Quarta-feira, 11 de novembro de 2015
RELEITURA
Opinião
Voltei às releituras. Sentia vontade
de fazê-lo desde que a opinião de uma compincha bloguista (obrigada, Isaura, do
Jardim de Mil Histórias) sobre a
última obra de Sue Monk Kidd me fez recuar no tempo, percorrer as estantes e
sentir aquele frenesim de excitação quando folheei A Ilha das Garças e recordei a história de Jessie e Whit, a
intensidade dos sentimentos e desejo que os uniu desde que se viram pela
primeira vez.
Após uma série de leituras densas e
pouco pinceladas de amores entre uma mulher e um homem, estava “sedenta” por
embrenhar-me numa narrativa repleta de amor, desejo e paixão, sentimentos que nos cegam e preenchem por completo os dias com tolices, com mil e um planos que nos
levam a querer ver, a querer estar no mesmo espaço ou a querer sentir o olhar
da pessoa amada. E sabia que os amores de Jessie e Whit me ofereceriam tudo
isto.
Jessie é uma mulher na casa dos
quarenta, casada há vinte anos e mãe de uma filha que recentemente ingressou na
universidade. Tem o que à partida parece ser uma vida normal, tranquila e
preenchida. Contudo, um ato de loucura por parte da sua mãe (com quem tem uma
relação distante e tensa) quebra essa normalidade e obriga-a a regressar à sua
ilha natal para tentar perceber as razões que levaram a sua mãe a cometer tal
ato.
Esse retorno às origens fará com que
possa desenredar nós, confrontar fantasmas, recordações e momentos
dolorosos que sempre tingiram a sua vida de cores mais sombrias e não deixaram
que confiasse e se abrisse plenamente com os outros, inclusive com quem
partilha vida há vinte anos. Sendo assim, a partir do momento em que pousa os
pés na ilha de Egret, Jessie desafia-se a si mesma – num ímpeto que não lhe é
habitual, decide que o regresso à ilha servirá para redescobrir-se, para dar-se
a oportunidade de voltar a sentir-se viva, de voltar a viver sem filtros, com
arrebatamento, com paixão. Põe então em pausa o seu passado, o seu presente de
mulher casada, de mãe, de filha e permite-se pensar em apenas si mesma. Permite-se
igualmente fazer o que é preciso para receber respostas a perguntas há muito
tempo sem resposta. Permite ainda que a sua ilha a deslumbre e a conquiste
de novo. E por fim, permite-se apaixonar-se, deixa que o desejo e a fome de
paixões arrebatadoras a prendam a alguém que, como ela, está sedento de amor mas com amarras que o impedem de ser completamente livre.
A
Ilha das Garças
agracia-nos assim com uma poderosíssima história de amor. Mas não foi apenas
essa história que me “obrigou” a lê-la de forma compulsiva. A Ilha das Garças é também a
história de uma família desestruturada desde que o pilar da mesma faleceu em circunstâncias
trágicas. É também a história de uma amizade entre três mulheres que resistiu à
passagem dos anos e se mantém quase inalterável. E é o retrato das vivências
tradicionais da gente do sul dos Estados Unidos, de insulares e da exuberância
mágica e sensual de uma ilha, da sua vegetação, dos seus espaços naturais, da
sua população animal e da força e atração que o mar exerce em quem vive dele e
junto a ele.
É, por tudo o que disse, uma obra
que vale a pena ler ou reler e bendigo o momento em que me propus a fazê-lo,
porque “caiu” na perfeição numa altura em que o trabalho e a burocracia me
assoberbam, porque me proporcionou uma leitura mais leve, carregada de sentimentos
poderosos, porque corresponde ao que nos desvenda a sinopse e as várias
críticas presentes na contracapa e porque me rendi ao estilo e à escrita
elegante e feminina da autora. O único reparo que tenho a fazer e que me impede
de avaliar a obra com uma nota melhor está relacionado com o seu desenlace.
Pareceu-me um pouco precipitado, ou seja, após tanta intensidade, tudo se
desfaz, tudo se esvazia como um balão roto e senti que pouca coisa na vida real
passa, quase de um momento para o outro, de intenso a banal, a dispensável e
que tão pouco algo ou alguém que nos incomodava e não nos satisfazia passe a
ser aquilo que nos fará felizes e completos.
Contudo, apesar desse pequeno
reparo, espero (e quero J) poder brevemente ler as outras
duas obras da autora – uma que também mora na minha estante – A vida secreta das abelhas – e outra
que mora na minha wishlist – A invenção das Asas.
NOTA – 08/10
Sinopse
No
interior de um mosteiro beneditino na ilha de Egret, ao largo da costa da
Carolina do Sul, repousa um misterioso trono com sereias gravadas, dedicado a
uma santa que, segundo a lenda, era sereia antes da sua conversão. Quando
Jessie regressa à ilha por causa de um ato de violência aparentemente
inexplicável da sua excêntrica mãe, a sua vida prima pela normalidade e o seu
convencional casamento com Hugh é seguro e estável. Jessie ama Hugh mas, uma
vez na ilha, a atração que sente pelo irmão Thomas, um monge que está prestes a
fazer os votos solenes, é irreprimível. Rodeada pela beleza exótica dos
pântanos, deltas e garças majestosas, Jessie debate-se com a tensão do desejo,
com a luta e a negação dos seus próprios sentimentos, com a liberdade a que
acha que tem direito e com a força inexpugnável do lar e do casamento. Será que
o poder do trono da sereia é apenas um mito? Ou será capaz de alterar o seu
destino? O que está prestes a acontecer irá desvendar as raízes do passado
atormentado da mãe, mas, acima de tudo, permitir que Jessie se reconcilie com a
vida.
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