Ficha técnica
Título – O
pecado de Porto Negro
Autor – Norberto Morais
Editora – Casa das Letras
Páginas – 432
Datas de leitura – de 09 a 18 de fevereiro de 2018
Opinião
Nestes
dias chuvosos, ventosos, cinzentões saboreia-se de forma ainda mais apetitosa
qualquer desculpa que se nos apresente para ausentarmo-nos da realidade que
vemos do outro lado da janela. É certo que terminei de ler a obra finalista do
prémio LEYA há dez dias, mas o calor das paragens que percorre e acima de tudo
a ebulição de sentimentos que dominam as suas personagens são memoráveis e
perfeitas para aquecer e agasalhar-me no dia de hoje.
Não me
lembro como tropecei com referências a este romance. Tenho quase a certeza
absoluta de que foi no Goodreads, mas não faço a mínima ideia de quem o
recomendou. Deve, porém, ter sido uma recomendação muito convincente, porque
rapidamente incluí o título da obra na minha wishlist. E ainda bem que o fiz,
pois proporcionou-me, passado quase um ano após a sua chegada à minha estante,
momentos quentinhos, cheios de sentimentos à flor da pele, de personagens que
regem a sua vida planeando uma vingança, procurando o calor de um corpo
recetivo à linguagem do amor ou antecipando a primeira vez que se vai trocar um
olhar prolongado com aquele que se ama desde que se conhece como gente.
Na
capital duma ilha qualquer do Oceano Pacífico vive uma pequena comunidade de
gente simples. Toda a gente se conhece e todos conhecem muito bem Santiago
Cardamomo, um jovem bem-apessoado e que faz as delícias da população feminina.
Ele domina como ninguém a arte do amor e raramente passa uma noite sozinho.
Entre os seus amigos reina a convicção de que nenhuma mulher lhe resiste,
excetuando a filha do açougueiro. Ducélia Trajero é guardada como um tesouro
pelo seu pai, vive enclausurada em casa, apenas sai para aprender as artes
femininas no convento da cidade e nunca deu mostras de saber o que é o amor.
Contudo, desde os seus doze anos, quando atendeu Santiago no açougue e este se
despediu dela acariciando-lhe o rosto, Ducélia caiu de amores pelo bom malandro
e, pouquinho a pouquinho, vai dando passos para que ele detenha o olhar nela.
Estas
duas personagens são, como se depreende, os protagonistas desta narrativa e
toda a trama que os envolve é motivo mais do que suficiente para que eu
recomende a sua leitura. Contudo, a eles se juntam outras que não nos deixam
indiferentes e que dão um toque mais apetitoso, mais doce e mais amargo à
história. Se ainda a isto tudo adicionarmos o estilo do autor que se coaduna de
forma perfeitinha com a contextualização espacial de latitudes quentes, com o
fervilhar de sentimentos antagónicos – amor, ódio, alegria, dor, vingança,
justiça – e com evidências de que a morte anda sempre de mão dada com a vida,
temos o bolo completo para uma leitura suculenta.
Não
quero, como não quero nunca, desvendar muito sobre a narrativa, mas tenho que
dizer que o clímax da mesma dá-se, na minha opinião, cedo demais, o que fez com
que todo o meu entusiasmo esmorecesse um pouco e me apetecesse estrangular quem
o provocou e, em última análise, o próprio autor. No entanto, o desenlace da
obra é de tal forma bom e reconfortante que tive que me render, fazer as pazes
com o escritor, cerrar os dentes e erguer o punho fechado, pois a justiça
tarda, mas sempre aparece!
Assim
sendo, se quiserem partir para pontos mais quentinhos do nosso planeta,
esquecer o quão invernosa está a nossa realidade, deem uma oportunidade a esta
obra, porque não tenho dúvidas que vos aquecerá e vos oferecerá uma saborosa
leitura, recheada de personagens cativantes, paragens exóticas e sentimentos
fervilhantes!
Termino
perguntando se alguém mais já leu Norberto Morais e se me aconselha outra ou
outras das suas obras. Agradeço, desde já, porque quero ler mais dele!
NOTA –
09/10
Sinopse
Em Porto Negro, capital da ilha
de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que
trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência
feias, raramente passando uma noite sozinho. O seu sucesso junto do sexo oposto
enche, aliás, de inveja aqueles a quem a sorte nunca bateu à porta, sobretudo o
enfezado Rolindo Face, que há muito alimenta esperanças no amor de Ducélia
Trajero – a filha que o patrão açougueiro guarda como um tesouro. Mas eis que,
no dia em que ensaiava pedir a sua mão, assiste sem querer a um pecado impossível
de perdoar que acabará por alterar a vida de um sem-número de porto-negrinos,
entre os quais a da própria mãe; a de um foragido da justiça que vive um amor
escondido para se esquecer do passado; a de Cuménia Salles, a dona do Chalé
l’Amour, a mais afamada casa de meninas da cidade; ou a de Chalila Boé, um
mulato adamado que, nas desertas horas da madrugada, se perde pelo porto à
procura do amor.
O Pecado De Porto Negro, obra
finalista do Prémio LeYa, é um mosaico de histórias que se vão encadeando para
construir um romance admirável sobre o carácter circular do destino e a
capacidade que o passado tem de nos vir bater à porta quando menos
esperamos.
Acho que este é o livro que tenho há mais tempo na minha wishlist, desde que o vi há uns dois ou três anos, creio, no blogue da Barroca, o Bué de Livros. Mas a verdade é que nunca me decidi a comprá-lo porque há qualquer coisa que me diz que não é o meu tipo de livros, não sei se é o tom se é história rocambolesca.
ResponderEliminarJá o Retorno... Caramba!
Espero que estejas a gostar.
Paula
Eu não o achei muito rocambolesco, apesar de se passar em latitudes mais quentes e o sangue aí ferver de outra forma ;)
EliminarO estilo do autor é muito bom, acredita!
Quanto a O retorno, já o acabei, mas ainda não tive tempo de escrever a correspondente opinião. Gostei mesmo muito, mas depois adianto mais!
Beijinhos!
Olá, Ana,
ResponderEliminarAinda não conhecia este livro, mas conseguiste despertar a minha atenção. Vai ja direitinho para a wishlist xD
beijnhos e que venham mais boas leituras
Ainda bem, Su, ainda bem, porque é uma obra que vale muito a pena conhecer!
EliminarEspero que gostes tanto como eu!
Beijinhos e leituras muito saborosas!