na biblioteca ou me emprestam.
    Estes estão nessa lista. Mas se um dia tiver oportunidade leio o primeiro volume.
    Gostei muito da tua opinião sincera.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Isa, concordo plenamente contigo. A polémica, o marketing muitas vezes despoletam interesses que, na prática, resultam em desilusão... Ocorrem-me à memória muitos títulos e este, apesar de não ter falhado por completo, porque está bem escrito e tem passagens interessantes, como as que descrevem a relação com o pai, o irmão ou os próprios filhos, arrasta-se por demasiadas páginas... E é apenas o primeiro volume!
      Sim, só continuarei a lê-los se isso significar não gastar dinheirinho!
      Beijinhos, boas leituras e bom dia mundial do livro!

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  2. Eu adorei, o primeiro volume conquistou-me totalmente e pretendo continuar a ler. Identifiquei-me com muitas coisas e saboreei cada página. É por isso que o mundo não tomba, há espaço para gostar (ou não) de tudo! :)

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    1. Sim, é uma das muitas maravilhas dos livros - são democráticos, estão à disposição de todos, permitem que nos encantemos com eles ou não e não será por isso que perderemos a vontade de continuar a procurar por leituras que nos completem!
      Sê muito bem-vinda, Márcia, ao meu cantinho!
      Beijinhos e boas leituras!

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    2. Obrigada. Já tenho andado por cá a cuscar! :)

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    3. Vamos então "cuscando-nos" mutuamente! Esta cusquice é um dos efeitos colaterais mais saborosos das nossas leituras!
      Beijinhos.

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