Ficha técnica
Título – A
casa do sono
Autor – Jonathan Coe
Editora – Edições ASA
Páginas – 320
Datas de leitura – de 15 a 22 de setembro de 2017
Opinião
Sempre
fui dorminhoca, sempre tirei prazer em dormir, em enroscar-me debaixo dos
lençóis, fechar os olhos e deixar-me ser invadida pelo sono. Em jovem
reivindicava o direito indiscutível de dormir as minhas dez horinhas. Agora
reconheço que a maternidade moldou esse direito, reduzindo-o a quantidade bem
menores. Contudo, o prazer mantém-se, sobretudo naqueles dias gelados de
inverno, em que nada há melhor do que rolar para o lado, aconchegar os
cobertores e regressar ao mundo do silêncio, da quietude e dos sonhos.
Por ser
tão dorminhoca, por apreciar tanto o sono e as suas características tão
beneficamente saborosas, decidi, após ter lido algumas opiniões positivas sobre
a obra A casa do sono,
trazê-la da biblioteca e embalar na sua leitura.
Arranquei
com a mesma numa noite como uma outra qualquer, em que sempre leio já deitada
na cama, para melhor entrar no mundo dos sonhos. Anotei mentalmente a
advertência do autor sobre o facto dos capítulos ímpares se reportarem aos anos
de 1983-84 e os pares às duas últimas semanas de junho de 1996. Fui sendo
apresentada às personagens principais e constatando que praticamente todas se
debatiam com o sono e as suas variantes. Fui assimilando os sonhos, os
projetos, as ambições de todos e verificando o quanto esses mesmos sonhos,
projetos, ambições se concretizavam ou não. Fui absorvendo o estilo
aparentemente simples do autor, por vezes irónico, sarcástico, humorístico, por
vezes realista, amargo, sofrido. Fui ganhando empatia por Sarah, por Robert.
Fui ganhando uma clara antipatia por Gregory. Fui aprendendo as fases do sono e
que dão nome às partes que dividem a obra. E fui sendo surpreendida com as
reviravoltas e torcidas da narrativa.
Mesmo
nos dias em que o “João-Pestana” (ou “Sandman”) ameaçava fechar-me as cortinas
e enviar-me para a Fase Um de um retemperador soninho, teimei em ler mais uma
página, mais um capítulo, porque todas as peças se iam encaixando de uma forma
quase perfeita e o sabor que ia retirando da leitura da caixa que emoldurava as
vidas de quatro ou cinco pessoas banais, relacionadas por vivências do passado,
era cada vez mais apelativo, culminando num desenlace surpreendente e muito
satisfatório.
Foi
assim uma leitura deveras interessante, com um toque de humor britânico e que
me leva a querer conhecer mais do que já escreveu Jonathan Coe, um autor com muitos
traços de brilhantismo.
Uma
obra que recomendo, com personagens muito peculiares, como podem comprovar pela
sinopse, mas que merecem que as conheçamos!
NOTA –
08/10
Sinopse
Um enorme edifício no alto de
uma falésia, o barulho das vagas, um labirinto de corredores vazios onde o
ruído dos passos ecoa… A propriedade de Ashdown abrigou nos anos oitenta uma
residência de estudantes: aí encontramos Sarah, que sofre de narcolepsia e não
consegue distinguir os sonhos da realidade; o seu namorado, Gregory, que só
atinge o orgasmo ao pressionar com os dedos os olhos de Sarah; Terry, um
pretensioso crítico de cinema que dorme pelo menos catorze horas por dia e
nunca consegue recordar o que sonhou; e Robert, capaz de amar sem limites.
Quatro personagens simultaneamente trágicas e hilariantes, capazes de tecer
entre si relações extremas que, contudo, não os impedirão de se afastarem.
Doze anos depois, a residência
é transformada numa casa de saúde especializada em perturbações do sono.
Estranhamente, os ocupantes do edifício voltam a ser os mesmos. Mas nem sempre
se lembram dos laços complicados que em tempos ligaram as suas vidas...
Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.
Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.
Olá, Ana,
ResponderEliminarJá tenho este na minha estante à espera de vez xD li "O Rotter's CLub" do autor há uns bons anos atrás - ainda era uma adolescentezinha a devorar tudo o que era livro que encontrasse - e lembro-me de "achar piada". Acho que depois o releio :D
beijnhos e que venham mais boas leituras
Olá, Su!
EliminarEspero sinceramente que gostes!
Quanto à obra que menciones desses anos loucos de leitura :), sei que a minha o biblioteca tem, por isso um dia destes vem comigo! Obrigada pela dica!
Beijinhos, bom fim de semana e leituras muito saborosas!
Olá Ana,
ResponderEliminarTenho este livro na minha wishist para ler. Como confio nas tuas recomendações vou ter de o ler brevemente :)
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isa!
EliminarObrigada pela confiança ;) Acredita que é mútua!
Espero que gostes tanto como eu!
Já tinha gostado muito de "A Chuva antes de cair" (aliás, só este título...), mas faltava-lhe um golpe de asa para ser excelente. A "A Casa do Sono", sim, tem todos os ingredientes que me agradam, incluindo a emoção do final. O Jonathan Coe é mestre a enredar e a desenredar os percursos das várias personagens de forma a prender-me e a ansiar pelo final, para saber como se cruzaram e afastaram, afinal, estas personagens e o que aconteceu ao elusivo e sofrido Robert.
ResponderEliminarPaula
Resumo maravilhoso que fizeste da obra, Paula! O final da obra é mesmo muito bom, com destaque para o sofrido Robert, como tu dizes ;)
EliminarFiquei curiosa com o título de que falas - se lhe conseguir deitar a mão!...
Beijinhos!