El lector de Julio Verne, de Almudena Grandes

Sábado, 28 de setembro de 2013



Sinopse
Nino, hijo de guardia civil, tiene nueve años, vive en la casa cuartel de un pueblo de la Sierra Sur de Jaén, y nunca podrá olvidar el verano de 1947. Pepe el Portugués, el forastero misterioso, fascinante, que acaba de instalarse en un molino apartado, se convierte en su amigo y su modelo, el hombre en el que le gustaría convertirse alguna vez. Mientras pasan juntos las tardes a la orilla del río, Nino se jurará a sí mismo que nunca será guardia civil como su padre, y comenzará a recibir clases de mecanografía en el cortijo de las Rubias, donde una familia de mujeres solas, viudas y huérfanas, resiste en la frontera entre el monte y el llano. Mientras descubre un mundo nuevo gracias a las novelas de aventuras que le convertirán en otra persona, Nino comprende una verdad que nadie había querido contarle. En la Sierra Sur se está librando una guerra, pero los enemigos de su padre no son los suyos. Tras ese verano, empezará a mirar con otros ojos a los guerrilleros liderados por Cencerro, y a entender por qué su padre quiere que aprenda mecanografía.

Opinião
Que alegria poder dizer que li mais um livro da “minha” Almudena! E que livro!!! Tal como havia dito no post/comentário que escrevi sobre o primeiro volume de “Episodios de una Guerra interminable” – Inés y la alegría –, a ansiedade, as expetativas que sentia por ler este segundo volume eram imensas e agora posso afirmar que, como sempre acontece com um livro desta fantástica autora espanhola, as expetativas foram amplamente superadas!!! Só posso exclamar, como qualquer espanhol exclamaria, que “es precioso” J
        É incontestável que “devorei” El Lector de Julio Verne porque em primeiro lugar, é mais uma obra de Almudena Grandes, em segundo porque é o volume número dois do projeto iniciado com Inés y la alegría e por fim, mas não menos importante, porque sei que um romance com um título como esse não me passaria despercebido!... É certo que não me considero a maior fã de Júlio Verne, mas sei o impacto que as suas obras tiveram e ainda têm na vida de adolescentes que, como eu, não conseguem/conseguiram passar sem a companhia de uma bela aventura literária, repleta de emoção e momentos entusiasmantes, que não nos deixam/deixaram “largar” o livro até que lemos a sua última página!
        Tal como nos informa a sinopse, a ação de El lector de Julio Verne passa-se em Jaén (Andalucía), mais propriamente numa pequena povoação chamada Fuensanta de Martos e tem como narrador e protagonista Nino, um miúdo de nove anos, filho de um guarda civil, que vive com a família no quartel, numa pequena casa com quartos que dividem paredes finíssimas com o referido quartel e que, como tal, são incapazes de abafar os horríveis sons do sofrimento dos presos que são torturados… As noites de Nino são assim muitas vezes povoadas por essa dor que ele ou confunde com pesadelos ou com ruídos próprios de um filme… É isso que diz a si mesmo e à sua irmã mais nova quando esta acorda e o procura com medo.
        Numa vida que é assim uma mistura de mentiras e de verdades veladas, Nino tem plena consciência de uma coisa – quando for adulto não quer ser guarda como o seu pai, não quer ser tratado como é o seu progenitor e os outros guardas pelos habitantes da aldeia que os veem como os inimigos, os detentores de uma lei castradora e que obriga a inúmeros homens e jovens a procurarem refúgio nas montanhas, a tornarem-se guerrilheiros, a fugirem para o exílio ou a perderem a vida só porque não concordam com o regime que a lei defende tão acirradamente. Nino vive então do lado da defesa da lei, mas esse lado faz com que seja uma criança que não tem com quem jogar futebol ou brincar… Contudo, no verão de 1947 a sua vida mudará por completo quando conhecer Pepe, el portugués (J), um forasteiro que vem viver para um moinho afastado da povoação e que será a partir desse momento o seu grande amigo, o seu confidente e aquele que o apresentará ao maravilhoso mundo dos livros, dos livros de Júlio Verne.
        Para além de Pepe, também as Rubias, que compõem uma família de apenas mulheres e Elena, que é hóspede delas, terão uma presença preponderante na vida de Nino. Com Elena aprenderá mecanografia para poder ter, segundo o pai, um bom emprego no futuro (já que a sua pequena estatura compromete a possível entrada na Guarda Civil) e conhecerá outros livros de Verne e outros autores (como o amado Galdós de Almudena) que mudarão de uma forma irreversível a visão que Nino tem do mundo. Por sua vez, com as temíveis Rubias entrará no universo feminino, um universo de mulheres de coragem, de “pelo na venta” e que lhe abrirão também as portas do misterioso e proibido mundo dos guerrilheiros…
        Num dos livros mais pequenos que já escreveu, Almudena mostra-nos assim outro episódio pouco conhecido de uma guerra interminável – um episódio que nos faz viajar para uma pequena povoação do sul de Espanha, com habitantes pouco afortunados, que vivem em duras condições, mas que continuam a combater uma guerra que supostamente já terminou há bastante tempo. E combatem-na tanto os guerrilheiros como as suas famílias que vivem no povoado, longe da montanha, mostrando sem piedade o quanto odeiam e desprezam aqueles que estão contra eles, sejam eles os guardas-civis ou mesmo os seus filhos, como Nino. Um desses guerrilheiros é o lendário e mítico Cencerro, cuja história (contada a Almudena por um habitante natural de Fuentesanta de Martos e ponto de partida para a consequente escrita de El Lector de Julio Verne), quase setenta anos mais tarde (Cencerro morreu em 1947) foi relembrada como se a sua lenda, o seu mito ainda estivessem frescos na memória de alguém que nasceu 2 anos após a sua morte!...
        É sobejamente sabido de que lado a autora se coloca e se colocaria nesta guerra interminável, mas, neste romance não há uma fronteira que separa radicalmente os guerrilheiros dos guardas, ou seja, nem os guerrilheiros e suas famílias são caracterizados como os “bons” nem os guardas como os “maus”. Para além do que já referi sobre o ódio que os familiares dos foragidos sentem sem distinção por todos os que “pertencem” aos defensores da lei, também estes últimos são personagens realistas, com qualidades e defeitos, como por exemplo o pai de Nino, que está deste lado da fronteira porque combateu, por coincidência, neste regimento e aí se manteve por uma questão de sobrevivência, sua e dos seus.

        Não posso terminar este comentário sem fazer alusão ao elemento de ligação entre Inés y la alegría e El Lector de Julio Verne, ou seja, ao restaurante La cocina de Inés, que aparece na foto que um guerrilheiro que foge para terras francesas manda à sua família. Sendo assim, é um elemento tão frágil que pode passar perfeitamente despercebido e não impedir que a leitura destas duas obras seja feita de um modo não cronológico e independente.

        Concluindo, não posso fazer outra coisa que não seja afirmar com todas as letras que ADOREI e RECOMENDAR que leiam este estupendo livro!!!


4 comentários:

  1. Muito apetecível a leitura deste livro, depois deste teu texto. Tentador...Ainda por cima porque parece reunir tanta coisa que me agrada: História + livros e amor por eles + paisagens da Andaluzia (que foi um dos meus destinos este ano) + uma trama bem urdida (como de costume) por Almudena. Obrigada pela partilha! :)

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  2. Acredita, Sofia, vale mesmo a pena ler este livrinho :) É um livro à Almudena (como ela tão bem sabe escrever), faz-nos conhecer mais um episódio de uma época fascinante da história recente de Espanha e ainda por cima através "dos olhos" de uma criança que partilha connosco o amor pelos livros e pela maneira como estes nos ajudam a perceber melhor a vida :)

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  3. Depois do que acabei de ler, a minha vontade era ir aprender espanhol para poder também deliciar-me com as obras da Almudena. A forma como descreves as mesmas é magnífica e empolgante. Continua com este excelente trabalho pois denota que realmente amas a leitura e tudo o que ela te dá.

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    1. Nuninho, tu sabes perfeitamente o quanto eu AMO os meus livrinhos, o prazer que sinto sempre que estou com um nas mãos, sobretudo se for da "minha" Almudena!!! Quanto a umas aulinhas de espanhol, tu sabes bem a que porta podes e deves bater ;)
      Muchas gracias pelo comentário saboroso ;)

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