No país da nuvem branca, de Sarah Lark


Ficha técnica
TítuloNo país da Nuvem Branca
Autora – Sarah Lark
Editora – Marcador
Páginas – 682
Datas de leitura – de 18 a 28 de maio de 2017


Opinião
Finalmente! Duas semanas depois finalmente consigo sentar-me à frente do computador e sorrir para o ecrã.
Esta altura do ano é caótica, com exigências que caem em catadupa e horas intermináveis de caneta vermelha em punho, à volta de incontáveis grelhas de excel e de papelada física e digital que não me sai das mãos. Por isso, o tempo que sobra para as leituras é diminuto e, como se isso não bastasse, o cansaço acumulado provoca efeitos secundários nefastos que transtornam a qualidade do meu sono e fazem com que a minha cabeça trabalhe a uma velocidade estonteante, mesmo quando está pousada na almofada há mais de duas, três, quatro, cinco horas…
Contudo, este fim de semana ditou uma ligeira trégua e aproveitei-a para escrever a opinião da obra que terminei de ler no “longínquo” dia 28 de maio e da qual, por esta ou por aquela razão, já pouco recordo.
Até retirar da estante a obra de Sarah Lark, tinha preenchido os dias de maio com leituras exigentes e muito emocionais. Assim, já tinha determinado que terminaria o mês fazendo um parêntesis nessa exigência, lendo algo levezinho, algo que não contribuísse para o turbilhão que já se havia apoderado da minha cabecinha exausta.
No país da nuvem branca traz-nos uma narrativa que se espraia por bem mais do que seiscentas páginas e que nos faz embarcar numa viagem que começa na Inglaterra vitoriana e termina nos confins do mundo, na mais longínqua colónia de Sua Majestade – a ilha da Nova Zelândia. É uma narrativa protagonizada por duas jovens mulheres que partem para um casamento com dois homens que vivem na referida ilha e dos quais pouco ou nada sabem. Helen é uma jovem preceptora que tem plena consciência de que está prestes a tornar-se uma solteirona e vê uma clara oportunidade de dar um novo rumo à sua vida num anúncio que lê e onde homens respeitáveis da Nova Zelândia procuram uma companheira. Gwyneira, uma jovem nobre com comportamentos pouco adequados para uma dama – prefere sem dúvida alguma cavalgar, estar no meio de animais que organizar uma festa ou preparar o perfeito ramo de flores para colocar no centro da mesa da sala – aceita casar com o filho de um magnata de criação de ovelhas neozelandês e vê nessa proposta a possibilidade de embarcar na maior aventura da sua vida. As duas coincidentemente viajam no mesmo barco e tornam-se de imediato amigas. Contudo, a chegada ao outro lado do mundo, às suas novas casas vai pôr em perigo essa amizade.
Como facilmente se deduz, esta obra “vive” das suas protagonistas femininas, da personalidade, das alegrias e dos contratempos das suas vidas. Contudo, à medida que nos vamos adentrando na narrativa, deparámo-nos com um cada vez maior protagonismo de Gwyneira, protagonismo esse que faz com que Helen passe a ser uma das muitas personagens secundárias que povoam a história. É certo de que a fogosidade, a determinação, as atitudes de uma mulher vanguardista predispõem-nos a aceitar essa realidade, mas, na minha opinião, a leitura poderia ter ganho outro fôlego se o protagonismo fosse mais equitativo, se continuasse a haver um equilíbrio entre o temperamento arisco e tempestuoso de Gwyn e a personalidade serena, objetiva e mais terrena de Helen. Criei empatia com as duas desde o início da obra, sem distinções ou preferências e por isso não aceitei de muito bom grado a primazia de uma face à outra.
No país da nuvem branca, como o título indica (assim nomeavam os maoris a sua ilha), vive igualmente do seu enredo histórico, da mistura entre o ficcionado e os primórdios da colonização de uma ilha sem animais selvagens, com paisagens de cortar o fôlego e uma população indígena que, segundo o que se depreende da leitura (não me dei ao trabalho de confirmar a veracidade das investigações da autora), aceitou pacificamente a chegada do homem branco e a correspondente ocupação das terras. A leitura torna-se aprazível com as descrições das tradições dos maoris, da vivência entre estes e os poderosos brancos, do crescimento voraz de povoações que rapidamente se transformam em cidades e do relaxamento compreensível das normas e regras que de forma alguma se podiam quebrar na sociedade londrina. Vamos contactando com gente simples, com homens e mulheres que foram fazendo a sua fortuna à custa de trabalho, com indígenas que nos fazem ver a vida de uma forma mais concreta, em plena comunhão com os elementos naturais. Vamos ganhando afeição por uma ilha que no século XIX tinha todas as características para ser o paraíso na terra. Vamos, eu que o diga, sonhando com uma visita a esse cantinho do mundo que, ainda hoje, mantém muitas das suas características únicas e que levam a que todos que o visitam venham deslumbrados e perdidamente apaixonados.
Pelo que foi dito até agora, compreende-se que aconselhe a todos que sintam predileção por este género de obra a leitura de No país da nuvem branca. “Papa-se” muito bem – li mais de 200 páginas em menos de quatro dias – oferece-nos uma leitura agradável, interessante e que não defrauda. Contudo, não me satisfez totalmente, pois não buliu comigo da forma como esperava. Sabia que não me traria a intensidade emocional que me trouxeram as obras que a antecederam, mas estava à espera de mais. De mais equilíbrio entre as protagonistas, de mais sentimento, de mais drama, de menos aceitação de algumas situações, de mais dor numa separação, de mais raiva e frustração em quezílias e em outros momentos de violência. Enfim, de mais vida! Por isso, não comprarei os outros volumes da trilogia, porque pressinto que me dariam mais do mesmo…
Assim sendo, não me resta outra alternativa que não seja encerrar rapidamente este parêntesis e mergulhar numa leitura que me faça dobrar de emoção. E já sei exatamente onde procurá-la!

NOTA – 07/10

Sinopse

Londres, 1852. Duas raparigas empreendem uma viagem de barco rumo à Nova Zelândia e tornam-se amigas. Trata-se, para ambas, do início de uma nova vida como futuras esposas de dois homens que conhecem apenas por correspondência. É o começo de uma nova vida com homens que não conhecem. Gwyneira, de origem nobre, está prometida ao filho de um magnata da criação de ovelhas, enquanto Helen, uma jovem perceptora, parte para se casar com um fazendeiro. Procuram encontrar a felicidade num país que promete ser o paraíso. No entanto, as ilusões de ambas depressa se esfumam, principalmente quando descobrem que a sua amizade está em perigo porque os maridos são inimigos. Gwyneira e Helen são mais fortes do que acreditavam ser e rompem com os preconceitos e as restrições da sociedade onde vivem, mas serão capazes de alcançar o amor e a felicidade do outro lado do mundo? 

4 comentários:

  1. Sei bem o que isso é, o corpo estar cansado mas a cabeça andar a cem à hora! Espero que essa fase já tenha passado, mas mesmo assim tiveste coragem para atacar mais um matacão! É pena não ter sido uma leitura mais compensadora, porque acho o tema fascinante. Fez-me lembrar o filme "O Piano", em que a protagonista também veio de longe para a Nova Zelândia sem conhecer o marido.
    Paula

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    1. Felizmente essa fase está a passar - já não dou luta à almofada!
      Os matacões se forem levezinhos não custam a engolir! E este é bem levezinho, nada que não se leia mesmo que a cabeça esteja a pedir descanso.
      Que bom que é quando tu fazes associações como a que fizeste! É por associações como a que fazes com o filme "O piano" (de que gostei muito, mas estava remetido para o esquecimento) que gosto/prezo muito os teus comentários e fico com um sorriso nos lábios sempre que vejo que me fizeste uma visitinha e deixaste umas palavras! Obrigada!
      Agora vou querer rever o filme o mais rápido possível!

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  2. Olá Ana,
    Bem-vinda de volta :)
    Tinha alguma curiosidade com esta série. excepto o seu tamanho, pois não sou fã de livros grandes.
    E agora também não fiquei deslumbrada com a tua opinião. Vamos ver.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Oi, querida Isa!
      Sim, estou de volta e com muita vontade!
      Não te aconselho muito esta leitura, não só pelo seu tamanho, mas porque não deixa muito rasto... Ou seja, é como uma comidinha insossa, que se engole e não deixa muito no nosso paladar! Mas é apenas a minha opinião, que vale o que vale!
      Beijinhos e leituras bem mais saborosas!

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