Os Malaquias, de Andréa del Fuego



Ficha técnica
TítuloOs Malaquias
Autor – Andréa del Fuego
Editora – Porto Editora
Páginas – 200
Datas de leitura – de 04 a 08 de fevereiro de 2018

Opinião
Comprei esta obra há um ano atrás (sim, ainda estou a ler livros que chegaram aqui a casa em janeiro de 2017!) porque havia lido algumas opiniões muito interessantes sobre a mesma e porque a encontrei a metade do preço numa livraria qualquer.
A página inicial do capítulo 2 é absolutamente soberba e deixa-nos eletrizados perante o fenómeno climatérico que esturrica um casal deitado no seu leito de matrimónio. Sobrevivem ao raio que atravessa a sua casa os três filhos, que ficam órfãos e acabam separados. Nico, o mais velho, vai trabalhar para a Fazenda Rio Claro, enquanto Júlia e Antônio foram para um lar administrado por uma Irmã francesa. Os anos passam, Nico continua a trabalhar para “seu” Geraldo, Júlia á adotada como criada por uma senhora rica e Antônio continua a viver no lar, pois ninguém se mostra interessado em adotar um miúdo anão.
Não tardei muito tempo em ler este romance, mas não posso dizer que tenha gostado de lê-lo. Apreciei a linguagem, o estilo da escrita e o contexto que envolve a narrativa e pressuponho que tenham sido estes aspetos que levaram à atribuição, no ano de 2011, do Prémio Literário José Saramago à história da família Malaquias. Mas, após a descarga elétrica que me tomou quando li a referida página que abre o capítulo 2, nunca mais senti algo semelhante. Ainda tive a esperança de sentir um frémito parecido no momento em que os olhos de Nico batem em Maria e percebe que ela será a mulher da sua vida. Porém, foi um frémito que se evaporou tão rápido como apareceu… Simpatizei com a velha Tizica, compadeci-me de Júlia, uma menina-mulher em fuga permanente, mas com as outras personagens não partilhei qualquer tipo de interesse, já que elas sempre me pareceram uns autómatos, como se passassem pela vida anestesiados, sem brilho nem vontade própria. Não posso, por estas razões, concordar com a opinião de José Luís Peixoto que figura na contra-capa da obra e na qual o autor afirma que “… talvez possa haver leitores a se emocionarem, a se sobressaltarem, a se deslumbrarem…” Eu não senti nem emoção, nem deslumbre e apenas me sobressaltei na cena que descreve a morte dos Malaquias seniores. Nada mais.
Sei que os prémios literários (mesmo este que transporta o nome do meu querido Saramago) valem o que valem e sei que a minha opinião vale o que vale, mas devem compreender a minha frustração e desilusão por ter adquirido uma obra com uma capa cativante, com uma sinopse prometedora, com opiniões suculentas de gente entendedora e por ter, no final, encerrado a sua leitura e me ter questionado – Os Malaquias são isto? Apenas isto? Um estilo rico, uma linguagem repleta de sabor, uma premissa fabulosa de mãos dadas com um leque de personagens insonsas, estáticas, ocas e com atitudes algo contraditórias? Caramba… Se calhar a culpa é minha, será que não entendi nem encaixei da forma mais adequada com a narrativa?... Creio que não…
Não sei que mais dizer. Acho que me fico por aqui, porque também não quero exagerar e acabar por ser demasiado dura ou crítica com uma autora ou uma obra que talvez não o mereçam.
Se houver alguém desse lado que já tenha lido estes Malaquias, por favor, partilhem a vossa opinião. Seria muito bom saber como foi a vossa leitura.

NOTA – 05/10

Sinopse
Serra Morena. Um raio esturrica o casal, em luz e carne. Os filhos ficam órfãos, com destinos diferentes. Antônio, o menino que não cresce. Nico, o patriarca engolido por um bule de café. Júlia, a menina em fuga permanente. Um lugar onde as sombras da terra e da água convivem. Onde a morte e a vida são o mesmo mundo. Um poema seco à humanidade de cada um de nós.
Uma escrita áspera mas poética, desenhada com a vertigem das memórias da família Malaquias, e que evolui como tributo pessoal da autora aos seus antepassados.
Transcendental e mágico, este romance do insólito revela-se uma leitura para o coração.
Um livro forte, aclamado, invulgar.
Vencedora do Prémio Literário José Saramago 2011
Finalista do Prémio São Paulo de Literatura e do Prémio Jabuti, na categoria romance, ambos em 2011.

2 comentários:

  1. Eu! E não podia estar mais de acordo na desilusão. Começou tão bem que nem senti aquela dificuldade habitual, quando estou a ler autores brasileiros, de ouvir uma telenovela dentro da minha cabeça. Gostei do imaginário, da riqueza da escrita cheia de figuras de estilo que estudei há muito, mas depois não há propriamente um enredo, apenas o passar dos anos e de episódios. Nem sempre preciso de uma trama intrincada se houver desenvolvimento das personagens, bons monólogos interiores, atmosfera, mas aqui, as personagens não têm simplesmente vida. E cada vez gosto menos do realismo mágico, por isso, a Geraldina, a gruta, o navio, tudo isso me passou ao lado. Guardo comigo, pelo menos, uma bela frase:"Destino não tem cura."
    Paula

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    Respostas
    1. Pelo menos guardas uma bela frase... Eu nem isso, apenas o referido sabor amargo de desilusão... O início é deveras empolgante, mas depois tudo o resto assemelha-se a um balão murcho, sem vida...
      Eu, se quero saborear o realismo mágico, vou buscá-lo aos mestres, pois estou algo farta de imitadores pouco brilhantes...
      Nem todas as leituras podem ser preenchedoras... Mas esta custa a engolir...
      Beijinhos!

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