O amante japonês, de Isabel Allende


Ficha técnica
Título – O amante japonês
Autor – Isabel Allende
Editora – Porto Editora
Páginas – 336
Datas de leitura – de 09 a 13 de maio de 2016

Opinião
Por muito que me custe admitir, para mim mesma e aqui, a escrita de Isabel Allende perdeu fulgor. Perdeu fulgor, perdeu fogosidade, perdeu sensualidade e paixão e perdeu aquele encantamento e magia que me fizeram devorar as suas primeiras obras como A casa dos espíritos; De amor e de sombra; Filha da fortuna ou Retrato de sépia.
Torci o nariz quando a autora se aventurou por outros géneros literários, escrevendo obras mais juvenis ou outras com apontamentos policiais. Contudo, não se abandona uma das nossas autoras favoritas só porque a mesma tropeça uma, duas ou algumas vezes. Confia-se que se erga desses tropeções e que encontre de novo o seu caminho original.
O amante japonês parecia ser a prova desse regresso aos primórdios. Pelo menos a sua sinopse assim o prometia. Uma mulher notável, que em criança atravessa meia Europa, o Oceano Atlântico e o Canal do Panamá em direção a São Francisco e a uma nova vida, sem os pais, sem o irmão mais velho e deixando para trás a sua Polónia natal invadida e agrilhoada pela Alemanha nazi. Uma criança que tem que aprender a viver de novo e que se apaixona para toda a vida por um jovem japonês, filho do jardineiro dos seus tios. Uma senhora idosa que por iniciativa própria deixa a casa de uma vida e ingressa num lar de terceira idade e aí inicia uma relação de trabalho e de amizade com uma reservada funcionária, muito mais jovem do que ela, mas com uma bagagem demasiado pesada.
Em pouco mais de trezentas páginas desfolhamos a história de Alma Mendel (mais tarde Alma Belasco). E desfolhámo-la sempre na expetativa de sermos surpreendidos, de voltarmos a ser arrebatados por descrições repletas de fulgor, fogosidade, sensualidade, paixão, encantamento e magia. Mas, infelizmente parece que a passagem dos anos, o afastamento geográfico de paisagens e da essência sul-americanas ou o contágio pelo “norte-americanismo” votaram a escrita de Isabel Allende a um patamar mediano, a um patamar que não posso dizer que não seja agradável, mas que está longe de satisfazer alguém que, como eu, adorava tudo o que provinha dos escritos desta autora.
 Tal como Os cadernos de Maya e o Jogo de Ripper, O Amante japonês não me satisfez plenamente. Para além do referido, julgo que a última obra de Isabel Allende põe em palco “demasiadas” personagens, possibilita-nos entrar no seu jardim mais privado para depois nos deixar numa espécie de limbo povoado de muitos fios soltos que não se unirão nem no desenlace. A personagem de Irina, o seu passado negro, sofrido e cruel são por demais suculentos para serem “varridos” para debaixo de uma solução tão previsível e desenxabida como a de um namoro que, em outras épocas, daria azo a páginas e páginas de descrições e narrações dolorosas, sofridas e ao mesmo tempo mágicas, fogosas e sensuais. O protagonista da história de amor que atravessa quase um século, Ichimei Fukuda, é-nos apresentado como sendo alguém cativante, dono de uma personalidade enternecedora, contemplativa, amante da vida, mas senti que nunca me aproximei devidamente dele, que a história ganharia um fôlego maior se essa aproximação se concretizasse a outro nível, que nos permitisse ganhar (e muito) com o contacto com alguém tão fascinante.
Talvez esteja a ser um pouco dura naquilo que aqui estou a escrever, mas sei que o faço porque Isabel Allende me habituou a um patamar muito elevado. É certo que esse patamar já não é atingido há algum tempo, mas, tal como já disse, não se abandona de vez os nossos escritores favoritos. Dá-se-lhes uma e outra e outra oportunidade, até que a verdade se planta à nossa frente. Como penso que já se plantou… Não pretendo voltar a comprar qualquer obra que Isabel Allende publique. Lê-las-ei se mas emprestarem ou se estiverem disponíveis em alguma biblioteca. Mas não me posso conformar com leituras agradáveis ou medianas quando há um passado de leituras maravilhosas, extasiantes e de sabor único. Lo siento…

NOTA – 07/10

Sinopse
Em 1939, quando a Polónia capitula sob o jugo dos nazis, os pais da jovem Alma Belasco enviam-na para casa dos tios, uma opulenta mansão em São Francisco. Aí, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho do jardineiro japonês da casa. Entre os dois brota um romance ingénuo, mas os jovens amantes são forçados a separar-se quando, na sequência do ataque a Pearl Harbor, Ichimei e a família – como milhares de outros nipo-americanos – são declarados inimigos e enviados para campos de internamento. Alma e Ichimei voltarão a encontrar-se ao longo dos anos, mas o seu amor permanece condenado aos olhos do mundo.
Décadas mais tarde, Alma prepara-se para se despedir de uma vida emocionante. Instala-se na Lark House, um excêntrico lar de idosos, onde conhece Irina Bazili, uma jovem funcionária com um passado igualmente turbulento. Irina torna-se amiga do neto de Alma, Seth, e juntos irão descobrir a verdade sobre uma paixão extraordinária que perdurou por quase setenta anos.

Em O amante japonês, Isabel Allende regressa ao estilo que tanto entusiasma o seu público, relatando de forma soberba uma história de amor que sobrevive às rugas do tempo e atravessa gerações e continentes.

4 comentários:

  1. Olá Ana,
    Acreditas que nunca li Isabel Allende?! Pois..shame on me!!! Mas é verdade.
    Este por acaso tinha alguma curiosidade...agora já não sei :\
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Isa, shame on you indeed - joking ;)
      Contudo, se quiseres entrar no mundo de Isabel Allende, aconselho-te que o faças pelas suas primeiras obras - são bem melhores do que as últimas!
      Beijinhos e boas leituras.

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  2. Olá, Ana. Como eu compreendo essa tua desilusão. Também eu já a senti, quando quis regressar a Isabel Allende depois de alguns anos sem a ler. Não insisti, para não manchar as tão boas memórias das leituras dos seus primeiros livros, que tanto me marcaram e fizeram o que sou hoje. Continuo a ler/ver as suas entrevistas e a admirar a mulher que ela foi e é. É ainda uma forma de a ter por perto :)

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    1. É bom e mau sentir-me acompanhada na desilusão... Sim, também continuo a admirar e muito a mulher que Isabel Allende continua a ser. Pelo menos, resta-nos isso :)

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