Pasión India, de Javier Moro


Ficha técnica
Título – Pasión India
Autor – Javier Moro
Editora – Editorial Seix Barral
Páginas – 449
Datas de leitura – de 27 de março a 04 de abril de 2016

Opinião
Em outubro passado, quando me lamuriava pelos cantos, queixando-me de que não tinha quase nenhum livro novo para ler, a minha querida Verinha socorreu-me, emprestando-me três leituras que, segundo ela, seriam do meu agrado. Já aqui registei a opinião de duas delas (Regressar a casa, de Rose Tremain e Estrela errante, de J.M.G. Le Clézio) e restava-me a única de um autor espanhol e publicada na língua original. Não foi o facto de não estar traduzida que me “impediu” de lê-la mais cedo. A causa principal da minha relutância estava no título – Pasión India.
Confesso que não me atraem nada as paragens exóticas localizadas para os lados do Oriente. Tenho inclusive algum preconceito geográfico e civilizacional, pois não consigo ver-me a pisar terras ou países asiáticos, salvo alguma exceção. Quando penso na Índia, de imediato saltam-me à memória imagens de pobreza extrema, de toneladas de lixo acumulado por toda a parte, de comboios a abarrotar de gente, de rios imundos onde os indianos se banham e outras imagens nada apelativas para o meu gosto de viajante.
Por todas estas razões nunca me entusiasmam muito narrativas que centrem a sua ação em paragens indianas ou em outras semelhantes. Contudo, esta viagem que fiz pelas páginas de Pasión India foi deslumbrante e provocou grandes mossas no meu preconceito por terras orientais. Não o erradicou por completo, não me fez ansiar por umas férias na Índia, mas aumentou exponencialmente o meu respeito e a minha admiração por uma das civilizações mais antigas do nosso mundo.
Pasión India dá-nos a conhecer uma história de amor inesquecível, digna de figurar num compêndio similar ao de Mil e uma noites. O amor e consequente união entre uma jovem espanhola, plebeia, que todas as noites dança com a irmã num clube madrileno para sustentar a família e que cuja beleza e personalidade enfeitiçam um Rajá indiano, a ponto de “forçá-lo” a tudo fazer para conseguir que ela case com ele e o acompanhe para o outro lado do mundo. É realmente uma história de contos de fadas e mais extraordinária se torna porque foi verídica.
No início do século XX Anita Delgado, contra todas as expectativas e costumes da época, casa-se com Jagatjit Singh, o marajá de Kapurthala, um dos homens mais ricos da Índia da altura. Após o casamento vai viver para o país natal do seu marido e aí se mantém até a dissolução do matrimónio que a leva a regressar à Europa. Morre em Espanha em 1962, deixando como legado uma existência repleta dos ingredientes ideais para uma adaptação a um romance. E foi isso que fez Javier Moro.
Pegando nos referidos ingredientes, aliando-os a uma construção muito apelativa das personagens e a uma linguagem simples, objetiva, sem os tendenciosos excessos que uma história deste calibre poderia despoletar, o autor oferece-nos uma leitura que prende a nossa atenção do início ao fim, interligando passagens que relatam o foro íntimo e caseiro de um casal e das suas relações mais próximas com referências a momentos e acontecimentos históricos que revolucionaram o mundo da primeira metade do século XX e sobretudo que transformaram uma Índia debaixo do jugo imperial britânico num consequente país independente.
Foi assim uma leitura muito agradável, entusiasmante inclusive, e que me brindou com uma extraordinária história de amor, protagonizada por dois seres também eles dotados de personalidades cativantes. Foi ainda uma leitura que me abriu os horizontes, pois proporcionou-me a oportunidade perfeita para redimir-me de muito do meu preconceito ante uma civilização e um povo que me causa cada vez mais admiração e respeito. Se já no passado aprendemos muito com os povos que habitavam aquelas terras orientais (como, por exemplo, que devemos tomar banho com frequência, o que já era um hábito de indianos pobres ou ricos muito antes do início do século XX), a tolerância que eles demonstravam pelas diferentes religiões aí professadas (o que ainda hoje acontece), a sua afabilidade e hospitalidade e o respeito que tinham e têm pela natureza são exemplos do quanto os estereótipos por vezes toldam a nossa forma de ver e respeitar os outros.
Resta-me agradecer-te, Verinha, por me teres emprestado este livro que tanto gozo me deu! Foi mesmo uma leitura muito interessante e enriquecedora! Gracias, cariño!
Refiro por fim que esta obra está traduzida para português. Foi publicada pela Editora Caderno com o título  Uma Paixão Indiana.

NOTA – 09/10

Sinopse
Um conto de Fadas Moderno
Em Janeiro de 1908, uma espanhola de 17 anos, sentada num elefante luxuosamente ajaezado, faz a sua entrada numa pequena cidade do norte da índia. Todo o povo está na rua, rendendo homenagem à nova princesa, de tez tão branca como as neves dos Himalaias. Poderia parecer um conto de fadas, mas foi assim a boda da andaluza Anita Delgado com o riquíssimo marajá de Kapurthala. E o começo de uma grande história de amor - e traição - que se desenrolou durante quase duas décadas no coração de uma Índia preste a extinguir-se. Uma história que nos transporta ao fabuloso mundo dos marajás, com os seus haréns dignos das Mil e Uma Noites, os seus bacanais eróticos, a paixão pelas jóias, os palácios, e as caçadas de tigre.


6 comentários:

  1. Eu disse-te que ias gostar! Também partilho da tua opinião... quando penso em Índia penso sempre na extrema pobreza do país (não só a nivel económico, mas sobretudo a nível cultural). Mas esta história é apaixonante!





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    1. Verinha, querida, que bom ver-te por aqui! Sim, eu sei que devo confiar em ti ;)
      Gostei imenso desta obra, é apaixonante, como dizes! Já sabes, quando tiveres outras semelhantes não te esqueças de mim :)
      Besitos y gracias de nuevo, cariño!

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  2. A Índia é , de há muito, um dos meus destinos mais desejados! E este livro parece-me imperdível, antes de me lançar à aventura :)

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    1. Aninhas, se até eu, a quem a Índia não me atrai, fiquei rendida a esta livro, ao que nos conta sobre a cultura, os hábitos e as religiões daquela região, imagina o que não fará a alguém que quer muito "embrenhar-se" naquele país :)
      Mergulha na sua leitura, pois com certeza não te arrependerás!
      Beijinhos e volta sempre!

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  3. Amei essa história e li mais sobre a India, que ao contrario de ti, me fascina, apesar da pobreza, cheiros e poluição, quero conhecer o outro lado, o místico, o envolvente e misterioso lado oriental...

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    1. A Índia é mesmo assim, provoca reações opostas...
      Compreendo esse fascínio que também me contagiou, sobretudo por causa desta obra!
      Beijinhos e volta sempre!

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